Por Julio Tannus
Nas leituras sobre o que é ser um adolescente, vemos alguma proximidade com o que somos como povo.
Adolescência
É a fase que marca a transição entre a infância e a idade adulta. Com isso essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis – físico, mental e social – e representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e de aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis sociais do adulto.
Jacqueline Cavalcanti Chaves, em “Amor e ódio nos relacionamentos afetivos da contemporaneidade”, mostra que, paralelamente ao ideal amoroso romântico, surgem, hoje em dia, novos códigos de relacionamento e novas formas de sociabilidade. O “ficar com”, comum entre os jovens, é um exemplo destes códigos e se caracteriza pela busca de prazer imediato e pela ausência de compromisso com o outro. Levando adiante ideias desenvolvidas em trabalho anterior, a autora toma como exemplos o “ficar com” e a relação amorosa virtual para explorar o modo pelo qual o sujeito lida com sua ambivalência na atualidade, tendo em vista que a experiência amorosa é “limitada, ambivalente, imprevista e imperfeita”, considerando algumas características das sociedades ocidentais contemporâneas como a ênfase dada ao consumo, ao prazer imediato, à diversão permanente e ao bem-estar absoluto.
A construção da identidade do adolescente é contraditoriamente uma identidade individual e uma identidade coletiva. O adolescente precisa do adulto, precisa de referência; mas ele precisa diferenciar-se, construir sua própria identidade. Tornar-se adolescente é viver cercado por profundos conflitos.
Em “Jakob Willem Katadreufe: força e crueldade sem pertencimento”, trabalho de Elisa Maria de Ulhôa Cintra, temos minuciosa e sensível análise do filme holandês “Caráter”, que serve à autora como material para a discussão daquilo que chama de “eixo narcísico do desenvolvimento”. Como se constitui um adolescente cujo anseio por poder físico e intelectual e cuja aspiração à auto-suficiência domina o seu horizonte? Empregando em seu estudo noções como a de pulsão de domínio, Cintra diz que antes de mais nada será preciso verificar se houve, em sua história, experiências significativas de ser acolhido, de pertencer. O pertencimento implica sentir-se parte de um núcleo humano onde predominam trocas afetivas e capacidade de reconhecer o outro.
O que somos
Vemos-nos com irresistível capacidade de nos isolarmos e assim ficamos enfraquecidos, impossibilitados de enfrentar os desafios. Perdemos a capacidade de aglutinação, força necessária para dar legitimidade a uma representação efetiva. Nossa passividade torna-se permissividade.
No futuro, além de nos reservar grandes e rápidas mudanças, novos conceitos e demandas vão exigir um processo constante de adaptação e resposta, tanto por parte das empresas como das instituições em geral, reforçando cada vez mais a necessidade de estarmos juntos. E, para isso, cada vez mais necessitamos estar presentes coletivamente para fazer frente a essas mudanças.
Julio Tannus é consultor em estudos e pesquisa aplicada e escreve às terças-feiras no Blog do Mílton Jung