Caxias 2×1 Grêmio
Gaúcho – Centenário, Caxias do Sul/RS
Foram 44 dias desde a última vez que vi o Grêmio jogar. Que jogo! Lembra? Impossível esquecer: foi a despedida de Suárez, que marcou dois gols no Maracanã, na vitória sobre o campeão da Libertadores.
Desde lá, a bola só rolou em campos alheios e por aqui deu espaço para o irritante jogo das especulações. Vende um, contrata outro e negocia com um terceiro. O torcedor se ilude com a promessa do craque, se decepciona com a transferência do ídolo e tem pouco a comemorar com renovações de contrato nem sempre inspiradoras.
Ao mesmo tempo, o coração, acostumado ao sofrimento do jogo jogado, dói pela ausência do futebol de verdade. Como se sofresse com a abstinência da adrenalina que somente nosso time é capaz de nos fornecer. A ansiedade faz tabelinha com a saudade. E as duas dominam o peito e a mente do apaixonado que somos.
Até que o árbitro trila o apito e a bola começa a rolar novamente. O Campeonato Gaúcho começa. E começa em um dos estádios mais tradicionais do interior. O Centenário, palco de pelejas das mais duras e emocionantes já disputadas no Sul do País, oferece à vizinhança vista privilegiada, em camarotes improvisados nos telhados das casas, e aos torcedores, arquibancada de cimento, contrastando com as arenas do Campeonato Brasileiro.
Fiz alguns jogos na Serra Gaúcha, em um tempo no qual os repórteres de rádio tinham acesso ao gramado e correr atrás do craque do jogo era obrigação ao fim da partida — não existia essa coisa de assessor de imprensa escolher quem vai falar e entrevista com palco cheio de patrocinadores. Sinto saudade daqueles momentos, o que não significa que queira voltar.
Foi com saudade e sem pretensão que me sentei à frente da TV para assistir à transmissão do jogo desta tarde de sábado. Sei que o Grêmio está apenas iniciando a temporada. A reapresentação foi há 12 dias e tem jogador com a perna dura para correr — tem também os pernas de pau que nunca vão aprender. A vontade é muito maior do que o fôlego e o que a cabeça pensa nem sempre o corpo é capaz de executar.
Para minha surpresa foram necessários apenas seis minutos para matar a saudade do grito de gol, que surgiu em um cruzamento após cobrança de escanteio e no cabeceio de Gustavo Martins, zagueiro jovem e uma das boas promessas para a temporada. A lastimar que foi aquele o único gol que marcamos, insuficiente para impedir uma derrota logo na abertura da competição.
Para os saudosos, como eu, de um ponteiro esquerdo driblador e atrevido, o recém-chegado Soteldo deu sinais de que poderá ser um dos pontos fortes do time na temporada. O venezuelano de pernas pequenas e ágeis passou com facilidade por seus marcadores – perdão, pelo tanto que apanhou não foi tão fácil assim. Fiquei com a impressão de que não nos fará sentir saudades dos ponteiros que se foram. Mas é melhor não se precipitar.
Contemporizando as ausências no time e as lacunas no elenco; o pouco tempo de treino e a preparação física precária; a falta de entrosamento e a carência tática de início de temporada; ao fim dos 90 e tantos minutos, uma última saudade ainda permanecia em mim. Uma saudade que jamais serei capaz de deixar para trás: a de Luis Suárez. Que baita saudade de ti!