Liguem suas câmeras, desliguem seus microfones, vamos dar início à solenidade e sejam bem-vindos ao novo mundo

Por Christian Müller Jung

Evento virtual do Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Pelo celular, cerimônia oficial é transmitida pela internet, respeitando protocolos de saúde (foto: Christian M. Jung)


Em Atenção ao protocolo, desta vez é o Respiratório”, artigo que escrevi em 11 de março de 2020 — data em que a pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde —- já abordava as regras que impactariam nosso cotidiano e viriam a se transformar em uma obrigação para quem vive em sociedade. As autoridades de saúde alertavam para a  maneira correta com que deveríamos agir para reduzir o impacto do que chamávamos de novo coronavírus — que agora, mais íntimo, a ponto de entrar em nossas casas e contaminar nossa família, atende pelo nome de Covid-19.


Passados um ano desde a primeira morte registrada na China e dez meses desde aquele artigo, os protocolos não mudaram, foram reafirmados: limpeza frequente das mãos, uso  constante de máscaras, distanciamento social —- aglomeração é crime, festas devem ser evitadas e preservar a vida é obrigação, protegendo especialmente os idosos e com saúde fragilizada.


Ainda que estejamos assistindo ao aumento na velocidade com que o vírus se dissemina e o registro de mortes se assemelhe ao pico alcançado em agosto do ano passado, a notícia de que vacinas estão prestes a serem aprovadas no Brasil é muito bem-vinda —- isso não muda a necessidade de mantermos os protocolos. Fora brigas políticas e birras infantis que colocam em xeque a capacidade da sociedade científica, ainda teremos de assistir à discussão que nos inclui e não nos cabe. Aliás só nos atinge. 


Questionar quem trabalha com a ciência é como discordar do diagnóstico do seu médico. É decidir que comer tomate à exaustão vai aplacar o impacto do seu câncer de próstata, em lugar de se submeter à quimioterapia. É tomar decisões que atendam as suas crenças, a despeito do que dizem pesquisadores e doutores que dedicaram a vida e a carreira aos estudos com a intenção de prolongar o seu tempo de existência no planeta Terra —- que não é plano, registre-se.


Tem muita gente tocando tambor pra louco —- como dizem aqui nos meus costados — e proferindo teorias negacionistas que em nada ajudam a reduzir a sobrecarga que tem esgotado os profissionais de saúde. E dê-lhe praia e dê-lhe festas, como se nada do que assistimos no mundo fosse verdade.


Ainda bem que em meio a esta pandemia, quando imaginamos que a humanidade vai se afundar e se esforça para sextavar uma roda que girava livre e solta, temos bons exemplos: seres humanos que estão mais preocupados em realmente achar uma solução, sem temer que a vacina vai transformá-los em jacaré.


Dito isso, voltemos aos protocolos e aos eventos que fazem parte do mercado ao qual estamos inseridos, nós mestres de cerimônia e produtores. E vamos pensar no que podemos aprender em meio a essa onda negativa que fez com que muitos profissionais tivessem de encerrar suas atividades, fechar as portas e, com muita tristeza, até suas próprias vidas —- sim,  infelizmente tivemos pessoas que chegaram a esse ponto. \


Em meio ao caos estabelecido, nos vimos obrigados a destravar sistemas tecnológicos que, convenhamos, já estavam à nossa disposição, mas que  ainda não tinham sido incorporados ao nosso cotidiano. Aprendemos a desvendar os protocolos da área de forma empírica — testando, errando e acertando —- porque a comunicação é necessária e a disseminação da informação imprescindível.


Em uma função na qual o respeito ao protocolo do cerimonial é primordial, logo absorvemos os protocolos de higiene ou respiratórios, como caracterizei em artigo anterior. Em seguida, os profissionais do setor tiveram de desvendar os protocolos de rede —- dessa teia que nos interliga.

Como ensina o Wikipedia:

“…. o protocolo (em ciência da computação) é uma convenção que controla e possibilita uma conexão, comunicação, transferência de dados entre dois sistemas computacionais. De maneira simples, um protocolo pode ser definido como “as regras que governam” a sintaxe, semântica e sincronização da comunicação”

Nesse ponto que queria chegar.

Empurrados pelo caos, descobrimos em lives, videoconferências, cerimônias online tanto quanto em plataformas como o Zoom, Google Meet e Skype que, mesmo impedidos da mantermos a presença física, teríamos como acessar as pessoas de forma virtual. Entendemos o que é ter qualidade na conexão de internet, em casa ou no trabalho; que, independentemente da infraestrutura oferecida, o “delay” (prefiro chamar mesmo de atraso) faz parte do diálogo; que ao nos conectarmos de casa ou de nossos escritórios com o mundo devemos nos esforçar para criar um ambiente harmônico; que nosso olhar tem de mirar a lente da webcam e não a tela do computador; que nosso equipamento —- computador, notebook, celular ou câmera —- deve estar na mesma altura do nosso rosto, evitando que pescoço, nariz ou testa fale mais alto do que nosso conteúdo.


São detalhes e informações que já estavam à disposição, muitos até conheciam, mas que por falta de necessidade e diante de tantas outras preocupações pertinentes à época, preferimos deixar para depois  aprender —- “quando precisar, meu filho me explica”, pensamos .


Fomos empurrados em direção a um penhasco não para nos espatifarmos pela falta de oportunidade, mas pela necessidade de continuarmos, de seguirmos trilhando esse universo das solenidades, dos eventos, do aprendizado com o outro e da necessidade que temos de nos enxergarmos como cidadãos do mundo.

Enquanto ainda enfrentamos esse período triste que não nos permite o contato físico e o olhar instigante dos que participam de cerimônias, congressos e convenções, agregamos essas tecnologias que a partir de agora estarão presentes em praticamente todos os eventos, aproximando ainda mais as pessoas, mesmo que elas permaneçam em seus locais de origem, distantes umas das outras.

Apesar da expectativa —- e desejo —- de que voltaremos a nos encontrar e nos reunirmos em um mesmo espaço, essa infraestrutura que foi agregada às atividades permanecerá, facilitando o comparecimento daqueles que têm dificuldades para se deslocar, seja pelo acúmulo de compromissos na agenda seja pela carência de recursos financeiros.


Sendo assim, o que antes se iniciava com um “senhoras e senhores, bom dia …” agora se transformou em “senhoras e senhores, liguem suas câmeras, desliguem seus microfones, vamos dar início à solenidade e sejam bem-vindos ao novo mundo”. 

Christian Müller Jung é publicitário, cerimonialista, Mestre de Cerimônia do Palácio do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, colaborador do Blog do Mílton Jung, gremista e meu irmão.

Coronavac: comunicação equivocada prejudica confiança em vacinas

Hoje cedo recebi alerta no WhatsApp de uma amiga querida. Não eram felicitações de Natal nem um desejo de um 2021 próspero. Era vídeo que roda na internet há uns seis meses com imagem do site do Instituto Butantan no qual aparece a embalagem de vacina produzida pela Sinovac com texto em português e data de fabricação de 9 de abril — o vírus havia chegado há pouco mais de um mês por essas bandas. O autor da gravação, de quem temos apenas a voz, propaga a teoria de que os chineses é que criaram o vírus e por isso já tinham o imunizante pronto para faturar em cima da tragédia e estariam em conluio com o governo paulista, que teria assinado acordo com a Sinovac no ano passado.  Antes de eu enviar o texto que desmontava a teoria de conspiração do autor anônimo, a mensagem no meu WhatsApp foi apagada pela própria emissora — ainda bem. 

Leia aqui a checagem feita sobre o vídeo com informação falsa que circula na internet

Igual a essa existem outras centenas de informações falsas circulando nas redes, reproduzidas indevidamente por gente assustada, desconfiada ou mal-intencionada. Não bastasse isso, ainda temos um presidente negacionista, que levanta a possibilidade de virarmos jacaré e falarmos fino caso sejamos submetidos à “vacina chinesa”. O terreno para esse tipo de asneira é fértil não apenas no Brasil — mas aqui principalmente porque adubado por um discurso genocida.

Desde que o vírus aterrissou no país, uma força-tarefa científica se expressou nos meios de comunicação e nas redes sociais ajudando a esclarecer ponto a ponto, coroa a coroa, tudo que surgia de informação do Sars-Cov-2. Doutores e pesquisadores transformaram-se em porta-vozes do conhecimento alertando para os riscos, identificando as formas de prevenção, analisando estudos publicados e orientando sobre as novidades divulgadas pelos laboratórios. Foram heróicos para tentar nos imunizar do vírus da desinformação. Pena que essa vacina que usaram não foi capaz de tornar imune o rebanho —- o gado é resistente.

No ambiente em que estamos, no qual a mentira contamina tanto quanto o coronavírus, comunicação honesta e transparente é fundamental. Os sucessivos adiamentos dos resultados dos testes finais da Coronavac, pelo Butantan e o Governo de São Paulo —- tivemos mais um nesta quarta-feira —- são munição para essa turba que tenta atacar a confiança da população brasileira no programa de vacinação. 

Sabe-se que o tempo da ciência tem um relógio próprio que não segue necessariamente a cadência da sociedade contemporânea, sempre em busca de soluções para ontem. Não é recomendável que os cientistas acelerem seus estudos além do razoável e deixem de respeitar as etapas e os controles de segurança e eficácia. Assim como é fundamental que suas descobertas estejam sempre disponíveis para o escrutínio da comunidade científica — o ceticismo é um dos pilares do ethos científico ao lado do universalismo, do compartilhamento e do desapego material.

A velocidade com que se conseguiu responder ao avanço deste coronavírus com os processos para se desenvolver tecnologias já usadas anteriormente tanto quanto a criação de novos conhecimentos na fabricação de vacinas é motivo de orgulho para a humanidade. Nunca se realizou testes e se desenvolveu imunizantes com a agilidade vista neste momento. Imagine que ao menos nove países já estão vacinando as populações mais suscetíveis à doença. E esse número vai crescer de forma contundente antes do fim do ano com o início da vacinação na comunidade europeia. 

Por um alinhamento de fatores que passam pela irresponsabilidade do Governo Federal, disputas políticas, falta de planejamento e decisões equivocadas quanto ao investimento para a compra de vacinas, o início da imunização no Brasil será apenas no ano que vem. Na melhor das hipóteses em janeiro. Uma frustração que aumenta a cada novo prazo não cumprido. Semana passada, o Instituto Butantan já havia prometido os resultados finais dos testes da Coronavac e a entrada do pedido de autorização na Anvisa. Alegou-se a necessidade de as informações serem divulgadas simultaneamente na China e no Brasil. Marcou-se nova data — este 23 de dezembro. O máximo que se conseguiu dizer agora é que a vacina é eficaz —- o que não seria pouca coisa, não houvesse a promessa dos políticos a nos iludir.

A justificativa desta vez é que a Sinovac quer antes olhar os dados do Butantan e apenas depois fazer o anúncio oficial; e o contrato entre a instituição paulistana e a fábrica chinesa prevê que a divulgação deve ser simultânea. O que, convenhamos, já era sabido por todas as partes. Ou só hoje o Butantan soube disso? Deixa-se a impressão de que a pressão política leva o instituto a fazer anúncios que não é capaz de cumprir e, assim, ludibria a opinião pública.

A comunicação ineficiente de uma vacina eficaz e segura — e há todos os motivos para crer que será eficaz e segura — somente beneficia aqueles que querem destruir a credibilidade da ciência, os negacionistas e genocidas. 

Espírito Natalino: resgate de memórias e renovação da esperança

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem de Jill Wellington no Pixabay

 

Num ano marcado pelo cancelamento de tantos eventos e rituais comemorativos, de casamentos a jogos olímpicos, a celebração do Natal parece ser um momento propício para a confraternização e o resgate de memórias que podem contribuir positivamente para a nossa saúde mental e bem-estar.

O clima de Natal ou o espírito natalino é um fenômeno observado há séculos, mesmo entre pessoas que não são cristãs ou que não têm religião, e engloba uma variedade de sentimentos, como alegria e nostalgia, e comportamentos positivos que são vividos de maneira coletiva, como maior altruísmo e generosidade. Essas ações se manifestam no enfeite das casas, na troca de presentes, no preparo de comidas típicas e nas ações solidárias.

Em 2015, um grupo de pesquisadores dinamarqueses procurou identificar a localização do espírito de Natal no cérebro humano. Através do exame de ressonância magnética funcional, eles mapearam quais regiões do cérebro foram ativadas enquanto os participantes da pesquisa assistiam à uma série de imagens que evocavam o Natal. Metade dos voluntários era de pessoas que celebravam o Natal desde a juventude e a outra metade, pessoas sem tradições natalinas. Os participantes que disseram comemorar a data demonstraram maior atividade em áreas cerebrais associadas à espiritualidade, ao reconhecimento da emoção facial e ao compartilhamento de emoções. 

Esses resultados devem ser analisados com cautela, uma vez que a principal diferença entre os dois grupos pode acontecer em função do significado atribuído ao Natal, ou seja, pelas representações e memórias construídas acerca da data.

Repetir as tradições de Natal faz com que as memórias afetivas sejam ativadas. Quando enfeitamos a árvore de Natal, por exemplo, nossas memórias de situações semelhantes vêm à tona e nosso cérebro dispara sentimentos festivos armazenados.

O sociólogo Émile Durkeim usou o termo “efervescência coletiva” para descrever o humor positivo que sentimos quando participamos de atividades sociais que trazem alegria coletiva e nos fazem sentir parte de uma comunidade maior. Embora Durkheim se referisse a grandes reuniões religiosas, atualmente, pesquisadores indicam que esse mesmo sentimento pode ser experimentado em grupos menores, como entre familiares ou amigos.

Em 2020, tivemos que adotar novo repertório de atitudes para as mais diversas situações. Infelizmente, não será diferente para as comemorações do Natal. Apesar de não podermos celebrar da mesma forma, manter as tradições natalinas e se conectar à família e aos amigos, ainda que virtualmente, nos permitirá compor essa “efervescência”.

Então use a criatividade! Enfeite a casa, prepare a comida e conecte-se. Com esperança em dias melhores… Feliz Natal!

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Da H1N1 à Covid-19, o risco de confisco saiu do campo da imaginação à estratégia bélica de um governo sem rumo

Imagem de enriquelopezgarre por Pixabay
Imagem de enriquelopezgarre por Pixabay 

A mensagem do governador Ronaldo Caiado, de Goiás, soou como ameaça ao escrever no Twitter que o Governo Federal publicará medida provisória para requerer toda e qualquer vacina contra Covid-19 que estiver sendo produzida no Brasil. Requerer no vocabulário político é sinônimo de confiscar. Anúncio feito, repercussão em curso e, em seguida, surgem o “desmente daqui”, o “lustra dali” e o “desvia o assunto” —- típico deste campo em que a batalha pela vacina está sendo travada. Como neste jogo tem gado mas não tem bobo, o recado foi recebido com preocupação, especialmente em São Paulo, o principal alvo das pretensões bélicas do presidente Jair Bolsonaro e seu exército de ministros mambembes.

O Palácio dos Bandeirantes já montou sua sala de guerra para impedir que “tropas federais” invadam o Instituto Butantã — em lugar de fuzis e matracas, advogados e políticos planejam estratégias para impedir que alguma medida legal imponha a entrega do lote da Coronavac, produzida pela chinesa Sinovac. Talvez seja o caso de montar trincheira no STF que tem sido um dos cenários desta guerra vacinal e política que assistimos enquanto contamos mortos e feridos pelo verdadeiro inimigo: o vírus.

O risco de confisco da vacina, por mais absurdo que possa soar, não deve ser desdenhado. Lembre-se que à frente do Ministério da Saúde está um cidadão muito mais afeito a guerras do que a ciência; que tem como lema: “um manda e o outro obedece”. E quem manda é quem está na cadeira de presidente, atualmente ocupada por um ignóbil.

A tese do confisco federal já havia rondado os laboratórios farmacêuticos, com fábricas no Brasil, durante a pandemia do H1N1, em 2009 e 2010, que em 16 meses contaminou 493 mil pessoas e matou cerca de 18,6 mil pessoas, segundo a OMS —- em três meses, a Covid-19 já havia superado essas marcas. O vírus se espalhava em menor velocidade e era menos mortal do que o SarsCov-2. Tínhamos uma população de idosos que havia sido “imunizada” nas gripes asiática, de 1957, e de Hong Kong, de 1968, também causadas por outros vírus influenza. Soma-se a isso a existência de dois antivirais com potencial para conter os casos mais graves e amenizar os efeitos da H1N1: o principal deles era o Oseltamivir, que costumamos chamar de Tamiflu, aprovado pela primeira vez, nos Estados Unidos, em 1999, e produzido pelo laboratório Roche; o outro, usado em menor escala era o Zanamivir, descoberto em 1989 —- batizado Relenza pela Glaxo Smith Kine, fabricante da droga.

Os primeiros casos de H1N1 surgiram no México, em março de 2009; no Brasil, tivemos registros do vírus em abril; em junho, a OMS decretou situação de pandemia. Os países mais organizados passaram a fazer estoque principalmente de Tamiflu, como forma de garantir atendimento a sua população. No Brasil, o medicamento sumiu das farmácias, comprado por pessoas assustadas com o risco da doença. Nos estoques oficiais, segundo reportagem do Correio Brasiliense, de 8 de setembro de 2009, o governo tinha remédio suficiente para apenas 5% da população, quando a recomendação da OMS era de que o alcance fosse de 25%. 

Já no princípio da crise, a Roche traçava todos os cenários possíveis diante da que foi a primeira pandemia do século 21 —- desde uma situação sob controle, com pacientes contaminados pelo H1N1 tendo atendimento médico regular até uma tragédia humanitária, na qual faltariam leitos e remédios, com imagens que lembravam a Gripe Espanhola. De acordo com um dos executivos com quem conversei na época, o que mais preocupava era a inexistência de um plano de ação federal. O temor do fabricante —- por mais improvável que lhe parecesse: sem um planejamento, o governo poderia de uma hora para outra encomendar uma quantidade de remédio que excedesse a capacidade de produção; sem condições de entregar, a farmacêutica se transformaria em bode expiatório, acusada de segurar estoques para vender na rede privada e seria alvo de um confisco federal.

Não foi o que aconteceu. Mesmo com o crescimento do número de pessoas mortas e contaminadas, o sistema público de saúde e a rede privada de hospitais, com as adaptações necessárias e as restrições conhecidas, atenderam os pacientes de H1N1. Toda a produção de Oseltamivir foi canalizada para o setor público e distribuída para estados e municípios. No primeiro ano, foram mais de 28 mil casos e 1.632 mortes, no Brasil. Em 2010, houve uma redução drástica graças a campanha de vacinação contra a doença: 727 pessoas contaminadas e 91 mortes.

Pode-se traçar paralelos entre a pandemia de 2009 e a de 2020 porque sempre há lições a aprender do que fizemos no passado. Não há dúvida, porém, que a Covid-19 é única. É devastadora. As ações de combate a doença são muito mais necessárias e complexas — sequer temos um antiviral para amenizar seus impactos;  o planejamento precisa ser feito com o uso de inteligência e baseado na ciência; e o Brasil não tem um ministro da Saúde nem um Presidente da República com estatura para administrar essa crise. O confisco seria apenas mais um absurdo nesta sequência de erros que já nos levou a 181 mil mortes.

Sua Marca: como o consumidor vai se comportar no Natal

“Não acreditamos que marcas devem se vestir de maneira muito diferente do que costumam nem mudar de personalidade, mas precisam se adaptar e respeitar este momento que vivemos e não pensar apenas em ter lucro no fim do dia” —- Jaime Troiano

Com a proximidade do Natal, descobrir como será o comportamento do consumidor diante de tudo que enfrentou em 2020 tem sido um dos desafios de pesquisadores, empresas e empreendedores. Da mesma forma, as marcas pensam em quais estratégias devem adotar levando em consideração as dificuldades financeiras de muitos, e as restrições e medos impostos pela pandemia. Nesse episódio do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, Jaime Troiano e Cecília Russo reuniram algumas ideias do que vai acontecer a partir desta semana —- quando muitos começam a pensar nas compras de fim de ano —, com base na experiência que eles têm em gestão de marcas e estudos de institutos de pesquisa e consultorias.

Vamos começar pelo consumidor.

A Nielsen, uma das gigantes nesta área de pesquisa, dados e consultoria, identificou cinco tipos de consumidores neste ano:

  1. Constrangido e restrito —— tiveram restrição no orçamento, e menos liberdade para comprar fisicamente: para eles o online será a saída e mesmo assim, só preços baixos
  2. Constrangido, mas livre —- teve redução financeira, também, mas se sente com mais liberdade para circular pela cidade: quer maneira de fazer o dinheiro render com possibilidade de passat mais tempo com grupos de familiares e amigos. 
  3. Meio cauteloso —- não foi impactado financeiramente nem impedido de ir e vir, em função da região em que mora, mas está com receio do futuro: mesmo que possa comprar agora vai segurar o dinheiro e não pretende gastar muito, prefere priorizar as pessoas bem próximas.
  4. Isolado, mas restrito —  financeiramente não teve perdas nesta ano, mas como está em cidades e regiões com maior restrição por causa da pandemia terá suas festividades afetadas por restrições físicas locais
  1. Isolado e livre —- não foi afetado financeiramente pela Covid-19, é provável que gaste mais livremente e exiba um comportamento de férias pré-coronavírus. Muitos desse grupo vão compensar luxos perdidos no início do ano.

Vamos as recomendações para as marcas no Natal da pandemia:

  1. Foco nos sentimentos eternos e universais: nessa época de instabilidade, de imprevisibilidade, de não sabermos o que teremos no ano que vem, as marcas precisam voltar-se para aquilo que é permanente. E o que é permanente no Natal? As relações entre as pessoas, a convivência familiar, esse sentimento de união. Marcas podem ser aliadas desse momento. 
  2. Abertura para escapes da realidade: nossas vidas ficaram limitadas, fechadas, bem menos amplas e livres como estávamos acostumados. Marcas podem proporcionar momentos de fuga de nosso isolamento, oferecendo “viagens” através de sabores exóticos ou pode ser uma loja de artigos para casa que promova um sentido de renovação e reciclagem do espaço doméstico. 
  3. Força no digital e nas compras à distância: é necessário ter à disposição ferramentas e tecnologias para compras à distância, serviço de drive thru e entrega; toda a proteção que reduza ao máximo a exposição do consumidor ao vírus é relevante.

Dito isso, qual é a marca do nosso episódio de hoje?

“Você, sua família e todas as famílias vão celebrar de um jeito diferente neste Natal, e as marcas não ficam fora disso, nosso ano e nossas vidas pedem essa adaptação e esse respeito” —- Cecília Russo

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, às 7h55 da manhã, no Jornal da CBN. 

Mundo Corporativo: Roberto Fulcherberger, da Via Varejo, diz como a tecnologia tornará atendimento cada vez mais pessoal nas lojas

“Quem vai mandar no jogo, como é que vai se dar o atendimento daqui para frente é o consumidor e cabe a nós estarmos preparados em todos os canais” —- Roberto Fulcherberger CEO da Via Varejo

Conectar clientes e vendedores através da tecnologia e tornar essa relação mais pessoal no atendimento dentro da loja. Esse é um dos projetos que a Via Varejo pretende lançar, em breve, a partir do investimento na digitalização de processos e da aproximação com startups. Em entrevista ao programa Mundo Corporativo, da CBN, Roberto Fulcherberger, que assumiu o comando da companhia em julho do ano passado, falou de estratégias que vinham sendo implementadas antes de a pandemia se iniciar e tiveram de ser aceleradas para enfrentar as restrições sanitárias que fecharam todas as lojas físicas:

“No segundo trimestre, fizemos circular tudo pelo online  e vendemos quase que a mesma coisa que a gente venderia, só que com 85% das lojas fechadas, na média do trimestre … A gente forçadamente fez a transformação total da empresa.” 

Quando chegou ao grupo, que tem marcas conhecidas no varejo — Casas Bahia, Ponto Frio, Extra e móveis Bartira —-, o desafio de Roberto era tornar a companhia relevante novamente, após perda de mercado para concorrentes, como a Magazine Luiza, e registro de prejuízos financeiros que chegaram a R$ 162 milhões no segundo trimestre do ano passado. Fez mudanças em todos os cargos do comando da empresa e levou, como define, “gente com ego zero” e “diversidade de conhecimento”: reuniu em uma mesma equipe executivos que entendiam muito ou de digital ou de logística ou de vendas:

“Tudo começou por pessoas, fomos encaixando as pessoas certas nos lugares certos … o time da segunda camada a gente também substituiu quase 85% e veio gente aliada com o que pensávamos …”.

Antes de alcançar a transformação digital que imaginava, Roberto diz ter sido necessário mudar a cultura da empresa e, para isso, a comunicação foi fundamental. Segundo ele, os colaboradores estavam fragilizados diante dos resultados negativos da companhia e era preciso ser direto e transparente com as equipes de trabalho. Um das formas foi mostrar onde a empresa pretendia chegar e como faria para alcançar seu objetivo. O executivo avalia que em quatro meses o time já estava engajado, o que ajudou, também, no desafio seguinte que foi a pandemia.

“Ninguém está preparado para fechar as portas ao consumidor. A gente naquele momento tinha um online de mais ou menos 28% das vendas, e logo vimos que teríamos 20 mil vendedores à disposição. O time se reuniu muito rápido, criou o Me Chama no Zap, um case mundial do Facebook, treinou o pessoal e, no quinto dia, todos os vendedores já estavam em contato com os clientes”.

Em novembro, a Via Varejo anunciou o fechamento de cerca de 100 lojas físicas e Roberto explica que a medida não tem relação com a pandemia. Diz que faz parte de um processo que já vinha sendo avaliado e tem como objetivo eliminar sobreposições de unidades, resultantes da fusão das Casa Bahia com o Ponto Frio. Há casos em que a companhia tem mais de duas lojas em uma mesma rua e outros em que há até sete unidades em uma região de microcomércios. Apesar de encerrar essas operações, o executivo nega que haverá demissões e lembra que está sendo mantido o plano de expansão que prevê abertura de 80 lojas, das quais 35 serão entregues até o fim deste ano.

Mesmo com o crescimento das compras online, a presença de lojas físicas seguirá sendo importante, de acordo com o executivo, porque ainda existem muitos consumidores que não querem a jornada digital e o Brasil é gigantesco e diverso neste sentido. Mais do que isso: a loja que até agora é quem recebe e se relaciona com o consumidor será, também, parte da logística e ponto de coleta, uma espécie de “minihub”. A compra da startup ASAPlog, em maio, por exemplo, foi a forma de a Via Varejo buscar soluções para a “entrega última milha”, contando com uma rede de entregadores autônomos. Essa aquisição também está ligada a outro movimento no grupo que é o de abertura do seu sistema para empreendedores através da Distrito, um centro de inovação que conta com uma plataforma que conecta startups, grandes empresas e investidores usando big data e inteligência artificial.

Lembra da primeira frase deste texto, em que falamos de usar a tecnologia para aproximar o cliente do vendedor dentro da loja? Roberto conta que está em desenvolvimento um serviço que fará com que o atendente seja alertado em seu smartphone todas as vezes que seu cliente entrar na loja, recebendo na tela do celular as informações sobre compras anteriores e buscas recentes que fez no site da empresa —- desde que autorizado pelo consumidor, lógico. 

“No fim do dia o que a gente quer é ser a empresa que melhor se relaciona com o consumidor. O pessoal costuma dizer que esta jornada digital vai deixar as coisas impessoais. Eu falo exatamente o contrário: vai deixar a jornada ainda mais pessoal …. vai ser como a 20, 30 anos quando o vendedor tinha a possibilidade de conhecer o cliente pelo nome”

O Mundo Corporativo é apresentado às quartas-feiras, às 11 horas, no site, no canal da CBN no Youtube e no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, domingo, às 10 da noite, em horário alternativo e em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Juliana Prado, Guilherme Dogo, Rafael Furugen e Priscila Gubioti

Mantenha o foco, sem perder a ternura!

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem de @anapaula_feriani por Pixabay

 

Permita-me começar esse texto apresentando três situações: você está indo da sala para a cozinha e quando chega lá percebe que não se recorda o que foi fazer; está trabalhando online e quando se dá conta tem várias janelas abertas no computador e se vê entretido com um produto em promoção e esquece a tabela que estava fazendo para entregar para o seu chefe; se propõe a arrumar o seu armário, encontra umas fotos antigas, começa a vê-las… e o armário? Puxa! A hora passou depressa e você percebe que não dá mais tempo para arrumá-lo.

Alguma dessas situações lhe parece familiar?

Se essas experiências não ocorrem com frequência e não causam prejuízos significativos no dia a dia, como no trabalho ou nos estudos, na maioria das vezes não indicam uma falha no funcionamento cerebral, apenas uma dificuldade esporádica da memória de trabalho.

A memória de trabalho refere-se à capacidade de reter informações que serão usadas em ações que estão em curso ou que acontecerão num futuro próximo, mantendo essa informação enquanto ela é útil. Isso acontece, por exemplo, enquanto você lê esse texto. Você não memoriza cada uma das palavras na ordem que estão escritas, como uma lista de palavras que deva decorar, mas armazena cada uma delas até chegar ao fim da frase, de modo que consiga compreender o sentido do texto.

A memória de trabalho não se limita ao armazenamento temporário de informações; também envolve o controle atencional, como manter o foco numa tarefa e inibição do comportamento. 

Para a maioria das pessoas, as falhas na memória de trabalho serão casuais, podendo ser decorrentes do aumento do estresse, ansiedade ou uso de bebidas alcóolicas, e não caracterizam um problema persistente. Entretanto, prejuízos na memória de trabalho podem estar associados a algumas condições clínicas, como esquizofrenia, síndromes demenciais e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH).

O Transtorno de Déficit Atencional com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, com início na infância, caracterizado por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade. 

A desatenção e desorganização envolvem, entre outras coisas, a dificuldade de prestar atenção a detalhes, cometer erros por descuido, iniciar tarefas e não concluir, dificuldades no manejo do tempo, relutância em atividades que exijam esforço mental prolongado e esquecimentos relacionados a atividades cotidianas. 

A hiperatividade e impulsividade envolvem, por exemplo, dificuldades em permanecer sentado, remexer ou batucar mãos e pés, inquietude, responder antes que uma pergunta tenha sido concluída e dificuldades para aguardar sua vez, como numa fila.

Diversos estudos têm sido publicados mostrando os efeitos da pandemia de COVID-19 sobre a saúde mental de crianças e adolescentes, indicando um aumento da irritabilidade, da desatenção e agitação, independentemente da faixa etária, exigindo desafios que podem ser mais acentuados para os que têm TDAH.

Crianças e adolescentes com TDAH parecem mais vulneráveis ao confinamento, possivelmente pelas dificuldades no estabelecimento de rotina, organização e conclusão das tarefas, com tendência à procrastinação.

Adolescentes mais ansiosos, entediados ou apáticos, podem apresentar alterações comportamentais, aumentando a probabilidade de conflitos familiares, como as brigas. 

Quando olhamos para esse cenário, percebemos que mesmo adultos que não apresentam TDAH, em decorrência do isolamento social e das mudanças provocadas pela COVID-19, também têm experimentado sintomas semelhantes, seja na capacidade atencional, na memória de trabalho ou nos comportamentos, mais ansiosos ou com aumento da irritabilidade.

Se por um lado corremos o risco de patologizar todas as características cognitivas ou comportamentais apresentadas na pandemia, por outro lado, corremos o risco de negligenciar sintomas que podem sugerir condições clínicas que demandam tratamento especializado. Na dúvida, uma avaliação médica ou psicológica deve ser feita. Porém, se algumas falhas forem corriqueiras e não trouxerem maiores prejuízos, talvez seja o momento de aproveitar aquela liquidação — numa das muitas abas abertas no seu computador — ou resgatar boas memórias naquelas fotos que você encontrou!  

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Marcas que respeitam à pandemia conquistam a confiança do consumidor, mostra pesquisa global

Por Carlos Magno Gibrail

Ilustração: Pixabay

 

Desde que a pandemia teve início, surgiram lideranças negando os riscos sanitários, sociais e econômicos evidentes, principalmente no poder público, embora algumas empresas privadas, representadas por proprietários e executivos receosos de possíveis paralizações comerciais, também menosprezassem os riscos.  

Felizmente, a maioria das autoridades mundiais e dos líderes empresariais incorporaram a necessidade dos cuidados com a Covid-19, identificados pelas medidas preventivas tomadas.  Restava saber o que os consumidores pensavam e agiam em relação aos políticos e às marcas.

O voto responderia aos agentes públicos, e as pesquisas informariam às marcas.

O Grupo Edelman, agência global de comunicação, alinhada aos ODS-Objetivos de Sustentabilidade da ONU e interessada nas mudanças de comportamento do consumidor durante a pandemia produziu o Edelman Trust Barometer 2020 – Marcas em meio à Crise.

A pesquisa alcançou 8 mil pessoas na última semana de outubro na Alemanha, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, França, Índia, e Reino Unido.

De forma geral o estudo mostra que há um medo dos consumidores em relação ao vírus e reforça as necessidades dos cuidados em relação ao   comportamento social relacionado ao distanciamento e ao uso de máscara. Informa também a valorização da segurança e o propósito das marcas.

Especificamente, os brasileiros estão preocupados com a pobreza, o trabalho, as mudanças climáticas, o racismo cultural, e desejam que as marcas atuem neste sentido — inclusive na comunicação, em tom mais otimista, e ao mesmo tempo protecionista para os que sofrem com a crise. 

Pedimos para a porta voz da Pesquisa, Ana Julião, Gerente Geral da Edelman do Brasil, uma  conclusão sobre o trabalho realizado:

“O medo alterou as prioridades das pessoas e isso se reflete tanto no momento da compra quanto no que elas consideram responsabilidade das marcas e esperam das empresas. No lugar de imagem e status, os consumidores estão valorizando mais a segurança, além dos valores e propósitos das marcas, desejando que elas atuem para minimizar problemas sociais e pessoais. Nesse novo cenário, as marcas precisam saber como agir e como se comunicar. Nossas recomendações são reconhecer que os valores se voltaram para segurança pessoal, segurança econômica e qualidade de vida; redefinir abordagens de marketing, centrando-as na ação; mudar tom e mensagem para refletir o momento e atenuar medos por meio da voz de especialistas, de pessoas comuns e de canais que tenham credibilidade”, diz Ana Julião.

Ao que tudo indica, sob o aspecto político, valem as confirmações da corrente científica se sobrepondo ao negacionismo, vide resultado na eleição americana e também na brasileira.

 Quanto às marcas, deverão atender a seus consumidores com foco social e ambiental.  A pesquisa da Edelman é um indicador específico, e os ODS um guia geral.

Ilustração: Edelman

 

Para quem se interessar por uma relação dos tópicos para aplicação, veja os 11 itens apresentados pela divulgação da pesquisa: 


TOP 11 Da Pesquisa   

O MEDO AUMENTOU – Os brasileiros estão mais preocupados com o futuro de suas famílias, educação dos filhos e saúde física da família.  

OS VALORES SÃO OUTROS – O que mais importa agora para o brasileiro é se proteger e proteger sua família, e tomar decisões de compra inteligentes. O que menos importa é aproveitar o luxo e as chamadas “melhores coisas da vida”


MARCAS VISTAS COMO SALVADORAS — No Brasil, espera-se que as marcas resolvam tanto problemas sociais quanto pessoais. Isso se relaciona à pobreza, questões trabalhistas, mudança climática, racismo estrutural, além de bem-estar/otimismo e segurança. 

MARCAS MAIS CRIATIVAS E EFICAZES DO QUE O GOVERNO – Globalmente, 55% dos entrevistados acreditam que as marcas podem fazer mais para resolver problemas sociais do que o governo. A mesma porcentagem de entrevistados afirma que as empresas são mais responsáveis ​​e mais rápidas na hora de agir para mudar as coisas para melhor. 

