Por Milton Ferretti Jung
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Em minha carreira de narrador de futebol, que eu me lembre, não consegui narrar apenas dois jogos. Um deles – não me perguntem o ano, por favor – foi Atlético x Grêmio, no Estádio Independência. Já contei, em uma dessas quintas-feiras, o ocorrido com a transmissão da Rádio Guaíba, nesse jogo. Em resumo, a RADIONAL deixou-me na mão: narrei 85 minutos e só parei quando, nos meus fones, ouvi a voz do meu colega Marco Aurélio, que apresentava o rádio jornal noturno. O motivo que me impediu de relatar uma partida pela segunda vez foi, porém, bem mais sério. Fui escalado para narrar, pelo Campeonato Brasileiro, Desportiva x Grêmio em Vitória, capital do Espírito Santo. A equipe que eu comandava desembarcou no sábado, descansou e, no domingo, rumou para o Estádio Engenheiro Araripe. Em Porto Alegre, Armindo Antônio Ranzolin já começara a narrar Inter x São Paulo. O jogo, em Vitória, começa mais tarde. No Autódromo de Tarumã, localizado no município de Viamão, bem próximo da capital gaúcha, o repórter Clóvis Rezende, acompanhava a 4ª Etapa do Campeonato Gaúcho de Turismo. Antes que se estabelecesse o nosso contato com a central técnica da Guaíba, alguém comentou que um grave acidente havia ocorrido no Autódromo. Tão pronto fizemos contato, fomos informados pelo operador da central que deveríamos retornar para Porto Alegre. O nosso companheiro Pedro Carneiro Pereira envolvera-se num acidente com Ivã Iglesias ao tentar ultrapassá-lo. Os carros se chocaram e ambos bateram no muro de proteção dos boxes. Imediatamente se incendiaram. Os pilotos não puderam ser retirados em tempo de serem salvos. No Beira-Rio, o árbitro Arnaldo César Coelho, ao ser informado do ocorrido, interrompeu a partida por alguns minutos. A Rádio Guaíba encerrou a jornada esportiva e passou a rodar músicas. Saímos às pressas do Engenheiro Araripe, corremos até uma agência da Transbrasil e conseguimos voar, debaixo de mau tempo, para o Rio de Janeiro. Lá,embarcamos no “corujão” da Cruzeiro. Eu e meus companheiros largamos nossas bagagens em casa e rumamos para o velório do Pedrinho. Corria, então, o ano de 1973. Estávamos no dia 21 de outubro
Conheci Pedro Carneiro Pereira quando a Rádio Canoas, cujos estúdios situavam-se em Porto Alegre, chamou interessados em fazer carreira no rádio. Entre os inúmeros candidatos a uma vaga de locutor, estava um jovem pouco mais moço que eu. Não me esqueço, sei lá a razão, que vestia uma camisa esporte quadriculada. O teste não era dos mais fáceis. Não bastava, para quem buscava lugar na Canoas, ler, sem errar, textos comerciais e noticiários. Exigia-se, também, que falassem de improviso sobre assunto que desse na cabeça do testado. Somente um dos candidatos passou no teste: Pedro Carneiro Pereira. Em 1958, deixei a Rádio Canoas e sentei praça na Guaíba, onde estou até hoje. Pedrinho e eu narramos várias provas automobilísticas quando ambos ainda estávamos na Emissora da Caldas Jr. Pedro saiu da Canoas, fez teste na Rádio Difusora e,claro,foi aprovado. Indiquei-o para Mendes Ribeiro, diretor de broadcasting da Guaíba. Ele foi contratado e voltamos a trabalhar lado a lado, fazendo dupla, às vezes, na locução comercial. Naquela época éramos dez locutores. A Rádio não aceitava jingles nem spots. Era tudo ao vivo. Acabamos os dois trabalhando na equipe esportiva. A história do Pedrinho, porém, não termina aqui. Na próxima quinta-feira, contarei como foi a estreia dele no automobilismo de competição.
Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)