Um áudio paralisa a Nação. Assim tem sido desde que foi divulgada a gravação feita por Joesley Batista com Michel Temer, semana passada. Não é uma conversa qualquer: fala-se da maneira como a política é feita no Brasil.
Um mega-empresário se encontra com o Presidente da República, fora de agenda oficial, entra na casa de forma sorrateira e com nome falso, e conta que mantinha dois juízes e um procurador na mão e silenciava um ex-deputado preso, com pagamentos mensais. O Presidente não esboça reação negativa. Ao contrário: dá sinais que concorda e incentiva – apesar das controvérsias que seus defensores impõem a estas interpretações.
A delação premiada da JBS vai muito além daqueles 30 e poucos minutos de gravação, mas a discussão tem se centrado na veracidade do áudio porque é assim que Michel Temer tem tentado derrubar as suspeitas que recaem sobre ele. O perito contratado pelo Presidente disse que a gravação não pode ser considerada autêntica: é imprestável (assim como também são as negociações entre empresários e políticos, digo eu).
Tem perito que fala em 50 pontos de edição, tem quem conte 14 e tem quem diga que nada dá para dizer.
O arquivo de áudio em questão começa e se encerra com o som da programação da rádio CBN, uma forma que teria sido encontrada pelo empresário para deixar registrado o dia e o horário da conversa deles.
Hoje, a reportagem da CBN, após usar um software profissional de edição, comparou a gravação do empresário com a programação original da rádio e identificou que existe uma diferença de 6 minutos e 21 segundos.
Ouça a reportagem produzida por Julio Lubianco e André Coelho:
Em outro trabalho produzido pela CBN, profissionais de investigação e inteligência afirmaram que gravações feitas através de aparelhos com sensores de áudio ambiente podem provocar a impressão de que foram editadas. E afirmam que gravadores que entram em modo de espera diante da ausência de ruídos podem apresentar um áudio menor do que o tempo que durou uma conversa.
Ouça a segunda reportagem produzida por Julio Lubianco e André Coelho
Como fiz questão de ressaltar no Jornal da CBN, desta segunda-feira, ainda antes de termos o resultados dessas duas reportagens, somente perícia oficial e juramentada é capaz de resposta definitiva. E disse isso porque levantamento prévio, baseado em registros manuais de produção da CBN, apresentado ainda na sexta-feira passada, mostrava que o tempo do áudio da gravação era condizente com o tempo de intervalo entre os dois programas da rádio que aparecem no arquivo entregue por Joesley à Justiça. A apuração mais precisa e comparando os arquivos de áudio, agora, mostra o contrário. A contradição apenas reforça a necessidade de análise técnica e isenta para que se tire qualquer conclusão.