CONFIANÇA É CRITÉRIO DE COMPRA – Os cinco P’s do Marketing ganham um T, de “TRUST” (confiança). Apenas preço e qualidade estão à frente da confiança na lista de critérios de compra. No Brasil, confiar na marca é importante ou essencial para 90% dos entrevistados.   

CONFIANÇA GERA FIDELIDADE – Globalmente, os consumidores com alta confiança na marca são mais engajados (60%), o que inclui o compartilhamento de dados pessoais; mais fiéis (75%) e dispostos a defender a marca (78%). No entanto, entre os brasileiros, apenas 37% afirmam que as marcas que usam estão fazendo um excelente trabalho em ajudar o país e o povo a enfrentarem os desafios de hoje — gerando grande oportunidade para as empresas em atuar para promover mudanças positivas.  

O PODER DAS AÇÕES – A confiança no negócio aumenta quando suas ações vão além do discurso. No Brasil, para 72% das pessoas é mais efetivo para uma marca gerar confiança quando ela toma medidas para ajudar trabalhadores e comunidades locais em tempos de crise, contra 28% que acreditam que é mais efetivo quando ela assume o compromisso publicamente. 


NÃO É O MOMENTO PARA AGRESSIVIDADE NAS VENDAS – 64% dos entrevistados no Brasil dizem que as marcas devem pensar primeiro na segurança do público, tendo cuidado ao encorajar pessoas a voltarem a lojas, restaurantes e outros locais públicos; enquanto 36% dizem que as marcas devem ajudar a estimular a recuperação econômica, encorajando as pessoas a voltar a lojas, restaurantes e outros locais públicos. ​

MENOS É MAIS’ NAS CAMPANHAS DE FIM DE ANO – Para a maioria das pessoas, não é o momento certo para grandes celebrações. No Brasil, 68% das pessoas dizem que querem que as marcas reduzam as festas de fim de ano, adotando um tom mais contido e moderado devido às dificuldades pelas quais muitos estão passando


MÍDIA CONQUISTADA E EXPERIÊNCIA PESSOAL SÃO CAMPOS DE BATALHA – Mídia paga aparece em último lugar entre os canais (23%), enquanto a experiência pessoal (de alguém sobre um produto) é a mais importante (59%), seguida pela mídia conquistada (44%) e conversa entre pares (39%). 


PARES E ESPECIALISTAS COMO FONTES MAIS CONFIÁVEIS – Usuários regulares (58%) e especialistas técnicos (50%) estão muito à frente das celebridades nacionais (35%) ou influenciadores (35%) como fontes confiáveis ​​de informação sobre o que uma marca está fazendo para dissipar as preocupações. (dados globais).

Aqui você acessa a pesquisa Edelman Trust Barometer 2020 – Marcas em meio à Crise.

Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.     

As mulheres e a pandemia: desafios que ultrapassam a luta contra o vírus

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

 

Foto: Pixabay

 

Em março de 2020, após a Organização Mundial de Saúde declarar como pandemia a doença causada pelo SARS-COV-2, a COVID-19, diversos países determinaram o isolamento social ou o “lockdown” como forma de reduzir a transmissão do vírus.

Isso causou uma modificação significativa na vida cotidiana, como restrições à mobilidade, impossibilidade de sair de casa para estudar ou trabalhar, perdas financeiras e redução do convívio social mais amplo. Possivelmente em decorrência desses fatores, as preocupações com a saúde física foram somadas à crise psicossocial, causada em grande parte pelo aumento dos transtornos mentais e da violência contra a mulher.

Relatórios policiais indicam que durante a pandemia as ligações para solicitar ajuda em decorrência da violência doméstica aumentaram em diferentes países, como na Argentina, Canadá, França, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos. Além disso, diversos estudos apontam que muitas vezes a mulher não solicita ou não reporta o ocorrido, especialmente quando a violência sofrida é psicológica. Como fator de agravamento, o controle do uso de redes sociais ou de acesso aos telefones e celulares também dificulta o pedido de ajuda, caracterizando a violência tecnológica.

Dados da província de Hubei na China, epicentro inicial da epidemia de coronavírus, mostraram que a violência doméstica havia triplicado em fevereiro de 2020, durante o lockdown. 

Na França, o período de isolamento social iniciou-se em 17 de março e em menos de um mês as denúncias feitas à polícia já mostravam um aumento de 30% nos índices de violência doméstica.

No Brasil, dados do 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostraram um aumento de 3,8% no número de ligações efetuadas para o telefone de emergência da Polícia Militar relacionadas à violência doméstica e um aumento de 1,9% dos casos de feminicídio no primeiro semestre de 2020. Entretanto, houve uma redução no registro de outros crimes, como lesão corporal dolosa ou ameaça contra vítimas do sexo feminino, possivelmente pela dificuldade enfrentada pela mulher, durante o isolamento social,  para registrar o ocorrido, corroborando os dados encontrados em outros países. 

Um estudo realizado com 751 mulheres na Tunísia, durante o lockdown, identificou um aumento na violência contra a mulher de 4,4% para 14,8%, sendo o abuso psicológico o tipo de violência mais frequente, presente em 96% dos casos relatados. As mulheres que já tinham um histórico de doenças mentais e sofreram violência durante o lockdown apresentaram sintomas mais graves de depressão, ansiedade e estresse.

Dados sobre prevalência de transtornos mentais indicam que a ansiedade e a depressão acontecem com maior frequência nas mulheres do que nos homens. As causas dessa diferença não são totalmente conhecidas, mas acredita-se que isso resulte da interação entre fatores biológicos, como alterações hormonais, e fatores psicossociais.

Se por um lado existem fatores biológicos que aumentam a vulnerabilidade da mulher para os transtornos mentais, por outro, mulheres que são vítimas de abuso e violência apresentam um risco maior para depressão e suicídio, alertando sobre os efeitos nocivos de estressores ambientais para a saúde mental. 

A literatura sobre violência contra a mulher aponta que em todas as situações de crise, como guerras, desastres naturais ou epidemias graves, independentemente do país, a violência doméstica tende a aumentar. Na época do furacão Katrina, que atingiu os Estados Unidos em 2009, a ocorrência de violência física sofrida pelas mulheres quase dobrou (passando de 4,2% para 8,3%). Na Nova Zelândia, durante o fim de semana após o terremoto de 2010, a polícia relatou um aumento de 50% nas ligações sobre violência doméstica. Após o desastre de Fukushima, a violência física contra mulheres grávidas foi quatro vezes maior do que em outras regiões japonesas durante o mesmo período. 

