Conte Sua História de São Paulo: o homem que me apresentou os pássaros da cidade

Por Osnir G. Santa Rosa

Ouvinte da CBN

Dalgas Frisch e o filho Christian – Reprodução do livro ‘Aves brasileiras minha paixão’

No Conte Sua História de São Paulo, o ouvinte da CBN Osnir Geraldo Santa Rosa lembra um personagem que faz desta uma cidade inovadora:

Minha casa fica em uma praça arborizada, com alfeneiros que atraem pássaros para suas copas. Desde pequeno, sou fascinado por aves e suas histórias, e um dos alfeneiros da praça sempre foi palco de encontros memoráveis. Todos os anos, pequenos bandos de aves pousavam ali, fazendo uma algazarra animada. Entre eles, um macho sempre se destacava pelo canto barulhento.

De longe, com minha miopia, essas pequenas aves lembravam canários-da-terra. Durante anos, tentei descobrir a espécie sem sucesso, até que comprei o livro Aves Brasileiras e plantas que as atraem, de Johan Dalgas Frisch, renomado ornitólogo paulistano. Sua obra me revelou que as visitantes eram juruviaras, aves delicadas e raras.

O livro narra um momento marcante da infância de Dalgas, quando ele testemunhou um macho de juruviara desesperado pela morte de sua companheira. Essa cena o inspirou a dedicar sua vida às aves, tornando-se uma figura ilustre da nossa cidade.

Aqui em São Paulo, a rara espécie de hylophilus paicilotis, nome científico para o que chamamos de juruviara-de-coroa-castanha, vite-vite-coroado ou verdinho-coroado, também é celebrada no Parque Vila dos Remédios, que preserva uma área diminuta de Mata Atlântica entre a Vila Jaguara e a Vila Aparecida Ivone. É emocionante saber que ajudei a preservar essa área verde, um refúgio importante para pássaros e para os moradores dos bairros vizinhos.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Osnir Geraldo Santa Rosa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto e envie agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

((os textos originais, enviados pelos ouvintes, são adaptados para leitura no rádio sem que se perca a essência da história))

Conte Sua História de São Paulo: o dia em que o William voou

Antônio M. Souza

Ouvinte da CBN

Photo by Mauriciooliveira109 on Pexels.com

  

Foram aproximadamente dois meses. No início, percebi que o Otávio (nosso cachorro) sempre espantava um pássaro que rondava a casa. Até que um dia vi gravetos jogados embaixo de uma das árvores, uma espécie de cerejeira que existe no nosso quintal.  Notei que se tratava de um ninho. Peguei os gravetos, juntei no gramado e observei. Após algumas horas, vi um movimento. Era um pássaro grande, um pouco maior que um pombo. Que descia da árvore e pegava, pacientemente, um a um dos gravetos. Um ritual para Judite que se preparava para a maternidade.

Ops, desculpa, preciso apresentá-la: Judite é o nome que minha filha Bárbara batizou o pássaro que iniciava o ninho em casa.

Passados alguns dias, notamos que Judite não saía mais do ninho. Passava todo o tempo quietinha só observando o movimento. Teve uma tarde chuvosa em que em meio a tempestade, trovões e vento —- que sacudia as árvores —, ela se manteve firme em seu propósito. Ao ver os pingos d’água escorrendo sobre suas pernas tive uma enorme vontade de ajudá-la, mas entendo que a natureza tem suas soluções e precisa ser respeitada.

Da janela do andar superior tínhamos uma visão completa do ninho e sempre que a abríamos, Judite se virava para nos olhar fixamente como se estivesse nos alertando: “Eu sei que estão aí!”

Num outro dia, Bárbara me avisou que havia uma movimentação estranha no ninho. Olhando em volta da árvore notei alguns pedaços de cascas de ovo caídos no gramado. 

Sim! Havia nascido William, assim batizado por Bárbara. William, filho de Judite e Kleber, que só conhecemos depois. O pai era muito parecido com a mãe , era um pouco menor e tinha as mesmas cores. Os dois se revezavam. Um cuidava do filhote enquanto o outro procurava alimento. A qualquer movimento estranho, os dois se apressavam em esconder William.

Bárbara que costumava ler à sombra da árvore, ficou surpresa ao notar que Wiliam, acompanhado de seus pais, arriscava alguns pulinhos de um galho para outro. No dia seguinte, houve uma revoada de andorinhas na árvore da casa ao lado da nossa. Comentamos que parecia ser uma festa da natureza, talvez pela mudança de estação, estávamos nos aproximando do fim do verão e no outono a cerejeira perde todas sua folhas dando lugar às delicadas flores de tom rosado.

 

No dia seguinte, mudamos de ideia. Concluímos que aquele balé das andorinhas  era para festejar mais um espetáculo da natureza que estava por vir. Abri a janela, cumprimentei Judite com um olhar, e fui me exercitar. Quando terminei, voltei e pra minha surpresa o ninho estava vazio. Procurei pelos galhos da árvore no quintal e nada. Enfim, Wiliam voou.

 

Temos duas árvores em nosso quintal e já vimos algumas famílias de pássaros se formarem por ali mas nunca nos apegamos tanto a eles; e confesso que ao ver aquele ninho  vazio, senti um aperto no peito, um misto de saudade e felicidade por terem tido sucesso.

 

Alguns povos acreditam que os espíritos nunca morrem, apenas trocam de plano ou seja, para que algum espírito venha a nascer para este mundo um outro precisa partir para outro. Nos meus devaneios me veio à cabeça uma ideia:  será que o Sr. Macedo  — meu sogro, falecido dias antes — se mandou para que Wiliam ganhasse um lugar neste mundo?

 

Não sei de nada! Só sei que Kleber e Judite cumpriram sua missão e agora Wiliam ganhou os céus para voar livremente como tem que ser com todos os seres.

Antonio M. Souza é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antônio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade; escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Vida nova no Bosque da Saúde

 

A família de sabiá-laranjeira aumentou nestes dias de novembro, no ninho que construiu na rua Samambaia, em pleno Bosque da Saúde.

Sabia-laranjeira

André Pereira, vizinho deles, ouvinte-internauta e indiscreto, registrou parte destes momentos em fotografia, e não teve como deixar de reparar na bela cor dos ovos, azuis como o do Grêmio por quem ele torce (e eu, também).

Sabia-laranjeira

Os “meninos” logo ensaiaram os primeiros gritos, provavelmente a espera da recompensa a ser oferecida pelos pais.

Sabia-laranjeira

O pai não escondia a satisfação e o orgulho pelo acontecimento. Peito em riste, parecia desafiar a quantidade de prédios que cerca o espaço que foi só deles.

Sabia-laranjeira

“A natureza ainda pulsa na floresta de pedra”, comemorou André Pereira, a quem agradecemos por dividir estes instantes com os leitores do Blog.