Conte Sua História de São Paulo: meu tratorzinho na Vila Operária

Eduardo Ráscio

Ouvinte da CBN 

Eduardo e seu trator de brinquedo

Nasci na maternidade Pro Matre Paulista. Meus pais moravam na Felipe Camarão, no Tatuapé. Aos dois anos de idade, mudamos para a Vila Operária Silvério Jordão. Era uma vila transversal a Rua Bresser, no bairro do Brás. Tinham 20 casas térreas geminadas, e um conjunto de cinco sobrados, além de um grande terreno baldio com capinzal, que  chamávamos de matinho. Lá, brincávamos e fazíamos as nossas aventuras. Na mesma vila, moravam meus avós Hermenegildo e Philomena, dois tios e meus padrinhos de batismo, Waldemar e Dadá.

Da entrada da vila se avistava a imponente e tradicional sede da Indústrias Reunidas Irmãos Spina. Nos feriados cívicos, no topo do prédio da fábrica, eram hasteadas as bandeiras do Brasil, do Estado de São Paulo e das Indústrias Spina. Nas noites claras, nós desviávamos o olhar para o céu a espera da passagem de um satélite. Aos sábados, nossa atenção se voltava as acrobacias dos aviões, que ficavam no Campo de Marte, há alguns quilômetros de distância da vila.

O comércio ambulante era ativo. Lembro-me do padeiro que pontualmente às 3 da tarde, chegava de bicicleta buzinando para avisar os clientes. Na frente da bicicleta tinha um grande baú com pães, doces e salgados — as bengalas e filões —- e sonhos recheados.

Tinha o homem do carrinho, com uma vitrine com rodas, de quem comprávamos a geléia d’agua. O velho arcado, que chamávamos de Pé de Joia e vendia amendoins enrolados em saquinhos de papel. O turquinho, o Elias, um mascate que vinha de lambreta vender roupas. O peixeiro Vitor, italiano da gema, que com seu cesto de vime cheio de peixes gritava alto e bom som: Oggi, sardineeeee!

Na época das festas juninas, os moradores se reuniam e enfeitavam a vila inteira com bandeirinhas, adornos, e vários arcos feitos de bambu. As crianças soltávamos pequenos balões conhecidos por ‘chinezinhos’. Os adultos brincavam com balões maiores, multicoloridos. Por falar em brincadeira, gostávamos de nos divertir jogando bolinhas de gude, apostando corridas, no bafo atrás das figurinhas de El Cid,  com o pião de madeira … e eu, adorava pedalar no meu tratorzinho. Que saudade dele! 

Um fato que marcou a nossa vila. Em 1969, uma vizinha ganhou em um concurso, a visita do então popular cantor Eduardo Araújo. Os moradores ficaram curiosos com a chegada dele, e de olhos arregalados quando Eduardo Araújo estacionou o seu camaro branco na porta da casa dela.  Quis o destino que naquele mesmo ano, metade da vila tenha sido demolida para a construção do viaduto do Bresser. Com as casas foram embora amigos de infância e as proezas que vivenciei por lá.

Eduardo Ráscio é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva você também e envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite agora o meu blog miltonjung.com.br e assine o podcast do Conte Sua História de São Paulo.