O desemprego, problemas financeiros, dificuldades da vítima para buscar ajuda e o uso de álcool e drogas são apontados como fatores de risco para aumento da violência doméstica.

Um estudo realizado em 2014 por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo em parceria com a Universidade Federal de Pelotas, com 938 mulheres na cidade de Vitória (ES), mostrou que quando seus parceiros usavam drogas ou álcool, elas ficavam mais vulneráveis à violência doméstica.

Com ou sem álcool, a violência masculina muitas vezes é aceita como um comportamento “normal” em situações de crise, como se a resposta agressiva contra a mulher fosse consequência natural de um momento de raiva ou sofrimento pessoal. Por outro lado, nessas situações, as mulheres são acusadas de reações exageradas ou o seu pedido de ajuda é simplesmente ignorado.

A violência contra a mulher é um fenômeno social complexo cuja questão central se concentra na desigualdade de poder nas relações, caracterizadas por subordinação, medo, dependência e intimidação para a mulher. Os comportamentos agressivos dirigidos à mulher têm a intenção de dominar o seu corpo, mente, vontade e liberdade, provocando danos físicos, morais e psicológicos.

Não se pode afirmar que a violência contra a mulher seja consequência direta da pandemia de COVID-19, mas há uma consequência da pandemia na saúde pública, causada pela intensificação desse tipo de violência, historicamente estruturada e muitas vezes silenciada, agravada pelo distanciamento social.

A violência contra a mulher não escolhe cultura, etnia, religião, classe ou escolaridade, mas a possibilidade de acesso à justiça e aos serviços de saúde pode ser diferente e promover desfechos também diferentes de uma mulher para outra. Triste realidade.  A impunidade aumenta o risco de feminicídio. A impunidade do agressor aumenta o sofrimento psicológico na vítima, com graves consequências para a sua saúde mental.

Enquanto alguns países se preparam para o fim do isolamento social, outros reiniciam o processo de lockdown pelo aumento de novos casos. A pandemia de COVID-19 continua exigindo medidas de prevenção: contra o vírus invisível, imperceptível; mas também contra comportamentos que não podem mais ser aceitos, que causam danos terríveis às vítimas.  A violência contra a mulher faz adoecer e pode ser fatal,  porém medidas de prevenção também podem ser adotadas e, assim como na pandemia, exigem atitudes de todos, numa ação conjunta, que se mostre capaz de promover o respeito e a igualdade de direitos.

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento: inscreva-se no canal 10porcentomais no Youtube.

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

O cérebro na pandemia: mulheres têm até 3 vezes mais chances de apresentar transtornos mentais

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem: Pixabay

 

Diversos estudos têm mostrado o potencial do coronavírus (SARS- COV-2) de invadir o sistema nervoso central, promovendo alterações estruturais e funcionais no cérebro de pacientes com COVID-19. Apesar de não haver precisão no número de pessoas afetadas e no tempo de duração das alterações neurológicas e psicológicas causadas pela COVID-19, pesquisas realizadas em diferentes países sugerem que uma parcela significativa da população mundial experimentará as consequências dessa pandemia na saúde mental.

Um estudo realizado na Espanha sobre os prejuízos psicológicos causados pelo COVID-19 revelou aumento de 7% dos casos de depressão, com maior vulnerabilidade para pessoas de baixo nível socioeconômico, mulheres e pessoas com rede de apoio fragilizada. 

Na China, país no qual surgiram os primeiros casos, os resultados dos estudos mostraram aumento no índice de ansiedade, depressão e uso nocivo de álcool, quando comparados com os índices populacionais anteriores à pandemia.

Um estudo conduzido pelo Instituto de Psicologia da UFRGS avaliou os indicadores de sintomas de transtornos mentais e identificou que ter a renda familiar reduzida, causada pelos impactos econômicos da pandemia, fazer parte do grupo de risco e estar mais exposto a informações negativas, como o número de mortos e infectados, são fatores que podem provocar maior prejuízo para a saúde mental. 

No Brasil, semelhante aos dados do estudo espanhol, as mulheres têm quase 3 vezes mais chances de apresentar transtornos mentais durante a pandemia. A violência doméstica sofrida durante o isolamento social é um dos fatores que contribui para essa estatística.

Além dos impactos emocionais relacionados à pandemia, prejuízos nas funções cognitivas, como atenção, memória e processamento de informações também estão sendo reportados em diversos estudos, como consequência de alterações no cérebro, mesmo em pacientes que tiveram a forma leve da doença.

As medicações usadas no tratamento da COVID-19 podem também promover alterações neuropsiquiátricas como amnésia, delírio, alucinações, mudanças de humor, comprometimento cognitivo leve e psicoses.

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Com base em dados obtidos em epidemias anteriores, como a síndrome respiratória aguda grave, ocorrida em 2003, e a síndrome respiratória do Oriente Médio, em 2012, 78% das pessoas apresentaram problemas cognitivos até um ano após a alta hospitalar.

Falhas de memória para situações cotidianas, como esquecer de tomar medicamentos ou compromissos, foram persistentes até cinco anos após a alta. Naquela época, foram identificados prejuízos cognitivos semelhantes aos que pesquisadores estão observando na pandemia atual, com falhas na atenção, memória, processamento de informações e funções executivas — habilidades cognitivas que envolvem planejamento e realização de tarefas.

Do mesmo modo que não é possível saber o número exato de pessoas que já foram contaminadas pelo coronavírus, possivelmente o número de pessoas impactadas por alterações neuropsiquiátricas também não está bem dimensionado. Assim, tão importante quanto as medidas de prevenção adotadas inicialmente, propostas terapêuticas e de reabilitação devem ser planejadas para atingir as necessidades específicas de cada pessoa, reduzindo as sequelas causadas pela doença, oferecendo ganhos no estado mental e na qualidade de vida do paciente e de seus familiares. 

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung