Grêmio 2 x 1 Fortaleza Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre RS
Braithwaite comemora em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA
Vitória é bom. E eu gosto!
Se veio no sufoco, contra um time da parte de baixo da tabela… que diferença faz? Não estamos em posição de escolher adversário nem estilo de jogo. O Grêmio precisava pontuar — e pontuou. Três pontos na conta, o suficiente para afastar, ao menos por ora, aquele fantasma que ninguém quer nomear.
Pelo jeito, vai ser assim mesmo: jogo a jogo, com o coração na mão. Até que os reforços cheguem e o time encontre algum encaixe, vale a velha máxima: se der pra ganhar, ganhe; se não der, empata. E se perder… levanta, sacode a poeira e tenta de novo.
Houve quem lembrasse dos dois pênaltis logo no início, mas foram fruto de jogadas construídas com velocidade, inteligência e precisão — algo que andava em falta por aqui. Mérito de quem armou, mérito de quem correu, e mais ainda de Braithwaite, que cobrou com a frieza dos artilheiros de verdade.
Levamos um gol, sim, mais uma vez pelo alto. E isso já virou trauma. Mas desta vez não desabamos. Houve equilíbrio na marcação — apesar das trapalhadas de sempre, que insistem em colocar à prova o nosso coração tricolor.
Jogamos com o que temos. E com o que temos, fomos suficientes.
Quando virá a próxima vitória? Ninguém sabe. Por isso mesmo, hoje, a gente comemora.
Grêmio 3×1 Fortaleza Campeonato Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS
Aravena comemora primeiro gol. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA
O Grêmio enfrentou três dos clubes mais bem classificados do Campeonato Brasileiro nas últimas quatro rodadas. Hoje, venceu o Fortaleza (3º); no domingo passado, havia empatado com o Botafogo (1º); e, há menos de duas semanas, superou o Flamengo (4º).
Vai entender um time assim!
É verdade que a campanha nesse segundo turno da competição é uma das melhores entre todos os participantes. Porém, convenhamos, quem nos vê na tabela, com “aquela-zona-que-você-sabe-qual-é” no retrovisor, não deveria esperar sucesso contra as equipes que estão disputando o título. O fato é que, apesar dos defeitos, o Grêmio se afasta do maior risco e ocupa um lugar no meio da tabela.
Nesta sexta-feira à noite, a articulação da bola, do meio para a frente, foi de qualidade, com velocidade nos passes, deslocamentos pelos lados e intensa participação dos atacantes. Braithwaite praticamente não desperdiçou uma bola que chegou aos seus pés. Distribuiu o jogo e abriu espaço para os companheiros entrarem na área. E, como se não bastasse, ainda fez o gol que encaminhou a vitória.
Aravena demonstrou talento, movimentação e precisão no chute, o que o levou a marcar o primeiro gol, após jogada entre Braithwaite e Cristaldo pelo lado direito. Edmilson também apareceu bem no ataque, além de fechar o meio de campo para conter as investidas do adversário.
A vitória foi ratificada com um chute de Soteldo, que entrou na parte final da partida e, mais uma vez, teve uma participação intensa no ataque. Fez o gol após uma assistência de Igor, um garoto de apenas 19 anos, que teve importante presença na marcação e se apresentou com qualidade na frente.
Ver a dupla de zaga Geromel e Kannemann de volta, uma contingência da lesão de Gustavo Martins – justamente na semana em que nosso capitão anunciou que se aposentará do futebol no fim do ano –, foi um presente extra para os torcedores, exaustos de tanto sofrimento nesta temporada. Faz bem ao coração vê-los lado a lado, dominando a área por cima e por baixo, mesmo com todos os problemas do sistema defensivo e sabendo que a condição física, especialmente de Geromel, já não é a mesma do passado.
Temos problemas a serem resolvidos e ainda não dá para respirar aliviado, imaginando que estamos livres do perigo maior. Mas nós, torcedores, estávamos merecendo um resultado como este.
Nascemos em uma época na qual nossos sonhos no futebol não se estendiam além dos limites do Rio Grande do Sul. Nossas batalhas eram regionais. Nossas conquistas, estaduais. Superar o principal adversário no clássico Gre-Nal e vencer o Campeonato Gaúcho nos satisfazia para todo o sempre.
Foi, então, que nos agigantamos e conquistar o Brasil se tornou possível. Avançar sobre a América e levantar a taça Libertadores se fizeram realidade. Até o mundo esteve aos nossos pés. E a grandeza do Grêmio passou a ser motivo de nosso orgulho.
Por isso, é tão difícil entender o destino que aceitamos abraçar neste campeonato brasileiro, mesmo depois da tragédia vivida por todos os gaúchos. Há uma aparente tolerância ao que acontece partida após partida. Como se não houvesse nada a fazer além de se resignar.
A sequência de derrotas — assistimos à quinta na noite desta quarta-feira —, que nos mantém na parte mais baixa da tabela de classificação, desafia nossa paciência. Ainda que estejamos com partidas a menos que os adversários e em desvantagem devido a interrupção forçada pelas enchentes, a presença na zona de rebaixamento é constrangedora.
Não negamos que o esforço para nos mantermos vivos na Libertadores, a despeito de todos os prejuízos que tivemos, cobrou um preço alto de nossos jogadores. A ausência de um local próprio para recuperar forças e reorganizar o time também se refletiu no desgate físico e psicológico do grupo. E será preciso tempo para resgatar a energia dispendida.
Soma-se a tudo isso, uma série de fatores que migram da infelicidade no acabamento de algumas jogadas a movimentos desproporcionais causadores de prejuízos, como pênaltis e expulsões – na partida de hoje, conseguimos reproduzi-los quase que na sequência.
A hora de dar um basta em tudo isso, porém, chegou. No sábado, ainda que distante da nossa cidade e Arena, teremos um clássico regional a disputar. Os torcedores se farão presentes, imagino que em grande número, no Couto Pereira, em Curitiba, para reviver o clima do velho Olímpico Monumental, da mesma maneira que fizemos recentemente nas partidas da Libertadores.
Se queremos reagir no Brasileiro e sinalizar nossa capacidade de superação na temporada, o Gre-Nal é a oportunidade que se apresenta. Vamos à vitória!
Na última partida antes do Gre-nal, assuntos não faltam para os que gostam de falar do Grêmio —- gostem bem ou gostem mal. Pode-se falar da qualidade da assistência de Reinaldo, que serviu Suárez com um passe em curva nas costas dos marcadores e permitiu que o uruguaio marcasse o gol de empate.
Claro, pode-se falar de Suárez, também, que sempre é um bom motivo para puxar conversa, mesmo com torcedores contrários. O gringo mais uma vez se entregou em campo como quase nenhum outro. E nos premiou com aquela corrida por trás dos zagueiros e a precisão do chute, apesar da pressão do goleiro que saiu em sua direção e parecia ter fechado todos os espaços. Até a reclamação de que ele não marcava gols fora de casa cai por terra: ele fez dois nas duas últimas partidas em que jogamos como visitantes
Há os que andam por aí reclamando da dificuldade que temos de impor nosso futebol na casa dos adversários — e têm motivos para tal; ou do desperdício de pontos que nos afasta cada vez mais do título, apesar de estarmos na luta pelas primeiras colocações há muitas rodadas; ou das perdas sucessivas de cobranças de pênaltis — esquecendo-se de que foi nos pênaltis que avançamos até a semifinal da Copa do Brasil..
Apesar de tudo, ter o melhor ataque, com 40 gols marcados e o segundo maior número de vitórias, 13 no total, no Campeonato Brasileiro, ao menos até o instante em que publico esta Avalanche, talvez também fosse razão de um bom bate-papo no boteco.
Todos são temas pertinentes!
Eu me reservo o direito de falar do que mais me chamou atenção na partida dessa tarde de sábado: a performance de Geromel. Ver nosso zagueiro de volta com a faixa de capitão e, pela primeira vez no ano, disputando uma partida completa, após a cirurgia no joelho e o problema muscular, já seria motivo de alegria para mim. Vê-lo com a segurança e empenho que vi — imagino que você, caro e cada vez mais raro leitor dessa Avalanche, também tenha visto — é mais do que motivo para minha satisfação.
Geromel está com 38 anos, completados há cerca de uma semana — aos crentes nas coisas alheias, ele é virginiano como o Grêmio. Resiliente e paciencioso, nosso zagueiro superou a distância dos gramados e a dureza do período de reabilitação. Para quem foi atleta e passou por isso, sabe o drama que é cada dia de fisioterapia, exercícios doloridos e avanços limitados, expectativas para voltar aos treinos e medos de que a lesão volte a incomodar.
Enquanto alguns reclamariam da falta de ritmo de jogo, na volta ao time, Geromel demonstrou estar em plena forma física e técnica. Em campo, mostrou que mantém o reflexo que o fez dos maiores zagueiros que já vestiram nossa camisa. Deu o bote na hora certa e impediu o drible do atacante. Antecipou-se às jogadas e abortou as tentativas do adversário. Dentro da área manifestou seu gigantismo despachando a bola pelo alto e por baixo. Independentemente de como ela viesse..
Nos deu ainda a satisfação de assisti-lo novamente ao lado de Kannemann com quem forma a dupla de zaga mais vitoriosa dos últimos tempos. Geromel traz tanta segurança à defesa que seu colega de área pode se expor menos e completou uma partida sem tomar cartão amarelo, coisa rara nesta temporada.
Ao fim ainda expressou a humildade que marca sua trajetória. Ao repórter de campo que o elogiou, respondeu que não poderia ser diferente depois de tanto tempo que teve para treinar. Como se voltar a campo após meses recuperando-se de lesão e jogar da forma como jogou fosse a coisa mais natural do mundo. Não o é! Geromel é simplesmente sobrenatural !
Pepê prepara-se para chutar a gol, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Há pouco mais de três dias, deveria ter publicado esta Avalanche como costumo fazer ao fim de cada partida do Grêmio. O adiantado da hora e o placar avançado me tiraram completamente o prazer da escrita — e veja que já estive por aqui em situações bem mais dramáticas para falar de nosso time. Os compromissos que seguiram na semana ocuparam meu tempo e se transformaram em cúmplices da minha intenção em não traçar uma só linha sobre o ocorrido de quarta à noite.
Preferi esperar para retomar a Avalanche neste domingo, quando voltaríamos a escalar alguns dos melhores que o técnico tem à disposição, e estaríamos diante da nossa torcida e de um adversário à nossa altura. Tinha esperança de que a partida do meio da semana tivesse o poder de ser um divisor de águas na nossa jornada nacional de 2023. Considerando o choque de realidade que fomos obrigados a encarar, na quarta à noite, imaginei que nossa equipe teria entendido que o futebol moderno exige intensidade na marcação, inteligência na movimentação e precisão na troca de passes.
Hoje, o cronômetro não havia completado quatro minutos do primeiro tempo e, confesso, minhas esperanças se renovaram. Foram seis trocas de passes, com Bitello recebendo logo depois do meio de campo, passando de primeira, se deslocando, tabelando com Suarez e colocando Vina de frente para o gol. O goleiro impediu que abrissemos o placar dispensando a bola para escanteio. Uma pintura de jogada, daquelas de brilhar os olhos e fazer o torcedor acreditar que algo melhor nos é reservado. Um lance que resumia tudo o que eu gostaria para o meu Grêmio.
Outras tentativas de ataque surgiram em especial no primeiro tempo. Em alguns momentos parecia que o time desencantaria e a presença de Pepê no meio de campo era o principal motivador dessa expectativa. Ele faz diferença quando consegue jogar porque carrega bem a bola de trás e distribui o jogo com rara visão. Claramente, a ausência nas partidas anteriores e os demais desfalques prejudicaram o entrosamento dele com seus colegas, o que deve melhorar a medida que os demais jogos ocorram.
O fato é que além daquele belo lance e alguns chutes a gol nada mais fizemos para abrir o placar. Tivemos de nos contentar com o empate que mantém a ilusão do time imbatível na Arena. Se não me falham as contas, a última derrota como mandante foi em agosto do ano passado; e de lá para cá já chegamos a 19 jogos de invencibilidade. Não que eu queira que essa sequência se interrompa mas gostaria muito, muito mesmo que fosse marcada por vitórias atrás de vitórias — nas últimas três partidas apenas empatamos.
Que voltem as vitórias nessa semana que se inicia quando teremos compromisso na quarta-feira, pela Copa do Brasil, e sair da Arena em vantagem nas oitavas-de-final é primordial. Enquanto no domingo encaramos o clássico gaúcho pelo Campeonato Brasileiro — e os três pontos, a gente sabe, daria início a uma nova história na competição.
A tenista Naomi Osaka foi punida com uma multa de 15 mil dólares por não ter participado da coletiva de imprensa após ter vencido a primeira rodada, na estreia do torneio de Roland Garros. Para a surpresa de todos, Naomi desistiu de participar do torneio e divulgou que sofre de depressão, desde 2018, apresentando crises de ansiedade antes de conceder entrevistas. O fato ocorreu no fim de maio, em 2021, e a sinceridade da tenista número 2 do mundo, provoca debates sobre a saúde mental dos atletas até agora.
Diferentemente do medo ou ansiedade adaptativa, aquela que a maioria das pessoas experimenta numa entrevista de emprego ou num primeiro encontro amoroso, o transtorno de ansiedade é caracterizado por medo e ansiedade excessivos, desproporcionais e persistentes, causando sofrimento ou prejuízos no funcionamento social, profissional ou em áreas importantes da vida da pessoa.
No transtorno de ansiedade ou fobia social, o indivíduo é mais temeroso, evitando interações ou situações sociais nas quais exista a possibilidade de ser avaliado, como encontrar pessoas que não sejam familiares ou falar em público. Nessas situações, a pessoa teme agir de maneira que evidencie seus sintomas, como ruborizar, tremer ou tropeçar nas palavras, o que poderia gerar um julgamento ou avaliação negativa por parte das outras pessoas.
Evitar intencionalmente essas condições, o que chamamos de esquiva, em geral, reduz momentaneamente o nível do medo ou da ansiedade. Por outro lado, essa evitação irá reforçar a ideia de risco ou ameaça, fortalecendo também a crença de incapacidade para enfrentar e superar tais circunstâncias.
Será que dizer NÃO para situações que possam causar prejuízos à saúde mental seria um sinônimo de esquiva ou evitação?
Infelizmente, muitas pessoas não conseguem ou não podem assumir as próprias dificuldades, fragilidades ou vulnerabilidades.
O que as pessoas pensariam?
Como reagiriam ao saber que uma pessoa que obtém tantas vitórias, que é competente ou talentosa no que realiza, sofre de um transtorno mental?
“Ansiedade? Depressão? Coisa de quem não tem o que fazer ou quer chamar a atenção”
O preconceito e os estereótipos nos conduzem a julgamentos rápidos e conclusivos. Multas, punições, expulsões… Foram essas as soluções inicialmente pensadas para o caso da tenista. Naomi abandonou o torneio não porque estava fugindo de enfrentar os perigos ou ameaças, mas, possivelmente, porque percebeu a necessidade de se afastar de situações tóxicas, impostas, que exigiam dela algo que naquele momento não poderia ou não queria realizar. Percebeu que precisava se afastar como um sinal de cuidado consigo. De preservação de sua saúde mental.
Recuar não é fácil, mas, por vezes, necessário; não como fuga, mas como saída para que o sofrimento seja notado. Envolve limite e autocuidado, além do cuidado com o sofrimento de outras pessoas que passam por situações semelhantes.
Em saúde mental, por vezes é necessário que alguém traga à tona as suas dificuldades para que as pessoas despertem e se solidarizem com todos os que passam por situação semelhante.
Após o desabafo de Naomi Osaka sobre a sua saúde mental e sua repercussão, a organização dos torneios Grand Slam mudou seu discurso e lhe ofereceu apoio e assistência, mencionando a possibilidade de mudança nas regras, a fim de melhorar a qualidade de vida dos atletas.
Naomi, você não fugiu dos seus temores!
Ao escancará-los, sinalizou que os transtornos mentais não são exclusivos de fracos e derrotados, fazem parte da vida humana, da vida de qualquer pessoa. Se esquivar nem sempre é a melhor saída, mas pode ser o caminho que nos permita um recomeço.
Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Youtube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung
Ferreirinha parte para o ataque em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Sabe aquele jogo que começa e você já sabe qual vai ser o resultado? A gente fica torcendo para estar errado, mas a cada minuto que passa aumenta a certeza de sua previsão inicial. Foi assim neste sábado à noite. O empate —- o décimo terceiro no campeonato —- foi sendo desenhando no chute para fora, no cruzamento cortado pela defesa, na falta (quase) bem cobrada, no contra-ataque que se perdeu em um passe errado e no gol que por milímetros foi anulado. A previsão de que seria empate tem muito a ver com o time que vai a campo —- éramos na maioria reservas e, claro, paga-se um preço quando tomamos essa decisão. No caso, dois pontos desperdiçados na disputa pelo título do campeonato.
Verdade que outras vezes entramos em campo sem escalar os principais titulares e conquistamos a vitória mesmo assim —- mas, sei lá o motivo, assim que começou a partida deste fim de noite, tive a impressão de que não sairíamos do zero a zero. Impressão confirmada ao fim deste que foi o vigésimo-oitavo jogo gremista no Campeonato Brasileiro. Não que tenhamos jogado pelo empate. Longe disso. Tentou-se de um lado e de outro. Muitas vezes pelo meio. Chutou-se 12 bolas no gol — pelo que anotei — e forçamos o goleiro adversário a fazer defesas difíceis. Esforço fugaz.
Apesar de não termos saído com a vitória, que é o que todos queríamos, o empate nos mantém na disputa do título e entre os cinco primeiros classificados. O mais importante é que, independentemente do que acontecer no domingo, a ideia de que o campeonato será decidido em janeiro permanece. A partir de agora —- e aí entendemos a escolha pelo time reserva —- todo jogo será uma decisão direta pelo título. Nas próximas quatro partidas, o Grêmio terá de ser gigante porque enfrentará quatro adversários que estão embolados e disputando a liderança da competição.
Darlan briga pela bola em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA
O Grêmio tem jogado fora boas oportunidades de marcar três pontos, fora e dentro de casa. Lá fora, em partidas que dominava, mas nas quais não conseguiu marcar gols com a mesma frequência de anos anteriores. Cá dentro (ou na Arena), o desperdício chama ainda mais atenção: de 12 pontos disputados ganhou cinco apenas; dos seis últimos pontos, ficamos com um, conquistado no empate deste domingo.
Feitas as contas, o aproveitamento do Grêmio é melhor fora do que dentro de casa. Estranho, não?!? Talvez não!!! Talvez a ausência de público na Arena, desde a retomada do futebol, esteja sendo um dos motivos para o rendimento anormal de um time que costumava amassar o adversário com o empurrão de sua torcida — você há de convir que aqueles gritos programados na caixa de som não enganam ninguém.
O time troca passe, mas não com a mesma velocidade de antes. Os jogadores se movimentam em ritmo menos intenso no ataque e na defesa. A marcação sofre com tudo isso. O que só me faz ajoelhar e agradecer por termos Geromel e Kannemann na zaga. Sem eles, poderíamos estar ainda mais vulneráveis. Hoje, da dupla titular, o gringo ficou de fora. Que volte logo e em forma.
Somou-se a falta de Kannemann, a ausência de outras peças importantes como Maicon, que ficou pouco tempo em campo (saiu lesionado), e poderia com seu talento fazer a bola rolar mais rapidamente e com sua liderança fazer o time correr; e como Pepê, nosso velocista.
Luiz Fernando que teve boa atuação nos poucos minutos em campo contra o Bahia, voltou a ser escalado no segundo tempo contra o Fortaleza e dá sinais de que pode se encaixar na equipe. Tem entrado com vontade e fome de bola —- hoje com vontade além da conta e, ao ser expulso, prejudicou o time que havia feito jogar melhor.
Torcida e time (quase) sempre jogaram juntos nestes anos todos de títulos. Houve até partidas em que a torcida fez mais do que o próprio time. Hoje, essa força motriz está em falta … e tem de ser substituída por outros fatores, porque assim será para todo o ano de 2020. Mais um desafio para Renato que sempre apostou no carisma que tem com o torcedor —- além de seu conhecimento estratégico e comando de grupo —- para colocar o time no caminho das vitórias.
A perda de pontos importantes, a série de empates e os percalços em casa talvez sejam pela falta do torcedor, talvez sejam pela ausência de alguns jogadores, talvez sejam apenas por que estamos nos reconstruindo em um temporada atípica como essa que vivenciamos. Não temos como saber ao certo.
Dito isso, vamos ao que interessa.
Nessa sequência de incertezas, a única certeza que tenho é que um bom resultado na retomada da Liberadores, no meio da semana, fará toda a diferença. Que venha a vitória!
Grêmio 1×0 Fortaleza Brasileiro — Centenário, Caxias do Sul/RS
O talento de Jean Pyerre em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA
Recorri ao VAR aqui de casa para entender a dimensão da jogada de Jean Pyerre que nos levou a marcar o único e decisivo gol da partida desse sábado à noite. Como já tínhamos 44 do segundo tempo e apenas mais alguns minutos de acréscimo, no momento em que Pepê desviava a bola para rede eu já não conseguia prestar atenção em mais nada do que acontecia no gramado do Centenário —- sim, tivemos de jogar lá em Caxias do Sul, onde o frio é mais frio e a chuva, mais gelada, porque a Arena está reservada à Copa América.
Naquele momento, só me passava pela cabeça o risco de ficarmos mais um jogo sem vitória, mesmo tento atacado muito e mantido a bola sob nosso domínio por muito mais tempo do que o adversário; imaginava o constrangimento de mais uma segunda-feira de trabalho dando explicações dos motivos que nos faziam ocupar o Z4; e, pior ainda, saber que estaríamos alimentando por mais tempo os teóricos da conspiração durante toda a parada para a Copa América.
Foi, então, que de repetente vi Jean Pyerre metendo a bola pelo meio da área para encontrar lá do outro lado Pepê, que com um chute cruzado fez o gol da vitória. Demorei para comemorar. Queria ter certeza de que a bola seguiria o seu destino. E a impressão que tive é que ela demorou para se decidir, também: entro ou não entro? Entrou.
Na comemoração já tinha ideia da beleza do lance, mas, como disse, a visão estava embasada pela tensão do empate que se realizava em mais uma partida em casa, ou melhor, em que tínhamos o mando de campo. Por isso, antes de começar a escrever esta Avalanche fiz questão de ver e rever o lance na tela do computador. Vi em velocidade normal, revi em câmera lenta, congelei a cena e repeti tudo de novo por mais algumas vezes.
Meu VAR ajudou-me a entender como tudo se iniciou e como o futebol nos reserva surpresas. Sabe-se que Jean Pyerre tem talento superior a média, mas muitos o consideram lento de mais nas jogadas. Há os que reclamam da dificuldade dele em desarmar o adversário. E os que entendem que lhe falta fôlego para aguentar o tranco dos jogos mais duros, por isso acaba sendo substituído ao longo do segundo tempo.
Eis que já tínhamos um jogo inteiro em disputa, com desgaste de lado a lado, e foi exatamente Jean Pyerre quem apareceu para desarmar a tentativa de ataque do adversário. Interceptou a jogada no meio de campo e olhou para frente em busca de um companheiro. Percebendo o espaço que a marcação lhe oferecia, deu velocidade ao ataque com quatro passadas longas e domínio preciso da bola. Qualquer jogador comum não teria encontrado outra solução senão arriscar o chute.
Jean Pyerre está distante de ser um jogador comum. Tem talento, tem elegância e não tem medo de criar. Não bastasse ter sobrenome de craque: é Casagrande.
Com a confiança que lhe é peculiar, o nosso meio-campista enfiou a bola rasteira entre quatro jogadores adversários. Fez a bola cruzar em diagonal e fora do alcance deles. Colocou-a no que no passado chamávamos de “ponto futuro”, onde haveria de aparecer Pepê, que fez a leitura certa da jogada de seu companheiro, correu por trás dos zagueiros, se antecipou a marcação e encontrou força suficiente para marcar o gol.
Um golaço que revela quantos talentos — como Jean Pyerre e Pepê — ainda temos sendo forjados para as novas conquistas e para substituir aqueles que por obra do destino se vão embora. E que nos garantiu três pontos importantes para nos dar ânimo para o período de preparação que teremos pela frente, assim que cumprirmos o compromisso desse meio de semana pelo Brasileiro.
Fortaleza 0 x 2 Grêmio Copa do Brasil – Fortaleza (CE)
Sabe quando você está naqueles dias em que nada dá certo? Uns falam em inferno astral, outros em onda de azar. É a fase, comenta o amigo. Vai passar, consola o colega. Tudo bobagem da sua cabeça, ouço em tom de reprimenda. Seja como for, quando se está nessa é sempre bom procurar uma boa notícia ou um fato que possa ser animador. Quem sabe dar um cavalo de pau na história que nos ajude a enxergar um novo horizonte. A vitória do Grêmio nessa noite de quarta-feira tem um pouco esse efeito. Quando você vê que aquela bola que tinha tudo para explodir nas arquibancadas lá atrás do gol se transformar em um golaço, abre-se uma perspectiva diferente. Refiro-me ao lance protagonizado por Marco Antonio, um meio-campo que ainda não se firmou na equipe, mesmo tendo chegado com boas recomendações após o futebol que apresentou na Portuguesa. Pegou de voleio ou de sem-pulo, acho que é assim que chamam aquele tipo de chute, na entrada da área e enfiou no ângulo. Se você ainda não viu a jogada, vale procurar na internet (ou clique aqui). Eu vi, revi e voltei a ver mais algumas vezes. Era de um lance assim que estava precisando para levantar o astral. Não que o futebol seja capaz de mudar a nossa vida, mas quando estamos a procura da alegria confiscada o prazer de uma vitória é sempre bem-vindo. Sendo assim, obrigado Grêmio – e Marco Antonio e Marcelo Moreno – pelo sorriso no rosto.