Dez Por Cento Mais: psicóloga Beatriz Breves diz que não ter medo de sentir ajuda a chegar ao fim do ano

Detalhe da capa do livro “Falando de Sentimentos”

Dezembro tem um jeito próprio de cobrar a conta do ano. O corpo segue, a agenda insiste, as festas aparecem no calendário, e a cabeça começa a fazer balanços que ninguém pediu. Na conversa com a psicóloga e escritora Beatriz Breves, uma pergunta atravessa o período: como cuidar da saúde mental ao longo dos meses para não chegar ao fim do ano esgotado? O tema foi discutido no programa Dez Por Cento Mais, apresentado pela psicóloga e jornalista Abigail Costa.

Autora do livro “Falando de Sentimentos” (Mauad X), Betriz propõe um critério direto para perceber quando o desgaste passou do ponto: “Sofrimento. Excesso de sofrimento”. Ela faz uma distinção importante: sofrer faz parte do caminho. O problema começa quando a dor “atrapalha” o cotidiano, o trabalho e os afazeres. Nesse caso, a orientação é clara: buscar ajuda. “A medida é o quanto a pessoa aguenta… quanto você aguenta o peso”, resume.

A conversa também vira o espelho para o outro lado da balança: o que seria um ano emocionalmente bem vivido? Para Beatriz, não é um inventário de metas cumpridas para agradar os outros. É mais íntimo e menos exibível: “um ano que você tá satisfeito com o que você é e fez”. Ela reforça que não existe régua única. “Cada ser humano é único”, diz, ao criticar a mania de enquadrar pessoas em modelos de sucesso e produtividade.

Metas, comparações e o cansaço de viver a vida do outro

Ao falar de metas, Beatriz usa uma imagem simples: saber tudo sobre bicicleta não ensina ninguém a pedalar. “Para realizar, a gente tem que viver”, afirma. A crítica dela mira o excesso de teoria e a promessa repetida, ano após ano, sem experiência concreta no meio do caminho.

A pressão social aparece como motor desse cansaço. “A pessoa às vezes se exige… por uma exigência social”, observa, citando exemplos comuns: corpo, hábitos, fins de semana, padrões de vida. O ponto, segundo ela, não é abandonar a saúde ou desistir de melhorar. É calibrar o que cabe. “A gente tem que viver o que a gente é. Simples assim. A vida é muito simples. A gente é que o complica.”

Essa lógica se conecta a um tema recorrente no fim do ano: a ansiedade. Beatriz define de forma direta: “A ansiedade é você estar perdido em si mesmo”. A saída, para ela, começa num gesto pequeno: parar, reconhecer o tumulto interno e reconstruir um caminho possível. “Calma. Confia”, diz, como quem dá um comando simples para uma mente que está acelerada.

Sentimentos não andam sozinhos

Um dos pontos centrais da conversa é o que Beatriz chama de alfabetização emocional — a capacidade de nomear o que se sente. Ela afirma que muita gente trava quando é convidada a listar emoções: “Me dê 10 sentimentos. As pessoas não conseguem.” A partir daí, ela desmonta uma ideia comum: a de que um sentimento aparece isolado. “A tristeza é uma orquestra”, explica. Por trás do que está em primeiro plano, há outras emoções sustentando a pessoa, mesmo que discretas.

Ela dá outro exemplo, com o amor: “O amor constrói depende com quem ele tá andando.” Se caminha com posse, ciúme e inveja, vira destruição. Se anda com altruísmo e generosidade, pode virar construção. A chave está no conjunto e, principalmente, no que se faz com aquilo que se sente. “O problema não é sentir, o problema é o que você vai fazer com o que está sentindo.”

A inveja, um sentimento que costuma ser escondido, também surge na conversa. Beatriz defende o reconhecimento, não a celebração. “Se eu posso sentir inveja e devo sentir inveja”, diz, explicando que perceber o que está dentro ajuda a ler o que acontece fora. O trabalho, então, passa a ser de contenção da ação e transformação do estado emocional, não por apagamento, mas por mistura, como na metáfora do café com leite: “você pede um café e põe o leite, aí já não é mais café, nem leite”. 

Coragem para escolher o que é coerente

Quando a conversa chega ao tema das prioridades, Beatriz aponta para uma coragem pouco valorizada: escolher diferente da maioria. “É preciso coragem para você tomar uma decisão que a maioria não toma.” Ela conta uma história de início de carreira, em que decidiu seguir a própria intuição na inscrição de um concurso. O desfecho virou argumento: escolhas carregam risco, e a gente só conhece o caminho depois de andar. O termo que ela escolhe para amarrar esse raciocínio é “coerência”: “A gente tem que ser coerente com o que está sentindo, com o que está vivendo e com as nossas escolhas.”

No fim do ano, essa coerência costuma ser testada pela saudade, pela nostalgia e pelo balanço do que mudou. Beatriz descreve o período como uma “salada de frutas” de emoções: lembranças de quem se foi, comparações inevitáveis, uma sensação de que “várias vidas” cabem dentro de uma vida só. O cuidado, segundo ela, não é abafar o passado nem viver preso nele. É reconhecer o sentimento, “convidá-lo” e seguir sem ficar refém.

Ao falar de compaixão e cobrança, ela recorre a uma experiência antiga numa enfermaria com pacientes idosas. O aprendizado, segundo Beatriz, vinha do contraste: quem conseguia olhar para trás com algum grau de satisfação sofria menos. Ela sintetiza a lição num formato que serve para qualquer idade: não dá para fazer tudo, mas é possível buscar uma vida em que “o que eu fiz me satisfez”.

A dica final do episódio, com a marca do Dez Por Cento Mais, vira quase um bilhete de fim de ano sem frase feita: “Não tenha medo de sentir… se permita se conhecer.” Para Beatriz, a dificuldade maior não é a falta de informação. É a falta de contato consigo. “A gente tem um mundo interno tão grande quanto o externo”, diz, lembrando que o autoconhecimento não é luxo; é higiene emocional.

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O que o sono faz pelo seu bem-estar

Entre todos os pilares do bem-estar, o sono é o que mais me inquieta. Minha rotina começa às 4h15 da manhã, e não há despertador que convença o corpo de que acordar tão cedo é algo natural. Talvez por isso eu esteja sempre à procura de novas explicações que me ajudem a entender como lidar melhor com esse descanso tão necessário, e tão desafiador, para quem vive entre programas de rádio, entrevistas, leituras e outras tarefas essenciais (?) como assistir ao meu time de futebol jogar até tarde da noite..

O que a ciência revela apenas reforça essa inquietação. Não se trata apenas de dormir um certo número de horas; trata-se da qualidade do percurso que o cérebro faz durante a noite. Estudos mostram que noites interrompidas, sejam por insônia, apneia ou despertares frequentes, aumentam o risco de demência e comprometem funções como memória, atenção e velocidade de raciocínio anos mais tarde.

Duas fases, em particular, cumprem um papel decisivo nessa história: o sono profundo e o sono REM. No primeiro, o cérebro regula hormônios, organiza o metabolismo e ativa seu sistema de “lavagem interna”, removendo resíduos como as proteínas associadas ao Alzheimer. No segundo, processa emoções, consolida lembranças e ajusta os circuitos que usamos para aprender e tomar decisões.

Quando essas etapas falham, o desgaste aparece. Pesquisas de longo prazo mostram que a falta crônica dessas fases acelera a atrofia de áreas ligadas à memória — um declínio semelhante ao observado nos estágios iniciais do Alzheimer. Não se sabe ao certo se a privação de sono causa a demência ou se as duas condições se alimentam mutuamente. O que os cientistas afirmam, com segurança, é que o sono ruim cobra um preço.

O desafio, para quem acorda antes do sol, é encontrar algum equilíbrio. Sete horas por noite é a recomendação mais clara, porque permite ao cérebro completar ciclos suficientes para se recuperar. Exercícios físicos, aprender algo novo e manter horários consistentes também ajudam a aprofundar o descanso. No fim das contas, o melhor termômetro é simples: como me sinto ao despertar? E quanto tempo demoro para adormecer de novo quando a noite é interrompida?

Continuo ajustando essa equação, ciente de que dormir bem não é luxo — é manutenção preventiva. Quando o cérebro consegue apagar a luz, reorganizar a casa e limpar o que não serve, a vida clareia. Mesmo para quem madruga.

Conte Sua História de São Paulo: ser paulistano é um traço de personalidade

Luisa Shida 

Ouvinte da CBN

Photo by Andre Moura on Pexels.com

Texto escrito originalmente em inglês e traduzido por conta e risco deste narrador

Os departamentos de linguística e literatura consideram o português uma língua romântica por causa de suas raízes latinas, ao lado de outras como espanhol, francês e italiano. Eu, no entanto — e sinta-se livre para me chamar de romântica incorrigível depois disso —, acredito que ela seja digna deste título porque é verdadeiramente uma linguagem de amor. Fomenta uma miríade de palavras e expressões que, por mais simples que sejam em português, não podem ser traduzidas para nenhuma outra linguagem sem perder sua expressividade e emoção únicas.

É o caso de algumas das minhas favoritas como “cafuné” (passar os dedos pelos cabelos) ou “xodó” (uma forma afetiva de se referir a um ente querido). O melhor exemplo, de longe, é o substantivo saudade. Embora expresse o tão comum, e talvez mais comum do que possivelmente gostaria, sentimento de melancolia experimentado depois de perder alguém ou alguma coisa, não pode ser fielmente traduzido em um substantivo em outro idioma.

O fato de a saudade ser essencialmente intraduzível em sua intensidade significa que nunca consegui expressar verdadeiramente como me sentia — e ainda me sinto – quando vim estudar nos Estados Unidos. Desde o segundo em que entrei naquele avião em 28 de julho de 2021, comecei a sentir uma saudade que eu nunca tinha sentido antes.

Eu amo minha cidade natal com todo meu coração, na medida em que eu considero ser paulistano um traço de personalidade.

Crescer na maior, mais vibrante e cosmopolita cidade do Brasil teve um aspecto definidor na minha vida. Eu conheci pessoas de todo o mundo desde pequena, aprendi a andar do meu jeito por uma selva de concreto e respirar história em cada rua.

Se você me perguntasse há três anos se eu me veria sair de São Paulo para estudar no exterior, você receberia um duro “não” como resposta; quanto mais deixar o Brasil por completo. Mas oportunidades imperdíveis surgiram, e lá me encontrei em um avião de olhos vermelhos para Boston.

Primeiro, senti falta das luzes da cidade. São Paulo foi o centro do processo de industrialização e urbanização do Brasil, que explodiu por volta da década de 1950. Isso significa que as noites paulistanas são claras e animadas nas partes mais privilegiadas. Porque o sistema público de distribuição de luz ainda é permeado pela desigualdade, com bairros densamente povoados e periféricos, sendo mantidos no escuro.

Então, eu perdi os edifícios. Caminhando pelas milhas  e milhas de Boston e quilômetros de tijolos vermelhos e três andares, eu ansiava pelo contraste entre arranha-céus de nuvens e as neogóticas centenárias catedrais entre as quais cresci.  São Paulo foi fundada como um assentamento jesuíta, então suas igrejas e antigos edifícios são incomparáveis. Abrigam 468 anos de história: as influências coloniais da Igreja Católica, especialmente no que diz respeito à sua missão de catequizar as comunidades indígenas; o impacto de uma próspera economia, nos séculos 19 e 20; os efeitos da imigração na sociedade brasileira, entre muitos outros acontecimentos do passado e do presente do país.

O que eu definitivamente mais senti falta foram as pessoas. Nós brasileiros somos abraçadores, beijadores, risonhos, cantores, dançarinos, amantes, falantes, lutadores, sobreviventes, perdedores. 

O que eu amo mais sobre a ideia de saudade é que não é um sentimento negativo: sentir falta de alguém ou algo mostra que você experimentou uma situação tão positivamente intensa, com tais emoções fortes, que vai ficar com você por toda a sua vida. 

Sentimos tanta falta — a ponto de ter uma palavra tão específica para isso — precisamente porque amamos tão profundamente. Nós amamos nosso país, nossas cidades, nossa história, apesar e por causa de seus dramas.

Não posso reclamar da minha vida nos Estados Unidos nem as oportunidades que me foram dadas, mas a saudade só fica maior; deixar esse amor para trás nunca é fácil. O tipo de amor que só existe em português. 

Luísa Shida é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Fique atento porque já estamos nos programando para mais uma série especial do Conte Sua História: escreva agora o seu texto,  envie para contesuahistoria@cbn.com.br e vamos comemorar os 469 anos da cidade. Para conhecer outros capítulos, visite meu blog miltonjung.com.br ou o nosso podcast.

Americano que é sucesso no You Tube aprende português ouvindo a CBN

 

Erro
Este vídeo não existe

 

 

Você fala no rádio e influencia pessoas. Seja pela informação que pode ser transformadora seja pelo que ela aprende ao ouvi-lo: vocabulário rico, palavras pronunciadas corretamente, respeito as regras gramaticais. De onde se percebe que nosso trabalho diário à frente do microfone é pedagógico. E exige enorme cuidado. Precisão. Atenção no que dizemos.

 

Pensei sobre o assunto ao ouvir o youtuber Gavin Roy, americano nativo, apaixonado pela língua portuguesa. Ele mantém o canal Small Advantages no You Tube e tem mais de 980 mil inscritos, onde ensina brasileiros a falar inglês. Dá dicas de pronúncia, sugere livros e conta curiosidades dos Estados Unidos.

 

O que ele tem a ver com a linguagem que usamos no rádio?

 

No trecho da entrevista destacado neste post, que foi ao ar no canal AskJack, também no You Tube, ele conta que ouvia a rádio CBN antes de saber falar português: “queria saber como era o som do português em comparação com o espanhol”, diz com todo sotaque americano que lhe é de direito.

 

Pensar sobre a responsabilidade que temos na formação da língua e na educação das pessoas é fundamental em um momento no qual muita gente confunde informalidade com ignorância. Acredita que falar errado, abrir mão de regras gramaticais, viciar-se em jargões e gírias aproxima você do cidadão. Fazer isso é um desserviço à sociedade.

 

O importante é que se fale de maneira que as pessoa entendam o recado e respeitando a língua portuguesa, que aceita muito bem a forma coloquial, como nosso colega professor Pasquale Ciro Neto sempre reforça em seus comentários no “Nossa língua de todo dia”, no Estúdio CBN.

 

Eu sempre me esforcei em tratar a língua portuguesa com carinho, mesmo que, às vezes, pelo improviso que a fala no rádio nos exige, ocorram tropeços. Identificados, corrigi-se. O ouvinte merece.

Sua Marca: se tiver tradução em português, prefira o português

O brasileiro é muito receptivo ao uso de palavras estrangeiras, mas isso não deve ser motivo para que as marcas abusem deste recurso ao se comunicar com seus clientes. A afirmação é de Cecília Russo que ao lado de Jaime Troiano participam do quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, apresentado pelo jornalista Mílton Jung, na edição de sábado do Jornal da CBN. Neste episódio eles identificam as situações em que expressões estrangeiras podem ser usadas na comunicação das marcas.

A primeira regra para decidir-se pelo uso de expressões estrangeiras é identificar se fazem algum sentido para o seu público-alvo.

Em seguida, pense se não existe para esta palavra estrangeira uma tradução em português. Prefira essa.

E, finalmente, como em outros setores do ‘branding’ – este é o nome em inglês do que nós podemos também chamar de gestão de marcas – evite seguir a manada e usar a expressão somente porque todos estão usando: entenda se essa palavra estrangeira consegue traduzir aquilo que você é e o que você quer comunicar.

Conte Sua História de SP: o meu milagre de Nossa Senhora Aparecida

 

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Por Rubens Salles dos Santos
Ouvinte da rádio CBN

 

Foram quatro dias debaixo de sol, três noites dormindo no mato, mais de 200 quilômetros de intensa caminhada e um chinelo de dedo que não teria sola para nem mais um passo. Estávamos nos primeiros dias de 1971. Enquanto as pessoas ainda tinham esperança em cumprir as promessas de reveillon, eu pensava em pagar uma que eu havia feito três anos antes. E não era uma promessa qualquer, era uma promessa a Nossa Senhora Aparecida. Se eu conseguia andar àquela altura, devia tudo à intercessão dela.

 

Imagine um encanador que tinha certeza de que nasceu para ser jogador de futebol. Era eu. Naquela época, eu morava com minha família no Bixiga, bem no Centrão de São Paulo. Já estava mais enturmado com a italianada que os próprios descendentes que moravam ali. Quem me conhecia nem fazia ideia que, na verdade, eu era filho de português.

 

Fim de semana era um evento a parte. A gente juntava a turma da Bela Vista pra jogar bola, naquele famoso “casado contra solteiro”, em que todo mundo se achava craque. Foi em uma dessas peladas que marquei o gol mais bonito da minha carreira de encanador metido a boleiro. Uma matada no peito na entrada da área, numa virada rápida, num “sem pulo”. O “sem pulo” fez a festa de quem assistia, mas foi o terror para o meu joelho. Caí naquele terrão já sentindo que boa coisa não era. O joelho inchou, a dor surgiu e o hospital era inevitável. Aquele lance, que de habilidoso não tinha nada, estourou meu menisco. Veio remédio e repouso, conseguia andar de novo, mas com dificuldade. A dor não passava.

 

O médico foi categórico: tinha que operar. Eu pensava na cirurgia e já imaginava o médico mexendo na minha perna como eu serrando cano, soldando calha e rosqueando registro. Não bateu medo nem temor, bateu paúra mesmo. Marcou o dia, fui pro hospital e, na hora de internar, resolvi recorrer àquela em quem eu sempre tive fé – desde menino. Juntei as mãos, olhei pro céu e pedi pra Nossa Senhora Aparecida me ajudar a melhorar do joelho, me livrar daquela cirurgia, que se eu curasse iria a pé até (a então) Aparecida do Norte.

 

 

Eu era devoto desde menino. Mas também, desde menino, era teimoso e levado. Saí fugido do hospital, sem o médico me ver, contrariando todas as ordens. Não mais que de repente, a dor passou. Voltei a minha vida normal, subindo em forro, me pendurando em prédios e entrando em esgoto. Nada de dor no joelho. Foi milagre da Mãe.

 

Levei três anos para tomar coragem e cumprir a promessa. Mas, como bom filho de português, pra mim promessa sempre foi dívida. Devo, não nego. Pago quando puder. E eu não tinha desculpas pra não cumprir. Era janeiro de 1971 quando virei pra Josefina, minha mulher, e disse que iria pra Aparecida do Norte. Na ocasião, meu filho Roberto tinha 6 anos e minha filha Sueli só 3 anos. Minha mulher ficou ressabiada, mas sabia que eu ia de qualquer jeito pra lá.

 

Logo a Bela Vista inteira ficou sabendo. Foi quando meu pai, que tinha uma venda no bairro, me falou que o José, que vendia batata na feira do Bixiga  todo fim de semana, também tinha feito promessa. Eu só conhecia ele de vista, nunca tinha conversado. Bati na porta dele, contei minha história e falei: parto no dia 23 de janeiro, do marco zero de São Paulo, da Praça da Sé. Voltei pra casa com a palavra dele de que iria, mas só saberia mesmo no dia. Se ele aparecesse, teria companhia. Se não, eu iria sozinho enfrentar os mais de 200 km.

 

Chegou o dia. Ainda era madrugada e eu já estava de pé. Cheguei cedinho na Praça da Sé, só tinha eu e os pombos. Começou a espera angustiante. Será que o José vai aparecer? Será que vou ter de ir sozinho? Vai que me acontece alguma coisa no caminho. Vai que eu me perco. Vai que… Não, Nossa Senhora está comigo. A fé tinha que ser mais importante que tudo. E foi. Não só pra mim como pro José, que pra minha completa surpresa apareceu. Não perdemos tempo, começamos a caminhada.

 

Fomos totalmente sem preparo, afinal, decidimos de uma hora pra outra. Levamos só uma mochila com dinheiro, água pro dia, um chinelo e toalha. Assim que chegamos na Dutra, percebi que minha sandália não ia aguentar. Não ia demorar pra aparecer bolha no meu pé. E a viagem mal tinha começado. Peguei o chinelo de dedo na mochila e calcei. Não tirei mais. O verão de 1971 castigou a gente. O asfalto parecia um mar de fogo. O sol pelo interior de São Paulo era coisa de louco.

 

Bom, não demorou pra gente achar que aquilo tudo era coisa de louco mesmo. Naquela época, mal tinha acostamento e pra achar posto de gasolina tinha que rodar muitos quilômetros.A água logo acabou e o dinheiro não servia, porque nem tinha onde comprar nada. O jeito foi começar a parar nos casebres que encontrávamos na beira da estrada pra pedir de beber. E foi assim que a gente seguiu. Fazendo as moitas de banheiro, a sombra das árvores de cama, os postos de gasolina de refeitório e as fazendas no caminho de ponto de água.

 

Mal passou o primeiro dia e percebemos que tínhamos de adotar uma estratégia. Do contrário, não chegaríamos nem à metade. Passamos a caminhar de noite e cochilar ao meio-dia, na sombra. E não dava pra parar muito tempo. Era reduzir o passo e as dores vinham. Doía canela, coxa, costas, pescoço, tudo. E o cansado se mesclava com o medo dos carros e dos caminhões. De noite, qualquer sombra que se aproximava era motivo de susto. O temor foi tomando conta da gente, a promessa parecia um fardo pesado demais, muito maior do que podíamos carregar.

 

Quando alcançamos a placa que indicava a metade do caminho, bateu um desespero. José era mais novo que eu, mas já estava esgotado. Dava pra ver nos olhos dele. Ele virou pra mim e disse: “segue com Deus, meu amigo, vai você porque eu não aguento mais”. Naquele momento, confesso que quase sucumbi à tentação de desistir. Foi quando novamente juntei as mãos, olhei para os céus e pensei firme em Nossa Senhora Aparecida. Era isso que nos faltava, a confiança de que a Mãe estava conosco. Não deixei ele parar, peguei pelo braço, puxei e assim seguimos. Na manhã do quarto dia, já avistávamos aquela cidadezinha pequena, mas tão abençoada.

 

Essa basílica que vemos hoje, gigante, ainda não existia. O que havia era a Igreja antiga, que guardava a imagem de barro encontrada no Rio Paraíba do Sul. Quando nos deparamos com a imagem da Mãe… Bom, nem consigo descrever. Foi, sem duvida, o momento mais emocionante em toda a minha vida. Agradecemos, rezamos, assistimos a uma missa e era hora de pegar o ônibus pra voltar.

 

Não tinha celular, não tinha internet, no máximo um orelhão que se achava de vez em nunca. Foram quatro dias sem dar qualquer notícia pra família. Quando cheguei de volta no Bixiga, nem ‘bom dia’ recebi. Afinal, ninguém me reconhecia. Justo eu, que andava pela Treze de Maio e encontrava um conhecido a cada passo. Parecia que tínhamos ficado anos longe. Imagine um cara barbudo, com as roupas sujas e rasgadas, uma sandália destruída, os pés em carne viva, com cara de esgotado. Minha mulher, a Josefina, não sabia se festejava ou se chorava quando me viu. Nem sei quantas horas dormi depois. Nem do José, que depois perdi contato e nunca mais tive notícia.

 

Os anos passaram, os filhos cresceram, saí da Bela Vista, os netos vieram, reduzi o futebol – não na arquibancada, mas no campo – e até parei de beber. Em cada vitória minha, da minha mulher, dos meus filhos e dos meus netos, uma certeza: Nossa Senhora Aparecida está conosco. Hoje, está até tatuada no meu peito.

 

Rubens Salles dos Santos é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é de Cláudio Antonio e a narração de Mílton Jung.

Atropelando o bom senso e a língua portuguesa

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Invejo os colunistas de jornais diários que necessitam encontrar a cada dia assuntos capazes de satisfazer aos seus leitores e sempre descobrem um tema. Houve uma época na qual eu escrevia aos domingos sobre futebol,dividindo com Ibsen Pinheiro meia página do Correio do Povo. Ele tratava do Internacional e eu,do Grêmio. Quem não está a par da rivalidade que reina absoluta no futebol do Rio Grande do Sul talvez desconheça que os meios de comunicação gaúchos devem cuidar para não fazer diferença entre os dois times. Hoje,o meu compromisso com o blog do Mílton me permite escrever sobre assuntos variados,inclusive futebol. Nem por isso,entretanto,fico menos agoniado quando chega a terça-feira,dia em que entrego o meu trabalhinho para o âncora deste blog.E não há nada a me inspirar. Não é,felizmente,o caso de hoje.

 

Chamou-me a atenção matéria publicada pela Zero Hora dessa segunda-feira. Trata de trânsito,assunto com o qual preenchi muitos dos meus textos de quinta. O jornal começa assustando quem tem de enfrentar,especialmente,as rodovias deste país,ao lembrar que,”em uma década,meio milhão de pessoas tiveram as vidas interrompidas em ruas e estradas do Brasil,enquanto outros 2 milhões ficaram feridos”.Os dados foram compilados pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na proporção para cada 100 mil habitantes,o Brasil ganha – acho melhor dizer que perde – de goleada para os Estados Unidos,Finlândia,China e Reino Unido. As estatísticas não tratam de quantos desses acidentes fatais tiveram caminhões como participantes. É incompreensível que,em uma terra como a nossa as ferrovias sejam as filhas desprezadas. Por quê? Seria interessante que essa pergunta fosse feita para a candidata à reeleição,Dona Dilma,em cujo governo nada foi feito em prol do transporte ferroviário,muito menos poluente e pouco sujeito a acidentes. Pelo menos,não se encontra,entre os maquinistas,bêbados e drogados.

 

Os números que acabei de repetir,retirados da reportagem sobre acidentes de trânsito,deveriam preocupar,por exemplo,os nossos senadores. Mas não é o que ocorre. Pelo jeito,resolveram imitar os linguistas e assemelhados,eis que estão estudando modificar,novamente,as regras ortográficas que,segundo imagino,não é assunto para curiosos. Ou eles são doutos em ortografia? O último acordo ortográfico,droga contestada por professores de português,que retirou o hífen de várias palavras,ainda nem foi assimilado pelos viventes de todas as idades,e já querem nos impor mudanças ainda mais estúpidas do que a última. Os portugueses,simplesmente,não ligaram para a reforma,eis que ainda chamam meninos de putinhos e insistem em meter um “c” em facto,além de outras idiossincrasias que vão impedir por “saecula seaculorum” que falemos todos a mesma língua,sem tirar nem por.

 

Imaginem que o “H” desapareça,o “G”fique com som de “GUE”,o “CH” seja substituído por “X”e outras asneiras que as alterações trarão no seu bojo. A vontade que eu tenho é de “EZECUTAR”os nossos senadores e todo e qualquer defensor de nova reforma ortográfica. Como cantaria Roberto Carlos,”quero que vá tudo pro inferno”!!!

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele).

Textos são invadidos por palavras-clichês

 


Por Milton Ferretti Jung

 

Claudia Tajes,minha sobrinha,que já citei no mínimo duas vezes nos meus textos,em sua coluna no Donna,caderno dominical do jornal Zero Hora,periódico gaúcho,talvez ainda sob a influência da Copa do Mundo,criticou os lugares comuns preferidos pelos jogadores de futebol – os brasileiros,claro – quando,após as partidas,são entrevistados pelos repórteres que correm para os ouvir como se deles fossem extrair sábias declarações,capazes até de renderem manchetes. Permito-me repetir as que a Claudia escolheu e intitulou de “Os campeões do clichê”:

 

“Agora é levantar a cabeça e seguir em frente;a vida continua e não é um insucesso que vai abater a nossa equipe;a gente pecou em alguns aspectos e pagou o preço no final;tem que assumir a responsabilidade e começar a pensar em 2018;não é porque a gente perdeu que vai dizer que está tudo errado”.

 

Não se pode esperar muito mais de jogadores,a maioria pessoas de pouquíssimo ou nenhum estudo. Há,porém,quem tem condições de se expressar melhor e dizer coisa com coisa,embora eu entenda que depois de uma derrota por 7 x 1 seria bem mais interessante que os responsáveis pela catastrófica cifra sumissem do mapa. Claudia,na sua coluna, enumera também anúncios que encheram a paciência dos telespectadores,além de políticos e candidatos que concorrerão às eleições em outubro e que,em seus discursos,não conseguem fugir dos clichês.

 

Já as palavras-clichês,não sei bem a partir de que data,começaram a invadir toda espécie de textos. Stanislaw Ponte Preta,se vivo fosse,teria material para encher bibliotecas com novas edições do seu livro O Festival de Besteiras que Assola o País. Fazia tempo que pensava em reunir em um dos meus textos de quinta-feira no blog do Mílton. Não sei quem é ou quais são os responsáveis pelo lançamento de palavras-clichês Vejo que elas invadem,principalmente,a mídia impressa. Uma delas é “apontar”. Não passa dia em que não lemos nas páginas dos jornais. Bastaria que,de vez em quando,o verbo apontar fosse substituído por seus sinônimos, por exemplo,indicar,embora tenha muitos, entre eles, indigitar, mostrar,etc. Pior,se é que se pode considerar um modismo mais irritante do que outro,a locução“por conta de” passou a ficar presente na boca de meio mundo,como se não pudesse ser substituída por um simples “porque” ,“por causa”,”devido a”,etc.

 

Os erros,depois que os jornais demitiram os seus revisores, se amontoam nos textos de quem divulga notícias de contratações de jogadores,seja nos jornais seja nas rádios. É comum ler-se ou se escutar esta frase: O Grêmio contratou, junto ao Dnipro, o ex-colorado Giuliano. Errado:o Grêmio adquiriu,comprou ou tomou emprestado ao Dnipro o ex-colorado Giuliano. Está errado também informar que,por exemplo,João Paulo deu entrada a um processo “junto a …”. O processo não chegará ao destinatário,mas ficará aguardando que seja encaminhado ao juiz.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no blog do Mílton Jung (o filho dele)

De volta à nossa Língua Portuguesa

 

Por Julio Tannus

 

A deliciosa história de uma mesóclise-à-trois. Bela lição do nosso idioma português. Texto de Fernanda Braga da Cruz – portuguesa, com certeza – da Faculdade de Letras de Lisboa. Vale a pena ler. Redação vitoriosa num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa:

 

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.

 

Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.

 

O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.

 

De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.

 

Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo. 
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
 Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.

 

Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.

 

Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo. Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.

 

Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais. Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.

 

Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisto a porta abriu-se repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.

 

Que loucura, meu Deus!

 

Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.

 

Só que, as condições eram estas:

 

Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
 O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história.Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Reforma ortográfica só é boa para amansa-burro

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Existem muitas coisas as quais,por mais que me esforce,não consigo aceitar.São tantas que vou me atrever apenas a citar uma para não encher a paciência dos meus raros leitores,se é que os tenho: a tal de Reforma Ortográfica,fruto de mais um acordo estapafúrdio entre os países que falam a língua portuguesa. Aliás,esse acordo,aprovado em 2008,pelo jeito,satisfez somente os dicionaristas,que lançaram,de imediato,novos amansa-burros e,graças a eles,encheram de dinheiro as suas burras. A propósito,escreve-se amansa-burros ou amansa burros,sem hífen? O verbete,que não aparece nos dicionários,é separado por esse sinal. Ou era.

 

Na nova ortografia,hifenizar ou deixar de colocar hífen transformou-se em um dos piores problemas da estúpida mudança. Nesse 1º de janeiro,a mais racente reforma (já enfrentei,no mínimo,outra)deveria ter sido efetivada de direito,eis que,de fato,já foi. Os colégios maristas já a adotaram em 2009. Nas escolas Estaduais,a recomendação é que seja incorporada ao processo de alfabetização. O Senado, entretanto,quer discutir o assunto e,com isso,as alterações ortográficas podem se oficializadas em 2016.

 

Quando começou a se falar na Reforma Ortográfica e tomei conhecimento das mudanças que ela provocaria e que atingiriam os recém alfabetizados e os já acostumados em grafar palavras com trema, acentos, alguns deles diferenciais etc.,fiquei furioso com os autores desse despropósito. Não fui,porém,somente eu quem detestou a “novidade”. Darcília Simões,professora de língua portuguesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNP),descreve assim o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa:”Um acordo desnecessário e complicado”.

 

E disse ainda:”Hoje em dia, ninguém mais sabe usar hífen. Do ponto de vista prático do usuário,essa reforma foi um problema”. Para a Professora,o novo acordo teve motivações políticas e econômicas,em vez de ter como objetivo facilitar a vida dos usuários da língua. Para a Professora,o que houve foi um confronto de força entre Brasil e Portugal,cada um dizendo “eu quero que você escreva como eu”. Deixo aqui meus cumprimentos à Professora Darcília Simões por ter posto os pontos nos ii.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)