Condomínios de luxo mantém “lixão doméstico”

 

Lixão residencial

O desmoronamento de parte dos 600 mil metros cúbicos de lixo amontoados no aterro sanitário de Itaquaquecetuba, na Região Metropolitana de São Paulo, que ocorreu segunda-feira (25/04), é apenas uma das cenas que revelam a forma incompetente com que o Brasil administra os resíduos sólidos.

Despercebida pela maioria de nós, outra imagem desta tragédia urbana se reproduz diante de alguns dos mais ricos condomínios da capital paulista, todos os dias. São famílias pobres, muitas desgraçadas, que ficam a espera do “lixo” despejado pelos moradores de bairros como o Panamby e o Morumbi, na zona sul da capital.

Sacos se acumulam aguardando a empresa de coleta. Antes que o caminhão chegue, mães, pais e crianças pequenas cercam o local. Como se estivessem diante de gôndolas de supermercado – nem mesmo o carrinho para as compras é esquecido – escolhem o que de melhor têm a disposição.

Latinhas de cerveja e refrigerante são as preferidas da maioria, pois têm saída mais fácil. Garrafas PET e de vidro, também ajudam a formar a renda familiar. Os papéis nem sempre são aproveitados pois ficaram contaminados pela mistura com o lixo comum. Comida, muito pouco (ainda bem).

Em São Paulo, capital, conseguimos substituir os lixões por dois aterros sanitários que, hoje, esgotados, geram até 20 mega watts por hora de energia elétrica, cada um, a partir da captação dos gases metano e carbônico, numa demonstração de que poderíamos gerenciar melhor esta questão.

No entanto, ainda fazemos da porta dos condomínios uma espécie de lixão doméstico, sem que isto cause, aparentemente, constrangimento aos seus moradores. Gastamos fortunas para manter as salas de ginástica, quadras de tênis, áreas de lazer, piscinas enormes mas somos incapazes de nos organizarmos para a separação dos resíduos sólidos. Preferimos jogar tudo fora transferindo aos outros a responsabilidade pelo que consumimos.

E como o consumo está em alta, produzimos sete vezes mais lixo em 2010 do que no ano anterior, conforme estudo divulgado nesta semana pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Foram 61 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos, em todo o Brasil. Você que lê este texto foi responsável por cerca de 378 quilos de lixo, em média. Se mora em São Paulo, acumulou 1,328 quilo por dia – pois vive na região que mais “sujeira” fez no ano passado.

Responsabilizar o aquecimento da economia pelo aumento da produção de lixo é varrer para baixo do tapete o verdadeiro problema enfrentado pelo País.

As prefeituras investem pouco em políticas de coleta seletiva. Na capital paulista, existem apenas 16 centrais de reciclagem para atender os 96 distritos – número que não cresce faz seis anos. Do material que é recolhido pelos caminhões da coleta seletiva mais de 1/3 vão parar no lixo comum. Faltam campanhas que incentivem a separação e programas pedagógicos que preparem a população. A cobrança da taxa do lixo, que poderia trazer pelo bolso a consciência que nos falta, quase causou uma revolução na cidade.

A esperança de que isto mude está na Lei de Resíduos Sólidos, a Lei do Lixo, em vigor desde o ano passado e que impõe responsabilidade aos municípios e ao poder público, mas também às empresas que fabricam e vendem, assim como às pessoas que compram e consomem.

Temos o compromisso de acabar com os lixões até 2014. Você pode começar a fazer isso agora na porta do seu condomínio.

Texto originalmente escrito para o Blog Adote SP, da revista Época SP

Dona Zulmira do Capão Redondo

 

Dona Zulmira do Capão


Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP

Dona Zulmira dos Santos é um exemplo de vida. Simpaticíssima, de fala pausada e cheia de otimismo; baixa, de corpo franzino -, o seu semblante  é sereno e profundo, lembra a freira baiana, Irmã Dulce. Dona Zulmira tem 80 anos, coleta recicláveis e pensa no futuro. No domingo, 03/4, subia a ladeira  Modelar, no Capão Redondo, zona sul, onde mora, carregando na cabeça uma banheira plástica com quinze quilos de jornais e revistas  :

“Não é porque sou de idade que vou ficar o dia inteiro dentro de casa, criei  os meus oito filhos com muita garra. Trabalho todos os dias e sou feliz.  Vou ao ferro velho bem cedo, vender tudo. Com a banheira vai dar uns dois reais e cinquenta. Vou comprar meia dúzia de bananas e um pacote de bolacha.

