Avalanche Tricolor: vamos com fé!

 

Grêmio 0x1 Cruzeiro
Brasileiro – Arena Grêmio

 

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Imagem do Santuário, em São Leopoldo no RS

 

A quinta-feira iniciou-se com o sino da Igreja, aqui ao lado, tocando mais forte e fora do horário normal. Anuncia, já sob o forte sol desta primavera, que os católicos vivemos data especial, pois, neste 12 de outubro, comemoram-se três séculos desde o surgimento da imagem da santa negra nas águas do Rio Paraíba. Aquela que ficou conhecida por Nossa Senhora Aparecida. Soube pelas notícias do rádio (é, caro e raro leitor desta Avalanche, ainda ligo o meu radinho logo cedo, mesmo quando estou de folga), que milhares de romeiros já se aglomeram na Basílica, em Aparecida, interior de São Paulo. Outros tantos viajantes estão parados em congestionamentos nas rodovias – uma parte a caminho da Santa e o restante doidos para aproveitar o santo feriado.

 

Curiosamente e com todo o respeito, se acordei com Nossa Senhora em mente, fui dormir com a imagem de outro santo … perdão, porque ao pé da letra ele ainda não pode ser considerado santo, pois está a espera do longo processo de beatificação que se desenrola lá no Vaticano. Apesar dos trâmites terem se iniciado em 1953 é possível que ainda tenhamos pela frente muita tarefa burocrática e minuciosa até a beatificação do Padre Reus. Paciência!

 

Sim, foi Padre Reus quem apareceu na minha mente, ontem, quase meia-noite, quando já havia se encerrado a partida do Grêmio por mais uma rodada deste, também, interminável, Campeonato Brasileiro. Aproveitando-me do fato de o feriado de Nossa Senhora ser motivo de folga para mim no dia seguinte, fiquei sentado no sofá até mais tarde e pensando sobre o que havíamos acabado de assistir em campo.

 

A primeira impressão era de angústia por causas mal resolvidas como aquele toque de bola incapaz de entrar na defesa adversária e abrir espaço para nossos atacantes terem alguma chance verdadeira de gol. Houve apreensão, também, após ver o nosso melhor jogador na atualidade – e me refiro aos que estão disponíveis para jogar – dividir uma bola no meio de campo e cair no gramado contorcendo-se de dor. Substituído em seguida, Arthur saiu manquitolando e deixou dúvida na cabeça do torcedor: aquele dedão dolorido seria suficiente para afastá-lo do jogo que realmente nos interessa? Que os Deuses do Futebol o mantenha firme e forte para a decisão.

 

No turbilhão de emoções e sentimentos que um jogo de futebol – especialmente quando somos derrotados – provoca, houve um momento da minha reflexão em que surgiu um alívio. Afinal, aquele resultado ruim talvez eliminasse de vez quaisquer resquícios de sonho e possibilidades de ficarmos com o título do Brasileiro. Ou seja, acabaria pressão e passaríamos a encarar cada uma dessas partidas restantes como treinos de luxo para algo realmente importante.

 

Nosso histórico recente não tem sido animador. Os gols escassearam, nos distanciamos das vitórias, perdemos posição, jogadores cruciais seguem com problemas físicos, Douglas que seria uma esperança não volta este ano, Pedro Rocha não volta nunca mais e Luan, o insubstituível, está sendo preservado: terá ritmo de jogo para a decisão?

 

Ei, calma lá: sobre quais resultados estou falando?

 

Porque naquilo que nós gostamos, vai tudo bem obrigado! Aliás, só nós vamos bem, aqui no Brasil, como único representante do País na semifinal da Libertadores. Mas quem somos nós? Aquele time que luta como ninguém, encanta até mesmo o adversário e está a quatro jogos do título sul-americano? Ou somos o time que caiu para quarto lugar no Brasileiro, sem inspiração, sem brilho e sem desejo?

 

Tenho fé em Renato e creio que ele e sua comissão estejam cuidando de cada detalhe. Ao fim da partida, não escondeu que muitos jogadores entraram para jogar o Brasileiro mas não param de pensar na Libertadores. E sem foco no que se faz, é claro que o resultado não aparece.

