Mundo Corporativo: Tatiana Aloia e a integração entre tecnologia e cultura no mercado aeroespacial

Os bastidores da gravação do Mundo Corporativo Foto: Priscila Gubiotti

  “Nós temos diferentes culturas ao redor do mundo, mas o ser humano é o mesmo em todos os lugares.”

Tatiana Aloia, Aloia Aerospace

A liderança de uma empresa global exige mais do que estratégias de mercado, requer uma compreensão profunda das nuances culturais e a habilidade de integrar essas diferenças em um ambiente coeso. Essa foi uma das principais reflexões de Tatiana Aloia, cofundadora e CEO da Aloia Aerospace, em sua entrevista ao programa Mundo Corporativo, da CBN. À frente de uma empresa que atua no setor de reposição de peças aeronáuticas em diversos países, Tatiana destacou a importância de equilibrar a agilidade nos negócios com o respeito às particularidades de cada cultura, sem perder de vista o que é comum a todos: a natureza humana. “Nós passamos muitas horas da nossa vida, praticamente um terço do nosso tempo, trabalhando. Então, tem que ser prazeroso, tem que trazer alegria e bem-estar para todos”, afirmou. 

O aprendizado no início de carreira

Tatiana Aloia iniciou sua trajetória profissional aos 15 anos, movida pela vontade de trabalhar e aprender. Atuando inicialmente no setor automobilístico, ela se especializou em engenharia mecânica e gestão empresarial, o que a preparou para os desafios futuros. Após anos de experiência e aprendizados, tanto com colegas quanto clientes, surgiu a oportunidade de realizar um sonho antigo: fundar sua própria empresa. Em 2015, junto com seu irmão Tobias, Tatiana criou a Aloia Aerospace, levando sua expertise em gestão e atendimento ao cliente, enquanto Tobias contribuía com sua vasta experiência na aviação. “Unimos nossas forças e experiências para construir uma empresa que tem o cliente como foco desde o início”, relembra.

O foco no cliente como diferencial competitivo

A Aloia Aerospace tem se destacado no mercado global de peças de reposição aeronáuticas, não apenas pela eficiência logística, mas também pelo foco no atendimento ao cliente, de acordo com sua fundadora. Tatiana enfatizou que o cliente deve ser a prioridade em qualquer circunstância. “Muitas vezes o fornecedor pode ter falhado, mas nossa missão é resolver o problema do cliente, sem importar o que aconteceu nos bastidores.” 

Esse compromisso, segundo Tatiana, vem se consolidando como um dos pilares da empresa, que tem operações em diversos continentes e atende clientes de diferentes culturas. Calcula-se que existam 600 empresas que integram esse mercado competitivo. Para ela, respeitar as diferenças culturais e, ao mesmo tempo, manter o foco em elementos universais do relacionamento humano — como respeito e feedback constante — é o segredo para garantir um atendimento de excelência. “Temos que respeitar as culturas, mas em todo lugar, resposta rápida e educação são fundamentais.”

Investimento em IA 

A Aloia Aerospace já está implementando o uso de inteligência artificial (IA) em seus processos para otimizar o atendimento ao cliente e melhorar a eficiência na busca por peças aeronáuticas. Tatiana explicou que a IA está sendo utilizada para rastrear, em tempo real, a disponibilidade de peças em todo o mundo, facilitando o trabalho da equipe e agilizando as entregas. “Nosso objetivo com a IA não é substituir pessoas, mas fornecer ferramentas que aumentem a capacidade de resposta e precisão no atendimento. A tecnologia permite que nossa equipe tenha acesso a informações detalhadas e rápidas, o que faz toda a diferença em um setor onde o tempo é crucial”, ressaltou.

Ouça o Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.

