Por Sérgio Yunes
Ouvinte da CBN

A tarde quente e ensolarada de janeiro tornou ainda mais agradável a chegada à Praça Charles Miller, onde fica o Estádio Municipal do Pacaembu. Era 2019. O estádio ainda não passava por reformas, funcionava normalmente, inclusive naquela noite receberia uma partida pela primeira fase do Paulistão: São Paulo e Guarani de Campinas.
No vasto largo, vendedores ambulantes dos mais diversos tipos já se postavam, embora ainda fosse cedo. A polícia também estava presente, com soldados a pé e viaturas. Olhando tudo isso e driblando a todos eles, como convém ao histórico local, tomei o rumo do estádio. Meu destino não era o campo de jogo ou as arquibancadas, mas sim o Museu do Futebol, um dos principais pontos turísticos da cidade.
E como sou fanático pelo esporte desde 1970, quando fui apresentado ao jogo dos 11 pelo maior time de futebol de todos os tempos, a seleção brasileira daquela Copa do México, a visita ao Museu era mais do que obrigatória, era uma necessidade. Antes, uma ótima surpresa. Mesmo em preparação para o jogo da noite, os acessos à parte interna do Estádio estavam abertos à visitação. Cruzei os portões e logo cheguei ao campo. Arquibancadas, pista e gramado mostraram-se galantes, tudo prontinho para a partida e para receber as torcidas.
O velho e histórico estádio revelava seu charme, encantamento e força. Aliás, força não só dele, mas de todo o futebol brasileiro, com placas em homenagem às conquistas da Seleção Brasileira, com os nomes de todos os jogadores.
Visto e sentido tudo isso, era hora de entrar no Museu. No caminho, a loja do Futebol. Como lembrança, um imã de geladeira com a imagem do Estádio. Ali ao lado, no café do Pacaembu, um jornalista começava a preparar os primeiros materiais para a cobertura do jogo. Ingresso na mão, comecei o passeio pelo imenso universo do esporte mais popular no mundo.
Escudos, fotos, vídeos, gravações, camisetas, arquivos históricos, listas de clubes, músicas e até uma biblioteca, talvez a mais completa para estudos sobre a modalidade. Mas foi na parte final da visita que presenciei algo impressionante, algo quase inacreditável.
Amarelinha, incrivelmente nova e perfeita, como foi o futebol de seu dono. Lá estava ela, a camisa número 10 de Pelé. E não era qualquer 10 de Pelé, se é que é possível existir isso, era a camisa usada pelo Rei na final da Copa de 70.
Peça sem preço, de valor inestimável para toda uma nação e para o mundo, estava ali, venerada como um altar que homenageava a paixão e um dos homens mais amados do planeta. Impossível não ficar encantado ou hipnotizado ao olhar a vestimenta, imaginando os movimentos geniais, sagrados e míticos que recebeu naquele jogo contra os italianos. Impossível não devorar com os olhos cada detalhe da peça, do histórico escudo da CBD à etiqueta do fabricante, uma multinacional de material esportivo, colocada na parte interna, sem ficar à mostra. Naquele tempo não havia o marketing de hoje. Toda lisa, num amarelo dominante com gola e bordas das mangas em verde, certamente era a principal peça do Museu e alvo maior dos visitantes.
Ainda atônito por ter estado tão perto daquela peça icônica, que poderia ter tocado não fosse o vidro de proteção, encerrei o passeio pelo Museu e pelo Estádio. Ganhei novamente a praça Charles Miller, que já começava a receber os primeiros torcedores para o jogo da noite, afinal a bola, o campo e o gol precisavam continuar a prestar suas homenagens a quem os tratou com tamanha majestade.
Ouça o Conte Sua História com o gol de Pelé na final de 70
Sérgio Yunes é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também personagem da nossa cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros episódios, visite meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.”

