Por Maria Lucia Solla
Olá,
Hoje quero pensar em prazer: alegria, cor, leveza, beleza e magia, ao som de banda de coreto, que sempre me faz emocionar e me faz chorar. Quando estou muito feliz, meu prazer alcança o limiar da dor. Um lugar de pura magia; alquímico.
Quero pensar na sofisticação da simplicidade que traz consigo satisfação, no mar, nas ondas que dançam, dançam, e se expressam, cantando, no dançar.
Quero pensar no sol queimando a pele, sem culpa de me deixar seduzir por ele, sem culpa de passear pelo passado e sem culpa do privilégio de poder me lembrar.
Quero tomar um καφές με κονιάκ (café com conhaque), de frente para o vulcão, hipnotizada pelo mar, sem saber onde termino e onde começa ele. Ouvindo o Adagio de Albinone e escrevendo um cartão postal para o meu pai. Obrigada, pai, pela vida, por eu estar aqui neste mundo, por poder ver tanta beleza e sentir tanta emoção.
Nesse momento da minha vida eu já era executiva, independente, descasada mais de uma vez, mãe de dois filhos criados e independentes. Não agradecia por um presente que se compra com dinheiro. Há muito tempo minhas viagens eram presentes meus para mim mesma. Agradecia por ter me trazido à vida e ter me conduzido com cuidado e estratégia para que eu fosse firme e digna, diante do mundo. Ele era responsável pela magia da minha vida.

Quero pensar num passeio de moto pelas vias rochosas e dar de cara com o mar.
Quero comer frango assado com batatas ao sabor de limão siciliano.
Quero salada grega, o queijo feta original e o orégano que vem rindo na travessa, de tão vivo que está.
Quero as buzúquias, os grupos de dança que me puxavam para o palco e me faziam perceber que eu já nascera dançando aquela música, que eu nunca existira antes de estar naquela roda.
Quero a areia pedregosa, de seixos de lava vulcânica. Quero os velhos da cidade dizendo : Υειά σου, Μαρια! olá, Maria, quando eu passava no caminho para o mar e de volta para casa.
Quero assistir aos barcos voltando da pesca, as mulheres agradecendo a Deus pela volta dos seus homens e as velhas de lenço preto na cabeça, passando a limpo a vida dos outros, nas calçadas.
Quero olhar mulheres e homens caiando muros e calçadas, apagando as pegadas do turista que fugiu do vento que sussurra a verdade, levando na mala a fantasia vivida.
Quero sempre e quero mais.
Ouça “De Santorini” na voz e sonorizado pela autora
Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung