Operação Casca de Ovo

 

Buraco na República

Por Devani Amâncio
ONG EducaSP

O polêmico buraco da Praça da República, tapado na terça-feira passada, 9 de fevereiro, está de volta. Veja o que disse o sorveteiro Arodi Garcia, mais conhecido na praça como Véio do Sorvete.

“Bem que o Pai de Santo que trabalha aqui, previu : ‘Véio, alguma coisa me diz que esse trabalho não ficou bem feito, depois de 6 meses encrencado. Você viu? Já está desmanchando. Isso não vai durar três dias. É bom você não ficar passando por cima disso não. No desespero, vão jogar a culpa no seu carrinho ’. Olha, conheço todos os buracos do centro, de todos os tamanhos… No Vale do Anhangabaú tem um na entrada da garagem do shopping Light, parece um poço. Aquele buraco vai engolir um caminhão logo logo… Num dia desses, por pouco um gari anãozinho não foi engolido. Debaixo do asfalto está tudo oco… Ando olhando para o chão… vejo um buraco aqui, desvio de um outro ali … vou manobrando. Esse buraco da República deu um bafafá! Saiu no rádio, no jornal, veio até uma televisão aqui. No outro dia apareceu cedo, um caminhão da Prefeitura cheio de gente. ‘Vai… Vai rápido’… Foi tapado só com cimento e areia, na grossura de uma casca de ovo. Está o maior bochicho na praça, o engraxate sabe de tudo… Estão falando que o serviço do buraco ficou em 2 mil”.

O Véio do Sorvete tem 63 anos e se orgulha em ter o Estatuto do Idoso, assinado pelo presidente da República em 2003.

N.B (Nota do Blogueiro): No dia 4 de fevereiro, postamos texto “Os Buracos da República” de Devanir Amâncio chamando atenção para o buraco que estava aberto na praça da República, um dia depois recebemos informação da prefeitura que o serviço seria providenciado. O conserto foi feito, mas o problema está de volta.

O padrastro do Deus Mercúrio

 

Vulgão adotou a estátua

Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP

Antônio Carlos, o Vulgão da Vila Carrão, quando sentia solidão no Carandiru, sempre vinha à sua mente adotar uma criança abandonada. O tempo passou, ganhou a liberdade, tornou-se morador de rua e adotou uma estátua na Praça da República, onde vive há 15 anos. Toda noite, antes de dormir, afaga a cabeça da escultura “Mercúrio em Repouso”, a quem chama de meu filho e/ou Neguinho. Ele discorre sobre seu passado:

“Sou filho da Zona Leste. A minha família é do Carrão… Ninguém está livre de fracassos. Certas coisas dependem do tempo… Agora vai ficar me interrogando? Aí vou ter que interrogar o tempo, e hoje não estou com cabeça. Sou Antônio Carlos, o Vulgão da Vila Carrão. Aqui na praça ocupo meu tempo com o Neguinho. De vez em quando dou uma ensaboada nele com flanela e água. Pelo menos faço isso… Tem gente que não cuida de nada. Aos que me chamam de louco, eu pergunto: o que é loucura? Vamos falar de coisas alegres. Se é para falar de coisas tristes, os maltrapilhos estão todos no centro da praça, pitando pedra. Vamos falar de samba e mulher. Não bebo, nem puxo fumo. Isso não é uma grande coisa para quem mora na República? Minha ex-namorada era linda… uma morenona. Mas eu era um cafagestão. Até hoje não consigo entender porque tem mulher que se liga nesse tipo de homem. O que eu fazia? Eu falava que amava ela, pedia perdão pelos erros e de repente desaparecia. Ela ficava louca. Depois de um mês, eu chegava de mansinho: ô nega, você tá brava comigo? Ela se derretia, se amarrava na minha. Por Deus, ela não merecia. Quando eu estava no Carandiru, minha avó Rosária – ela já morreu e está enterrada no cemitério Carrão/Vila Formosa – ia me visitar todos os domingos. Levava macarronada, dava conselhos: ‘Negão, todo mundo gosta de você, toma jeito, sai dessa vida Negão. Vai ganhar a vida honestamente. Você tem ginga. Por que você não vira político?’ Se eu tivesse seguido os conselhos da velha, hoje eu estaria rico… No Natal não vai dar, mas no Carnaval vou procurar minha irmã, meu tio… Também vou na escola do seu Nenê. Duvido que exista ‘morochas’ mais bonitas em outro lugar do que na Zona Leste. O que tem de mestiças! Quando o sol explode, sai de baixo. As mulatas da Nenê dão gosto. As da Leandro também. Só tem mulher pavão”.

Vulgão vive momentos de recaídas e nos últimos dias tem sonhado com a sua irmã Sônia, com quem teve uma infância sofrida.

Conte Sua História de São Paulo: Na escola de Letras

Muito antes de a Faculdade de Letras estar no campus da USP, no Butantã, a escola recebia suas alunas na Praça da República, em prédio no qual funcionava o colégio das normalistas, no centro de São Paulo. A ouvinte Neusa Longo lembra os tempos de estudante na história gravada no estúdio móvel da CBN, durante o programa em homenagem aos 455 anos da capital paulista.

Neusa é antiga frequentadora do Conte Sua História de São Paulo. Na primeira fase do programa, escreveu texto que foi publicado no livro lançado pela Editora Globo com o título de “Menina Escandalosa na República”. Participou também com outros capítulos da história da cidade em lembranças que foram ao ar durante o CBN SP que você pode ouvir clicando AQUI. E agora está de volta com os tempos das normalistas.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo na voz e lembrança de Neusa Longo