Mundo Corporativo:  Natália Pirro, da API, diz como lições do surfe ajudaram a enfrentar a crise

@girlssurfingexperience

“Mar calmo, não faz um bom surfista. Eu acredito que pra vida, se você entender isso, você pode levar para tudo. Não desistir. Nunca! Nunca desistir! É entender que você  tem de continuar, tem de batalhar, estar aberta às críticas” 

Natália Pirro, API

Com dois anos de empresa e 29 de vida, Natália Pirro foi apresentada a um desafio assustador, especialmente se considerarmos o momento econômico e social que o Brasil enfrentava, em 2015: assumir o posto mais importante do grupo, no país, e provar que o negócio era viável em um prazo de apenas seis meses. Sim, a empresa lá fora não acreditava muito que a coisa pudesse vingar por aqui. Natália provou o contrário. Seis anos depois, ela comanda as operações da empresa americana API na América Latina, responsável por todos os negócios da companhia na região, cerca de R$ 35 milhões, como contou em entrevista do Mundo Corporativo, da CBN.

“Eu não me sentia preparada 100%. Ainda bem. Porque eu não teria chegado onde cheguei. Tive de aprender, conversar e escutar para chegar onde cheguei. Eu não estava preparada, mas tinha muita vontade de fazer …”

A coragem para enfrentar as dificuldades, Natália encontrou na educação e no esporte. Desde a adolescência, pratica surfe; quando morou nos Estados Unidos, esquiou; e, sempre disposta a ir além, também fez triatlo. Hoje, faz parte de um grupo de 15 mulheres, muitas executivas, que viaja pelo mundo em busca de boas ondas: o Girls Surfing Experience, coordenado por Suelen Naraísa, bicampeão brasileira.

“Todo o esporte desenvolve você como pessoa. O que faz um cicilista acordar às cinco da manhã para pedalar no frio: é o propósito. É entender que aquilo vai lhe trazer algo bom”.

Formada em administração e finanças e especializada na área de controladoria, Natália teve de buscar novos conhecimentos para administrar a empresa formada basicamente por engenheiros. Hoje, tem cinco pós-graduação e parar de estudar não está nos seus planos. Desenvolver-se nas mais diversas áreas faz parte das metas que a empresa negocia com ela, um hábito que levou aos funcionários da API na América Latina:

“Em janeiro de todo ano, sento com meu RH, com cada time, com cada gestor e para cada um colocamos algo a desenvolver. No ano passado, os nossos engenheiros, acostumados com máquinas e cálculos, tiveram de realizar cursos especializados em experiência do consumidor”.

A API é uma das principais empresas de medição e calibração de equipamentos do mundo, com atuação nos diversos setores da indústria: aeroespacial, automotivo, de defesa, energia e manufatura, por exemplo.  Áreas em que homens sempre predominaram, o que se transformou em outro desafio, especialmente por Natália ser tão jovem:

“É um meio masculino, mais sênior e de pessoas que não são muito abertas. E eu tive de ter muita certeza de onde eu queria chegar. Entender que a aquela crítica que recebia não era 100%. Tive de saber absorver da melhor maneira possível. Os questionamento foram visto como incentivo”.

Não apenas soube se impor diante desse cenário como ajudou a mudá-lo. Hoje, a equipe comandada por Natália tem 35 pessoas e muitas são mulheres, o que, segundo ela, é uma das marcas que diferencia a API quando participa de eventos do setor. Por isso, não teve dúvida em responder a pergunta feita por uma das ouvintes do Mundo Corporativo que queria entender sobre as oportunidades na área de medição e calibração de equipamentos. Para Natália, as mulheres podem investir na carreira de engenharia e pensar no setor:

“As empresas cada vez mais precisam evitar erros e acidentes de trabalho. Esse é um mercado imensurável … Antigamente, todas as empresas e industrias esperavam ter o problema para corrigir. Entendeu-se que isso era muito caro. A manutenção preventiva evita esse gasto. Esse vai ser o futuro.”

O ano de 2020 foi difícil em diversos sentidos. Com a economia em baixa e a necessidade de adaptação às restrições sanitárias, exercitar a resiliência, foi essencial para chegar às melhorias registradas no primeiro trimestre deste ano: a empresa vendeu, na região, 49% do realizado em todo o ano passado. E mais uma vez, as viagens que havia realizado com as colegas do surfe, que foram canceladas por motivos óbvios, foram úteis:

“A pandemia está bem difícil. Então a resiliência e a adaptação, que eu aprendi no surfe, para enfrentar todas as condições, estão acontecendo todos os dias. Eu trabalho em uma empresa americana e o dólar cai 30 centavos em um dia. Como você explica para as pessoas? Como manter a segurança dos funcionários? Faço reuniões semanais. Tento manter um contato mais próximo para oferecer alguma segurança, para termos um resultado melhor. Se eles não estão trabalhando bem, a empresa não vai ter resultado”. 

Assim como acontece na busca pelas melhores ondas, Natália ensina que nem sempre no mundo do trabalho se terá as melhores condições ou o profissional vai acordar bem para trabalhar ou todos os stakholder estarão pensando da mesma maneira. O importante é ter consciência do resultado que você pretende alcançar. Para os jovens e profissionais que estão iniciando carreira, Natália recomenda:

“Nunca desista porque alguém falou algo para você. Nunca desista porque talvez não seja o mercado apropriado. Não! Se você tem um sonho e você quer algo lá na frente. Tenha certeza disso e não desista”

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às 11 horas, no canal do Youtube, no Facebook e no site da CBN. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite. Está disponível também em podcast. Colaboraram com o Mundo Corporativo: Izabela Ares, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Rafael Furugen.

Além da engenharia de tráfego

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Considerar o trânsito além da engenharia de tráfego foi o propósito de Enrique Peñalosa, economista e doutor em Administração Pública, ao assumir a cidade de Bogotá entre 1998 e 2001. Submetendo a técnica à cidadania e transformando radicalmente uma cidade de mais de sete milhões de habitantes.

 

Optando por Bogotá como uma cidade cidadã, agiu como um Administrador Geral, e tomou medidas radicais: comprou o Country Club e construiu um parque público, estabeleceu mais de 300 km de “Ciclorutas” nas avenidas da cidade, colocou obstáculos no meio fio impedindo o estacionamento em frente a grandes prédios e áreas de compras, demoliu a grande área dos drogados e criou um jardim infantil, instituiu o “Pico y Placa” rodízio de carros com quatro finais de placas diárias, aumentou o espaço para os ônibus, alargou as calçadas, substituiu áreas de garagem por espaços públicos.

 

Estas realizações deram a Penãlosa uma extraordinária bagagem, testada na RIO +20 e também na excelente entrevista publicada em 24 de junho no caderno Cotidiano da Folha, realizada por Vaguinaldo Marinheiro e Regiane Teixeira e, enaltecida por Ruy Castro em sua coluna no dia 13.

 

Ficou claro que como Administrador soube tratar a cidade como um todo, assim como diferenciar o público do privado, evidenciando que o automóvel é um bem privado e deve ser tratado como tal. Ou, como exemplificou, se é aceito que guardar suas roupas não é da alçada da prefeitura, por que o carro também não é da conta de cada um? Assim como cidade rica não é aquela em que os pobres andam de carro, mas onde os ricos usam transporte público. Vide New York, London, Zurich. E, mais: “Devemos pensar em cidades para os mais vulneráveis. Para as crianças, os idosos, os que se movimentam em cadeiras de rodas, os mais pobres. Se a cidade for boa para eles será também para os demais”.

 

Será?

 

Enrique em 2007 e 2011, embora mais famoso e festejado inclusive internacionalmente, perdeu as eleições para o cargo que tanto revolucionou.

 

Será que para as grandes cidades brasileiras teremos algum candidato disposto a Administrar Geral e considerar o que reza a Constituição no sentido de igualdade de todos perante a lei como Enrique Penãlosa assim a lê?

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos, e escreve às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung