
“A ideia não é a IA substituir o trabalho de ninguém. A ideia da IA é agregar muito mais valor ao seu trabalho.”
Alberto Zafani, Google
A inteligência artificial já não é mais uma promessa do futuro: ela está integrada ao dia a dia das empresas e dos profissionais. Segundo Alberto Zafani, head do Google Workspace no Brasil, o impacto mais profundo da IA generativa está na mudança cultural e na forma como as equipes trabalham e colaboram. A entrevista foi ao ar no programa Mundo Corporativo.
De ferramenta a cultura: como a IA transforma o trabalho
Para Zafani, o avanço da IA exige uma transformação que vai além da adoção de novos recursos. “A gente não muda essa cultura das empresas e a forma como elas colaboram sem mudar os artefatos que estão na ponta”, afirma. Isso significa que os líderes precisam preparar as equipes para lidar com o ritmo acelerado das inovações, investindo em aprendizado contínuo e adaptabilidade. No Google, por exemplo, foram lançadas quase 365 novas funcionalidades em um único ano.
Com a inteligência artificial ganhando espaço nos fluxos de trabalho, surge também a preocupação com o empobrecimento do conhecimento. Zafani discorda dessa visão. “Com a IA você vai ter mais tempo livre para poder aprofundar e conhecer mais.” Segundo ele, a ferramenta permite ampliar o repertório sem sacrificar a profundidade.
Essa lógica vale para qualquer setor. A IA não é um privilégio de empresas de tecnologia. Ao defender o que chama de “letramento em IA”, Zafani propõe encarar essa transformação como uma nova forma de alfabetização digital. “Se a empresa não prover uma IA generativa, o funcionário vai trazer a própria IA.”
O Google Workspace, explica Zafani, funciona como um ecossistema de produtividade. Vai muito além do Gmail. Reúne editores de texto, planilhas, apresentações, armazenamento em nuvem e recursos sem código, como o AppSheet. E tudo isso agora está integrado ao Gemini, a IA generativa do Google. “Hoje você já consegue, por exemplo, transformar um caderno de anotações em áudio e ouvir no trânsito”, exemplifica.
NotebookLM: da organização de dados à escuta de relatórios
Entre os recursos que mais chamam atenção no Workspace está o NotebookLM, uma ferramenta que permite criar cadernos personalizados com base em documentos diversos. A proposta é facilitar a análise de informações, gerar resumos e até converter conteúdos em áudio — é possível, por exemplo, que relatórios sejam transformados em podcasts e ouvidos em deslocamentos de carro, metrô ou ônibus.
Segundo Zafani, o NotebookLM pode ser usado para comparar balanços financeiros de diferentes trimestres, extrair diferenças entre propostas comerciais e até cruzar dados com normas técnicas internas. “Você pode validar se uma proposta está de acordo com uma norma da empresa”, exemplifica.
A funcionalidade também reforça o compromisso com a transparência: “Todas as soluções do Gemini mostram a fonte de onde a informação foi extraída”, diz Zafani. Isso reduz o risco de “alucinações”, nome dado às respostas incorretas geradas por IA, e dá ao usuário maior controle sobre a origem do conteúdo processado.
Criatividade e governança: os dois lados da moeda
Se a IA libera tempo, esse tempo precisa ser bem utilizado. “A diferença entre os profissionais vai ser o que cada um faz com o tempo que ganhou”, aponta. É aí que entra o papel da liderança, que precisa estimular o pensamento crítico e evitar que as tarefas se tornem automáticas e sem propósito. Para Zafani, a IA pode ser um ponto de partida criativo, mas é o ser humano quem dá o tom: “Ela vai gerar um monte de coisa bacana, mas cabe a você adaptar, revisar, escolher.”
Há, no entanto, um alerta. Ao mesmo tempo em que oferece autonomia, a IA pode representar um risco se for usada sem controle. “Se você libera para o funcionário usar o que ele quer, você coloca tua empresa em risco — e um risco grande.” O caso dos dados empresariais que acabam treinando sistemas externos é uma das principais preocupações. Por isso, ele defende que a empresa ofereça uma solução própria, com segurança e governança.
Zafani cita uma pesquisa da Ipsos, segundo a qual 78% dos entrevistados já utilizam inteligência artificial no ambiente de trabalho. “A governança é o fator fundamental”, reforça.
Assista ao Mundo Corporativo
O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você pode ouvir, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Letícia Valente.



