Avalanche Tricolor: na convalescência, tempo e paciência são nossos únicos companheiros

Grêmio 1×2 LDU (EQ)

Sul-Americana — Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Às vezes se tem sintomas, e nada aparece. Outras, os sintomas sequer são percebidos, mas o resultado é cabal. A impressão é que não existe uma padrão pois depende de como cada um vai reagir diante do risco, da maneira como está protegido ou do momento em que o inimigo se apossou de você. Em um ecossistema frágil, a possibilidade de contaminação é maior. Os processos naturais não se realizam, as articulações apresentam problemas e o perigo aumenta. Falo de uma doença que foi se instalando aos poucos. Se espalhou pelo corpo. E agora, o tempo e a paciência são nossos únicos companheiros, enquanto a cura não se realiza.

No caso do mau futebol —- que é o mal que nos atinge lá pelos lados de Humaitá —- seria ilusão imaginar que um remédio aplicado em dose única eliminaria a patologia sentida desde boa parte do ano passado. Verdade que o empate no clássico, a vitória na primeira partida da Sul-Americana e os três pontos no fim de semana chegaram a nos entusiasmar. Tanto quanto sabíamos que a convalescência se deva muito mais pela mística de quem aplicava a dose do que pela performance do paciente. Scolari salva, mas não faz milagre. Faz o que pode. 

Diante da nossa debilidade, se pensarmos bem, talvez o melhor seja concentrar as forças no que é possível, por mais medíocre que o possível possa ser. Em um corpo fragilizado qualquer esforço extra se torna excessivo e pode levar a inanição quando mais se precisar de energia. Manter-se vivo na Série A e avançar o quanto der na Copa do Brasil são os objetivos a partir de agora. De preferência, eliminando do corpo as toxinas e vírus que nos consomem e renovando o organismo que nos move.

Se sairmos desta jornada de percalços mais limpos, leves e com capacidade de retomar o caminho dos títulos,  temos de erguer as mãos ao céu e agradecer aos que, pacientemente, acreditaram na nossa recuperação. Eu acredito. Porque a crença ainda é o que me faz acordar amanhã cedo e começar mais uma caminhada.

Avalanche Tricolor: saudade de você!

LDU 0x1 Grêmio

Sul-Americana — Quito, Equador

Léo Pereira em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

 

Vitória!

Que saudade de você, minha querida! 

Há quanto tempo a gente não se encontrava por aqui. 

A última que lembro foi há mais de um mês.

Gol? Não comemorava há quase 20 dias.

Que seca!

Abstinência total.

 

Fomos buscá-la da maneira mais sofrida possível.

Lá na altitude. Nos 2.850 metros de Quito.

Com o jeito Scolari de ser.

Fechado em uma linha de seis jogadores próximos da área.

Com os pontas recuados. Os meias recolhidos. 

E os atacantes voltando na intermediária.

Com uma ou outra escapada ao ataque.

 

Abrimos mão do toque de bola preciso por uma marcação precisa na bola. Trocamos a aproximação pelo chutão. Ocupamos os espaços. Reduzimos riscos. Restringimos os perigos de gol. Contamos com Chapecó, um goleiro bem aventurado. Usamos de velocidade e apostamos no talento do passe de Jean Pyerre —- jogador que demonstrou um ânimo irreconhecível.

 

Consagramos Léo Pereira. O garoto de Bauru, que surgiu em Itu, ameaçou ser moleque de Itaquera e agora se transformou em mais um guri do Humaitá. Com apenas 21 anos e 1,72 de altura, correu, marcou e se meteu em meios aos grandalhões da zaga adversária para marcar de cabeça o único e definitivo gol da partida.

Uma vitória sofrida, sem dúvida.

Mas antes sofrer com apenas 23% de posse bola, na retranca e com uma vitória, do que inanição com a bola no pé. 

Tava com saudade de você.

 Vê se não me deixa, Vitória!

Avalanche Tricolor: alguém aí tinha medo de jogar no Grupo da Morte?

 

LDU 2×3 Grêmio
Libertadores – Estádio Casa Blanca,Quito(Equador)

 

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Festa nas alturas, foto de Lucas Lebel/Grêmio FBPA

 

Desde a classificação às oitavas-de-final, na noite de ontem, até o momento em que começo a escrever este texto, já se passaram muito mais horas do que geralmente costumam passar quando transcrevo para esta Avalanche a história escrita pelo Grêmio em campo.

 

A partida se encerrou tarde e prendeu minha atenção até muitos minutos depois do jogo, dada a tensão e emoção provocadas pelo desempenho gremista na altitude de Quito. Difícil colocar a cabeça no travesseiro logo após o apito final do árbitro, enquanto o coração ainda bate acelerado e sabendo que se tem de madrugar para trabalhar no dia seguinte. E o dia seguinte começou sob um turbilhão de informações no campo político e uma dezena de obrigações profissionais. Sim, a cobertura jornalística também está tensa e emocionante.

 

Nada, porém, seria capaz de me impedir de compartilhar com você, caro e raro leitor desta Avalanche, a satisfação de ver o Grêmio jogar com a maturidade com que jogou. Momentos como os vividos na noite dessa quarta-feira precisam ser saboreados. Porque não resultaram do acaso, do imponderável que muitas vezes cruza nosso caminho – a favor e contra. São fruto do planejamento; de um time que teve paciência para se reconstruir no início de temporada, da persistência para preservar seus valores; do cuidado em recolocar as peças no lugar; e da sensibilidade para preparar a cabeça (e o pulmão) de jovens e veteranos para os desafios que teriam de enfrentar.

 

O temor da altitude, justificável pelos transtornos gerados nos times da planície que são obrigados a jogar lá no alto da montanha, foi driblado com maestria, chegando-se cedo, tomando todos os cuidados possíveis e jogando com inteligência. Os mesmos fatores que permitiram que se superasse o prejuízo provocado pelo gramado encharcado.

 

Claro que altitude e charque atrapalham muito e oferecem vantagens ao adversário. Sempre vão exigir, como exigiram, esforço extra, superação e muita confiança. Porém se somarmos talento, planejamento e coragem seremos, como fomos, capazes de vencer a todos.

 

Dos muitos aspectos que me agradaram, está o fato de termos sabido substituir o medo da altitude pelo respeito, o que nos permitiu jogar de forma mais confortável mesmo diante da pressão adversária. Soubemos fazer a bola passar de pé em pé, esticando-a para fugir das poças d’água e encurtado-a para chegar na área, onde o campo parecia mais seco. Houve eficiência, também, pois atacamos duas vezes e marcamos nas duas – aliás, você já percebeu que pelo quinto jogo consecutivo marcamos antes dos 15 minutos. Ainda tivemos maturidade, a medida que mesmo com a ameaça no início do segundo tempo, mantivemos o controle, a ponto de ampliarmos a vantagem no placar. E diante de alguns sustos, soubemos nos defender.

 

O conjunto desta obra, orquestrada por Roger, permitiu que, com uma rodada de antecedência, o Grêmio já esteja classificado à próxima fase da Libertadores. Se alguém pensou que ter caído no grupo da morte seria fatal para as pretensões gremistas, esqueceu da escrita de nossa imortalidade.

Avalanche Tricolor: obrigado por me dar o direito de sorrir

 

Grêmio 1 (5) x 0 (4) LDU
Libertadores – Arena Tricolor

 

 

A bola rolava no gramado, jogadores lutavam contra um adversário duro e um árbitro mole e os torcedores empurravam o time à frente. Mas havia uma tristeza intrínseca iludida pelas emoções que o futebol nos provoca. Uma tristeza representada na tarja preta na manga das camisas tricolores e em faixas carregadas pela torcida. Sinais que lembravam a morte dos mais de 230 jovens em Santa Maria ainda muito presentes na memória do povo brasileiro, e gaúcho em especial. Qualquer cosquista, por maior satisfação que nos oferecesse, não seria suficiente para mudar a realidade do dia seguinte, quando a tensão do jogo se esvairia e perceberíamos como é fugaz a alegria diante da dimensão da tragédia ocorrida no interior do Rio Grande do Sul. Quis o destino, porém, nos dar o direito de sorrir por alguns instantes nesta noite. Um sorriso sofrido por tudo que envolvia o jogo e pela forma como a vitória chegou. E um sorriso particular pela conquista individual de Marcelo Grohe ao defender a última bola do jogo e calar os críticos incapazes de enxergar o ser humano acima de suas vaidades pessoais.

 

Obrigado, Grêmio, por me dar um só motivo para sorrir nesta semana.

 

Avalanche Tricolor: nada está decidido

 

LDU 1 x 0 Grêmio
Libertadores – Quito (EQ)

 

Os anos de luta nos deixam calejado, ensinam a entender os fatos por uma perspectiva mais ampla, nos afastam da frustração comum nos resultados negativos tanto quanto da ilusão provocada pelo sucesso fugaz. Por isso, independentemente do placar e do desempenho desta noite a 2,8 mil metros acima do nível do mar – o que deveria impedir jogos de futebol por se transformar em uma espécie de doping sem droga -, saímos de campo com a consciência de que nada se decide agora e se sonhamos seguir em frente na Libertadores temos que saber superar nossas carências e nosso adversário dentro da Arena, que, esperamos, se transforme em novo templo de conquista.

 

Quis os descuidos de 2012 que começássemos esta temporada sob o signo da decisão, nos obrigando a superação desde o primeiro momento, seja pelos dez dias afastados de casa, na tentativa de se adaptar a altitude, seja pelo esforço extra de correr por 90 minutos com menos gás à disposição, seja pelo risco de jogarmos fora todos os investimentos do ano ainda quando para alguns o ano sequer começou. A diretoria trouxe os jogadores que o técnico pediu, os jogadores ganharam tempo para se preparar, mesmo com o calendário apertado, e o time, claro, ainda precisa se conhecer. Vargas nem foi apresentado a todos seus companheiros, por exemplo.

 

Nosso próximo compromisso será dia 30 de janeiro, em Porto Alegre, na partida de volta com a LDU. E estaremos em campo tentando não ser influenciado, nem para o bem nem para o mal, pelo resultado dessa noite. Temos de ter os pés no chão, a cabeça no lugar e o coração na ponta da chuteira, não importando quantos gols precisamos fazer, quantas dificuldades ainda teremos de encarar, por que o Grêmio sempre tem de jogar desta maneira. Faz parte da nossa alma tricolor.