Vamos deixar de tomar banho para lavar o carro?

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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A água como recurso escasso é hoje uma realidade que a maioria dos habitantes das grandes cidades brasileiras tem consciência. Em São Paulo, onde o problema aparece com maior gravidade, o governo se apressou em criar um novo nome (crise hídrica), mas demorou em tomar medidas contingenciais e estruturais necessárias.

 

O jornalista André Trigueiro no programa Fim de Expediente, da rádio CBN, resumiu bem as faltas que geraram a atual falta d’água. Todas elas por culpa da civilização moderna que, se comparada às mais avançadas da antiguidade, perde de 7×1. Impermeabilizamos o solo, construímos sem priorizar a ventilação e a iluminação natural, usamos água potável para limpeza de calçadas e latrinas, misturamos a coleta de lixo, e cobramos a água de forma coletiva na maioria dos edifícios. Ao mesmo tempo, formamos engenheiros que tratam o lixo como lixo, e economistas que deveriam administrar recursos naturais como a água, as matérias primas e a energia como escassos, mas são iludidos pela abundância dos mesmos.

 

Acrescentaria à lista de Trigueiro um puxão de orelha no governo e outro na população.

 

Da parte da Prefeitura e do Estado, a inépcia em controlar o adensamento urbano e o desmatamento nas áreas dos mananciais. Verdadeiros crimes ambientais. Submissão a interesses comerciais e eleitoreiros.

 

Da população, que possui uma frota de seis milhões de veículos, nenhuma restrição à lavagem destes automóveis. É visível que não houve mudança na limpeza dos carros que estão circulando. Quanto mais novo e maior, mais limpo. É só sair à rua e conferir. O tema é grave, pois a lavagem convencional gasta de 300 a 500 litros por carro, a de WAP, máquina de jato, 90 litros, a de vapor 5 litros e à seco 1 copo, ou nada. Os preços para as lavagens convencionais são bem menores, e a oferta de serviços especiais ainda é incipiente.

 

Será que a nossa conhecida paixão pelo automóvel leva o seu dono a não tomar banho para lavar o carro?

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

É preciso humildade no jornalismo (no futebol, também)

 

Coritiba 4 x 0 Grêmio
Brasileiro – Curitiba (PR)

 

 

Foi muito divertido, sem contar que fiquei honrado, a oportunidade de dividir o palco com a turma do Fim de Expediente, no Teatro Eva Herz, no Conjunto Nacional, em São Paulo, na sexta-feira. Como sempre conseguem fazer, Dan Stulbach, Zé Godoy e Teco levaram a conversa entre o bom humor e o papo sério, entretendo o público que não coube nas dependências do teatro. Foram colocadas cadeiras extras e muitos ainda tiveram de assistir ao programa no telão do lado de fora do teatro. Havia uma ocasião especial para o convite: venci a aposta que fiz com Dan nas quartas-de-final da Copa do Brasil. Aproveitaríamos o programa para entregar a camisa do tricolor gaúcho que prometi caso passássemos pelo Corinthians, o que aconteceu na quarta-feira, em Porto Alegre. Para a aposta ficar completa, Dan, corintiano, como deve saber o caro e raro leitor desta coluna, teria de vestir a camisa diante do público, o que foi cumprido, apesar da resistência dele.

 

Nosso ator chegou a preparar uma estratégia para não vesti-la. Levou a conversa por quase uma hora e somente permitiu que a camisa lhe fosse entregue nos minutos finais do programa. A número 10, de Zé Roberto (que saudade dele), estava em uma caixa que imitava a Arena do Grêmio e assim que aberta tocava o hino composto por Lupicínio Rodrigues. Dan abriu e pegou a camisa, mas no momento de vesti-la, encerrou o programa, a luz do teatro apagou e as cortinas fecharam. Só pagou a aposta porque o público bateu pé e não saiu do Eva Herz enquanto ele não voltou ao palco devidamente fardado. Perdeu mas levou no bom humor (e teve humildade).

 

Falamos muito de jornalismo durante todo o programa. Dan pediu minha opinião sobre merchandising, prática comercial usada por empresas que pagam para jornalistas fazerem publicidade de produtos, marcas e serviços. Repeti o que digo há muito tempo: sou contra, não é papel do jornalista fazer propaganda. Zé me deu a chance de falar sobre o rádio dos tempos modernos: lembrei que das cinco características exigidas, atualmente, dos meios de comunicação – mobilidade, velocidade, interação, multiplataforma e personalização – o rádio já tem três delas desde seus primeiros anos de vida. É móvel, ágil e aberto à intervenção do ouvinte desde sempre. Teco quis saber como foi migrar do CBN SP para o Jornal da CBN, há pouco mais de dois anos e meio. Expliquei, entre outras coisas, que uma das intenções foi levar os temas urbanos para o cenário nacional.

 

Já não lembro mais se foi o Dan, o Teco ou o Zé quem levantou a bola sobre a exposição pública que o rádio e o jornalismo de uma maneira geral nos proporcionam. Disse a eles que, sem dúvida, ganhamos destaque. As pessoas se aproximam. Passam a nos conhecer melhor. Dizem que gostam ou odeiam. Não ficam indiferentes. Tudo isso nos envaidece. E diante de tudo isso passa a ser fundamental o exercício da humildade. É grande o risco de nos considerarmos mais importantes do que os fatos e nos imaginarmos donos da verdade. Quando isso acontece o tombo é grande, machuca e faz vítimas.

 

Tivemos um bom exemplo disso no início da noite desse domingo. E você, acostumado a ler essa Avalanche, sabe bem do que estou falando.