Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: quando o oportunismo atropela o bom senso

Comparar a eleição de um papa à liderança de mercado de um carro é um risco que pode custar caro à reputação de uma marca. Essa foi a crítica feita por Jaime Troiano e Cecília Russo, nesta semana, no Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, no Jornal da CBN, a uma campanha da Caoa Chery que utilizou como gancho o anúncio do novo Papa Leão XIV para promover o SUV Tiggo 8.

A ação publicitária, estampada na sobrecapa de dois grandes jornais, mostrava a imagem da fumaça branca saindo da chaminé da Basílica de São Pedro, acompanhada da frase: “No mesmo dia, dois líderes foram escolhidos. Um no Vaticano e o outro nas ruas do Brasil”. Na sequência, vinha a explicação: o líder seria o SUV da montadora.

Para Jaime Troiano, a peça publicitária é um exemplo evidente de manipulação. “Foi talvez uma das mais manipulativas que eu já acompanhei na minha vida”, afirmou. “Comparar o que é a eleição de um papa com a posição de mercado de uma marca de veículo é um paralelo, pelo menos, muito infeliz.”

Cecília Russo compartilhou o incômodo do colega, ressaltando que a atitude ultrapassa os limites do aceitável na comunicação de marca. “Esse foi um caso extremo de oportunismo. Não vamos confundir oportunismo com oportunidade.” Ela alertou que esse tipo de prática é mais comum do que se imagina, especialmente em datas comemorativas. “Tem empresas que no Dia das Mães se mostram carinhosas e amorosas, mas no dia a dia não praticam isso nem com seus próprios colaboradores.”

Além de criticar o caso específico, o comentário destacou o efeito colateral desses abusos: a generalização negativa sobre o marketing. “Você descredencia mensagens de comunicação e marketing que têm um caráter não só de venda, mas também de educação para a escolha”, disse Cecília. “E aí surge aquele velho preconceito: ‘Ah, isso é coisa de marqueteiro’.”

A marca do Sua Marca

A principal marca do comentário está na advertência clara aos profissionais e empresas: comunicação eficaz não deve se apoiar indevidamente na simbologia alheia. “As marcas precisam usar suas próprias virtudes quando se comunicam com clientes e consumidores. Quando elas sugam a força dos outros sem pedir licença, elas não estão fazendo um papel bonito”, concluiu Jaime.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.

Cuidado com os números

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Não bastasse a manipulação das ideias pela fala dos homens, a dubiedade numérica exposta em alguns resultados estatísticos tem exigido atenção de quem não está disposto a ser ludibriado. O IDH, capítulo mais recente da discussão de dados, colocando o Brasil, 6ª economia global, na 85ª posição em um ranking de 186 países, veio contribuir para aquecer este tema. Justamente o IDH, que foi criado com a intenção de dar um posicionamento mais equilibrado entre as nações diante do sistema anterior que utilizava apenas o PIB. Índice que considera apenas o econômico.

 

Ressalvada a questão da coleta de dados desatualizados, que ainda assim não daria tanta diferença no ranking, fica a dúvida se a equação criada para representar o índice de desenvolvimento humano é efetivamente satisfatória. A melhoria do Brasil, para quem tem a oportunidade de conhecê-lo atualmente, é visível a olho nu.

 

A ONU, responsável pelo índice e, em principio, sem objetivos manipulativos, bem que poderia dar o bom exemplo e reanalisar os parâmetros considerados para checar sua eficácia em relação ao objetivo proposto, de ter um número que explicite a situação real de bem estar e qualidade de vida das populações. Um contraponto às entidades privadas e públicas que tem manipulado dados. Dos governos norte e sul americanos à FIFA, temos visto dúvidas em relação aos seus números econômicos e financeiros. No futebol, até mesmo o ranking de seleções é questionado. Sua credibilidade passa longe, por exemplo, da ATP, que demonstra claramente a posição dos tenistas profissionais.

 

Neste cenário é que o livro “Naked Statistcs” do professor Charles Wheedan está sendo lançado, com o propósito de ajudar a desvendar a manipulação das estatísticas. Da resenha da obra de Wheedan, publicada na imprensa, chamamos atenção ao ocorrido no estado americano de Illinois. Um aumento de imposto de 3% para 5% foi minimizado pelo partido do governo, enquanto a oposição gritava contra o acentuado reajuste de 67%, pois os 2% significa na realidade um acréscimo de 67%.

 

A verdade é que números e palavras podem expor dados reais para explicar fatos irreais.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras