Menores: acorda Brasil!

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

Crianças de rua

 

Ontem, Mílton Jung reforçou seu artigo de sexta, que pedia isenção e reflexão sobre a criminalidade de menores. Registrou os dados de Sonia Racy publicados no Estado de domingo, colhidos na Fundação Casa, informando que 3.600 internos de um total de 9.000, foram para lá em função do tráfico de drogas. Crime que encontra o despreparo do estado em 70% dos municípios paulistas, pois apenas 30% tem estrutura para lidar com as drogas.

 

Ainda ontem, a Folha em seu editorial “A rua vence a escola” publicou que pesquisa do Datapopular registrava que 44% dos professores do estado tinham recebido agressões físicas ou verbais, além de 84% saberem da violência nas escolas, das quais 42% originadas pelas drogas.

 

Na capital paulista, pesquisa publicada na semana passada indica que a maior preocupação do paulistano é o receio das drogas.

 

Atendendo a sugestão do artigo do Mílton procurei abastecer-me da necessária isenção sabendo das barreiras do juízo de valor, e refletindo dentro das minhas possibilidades, cheguei à conclusão que precisamos de atualização. De um lado, o jovem contemporâneo não pode ser visto dentro do perfil comportamental de antigamente. O amadurecimento é evidente, e a evolução da espécie já não é tabu, de forma que tratar o adolescente de 16 a 18 anos como criança, é no mínimo imprudente. De outro lado, o aparato estatal precisa estar equipado para atuar no mundo de hoje, considerando o universo do bem e do mal que cerca a juventude atual.

 

Acredito, portanto, que antes de refazer a antiga e certamente ultrapassada legislação do menor, precisamos definir a verdadeira idade dos adolescentes diante das prerrogativas e responsabilidades que deverão arcar. Sob este aspecto visualizo a necessária técnica da segmentação das faixas etárias, abrindo uma moderna escala especifica para cada grupo.

 

Ao Estado deverá caber a tarefa de se preparar com o conhecimento e habilidade necessária para enfrentar o desafio de administrar e controlar as causas antes dos efeitos, do mundo das drogas e afins, que ora estão atingindo a juventude.

 

Se a precipitação em torno da maioridade penal é contraindicada, a aceleração do processo de análise é essencial.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

Os jovens no tráfico de drogas

 

Em quatro linhas, bem afiadas pela jornalista Sonia Racy, em sua coluna de domingo, no Estadão, encontro mais argumento para sustentar o que escrevi na sexta-feira, no blog, no texto “O que eu penso sobre a redução da maioridade penal”. Leia a nota que reproduzo a seguir e pense:

Tráfico de drogas já é o crime mais cometido pelos adolescentes da Fundação Casa. Dos 9 mil internos, 3,6 mil estão lá dentro por causa do delito.

 

E a coisa não deve mudar tão cedo. Apesar dos números, 451 municípios paulistas – 70% do total – não têm órgãos especializados para combate às drogas.

O que eu penso sobre a maioridade penal

Texto escrito, originalmente, para o Blog Adote São Paulo, da revista Época São Paulo

 

el arma homicida

 

Antes de começar a ler este texto, saiba que ainda me dói lembrar que, há um ano, minha casa foi ocupada por oito pessoas armadas, dentre elas jovens e adolescentes, que ameaçaram meu filhos e minha família. Portanto, mesmo que você discorde de cada palavra aqui escrita, e aceitarei isto com naturalidade pois compreendo as emoções e razões que nos movem quando falamos de segurança pública, não desperdice nosso tempo desejando que eu e meus familiares sejamos vítimas de violência cometida por menores de idade. É o tipo de pensamento que desmerece a crítica, enfraquece os argumentos e o torna tão desumano quanto os bandidos que precisamos combater.

 

O envolvimento de jovens com menos de 18 anos em casos de violência, como assaltos e assassinatos, tem provocado comoção na sociedade. Levantamento feito em oito Estados brasileiros mostra que, em 2012, aumentou o número de apreensão de crianças e adolescentes. Ano passado, 18% das pessoas capturadas pela polícia eram menores de idade; em 2011, este percentual era de 17%.

 

Muitas pessoas defendem a redução da maioridade penal como forma de combater esta violência. A ideia é defendida por autoridades policiais e governamentais, também.

 

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, diante do aumento dos casos de violência registrados no Estado que comanda, cometidos por jovens e adultos, apresentou proposta, ao Congresso Nacional, que prevê mudança no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A proposta de Alckmin sugere que se o menor cometer crime hediondo, o juiz poderá determinar que o infrator fique internado até 8 anos, em vez de 3 anos, como previsto atualmente; ao completar 18 anos, este infrator terá de ir para um regime especial, ficando afastado daqueles infratores com até 17 anos; defende, também, aumento de pena para adultos que usarem menores nos crimes. O governador diz que não é a favor da redução da idade penal.

 

Ao contrário do que se propaga, a legislação brasileira prevê punição a jovens envolvidos em crimes, seguindo recomendações internacionais e leis em vigor em outros países. Segundo o Unicef, de 54 países analisados, a maioria adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18 anos de idade, como no Brasil. E têm legislação específica de responsabilidade penal juvenil para crianças a partir de 12, 13 ou 14 anos. No caso brasileiro, esta responsabilidade começa aos 12 anos, idade a partir da qual, a criança que tenha cometido alguma infração pode ser internada em entidades coma Fundação Casa, em São Paulo.