Minha casinha é simples ,bem arrumadinha, vale uns quarenta mil . Penso em vendê -la e dividir o dinheiro com os filhos e netos, para não dar briga quando eu morrer.”

             
Dona Zulmira mostra com orgulho um quadro pequeno que acabara de encontrar no lixo : a imagem de um pescador  recolhendo a rede , sem nenhum peixe .
 
A mineira  de Teófilo Otoni , manda um recado :  ” O importante é não parar, não esmorecer.”
 

Dona Antônia do Grajaú, a dona do reciclado

 


Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP e colaborador

A ex-gari Antônia Maria Felippe, “Dona Antônia do Grajaú “, mora no Jardim Lucélia, zona sul, nunca participou de encontros e fóruns internacionais sobre o Planeta Terra. Dona Antônia gosta do que faz e acredita no seu empreendimento. Ela sonha em ser empresária da natureza, fabrica em sua casa bolsas cadeiras e pufes de garrafas Pet:

 Gari faz trabalho com reciclado
 
– “Hoje só não ganha dinheiro quem não quer.”
 
– “Vendo um pufe e uma cadeira por 30 reais cada um, a bolsa  é 30 reais.”
 
– “Para fazer uma cadeira uso 60 garrafas Pet, um pufe  sete, e uma bolsa 20 garrafas.”
 
– “Vou escrever uma carta para  a Dolly voltar a  fabricar garrafa Pet  cor vinho.”
 
– “Qualquer dia vou levar as minhas coisas lá na Fiesp.”
 
– “Eu ainda vou dar de presente uma bolsa de garrafa Pet para a presidenta Dilma. Vai dar um ibope danado ela chegar para uma reunião com gente importante no exterior carregando uma bolsa de garrafa Pet.”
 
 
– “Se a Prefeitura quisesse resolveria  parte do problema dos moradores de rua com a reciclagem. Na Praça da Sé ficam uns homens ‘tudo fortão’ sem fazer nada um dia inteiro, à noite vão para o albergue, comem , bebem , dormem e no outro dia estão na rua outra vez .”
 
 
 – “Por que  a Prefeitura não  abre  uma fábrica de cadeiras de gafarrafas Pet e bota esse pessoal pra trabalhar, ganhar dinheiro? E a própria Prefeitura poderia comprar as cadeiras e pufes para escolas e creches.”
 
– “Já pensou o Prefeito Kassab sentado numa cadeira de garrafa Pet!?.. A cadeira parece um troninho.”
 
 A dona Antônia não para por aí. Está empenhada em abrir até o fim do ano uma loja de produtos  reciclados na garagem da casa dela no Jardim Lucélia.

Reciclar lixo e pessoas na cidade

 

Quatro momentos vividos de maneira despercebida na cidade de São Paulo foram flagrados pela câmera de Devanir Amâncio, da ONG EducaSP. O material enviado ao CBN SP por este que é colaborador constante do Blog se transforma em uma crônica da megalópole – o texto é do próprio autor das imagens:

Profissão entulho

Transporte de entulho no  Capão Redondo , Zona Sul.  Esquina da Rua Modelar com a Rua Integrada.

Reciclável na calçada

Que a reciclagem é a única fonte de renda para muitos ,principalmente para a população de rua , todos sabemos. O que  precisa, é mais atenção  e apoio da Prefeitura para que não seja feita assim, na calçada,invadindo o espaço do pedestre  na rua José Bonifácio, atrás do Palácio Anhangabaú, em frente ao Metrô, Centro.

Caçamba da Ecourbis

 A instalação de pelo menos mais duas caçambas  da Prefeitura na esquina da rua Domingos Peixoto da Silva com a rua Integrada,em frente à  creche Professora Wilma Alvarenga de Oliveira , no Capão Redondo, Zona Sul, seria o ideal para evitar ou diminuir a quantidade de lixo no chão.

Caminhão da feira

Transporte de trabalhadores em feiras  livres no Capão Redondo ,Zona Sul de São Paulo. Esta prática também é comum em outras regiões da cidade. Nem todos gostam de serem transportados assim e se escondem debaixo de caixotes. O transporte é chamado por eles de pau de arara.

Foto-ouvinte: Kombi da sucata

 

Coleta seletiva

A prefeitura que critica – e com razão – o cidadão que despeja lixo na rua bem que poderia olhar com mais carinho o trabalho realizado por esta turma que roda a cidade em situação precária e integra, informalmente, a rede de coleta seletiva.

A kombi em questão é um risco no trânsito, sem dúvida. Deveria estar na sucata em vez de transportá-la, mas sinaliza o espaço que existe para o poder público atuar neste mercado.

O colaborados do Blog do Mílton Jung, ouvinte-internauta Marcos Paulo Dias, encontrou este ‘catador’ na estrada do Imperador, região da Vila Verde, São Miguel Paulista, zona leste da capital:

… evitando o desperdício, recuperando o material que poderia ir para a lata de lixo e, de alguma forma, gerando renda, talvez até um meio de sobrevivência; fazendo uso da ferramenta que tem em mãos, no caso a kombi.

Minha pergunta é a seguinte: falta um serviço oficial capaz de atender a demanda que existe na capital ?

Resolvi ir mais longe, semana passada, após as festas de fim de ano. Fui visitar alguns depósitos de material reciclável – conhecidos por ferro-velho – e para minha surpresa a maioria estava com as portas fechadas, trabalhando internamente ou com horário reduzido par atendimento ao público e aos carroceiros. Conversei com alguns proprietários que informaram estarem organizando e separando o material coletado inclusive em escolas e condomínios e que a demanda é muito grande.

Sinal de que o consumo aumento nos últimos anos.

Igreja nega fim da reciclagem, movimento desconfia

 

Abaixo-assinado em favor da reciclagem

A Arquidiocese de São Paulo nega que determinou o fim do trabalho de coleta seletiva na Associação Reciclázaro, na Paróquia São João Vianney, na Lapa, zona oeste da capital. Apesar disso, o serviço está parado desde dezembro quando foi anunciada a transferência do padre José Carlos Spínola, criador da organização que inclui moradores de rua e famílias carentes.

O padre Cido Pereira, da Pastoral da Comunicação, disse ao CBN SP que a intenção é ampliar a coleta seletiva pois a ação estaria de acordo com o tema da campanha da Fraternidade 2011 que será a preservação do meio ambiente.

Ouça a entrevista do padre Ciro Pereira

Ros Mari Zenha, que organiza abaixo-assinado para impedir o fim da coleta, não entende porém porque “os pobres trabalhadores estão na calçada esperando o lixo ser entregue pela população, que continua perplexa”. Na Reciclázaro são processadas 400 toneladas de material reciclável por mês.

Ouça a entrevista de Ros Mari, ao CBN SP, que foi ao ar, sexta-feira (31.12.10)

O fato de a Arquidiocese não ter ordenado a interrupção da coleta não significa que o pároco que substituirá padre Spínola não tome esta decisão. É isto que temem as pessoas que se mobilizam para manter o serviço na Lapa.

Além disso, desconfia-se que interesses econômicos possam estar por trás da medida. Com a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos este negócio pode se tornar mais atrativo e empresas privadas estariam dispostas a entrar neste mercado que tende a ser lucrativo na maior cidade do país.

De minha parte, fico com a palavra do Padre Cido Pereira que, em entrevista, disse que o interesse da Igreja Católica é investir ainda mais na reciclagem. Mas é sempre bom ficar atento aos próximos passos. Ficaremos.

Secretário do Verde quer acordo com skatistas

 

Uma reunião semana que vem foi marcada para que o conselho gestor do Parque da Independência e skatistas que usam o local há décadas entrem em um acordo sobre a prática do esporte no “ladeirão” – área pública que fica dentro das dependências do parque. O secretário do Verde e Meio Ambiente Eduardo Jorge disse que proibir não é o melhor caminho, mas que os problemas registrados no último ano devem ser levados em consideração. De acordo com a administração do parque, de junho de 2009 a junho de 2010 foram registrados 30 acidentes envolvendo skatistas e visitantes.

Na entrevista desta quarta-feira, Eduardo Jorge ameaçou as empresas que não estão cumprindo com a lei municipal, em vigor desde o ano passado, que obriga a implantação de sistema de logísitica reversa em empresas produtoras e distribuidoras de bebidas, óleos combustíveis, lubrificantes, cosméticos e produtos de higiene e limpeza. Hoje, foi lançado o Programa Jogo Limpo,em parceria com o sindicato que reúne os postos de combustível, no qual estes estabelecimentos se comprometem a recolher e receber os resíduos de plásticos resultantes de embalagens de lubrificante.

