Havia uma lágrima no olho de Barack Obama logo que desembarquei nos Estados Unidos. Ainda na fila da imigração, interminável, demorada e cansativa, a televisão mostrava o discurso do presidente dos Estados Unidos com voz triste pela morte de pequenos estudantes de uma escola em Newtown, em Connecticut. Naquele momento ainda não se tinha a dimensão final do ataque cometido por Adam Lanza que, soube-se depois, havia matado 20 crianças e seis adultos, além da própria mãe e ter cometido suicídio. Tinha-se ideia, porém, da repercussão dos fatos e da comoção visível em todos os que me acompanhavam na fila a espera para entrar nos Estados Unidos.
Desde o acontecido, os canais de notícia na televisão dedicam parte de sua programação a debates sobre a necessidade de se restringir a venda de armas no país. No Congresso, o tiroteio já começou de todos os lados. Artistas e personaldades se engajam na campanha lembrando outros ataques semelhantes. Obama sabe que avançará pouco na discussão, pois o lobby da indústria de armamento é rico – literalmente -, intenso e sem escrúpulo, além de contar com o respaldo da constituição americana escrita em uma época na qual não havia garantias da lei para o cidadão.
Nas ruas percebe-se mudança de pensamento em parcela das pessoas, especialmente as que vivem próximas da região do ataque. Aqui em Ridgefield, meia hora de distância de Newtown, havia coleta de dinheiro para a construção de uma escola que substituirá Sandy Hook, cenário do ataque. As bandeiras estavam a meio mastro, sinalizando luto. Armas eram entregues em postos de polícia em troca de dinheiro – US$ 200 para pistolas e revólveres e US$ 75 para rifles – como parte de programa lançado após os assassinatos.
A cena mais significativa: o magazine Dick, especializado em artigos esportivos, lotado de consumidores em busca de presentes para o Natal, esvaziou por completo seu departamento de armas. A dúvida é se a medida é pontual ou definitiva. Em um estado que admira o uso de armas, imagino que, passado o impacto das mortes, a venda voltará ao normal. Espero que os muitos apelos que tenham surgido nos últimos dias tenham algum efeito e a minha descrença seja frustrada.