 

Sim, tenho fé em Renato, mas lembrei-me mesmo foi de Padre Reus. Ess padre que chegou da Baviera e se estabeleceu em São Leopoldo. Lá fez suas obras e descreveu suas visões. Passou a ser considerado milagreiro por fiéis e hoje tem seus restos mortais enterrados no Santuário Sagrado Coração de Jesus, principal ponto turístico da cidade gaúcha. Estive lá ao lado do meu pai na última vez em que fui ao Rio Grande do Sul. Ele é devoto de Reus e mantém em sua mão uma imagem do Padre sempre que assiste aos jogos do Grêmio. Quando somos atacados, aperta mais forte como se querendo lembrar ao nosso santo que está na hora dele intervir. Sempre que o gol sai, agradece com um beijo na imagem.

 

Já falei ao caro e raro leitor desta Avalanche que costumo não misturar religião e futebol. Cada coisa com sua crença, ou melhor, cada crença com sua coisa. Mas diante da proximidade da semifinal na Libertadores e dos tropeços recentes no Brasileiro, foi a lembrança do Padre Reus quem apaziguou minha mente na noite passada. Independentemente do futebol e jogadores recuperados, sei que a imagem dele estará acompanhando o pai no dia 25 de outubro.

 

Vamos com fé, pai!

Minha devoção pelo Padre Reus

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Tenho muita pena de quem se confessa ateu. A recíproca é verdadeira: aceito, sem reclamar, que um ateu, que porventura esteja lendo esta coluna, me espinafre por ser um crente. Os meus raros e caros leitores, como costuma salientar o meu filho nos seus textos, neste blog, talvez estejam estranhando o meu assunto nesta quinta-feira. Explico:o Mílton, em uma de nossas conversas telefônicas nas quais o futebol sempre faz parte da pauta, sabedor que sou devoto do Servo de Deus João Batista Reus, sugeriu-me que escrevesse sobre o alvo da minha devoção. Afinal, o santinho, com a imagem do Padre, me acompanha quando sento à frente do televisor para assistir a um jogo do Grêmio, que é o time da nossa família, com uma honrosa exceção, o meu cunhado Luiz Carlos, colorado de quatro costados. O Servo de Deus apenas não fica comigo quando me disponho a “secar” alguma equipe. Seria exigir demasiado dele que me prestasse ajuda em algo, reconheço, não muito ou nada cristão.

 

Padre Reus esteve presente, agarrado com força por minhas mãos e beijado com insistência, na Batalha dos Aflitos, quase de minuto a minuto. Na hora do pênalti, chorei ao ver a defesa maravilhosa do goleiro Rodrigo José Gallato, e por pouco não estraguei o santinho ao o agradecer pela sua preciosa ajuda. Essa foi a tarefa mais difícil, imagino, cumprida pelo meu caríssimo Padroeiro. Houve outras, muitas outras, em que rezei convicto de que Padre Reus não nos abandonaria na pior. Nem mesmo naqueles jogos em que não me brindou com o seu socorro, deixo de lhe agradecer. Ora essa, não se pode ganhar sempre. Às vezes, os disparates cometidos pelos jogadores e técnicos são tão grandes que eu olho para o santinho e sou obrigado a concordar com ele.

 

Padre Reus nasceu na Alemanha, na cidade de Pottenstein, na região da Baviera, no dia 10 de julho de 1868. Lá, entrou na Companhia de Jesus e foi enviado para o Brasil, radicando-se no Rio Grande do Sul. Por muitos anos foi professor de teologia no Colégio Cristo Rei, de São Leopoldo. Como ex-estudante do Colégio Anchieta, em Porto Alegre, ouvia frequentemente histórias sobre o Padre Reus, contadas pelos meus professores, padres jesuítas. Reus foi um homem místico, que recebia visões quando celebrava missas. Escreveu inúmeros livros em português, espanhol, alemão e italiano. Hoje, o Santuário Sagrado Coração de Jesus, no cemitério do qual descansa o seu corpo, é um dos principais pontos turísticos de São Leopoldo. Em Porto Alegre, seu nome foi dado a uma das principais vias da Zona Sul, que atravessa três bairros: Tristeza, Camaquã e Cavalhada.

 

Se querem saber a razão de eu ter escolhido o Padre Reus para proteger o Grêmio, digo que se deveu a um técnico de futebol, o Capitão Carlos Benevenuto Froner. O primeiro time a ser treinado por ele foi o Grêmio Esportivo Leopoldense, coincidentemente ou não, na cidade em que o Padre Reus se estabeleceu e viveu até falecer. Froner era devoto do Servo de Deus João Batista Reus. Tanto falava nele que me levou a acompanhá-lo na devoção pelo Padre Reus.
Enfim,acho que este tipo de crença, que me perdoem os incréus, nos ampara nos momentos difíceis que todos precisamos enfrentar. Acreditar é preciso e só faz bem.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)