Ouça a entrevista de Eduardo Jorge, no CBN SP.

Prefeitura não investe na coleta seletiva, diz especialista

 

A cidade de São Paulo teria de ter ao menos uma cooperativa de reciclagem por subprefeitura, ou seja, 31, mas não foi capaz de colocar em funcionamento mais do que 17. E nenhuma foi aberta desde o início da gestão Serra/Kassab, há cinco anos e meio. Isto mostra que a atual administração não investe na coleta seletiva, avalia Ruth Takahashi que trabalha em projetos de reciclagem, desde 2000.

Na entrevista ao CBN SP, Ruth comentou que haveria ao menos 56 grupos capacitados para trabalhar em parceria com a prefeitura, mas não são criadas as condições para que o serviço se realize. Há, inclusive, verba federal para a construção de 10 galpões onde seria feita a seleção do material coletado, no entanto a administração municipal alega que não encontro locais para implantar o serviço.

Ouça a entrevista de Ruth Takahasshi, integrante da equipe do Projeto de Gestão Participativo e Sustentável de Resíduo Sólido

Na terça-feira, o CBN SP conversou com o secretário municipal de Serviços Dráusio Barreto a propósito da interrupção do serviço de coleta seletiva em vários pontos da cidade de São Paulo. Acompanhe aqui esta entrevista.

Coleta seletiva está prejudicada em São Paulo

 

As cooperativas que atuam na reciclagem estão com capacidade esgotada e isto tem atrapalhado o já restrito programa de coleta seletiva na cidade de São Paulo. Prefeitura e empresas negam que o serviço esteja suspenso, mas há problemas no recolhimento em vários pontos da cidade. Há duas semanas, temos recebido e-mails de ouvintes-internautas questionando o serviço porta a porta contratado pela prefeitura de duas concessionárias, Loga e Ecourbis. O material estaria ficando acumulado, principalmente nos condomínios onde o volume é maior.

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) fala como se tudo isso fosse uma novidade para a administração municipal. Em entrevista a repórter Cátia Toffoletto, ele negou que haja falha no planejamento e disse que a prefeitura iria procurar saber se há algum problema no sistema de coleta, conforme noticiado na mídia. E, claro, jogou a responsabilidade para o Governo Federal. A cidade estaria aguardando autorização de Brasília para implantar centros de triangens em terrenos privados – o que não seria permitido por lei, segundo Kassab.

Acompanhe a entrevista do prefeito Gilberto Kassab

A Loga diz que pode estar havendo atraso na coleta, pois os caminhões precisam esperar para o transbordo do material reciclável nas cooperativas. Como o volume recolhido se mantém praticamente o mesmo nos últimos meses, a empresa culpa a falta de organização dessas cooperativas. O presidente da Loga, Luiz Gonzaga Alves Pereira, afirmou, ainda, que a prefeitura havia se comprometido a identificar cinco terrenos onde haveria autorização para a construção de novas centrais de triagem, mas que até agora isto não ocorreu.

Ouça o que disse o presidente da Loga, nop CBN São Paulo.

Nesse sábado, no CBN SP, havíamos conversado com a ONG Recicla Morumbi que promove a coleta seletiva em condomínios no bairro mas que tem encontrado dificuldade para recolher o material porque a prefeitura não autoriza a criação de uma cooperativa na favela de Paraisópolis.

Decisão é “irreal” diz prefeitura sobre reciclagem

 

A prefeitura de São Paulo tem um ano para implantar a coleta seletiva em toda a cidade, conforme decisão da justiça paulista. O secretário adjunto de Serviços César Mecchi Morales disse que a medida é irreal e a prefeitura vai recorrer. A coordenadora de Ambiente Urbano do Instituto Polis Elizabeth Grimberg , por sua vez, entende que a organização de parte das 200 cooperativas e entidades que atuam no setor seria possível.

No despacho, o juiz Luis Fernando Camargo de Barros Vidal, da Terceira Vara da Fazenda Pública, determinou que a prefeitura dê todo apoio jurídico, administrativo e operacional para a formação de cooperativas de catadores, instale centrais de traigem de lixo e contrate as próprias cooperativas para fazer o serviço de coleta e reciclagem.

Acompanhe esta discussão e entenda a decisão da justiça, nas entrevistas feitas pelo CBN SP

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