 

Apesar do destaque que o envolvimento de menores em crimes tem tido na imprensa, e da reação de governos e parte da sociedade, as estatísticas mostram, claramente, que menos de 1% dos assassinatos no Brasil são cometidos por menores. Ou seja, são os adultos os responsáveis pela maior parte dos assassinatos no País. Em contrapartida, o Mapa da Violência mostra que de cada três mortos por arma de fogo, dois estão na faixa dos 15 a 29 anos. Os jovens representam 67,1% dos mortos por armas de fogo. Ou seja, são mais vítimas do que algozes.

 

Importante perceber que o aumento nos últimos anos da entrada de adolescentes no mundo do crime está relacionado ao envolvimento com o tráfico de drogas.

 

Reduzir a maioridade penal para 14 ou 16 anos, conforme propostas discutidas no Congresso Nacional, não vai reduzir os índices de violência. Servirá apenas para dar uma resposta à comoção popular. Haja vista, que mesmo com as leis em vigor para maiores de idade, os crimes não estão diminuindo.

 

Causas que precisam ser atacadas para reduzir o envolvimento de jovens em crimes e, principalmente, conter a violência no País: combater o tráfico de drogas; melhorar o trabalho de polícia preventiva; tornar mais eficiente a investigação policial para identificar os criminosos. No caso específico para os jovens: melhorar o sistema de proteção social nas áreas mais carentes; melhorar a qualidade dos ensino médio e fundamental; criar programas públicos para atedimento de menores, tanto em situação de risco como os envolvidos em crimes; capacitar e qualificar profissionais que realizam as ações socioeducativas aos menores internados, melhorando os índices de ressocialização e reduzindo os casos de reincidência.

O Nascimento da Excelência

 


Por Cesar Cruz
Ouvinte-internauta da CBN

Imagino que deva ser uma experiência única presenciar o momento exato em que um prodígio, um gênio, dá o seu primeiro passo em direção à imortalidade. Fico imaginando quem foi o felizardo a presenciar as pinceladas iniciais de um Van Gogh, a primeira criação de um Da Vinci, ou os acordes prematuros do pequeno Beethoven… Ah, eu daria dias da minha vida para presenciar algo assim! Mas a verdade é que gênios são raros. A iniciação dos comuns, como eu e você, é o que mais nos interessa.

Nós, os comuns, temos que começar bem cedo a praticar se quisermos alcançar algum nível de excelência em nossos ofícios. Os atletas começam muito cedo; dizem que os ginastas, aos 4 anos, já ensaiam suas primeiras cambalhotas nos ginásios. E é justamente com essa precocidade que estão sendo treinados alguns segmentos profissionais atualmente.

Veja, por exemplo, a prematuridade dos meliantes no quesito iniciação. É de se tirar o chapéu! É dessa forma que precisamos preparar os nossos filhos para o futuro!

O que aconteceu à minha mulher num dia desses é um bom exemplo a ser seguido.

Ao parar o carro em um semáforo da Rua do Lavapés, no Cambuci, ela ouviu um aviso de assalto:

— Aí tia, seguinte: isso é um assalto, eu não quero machucar a senhora, é só entregar tudo.

Minha mulher olhou na direção da janela e não havia ninguém ali. De onde teria vindo aquela voz? Observou com mais atenção e percebeu que na porta repousavam duas mãozinhas e uma carinha miúda, apoiada pelo queixo.

— Que foi, menino?

Segundo a Vanessa, o pequeno meliante teria quando muito uns 5 anos, e com ele não havia nada que pudesse ser apresentado como arma. As sobrancelhas apertadas no centro da testa e o olhos espremidinhos, eram o resultado do esforço do menino em intimidá-la.

O garotinho repetiu exatamente a mesma frase, no mesmo uníssono monótono, sem pausas, como num mantra:

—Aí-tia-seguinte-isso-é-um-assalto-eu-não-quero-machucar-a-senhora-é-só-entregar-tudo.

— Não tenho nada não, menino! — disse ela, firme.

— Então me dá o rádio.

— Imagina!

— E aquela lupa ali? — e apontou um dedinho pros óculos de sol no console.

— De jeito nenhum!

A inadequada máscara de bandido já começava a se diluir, e, sem se dar conta, o pequeno assaltante voltava a ser uma simples criança.

— E aquilo ali? — agora curioso e pedinte.

— Não meu bem, aquilo ali é pra titia trabalhar.

A essa altura minha mulher já tinha assumindo aquela universal maternidade que todas as mulheres parecem ter com as crianças. Então se inclinou, pegou algo no porta-luvas e deu na mãozinha do menino

— Toma essa balinha.

O semáforo abriu e ele correu. Pelo retrovisor ela pôde vê-lo enfiando a bala na boquinha e saltitando até a calçada, naqueles pulinhos típicos dos meninos pequenos. Fora se reunir com os maiores, de 12, 15 anos que observaram toda a sua iniciação e certamente teriam comentários técnicos a fazer, sugerir pequenos ajustes, propor mais firmeza…

Apesar de tragicômico, o episódio reserva-nos uma grande lição: os profissionais do futuro já estão praticando desde pequenos, e em simuladores reais! É por isso que os nossos policiais, que entram na Academia já adultos e em poucos meses já são colocados nas ruas, nunca se mostram aptos a combatê-los.

Quanto à minha mulher, foi para casa agradecendo a Deus por ter sido vítima de um simples treinamento. Mas aquele que cair nas mãos do pequeno aprendiz daqui a alguns anos, certamente não terá a mesma sorte.