Avalanche Tricolor: o zodíaco não explica o Grêmio

Grêmio 0x1 Mirassol
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Arhur comanda o meio de campo em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Sou do tempo em que Zora Yonara era a autoridade em assuntos astrológicos — hoje seria chamada de influencer zodíaca ou algo do tipo. Suas análises eram motivo de conversa nas rodas de amigos, e o melhor a se fazer era prestar atenção no horóscopo do dia, mesmo que eu fosse um descrente. Cada um adaptava o que ouvia à sua circunstância. Fui tentar esse exercício na Avalanche de hoje para explicar o que vem acontecendo com o Grêmio, que voltou a perder em casa e, nesta segunda-feira, dia 15 de setembro, completará 122 anos.

Descubro que nem a astrologia dá conta de explicar o futebol que deixamos de jogar e a sequência de azares que nos perseguem. Pensei que fosse o tal do inferno astral, mas nem isso explica. Esse período, que antecede o aniversário e costuma ser sinônimo de confusão, não daria conta de justificar 18 meses de futebol capenga e resultados inconsistentes.

A última verdadeira alegria que os gremistas tiveram foi o título do Campeonato Gaúcho, em março de 2024. Alguém lembrará da felicidade recente de assumirmos a gestão da Arena, o que já nos garantiu um gramado de qualidade. Vamos convir, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, que por melhor que isso seja — e acredito que seja —, não influenciou em nada na qualidade do futebol apresentado.

O inferno futebolístico do Grêmio atravessa um tempo que nenhuma sabedoria extraterrena poderia prever. Nesse um ano e meio, uma penca de jogadores foi contratada e já estamos no terceiro técnico. Quando nos iludimos com uma contratação, uma lesão frustra as expectativas — caso mais recente do zagueiro Balbuena. Até mesmo jogadores contestados, mas necessários, como Braithwaite, caem vítimas dessa sina de contusões.

Se conseguimos um resultado mais animador, como na rodada anterior contra o Flamengo, logo a realidade nos joga ao chão com uma derrota caseira. Hoje, tivemos de suportar até jogador sendo substituído por engano.

Adoraria estar aqui comemorando a estreia de Arthur que, claramente, tem qualidade para mudar qualquer meio de campo. Mesmo sem entrosamento, mostrou como conduzir a bola com categoria e fazer o passe com precisão. Seria capaz de contagiar seus colegas de trabalho? Já não sei mais. E chega a me dar arrepio sobrenatural imaginar que ele também possa ser abatido por algum problema físico.

Apesar de tudo, insisto em negar a falência da esperança. Tento crer que, ao comemorarmos mais um aniversário nesta segunda-feira e diante de um clássico Gre-Nal — aquele jogo que dizem poder mudar o destino de qualquer clube —, no próximo domingo, sejamos capazes de iniciar um novo e vitorioso ciclo.

No fim, esperar é o que nos resta — e esperar, para o gremista, nunca foi pouco.

De céu e inferno


Por Maria Lucia Solla

Ouça “De céu e inferno” na voz da autora

Angustia

há dois modos apenas
de curar a vida
lamber a ferida
ou roer
as
penas

há dois modos da boca sorrir
arrastar a cara com ela
ou com a cara amarela

rir

há dois modos de ser amada
dançar ao som do amor
driblar aqui ali a dor
ou partir para o jogo do tudo
ou
nada

há dois modos de ser
ser na vida ser com ela
ou assistir da janela
e de inveja
pa
de
ser

há dois modos de chegar ao céu
reconhecer o inferno
partilhar com ele o denso véu
ou negar o demo e vagar
ao
léu

há dois modos de dizer a que veio
pular na frente
vim
gritar de trás olha eu aqui
enfim
ou estagnar na fileira
do
meio

há dois modos de sonhar
assistir ao sonho do outro
esticar o pescoço torto
ou sonho a sonho
or
ques
trar

há dois modos de beijar
a alma nos lábios do outro entregar
ou sonegar
sonegar

negar

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza cursos de Comunicação e Expressão, aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung provocando nossos sentimentos de todos os modos.

De Natureza e seus afins

 

Por Maria Lucia Solla

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Olá,

Criamos cada dia maior barreira entre nós e a Natureza e, separados dela, nos perdemos.
De que Natureza é Vida, e de que somos Um com ela, disso nos esquecemos.

Temos alma, repetimos prepotentes; cheios de certeza,
e essa jóia ela não tem, a tão defendida Natureza.

“Bando de naturebas.
Esquecerem-se de que aprendemos a nos unir por Reinos, eu, você e eles
e a mantermos, bem separados, cada um e todos eles?”

“Olha só com que tipo de gente você está se misturando, meu filho!
Espera só que se não me obedecer, te faço ajoelhar no milho, até o
anoitecer.”

Mas o simples mortal nunca se considera tão simples assim e acha brega o papo de voltar à Natureza e à própria essência.
Estratificamos assim a nossa existência:

Lá em baixo o inferno
onde faz calor mesmo no inverno.

Depois vem nosso planeta, a Terra
onde há riqueza, e o alimento se encerra.

Logo depois, o que brota dela
milho, feijão, boi, vaca, cão e cadela.

Em seguida viemos nós
que separados disso tudo, com orgulho,
nos sentimos cada dia mais sós.

E finalmente vem o céu,
mas o que não percebemos, de tão sutil que tudo isso é,
é que logo depois dele, vem de novo o inferno.

É que, na verdade, é o céu que nos separa dele – do mundo cruel – com um simples e tênue véu.

Disso tudo, o que ainda mais não percebemos é que todas essas camadas nos permeiam e que nós as permeamos também.

Me perdoe, mas por hoje cansei.
Permite, Vida, que eu desligue só por hoje, mente e coração!
Não aguento mais, a cada segundo, ter de aprender uma nova lição.

E você se sente assim também?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem

PS 1: Quero agradecer a Mário Castello e a Stratos Giamoukoglou o enriquecimento do meu album de fotografia.

PS 2: Música: De e por Maxime Le Forestier, “Comme un arbre” do cd Essentielles

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, escreve e desvenda o véu da vida no Blog do Mílton Jung

De céu e inferno

Por Maria Lucia Solla

Olá,

A turba alvoroçada prepara-se para um encontro com um mestre. Esperam que, num passe de mágica, ele possa lhes abrir as portas do céu. Ansiedade campeia e prolifera no ar.

A figura do mestre se aproxima sem que ninguém perceba. Nada de carruagem de fogo, helicóptero, ou nave espacial. Chega sem cortejo. Passeia o olhar pela multidão, sorri e não diz; pergunta: Quem sabe onde ficam Céu e Inferno? 

Menina entre o céu e o inferno, na AmarelinhaApós um mergulho no silêncio da surpresa, segue-se um ensurdecer de vozes descompassadas, pipocam desmaios, e alguns entram em transe, falando línguas só conhecidas no recôndito de suas próprias almas. Ninguém sai incólume. Há os que ficam imóveis, o olhar perdido num horizonte qualquer, tomando coragem para ver, e há outros, fisicamente agitados, que despejam, em público, o conteúdo de malas e malas de conceitos sufocantes, dos quais nunca haviam se separado. E endireitam a coluna, aliviados do peso. Ele olha. Sorri novamente um sorriso maroto, e vai embora. Parte como chegou. Sem Pompa e Circunstância.

Se isso aconteceu ontem, hoje, nesta realidade ou noutras paralelas; se ainda está para acontecer ou ainda se nunca aconteceu, não faz a mínima diferença.

Se eu estivesse lá, faria parte do grupo que fala mais que a boca. Diria que hoje vejo claro e cristalino que céu e inferno não ficam nem lá em cima, nem lá embaixo. À esquerda, à frente, à direita ou atrás. A gente se acostumou a olhar para fora.

Quantas vezes transitei por esses dois conceitos! Pior do que o esquizofrênico que constrói o castelo de areia e vai morar nele, eu acabava morando num castelo de areia que nem era meu. Tropeçava no céu e dizia: Inferno! Vivia um tempão ardendo no mármore do inferno, acreditando que aquilo era o mais próximo do céu que eu conseguiria chegar.

Então, fi-nal-men-te entendi, na mente e no coração ao mesmo tempo, que não fazia mais sentido continuar acreditando num céu e num inferno tamanho-único Não fazia sentido continuar a fingir que acredito que tudo acontece do lado de fora. Joguei fora a crença de que alguém pode manejar as rédeas da minha vida, enquanto eu descanso dela.

Não acredito mais que ter razão seja importante, e procuro não desperdiçar os preciosos minutos da minha vida, perseguindo sonhos que decididamente não são meus.

E você? Como andam seus conceitos de céu e inferno?

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

De céu e inferno na voz da autora e com a música War cantada por Edwin Starr

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e autora do livro “De Bem Com a Vida Mesmo Que Doa”, publicado pela Libratrês. Todo domingo relata por aqui a experiência conquistada desde os tempos em que pulava amarelinha