O ministro, o cartola e a incontinência verbal

 

Por Carlos Magno Gibrail

Nelson Jobim e Andrés Sanches, protagonistas recentes de frases, que têm feito a festa de adversários políticos e humoristas, demonstram entre outras coisas que a fala destemperada não tem nada a ver com a origem.

Jobim, advogado, mestre em Filosofia e Lógica Matemática, e professor adjunto de Direito Processual Civil da Universidade de Brasília. Foi deputado federal, presidente do STF Supremo Tribunal Federal, ministro da justiça de FHC, e ministro da defesa de Lula e Dilma.

Currículo e tanto para produzir opiniões não tão eloquentes:

“Os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos, hoje perderam a modéstia e é preciso tolerá-los” – Saudando FHC no dia de seu aniversário.

“É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem conhece Brasília” – Referindo-se às colegas de ministério.

“Votei em Serra em 2010” – Em entrevista recente.

Andrés Sanches, curso secundário na escola Nossa Senhora do Brasil em Limeira. Foi feirante, fundador da torcida organizada Pavilhão 9 do Corinthians, diretor de futebol do Corinthians nomeado por Kia Joorabchian representante da MSI do milionário russo Boris Abramovich Berezovsky . Após problemas com a parceria russa foi eleito presidente do Corinthians. Sucedeu Alberto Dualibi, afastado por acusações da Polícia Federal contra a MSI, acusada de lavagem de dinheiro. Conseguiu descartar o Morumbi como o estádio da Copa e planeja abrir o evento com uma obra de um bilhão sem que o Corinthians, seu proprietário, não desembolse tostão. Detonou o Clube dos 13. Tirou do São Paulo o primeiro lugar em arrecadação publicitária. Inimigo de Juvenal Juvêncio e amigo de Ricardo Teixeira, Ronaldo Fenômeno, Kia Joorabchian e Lula.

Um perfil contundente para frases também arrebatadoras:

“Kia, ganhamos, c_ _ _ _ _ _” – Ao telefone, na noite da vitória na eleição para presidente do Corinthians.

“O Corinthians vai ser condenado pela Lei Maria da Penha. Batemos nas meninas ontem” – Comentário feito após vitória sobre o São Paulo.

“Sou amigo do Ricardo Teixeira, sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster” – Na fase de bombardeio ao Clube dos 13.

Origens diferentes, motivações distintas, métodos pessoais peculiares, mas o gosto pelos holofotes e a busca insana e permanente pela espetacularização é fato convergente e latente.
Jobim disse que se retirou. Sanches anuncia que não se candidatará a mais nada. Quem acredita?

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung