Peixonautas

 

O autor do texto que você acompanhará a seguir foi escrito por Matheus Mascarenhas, um garoto que acaba de completar 13 anos e já apareceu por estas bandas com outro artigo no qual falava sobre a intolerância que reina no país. Matheus escreveu “Peixonautas” e ganhou mais um prêmio literário. Esteve comigo no lançamento do livro, em Campinas, na noite desta quinta-feira, ao lado do pai dele, Henrique, e me entregou este texto que, segundo Matheus, foi dedicado a mim. Minha gratidão a Matheus. E aproveite essa reflexão sobre a morte:

 

Matheus Milton Jung

 

Por Matheus Mascarenhas

 

Todos os dias, presenciamos todo tipo de morte que se possa imaginar:
mortes de humanos, mortes fulanas, mortes cicranas, mortes dos animais,
mortes morais e intelectuais, mortes de todas as laias possíveis. Mas mesmo
assim, na maioria das vezes quase nenhuma dessas mortes rotineiras nos
impacta sentimentalmente, somente fazem parte de nosso cotidiano. A única
contrariedade no assunto acontece com as mortes que nos impactam, que nos
atingem, nos sentimentos, principalmente. Elas são as mortes mais difíceis de
confrontar. São as mortes das pessoas, animais, ou ideias que valorizamos e
amamos. Um exemplo prático é o óbito de uma avó, algo tão ruim quanto a dor
da dissecação de um membro. A diferença entre essas duas dores é que uma
delas nunca acaba, contudo, a semelhança é que as duas deixam suas marcas.
Enfim, essa é nossa realidade e é nela em que vivemos.

 

Essa tese ponderada acima, calhou-se a mim, hoje, quatro de Agosto de
2018, e foi ela que me motivou a escrever esse texto. A tese: morte, na minha
vida foi sempre algo inédito, a transpasse de algo valorizado por mim, sempre foi uma novidade discrepante e que nunca fora cobiçada por mim; jamais a senti.
Essa peculiaridade da vida, hoje bateu na minha porta e foi recebida por mim,
como a mais excêntrica e divergente peculiaridade de toda minha vida. A própria
personificação da realidade, a qual me acudiu em meio a um monótono sábado.
O que poderia ser? Para vós, com asseveração, é uma morte fútil, como todas as
milhares de mortes rotineiras. Todavia, essa morte para mim é uma daquelas que
você resguarda por sua vida inteira, embora, não sendo uma das mais
consideráveis. Finalmente vos revelo o que se adviu: o singela falecimento do
meu peixe de estimação.

 

Um fabuloso Betta splendens, raça comum para estimação. E como o
nome já diz, eu portava uma extraordinária estima por aquele peixe. Comprei-o
há exatos 2 anos e 13 dias, como presente, imaginando ser somente uma
“decoração” ou enfeite, todavia, eu estava incorreto. Esse meu amigo Betta de
corpo preto e cauda avermelhada foi mais do que um amigo, foi um companheiro
de vida, por esses 2 anos. Mesmo que seja pouco, esse pequeno e fascinante
animal, transformou de alguma forma meu cotidiano e minha vida. E quando me
lembro da cena, a alimentá-lo com cinco bolinhas de ração, me decorre uma
extrema tristeza e desolação, minha mente e coração se enchem de lágrimas só
de lembrar daquela módica ação.

 

Enfim, depois de toda essa amargurada história, pude, através da primeira
experiência de morte lembrável e impactante na minha vida, descobrir que o
amor e tristeza, ambos considerados extremos distantes um do outro, na
verdade são os dois sentimentos mais próximos que podem existir. O apego a
algo é o fator que cria a tristeza e impõe em algum momento um barreira para
felicidade, o paredão da prostração e melancolia. Isso é um fato e não pode ser
mudado.

 

Um paradigma singelo e medíocre pode ser simplesmente o encerramento
de algum programa de televisão ou série favorito. É dado o seguinte: nos
momentos em que é possível assistir a esta série ou programa, se personifica a
sensação de conforto e veneração à ambas. Porém, em algum momento quando
as gravações se encerram, o sentimento primordial se personifica (raiva e ódio),
depois, entram em vigor outros sentimentos, menos perigosos, contudo, mais
persistentes (tristeza e desolação), os quais são os responsáveis pela criação da barreira que não nos permite obter a visão do amor pela série, mas sim a
lamentação pela própria.

 

Esse foi um paradigma obtuso, porém, muito lúdico quando se é levado a
representar o que o amor pode causar. E nesse experimento arremata-se a
dúvida da veracidade da seguinte hipótese: o amor cura a tristeza.
Ao explorar a ponderação em casos práticos variados, pude totalizar que,
a hipótese do “amor ser a cura da tristeza” é errada, errônea, falsa, e finalmente incongruente. A verdadeira hipótese e conclusão real é a seguinte: “O amor leva a tristeza”, de qualquer forma. Sempre o ato de amar alguém ou algo, em algum momento, se transformará e levará a tristeza e melancolia. O amor é perigoso.

 

Essa é a lógica mais real e massacradora que pode explicar quase, senão todos os
problemas psicológicos das pessoas, porém inapreensível para muitas outros
indivíduos. Enfim, não querendo mais me aprofundar, nesse assunto, digo: o
amor cria barreiras; e infelizmente essa é a verdade. Para elucidar, vos lembro
que, já disse Platão uma vez: “Amor: uma perigosa doença mental”, enaltecendo
de uma vez a tese que afirma a procedência dos problemas mentais por conta
do amor.

 

Ao final como conclusão vos digo: mesmo pelo amor ser o causador dos
problemas, barreiras mentais e tristeza, não deixe de amar. Eu concordo em
parte com a frase de Platão, porque mesmo que ele rotule o amor como sendo
perigoso, eu apoio e quero que as pessoas não parem de amar para não caírem
no precipício das outras tristezas, as de não amar. Então conclui-se que é
melhor amar e depois sofrer uma tristeza que pode às vezes ser quebrada com
uma simples lembrança de um sentimento feliz, do que viver sem amar, sempre
triste, com medo de onde a aventura do afeto pode lhe levar.

 

Quase terminando a prosa, acabo de me lembrar de um anúncio em tela
de televisão no qual estava escrito: “Peixonautas, toda terça – quatro da tarde”, e me veio a lembrança mais profunda: do corpo do meu peixe morto no seu
aquário. As lágrimas me vêm, porém, num piscar de olhos, me lembro de todas as
melhores lembranças com meu animal, experiências, brincadeiras, conversas, e
no final, abro um sorriso e penso: “Ele está melhor do que eu”. E no final não me torno um amargurado resguardador da melancolia e desolação da perda. Na
verdade, sou um quebrador das barreiras desses problemas, e assim me
considero um Peixonauta feliz.

Conte Sua História de SP: Um índio na Capital

 

Yaguarê YamãA vida na natureza e no centro urbano se misturam nas histórias contadas por Yaguarê Yamã, nascido na aldeia Yàbetué, na cidade de Nova Olinda do Norte, em Paraná do Urariá, no Amazonas.

Índio Maraguá passou sua infância no norte do País, chegando em São Paulo apenas quando já havia concluído o período escolar. Chegou para estudar, fez Geografia, escreveu livros, contou histórias para crianças e casou.

No depoimento gravado ao Museu da Pessoa, para o Conte Sua História de São Paulo, Yagaré fala das lições de criança e como aprendeu a desenhar usando uma espinha de peixe. Da cidade grande, reclamou do frio e da solidão, mas, por contraditório que pareça, foi aqui na capital que descobriu seu amor – uma descoberta que ainda causa espanto aos seus amigos da aldeia.

Ouça trechos do depoimento de Yagaré Yamã no Conte Sua História de São Paulo, sonorizado por Cláudio Antônio<

Você também pode registrar a sua história, grave seu depoimento no Museu da Pessoa. Agende uma entrevista pelo telefone 2144-7150 ou entre no site do Museu da Pessoa .

Lago morto, peixe posto na panela

 

Peixe morto na República

Por Devanir Amâncio
ONG Educa SP

Nesta quarta-feira, 24, a Prefeitura deu  início à remoção dos peixes e tartarugas do lago que está secando na Praça da República. À tarde, moradores de rua disputaram entre si, com unhas e dentes, cerca de 50 carpas, retiradas sem vida da água esverdeada e malcheirosa, segundo testemunhas. Os peixes foram encontrados dentro de dois sacos na praça, ao lado de um banheiro abadonado.

Também foi retirado muito lixo do lago: pneu, carcaça  de geladeira, guarda – chuvas e dezenas de camisinhas / preservativos.