Por Carlos Magno Gibrail

Hoje, a propaganda brasileira, forte em números e em criatividade, com R$30 bilhões de faturamento anual e 57 Leões em Cannes, além do título de Agência do Ano pela AlmapBBDO, não depende tanto da política, quanto esta dela.
Entretanto, pela evolução dos últimos anos, a propaganda nacional ficará cada vez menos brasileira, e a sua dependência dos governos e candidatos poderá se tornar significativa.
A globalização e o poder das multinacionais estão concentrando em 17 agências 13 bilhões de faturamento anual dos 30 bilhões de reais de todo o setor.
A conta de propaganda paga pelo governo Lula -Presidência, Ministérios e Estatais – nos últimos seis anos aumentou em 48%. De 2003 a 2009 foram gastos 7,7 bilhões de reais, e apenas de 2008 para 2009 houve a evolução de 796 milhões de reais para 1,17 bilhões de reais.
As campanhas governamentais, a preço de tabela, que são normalmente feitas para o poder público, pois o setor privado é brindado com descontos, aumentaram de 2007 para 2008 de 2,26 bilhões de reais para 2,77 bilhões de reais, de acordo com levantamento do Grupo de Mídia de São Paulo.
Enquanto São Paulo passou de 59,3 milhões em 2007 para 158,3 milhões em 2008, o deputado Luis Carlos do Amazonas informa que São Paulo tem gasto de R$ 2,32 por pessoa, Rio de Janeiro gasta R$ 1,72, Pernambuco gasta R$ 3,7, Bahia gasta R$ 1,45 e Paraná gasta R$ 1,00, no Amazonas a taxa é de R$ 14,00 per capita.
Mas, tão importante quanto os números, é o aspecto ético não comprometido, pois de acordo com a Constituição
A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos” (artigo 37, XXII, § 1.º).
Constatamos que a realidade não é esta postulada pela Constituição.
É o que Jean Baudrillard chama de: “Simulação desencantada – o pornô – mais verdadeiro que o verdadeiro – este é o máximo do simulacro”, que encontramos nas comunicações governamentais com o objetivo da promoção pessoal através do simulacro da divulgação informativa ou de orientação social.
A partir de 3 de julho até 3 de outubro ou 31 se houver segundo turno, os governos federal,estaduais e municipais estão proibidos de veicular qualquer tipo de propaganda que possa ser caracterizada como favorável às administrações.
O que poderia ser um período de purificação passa para o que Baudrillard chamaria de “Simulação encantada – mais falso que o falso – este é o segredo da aparência”, da qual os candidatos vão se travestir e investir. Fecha a propaganda dos governos e abre a campanha dos candidatos.
Dilma na segunda-feira anunciou gastos de propaganda de 157 milhões de reais, Serra de 180 milhões de reais, e a modesta Marina 90 milhões de reais. Como bem rotulou no Estado de 3 de junho Eugenio Bucci, é a época em que : “A propaganda eleitoral vai ao paraíso”.
A eleitoral vai, mas a institucional em espera voltará cada vez de forma crescente, de acordo com a tendência desafiadora dos anos recentes.
É hora de eleição, e é preciso detectar a simulação e ir para a ação.
Do veto através do voto.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung
* Foto de propaganda nazista mostra jardim de infância para crianças alemãs e enfatiza a função materna na Alemanha, o resultado nós conhecemos (Alemanha, 1941)