O Cerimonial da Gentileza

Por Christian Müller Jung

Foto: Mauricio Tonetto / SecomRS

Não planejei a profissão que tenho hoje. Cheguei a ela pelos caminhos que a insatisfação abre quando percebemos que algo já não nos serve. Aproveitei o patrimônio biológico que carregava desde sempre: a voz. Fiz o curso de Locução, Apresentação e Animação, acrescentando uma nova formação ao diploma de Publicidade e Propaganda pela PUC-RS.

Enquanto procurava um espaço para exercitar essa nova habilidade,  surgiu a oportunidade de atuar como Mestre de Cerimônias do Governo do Rio Grande do Sul. Ali, entendi que a voz e o cerimonial tinham mais conexão com gentileza do que eu imaginava.

Chego, assim, ao tema central deste texto.

Fui instigado a falar sobre ele em um programa de televisão, no Dia Mundial da Gentileza. Recordei imediatamente a rotina do cerimonial, esse conjunto de formalidades que orienta os atos solenes e exige, antes de qualquer protocolo, lidar com seres humanos: autoridades, convidados, pessoas que entram no Palácio Piratini por razões muito distintas.

Lembro do meu amigo e ex-chefe do Cerimonail, Aristides Germani Filho, apresentando as primeiras instruções aos estagiários: “Aqui todo mundo é Senhor e Senhora.”

Era um resumo elegante do ofício de receber: tratar com atenção, preservar a delicadeza, reconhecer o espaço do outro. Em poucas palavras, ser gentil.

Com o tempo, percebi que gentileza funciona como um distintivo social. Ela aproxima da comunicação não violenta, afasta a arrogância e abre espaço para relações mais transparentes. Falar sobre o tema me fez revisitar atitudes que venho praticando nesses anos de trabalho no Palácio do Piratini: acolher quem chega, perceber angústias escondidas nos gestos, manter a relação institucional do Governo firme e respeitosa.

Falar em público também tem sua dose de gentileza. A forma como colocamos a voz revela estados de espírito. Uma articulação clara acolhe; um tom cansado distancia; a irritação fere. A voz, quando bem usada, é uma ponte — e pode ser uma ponte suave.

Gentileza com quem está acima de nós é bom senso. Com quem trabalha ao nosso lado, é cuidado para evitar ressentimentos que se acumulam em silêncio e viram sabotagens involuntárias. Na vida profissional, ela funciona como instrumento discreto e decisivo.

E há um ponto essencial: escutar. Em uma época em que todos falam com absoluta convicção, a escuta virou raridade. Quem escuta exerce gentileza, mesmo quando discorda. A escuta é o gesto mais simples e, ao mesmo tempo, o mais exigente.

Antes de tudo, precisamos ser gentis conosco. Conhecer limites, saber dizer não, recusar a ideia de que ser gentil é agradar a qualquer custo. Gentileza não é submissão. Também não é manipulação. É autoconhecimento e respeito ao espaço do outro.

Ao longo da vida, encontramos pessoas que já nos conhecem e reconhecem nossas intenções. Mas grande parte dos encontros acontece com quem nada sabe sobre nós. E é nesses encontros que a gentileza se torna cartão de visita.

Alguns estudos mostram que pessoas que cultivam a gentileza relatam níveis menores de estresse e até pressão arterial mais baixa. Há pesquisas que relacionam essa prática à ocitocina: o hormônio produzido no hipotálamo, associado ao vínculo e à empatia. É a lógica da velha metáfora:

“Quando acendo a minha vela apagada na tua vela acesa, ninguém perde; todos ganham luz.”

Gentileza é exercício diário, daqueles que amadurecem com o tempo. E, justamente por ser prática contínua, encontra pela frente muita dureza, quase sempre fruto de ignorância, que não escolhe classe social, nível de escolaridade ou aparência.

Platão escreveu que precisamos de graça e gentileza por toda a vida. Concordo.

E se você chegou até aqui, agradeço pela gentileza da leitura!

Christian Müller Jung é publicitário de formação e mestre de cerimônia por profissão. Colabora com o blog do Mílton Jung (de quem é irmão).

Avalanche Tricolor: esperança driblada no final

Grêmio 1×1 RB Bragantino
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)

Cristian Oliveira foi um dos destaques. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Há um cansaço emocional em torcer por lampejos de melhora quando a realidade insiste em repetir os mesmos erros. Passamos a temporada em busca de sinais de recuperação: um empate nos minutos finais, uma classificação nos pênaltis, a simples melhora técnica de um jogador ou o surgimento promissor de alguém da base. Mas, a cada novo alento, a realidade se impõe — e fala mais alto.

Neste início de noite de sábado, a esperança se renovou especialmente no segundo tempo, quando Mano Menezes corrigiu o time com dois pontas de qualidade e um meio-campo mais criativo. A defesa já dava sinais de estabilidade desde o início da partida, apesar de alguns sustos pontuais. O problema estava do meio para frente: faltava agressividade e criação.

Com Monsanto no lugar de Nathan – o que ele estava fazendo em campo? – e Amuzu aberto pela ponta, o Grêmio passou a produzir mais. Cristian Oliveira, que havia sido destaque na etapa inicial pelo lado esquerdo, trocou de lado e manteve o ímpeto — até onde o físico permitiu. Arezo entrou e tornou o ataque mais contundente. As chances apareceram, e o torcedor, enfim, teve a sensação de que o time se encontrava.

O gol de Amuzu, aos 42 minutos da etapa final, parecia confirmar esse pressentimento. Não foi obra do acaso. A jogada começou no campo defensivo, com Arezo, passou por Braithwaite — que fez um lançamento longo e preciso — e chegou aos pés do atacante belga. Amuzu driblou seus marcadores e, de fora da área, finalizou com categoria, sem chances para o goleiro.

A vitória estava ao alcance, pronta para mudar o rumo da temporada. Ledo engano. Menos de dois minutos depois, uma rara desatenção defensiva, na partida de hoje, nos custou o empate. A frustração retornou com força, diluindo o otimismo que mal havia se formado.

Há pontos positivos? Sim. A defesa, mesmo com mais um gol sofrido — o 12º no Brasileiro —, demonstrou evolução tática. Jemerson, frequentemente alvo da torcida, jogou com mais segurança. Os dois laterais, Igor Serrote e Marlon, seguem como os mais confiáveis do elenco. Monsanto, saindo do banco, teve sua melhor atuação recente. No ataque, Cristian Oliveira e Amuzu foram os nomes mais perigosos, criando oportunidades com dribles e velocidade.

A esperança agora — e eu rejeito a falência da esperança — é que o time, sob o comando de Mano Menezes e observado por Luiz Felipe Scolari, continue evoluindo. Que essa evolução, finalmente, se transforme em vitórias. Porque só elas, no fim das contas, sustentam qualquer projeto.

Amor e fé caminham juntos?


Diego Felix Miguel

Foto de Hakan Erenler

Hoje à tarde, enquanto caminhava de volta para casa após o trabalho, decidi, diferentemente dos dias comuns, deixar os fones de ouvido guardados. Também deixei de lado os pensamentos voltados ao planejamento das próximas atividades. Quis, naquele momento, apenas me conectar com o que havia ao meu redor — com as pessoas, os movimentos, os pequenos detalhes do trajeto.

Foi assim que notei duas senhoras idosas caminhando à minha frente. Uma delas carregava uma sacola florida e colorida, que parecia guardar um guarda-chuva e uma blusa de frio. A outra usava uma bengala e exibia um sorriso acolhedor, desses que se oferecem sem pressa a quem cruza seu olhar. Conversavam sobre a Semana Santa e faziam planos para participar dos ritos da igreja que frequentavam.

Ao ouvir essa conversa, fui transportado de imediato à minha adolescência. Lembrei de como essa época do ano me era especialmente difícil. As atividades religiosas eram impostas por minha família, sem qualquer possibilidade de escolha ou negociação. Recusá-las era um desafio à fé — para mim, motivo de angústia. Não havia espaço para questionamentos, tampouco para que eu expressasse o que não sentia ou não acreditava. A ameaça implícita era sempre a de uma retaliação divina.

De volta ao presente e ainda tocado por essa lembrança um tanto dolorosa, recordei que, por coincidência — ou talvez por força desse tempo simbólico da Semana Santa — um amigo médico havia me perguntado, dias antes, se eu era adepto da religiosidade, da espiritualidade ou de ambas. A pergunta, feita de forma casual, mexeu comigo. Percebi que aquele acaso precisava ser mais bem elaborado internamente.

É importante lembrar que há muitas pesquisas que apontam a relevância tanto da religiosidade quanto da espiritualidade ao longo da vida, especialmente na velhice. Elas aparecem como fontes de conforto e resiliência diante dos desafios existenciais — como a doença, a finitude e o luto.

Mas é essencial distinguir os dois conceitos. A religiosidade diz respeito à vivência institucional da fé: práticas, rituais, doutrinas. Já a espiritualidade refere-se à conexão com algo maior — com a essência, a transcendência, o divino — e pode surgir a partir de experiências subjetivas, da natureza, da arte, dos afetos. Ambas podem coexistir, mas também podem ser vividas de maneira independente.

Chegando em casa, preparei-me para um cochilo, como de costume. No entanto, antes que o sono viesse, comecei a reorganizar em pensamento essas ideias que agora compartilho neste texto.

Falo, aqui, a partir da minha experiência, sem qualquer pretensão de generalizar: a igreja sempre foi, para mim, um “não-lugar”. Um espaço de não pertencimento. Sempre me pareceu distante — e, em muitos momentos, hostil — às realidades dissidentes, como a minha, de um homem gay.

Ao longo do meu processo de envelhecimento, essa sensação não desapareceu. A maioria dos espaços religiosos ainda me parece insegura. Sinto que, a qualquer momento, posso ser “carinhosamente discriminado” com frases como: “Deus abomina o pecado, mas ama o pecador”. Uma tentativa de acolhimento que, na prática, anula aspectos fundamentais da minha existência — como a sexualidade — e estabelece uma hierarquia moral de afetos e de valor humano. Isso está muito distante do amor que tantas religiões afirmam disseminar.

Acredito que muitas pessoas também se identificam com esse “não-lugar”. E não apenas por conta da sexualidade, mas por diversos aspectos sociais que atravessam nossas vidas: classe, cor, etnia, gênero, origem. Sei, também, que há quem busque enxergar e opinar apenas a partir de suas experiências individuais — e, assim, negar realidades que certos grupos vivem cotidianamente. Ainda assim, é importante nomear o que sentimos. É preciso trazer visibilidade para essas vivências.

A provocação está justamente aí: será que o amor e a fé caminham sempre juntos? Será que há um amor capaz de ultrapassar barreiras culturais e sociais, e envolver indistintamente todas as pessoas em afetos sinceros, livres de julgamentos e condições?

Talvez por isso a espiritualidade me pareça tão essencial. Ela nos permite construir, a partir de nossas vivências e subjetividades, um espaço íntimo e seguro de conexão com o universo. Um lugar onde somos aceitos integralmente, onde podemos ser quem somos, com verdade e liberdade — muito além de cultos, normas ou lideranças religiosas.

Na velhice, essa dimensão torna-se ainda mais significativa. Independentemente de se viver a religiosidade, a espiritualidade ou ambas, o mais importante é sentir-se confortável e seguro nesse encontro com o divino — um encontro único, íntimo e profundo. Um espaço onde todas as pessoas sejam acolhidas em sua plenitude. Porque só assim o amor e a fé poderão, enfim, caminhar juntos.

Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e presidente do Depto. de Gerontologia da SBGG-SP, mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve este artigo a convite do Blog do Mílton Jung.

Como começar o ano novo: reflexões com Rossandro Klinjey

Hoje, 1º de janeiro, inauguramos um novo ciclo no calendário e, com ele, a oportunidade de refletir sobre o que esse marco realmente significa para cada um de nós. Aproveitando a chegada recente ao Jornal da CBN de Rossandro Klinjey, psicólogo e agora parceiro no quadro Refletir para Viver, o convidei para uma conversa mais profunda sobre como iniciar o ano com leveza e acolhimento, além da necessidade de termos um olhar mais atento para dentro de si. Como era de se esperar, Rossandro nos permitiu uma entrevista de altíssima qualidade e rica em ensinamentos.

Ao abrir o diálogo, perguntei a Rossandro sobre o que representa o começo de um novo ano. Ele destacou que, embora o “arquétipo do novo ciclo” seja poderoso, nem sempre nossas emoções acompanham a virada do calendário. Muitas vezes, carregamos pendências emocionais e práticas de anos anteriores, o que pode gerar uma sensação equivocada de incompetência.

“A concretização de certas metas exige tempo”, explicou ele, “assim como um projeto de vida, como se tornar jornalista ou psicólogo, é fruto de anos de dedicação. Plantamos em alguns anos para colher em outros.” Essa reflexão nos desafia a adotar uma postura mais acolhedora consigo mesmos, reconhecendo o valor das pequenas conquistas e não permitindo que metas não cumpridas minem nossa autoestima.

A pressão social e a busca por autenticidade

Lembrei durante a entrevista sobre a pressão social que nos impulsiona a entrar no ano com todas as metas definidas e resolvidas. Em um mundo saturado por “receitas prontas” — como as que vemos nas redes sociais —, Rossandro nos convidou a pausar e ouvir mais o nosso interior.

“Quem olha para fora sonha; quem olha para dentro, acorda”, citou ele, parafraseando Carl Gustav Jung. Ao priorizarmos o que é relevante para nós, em vez de seguir a onda do que é “moda”, conseguimos criar metas mais autênticas e alcançáveis.

Embora o foco em si mesmo seja essencial, Rossandro destacou o papel vital das relações humanas no recomeço de um ano. Somos seres gregários, disse ele, e a conexão com os outros nos ajuda a construir uma vida mais equilibrada. No entanto, é crucial saber com quem nos conectamos. Ele sugeriu que, assim como deixávamos os sapatos na porta durante a pandemia, talvez seja hora de “deixar para fora” de casa relações tóxicas ou ideias que não fazem mais sentido.

“Reaproximar-se de pessoas que nos fazem bem é essencial”, afirmou ele. Seja nutrindo amizades antigas ou estabelecendo limites claros em relações desgastantes, cultivar boas conexões é um passo fundamental para o bem-estar mental.

A importância do autocuidado e da paz interior

“A paz do mundo começa em mim”, disse Rossandro, ecoando a letra de uma música de Nando Cordel. Ele nos lembrou que, em um cenário turbulento, onde temos pouco controle sobre as transformações externas, cuidar da nossa saúde mental e emocional é uma prioridade. Ao investir em nosso mundo interno, criamos uma base mais sólida para enfrentar os desafios inevitáveis que o ano trará.

Encerramos a conversa com um olhar otimista, e realista. Rossandro destacou que o desejo de um “Feliz Ano Novo” não significa a ausência de dificuldades, mas sim a capacidade de enfrentá-las com coragem e resiliência.

Que possamos, como ele disse, usar este começo de ano para refletir sobre nossas próprias metas, fortalecer nossas relações e acolher nossas emoções. Assim, estaremos mais preparados para aproveitar o que 2025 nos reserva — com serenidade, coragem e, acima de tudo, autenticidade.

Ouça a entrevista com Rossandro Klinjey

Conheça minha Certificação de Comunicação Profissional, em parceria com a WCES

Minha certificação internacional de comunicação profissional, em parceria com a WCES, está à sua espera. Depois do evento de lançamento, realizado semana passada em São Paulo, que me deixou bastante impactado pela adesão de pessoas e pela participação de profissionais de diversas áreas, líderes empresariais, além de colegas e amigos, agora abrimos as inscrições oficialmente. Aqueles que se inscreverem neste período de pré-venda assistirão a duas aulas on-line e ao vivo ainda em outubro. As aulas on-line e gravadas estarão disponíveis em novembro.

No evento em que a certificação foi apresentada, tive o privilégio de receber Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn, que destacou a importância da comunicação no desenvolvimento profissional. Em uma lista das 10 habilidades mais procuradas no Brasil para 2024, segundo pesquisa do LinkedIn, a comunicação aparece em primeiro lugar. Entre as demais habilidades, ao menos cinco — como trabalho em equipe, negociação e liderança — exigem domínio da comunicação para serem realizadas com excelência.

Faço coro com meu parceiro de certificação, Thiago Quintino, fundador da WCES, que acredita na ideia de que “comunicação é coisa séria”. E, para tornar essa ideia uma realidade, tive o prazer de contar com a presença de profissionais renomados que participam como professores-convidados em ao menos quatro masterclasses: o filósofo Mário Sérgio Cortella, a futurista Martha Gabriel, a fonoaudióloga Leny Kyrillos e o professor franco-brasileiro de escutatória Thomas Brieu. Nessa jornada, em breve, poderei anunciar mais dois convidados que trarão ainda mais conteúdo para essa certificação.

As aulas seguem uma estrutura própria com tempo aproximado de 10 minutos cada uma, sempre trazendo casos, conceitos e considerações para que você aplique na prática e imediatamente os conhecimentos trabalhados. Nas masterclasses, com até uma hora de duração, nossos professores-convidados nos ajudam com reflexões sobre estratégia, tecnologia, ética, comportamento humano e relacionamento profissional, a partir do uso apropriado da comunicação.

Conheça e faça agora sua inscrição na certificação “Comunicação Estratégica no Ambiente Profissional” acessando esta página, onde você terá todas as informações do curso e a relação completa das aulas.

Vai ser muito bom compartilhar o conhecimento que acumulei ao longo dos 40 anos que me dedico ao tema da comunicação.

Serviço

Curso: “Comunicação Estratégica para o Desenvolvimento Profissional”

Formato: On-line

Período: Primeira turma aberta

Investimento:R$ 799,00 à VISTA OU R$ 890,45 EM ATÉ 10X NO CARTÃO 

Inscrições: https://www.wces.education/comunicacao

O mover e vibrar dos sessenta anos

Por Antonio Carlos Aguiar

Imagem criada no Dall-E

“Sinto-me como Silvana Dualibe ao escrever

seu ‘De repente sessenta’, citando Cora Coralina ,

‘com mais estrada no coração do que medo na cabeça.’” [1]

 

Nesse começo de ano alcanço a idade de sessenta anos!

Todos vocês já sabem como vou começar, mas, me desculpem, não há como ser diferente, senão iniciando pelo bordão: passa rápido demais

 E pior: não fosse o bendito do espelho, eu sequer me veria com sessenta anos.

Mas, chegou. E devo dizer: que ótimo, uma vez que a outra opção não é melhor, uma vez que desconheço literalmente se há “um depois”, e como ele é ou seria.

Bora, então, olhar o lado bom e místico desse novo número etário.

Nesse sentido, os olhares espiritual, mítico e da numerologia se apresentam como um belo elixir para amainar o peso dos sessenta, afinal de contas, segundo a Bíblia:

“Sessenta é o número que representa misticamente todos os perfeitos. Por isso se diz no Cântico dos Cânticos (3:7): ‘É a liteira de Salomão – isto é, a Igreja de Cristo – escoltada por sessenta guerreiros, sessenta valentes de Israel’. Também sessenta é o fruto dado pelas viúvas e continentes. Daí que se leia no Evangelho (Mt 13:23): ‘E produzirão fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um’”; [2]

No espiritismo, observo o número 60 pode ser associado a diferentes conceitos, como evolução espiritual, aprendizado, equilíbrio e transformação;

Nos enigmáticos, numerologia, horóscopo e signos, o número 60 pode ter diferentes interpretações e significados. Pode representar uma energia específica, uma influência astrológica ou até mesmo um arcano do tarot;

No Candomblé e umbanda, o número 60 pode estar relacionado a diferentes entidades, orixás ou energias espirituais. Cada um desses sistemas possui suas próprias interpretações e significados específicos”.

Na vida prática o neófito sexagenário deve, portanto, para que “todos os perfeitos” se manifestem; para exteriorizar e materializar o “aprendizado, o equilíbrio e a transformação”; fruir “energias positivas, próprias de um arcano”; e dar “interpretações e significados” apropriados a esse estágio de vida, fazer mais, diferente e novo, de novo.

Não pode ter melindres. Deve ser humilde e atento com todos os vetores de mudanças. Tem de desaprender e reaprender. Se reinventar a todo instante, a cada segundo; a cada 60 segundos; a cada minuto; a cada 60 minutos; a cada hora; a cada ciclo de cinco anos ou 60 meses; e assim sucessivamente até por muito mais de 60 anos …

Deve viver numa espécie de looping-cognitivo-alquimista capaz de transformar experiência em desempenho superior (e digital). O tempo, mesmo para o sessentão, não para.

Há um começo em cada esquina. Há sempre mais um novo; e de novo ponto a ser ligado no mosaico nexialista dessa recente casa etária.

O sessentão não pode apenas contar com o conteúdo-linear da sua bagagem de aprendizado acumulado. Ela, com certeza, é insuficiente, e, por vezes até errática culturalmente, uma vez que se permeia pela limitação da fonte que a carregou, frente às infindas oportunidades tutoriais e disruptivas agora disponibilizadas, de modo fácil e com disponível acesso a todos.

Ele tem de olhar para frente.

Ter clareza e certeza de que o para-brisa do saber é muito maior que o retrovisor das informações lineares recebidas ao longo da sua vida.

Tem de enxergar e fazer mais, mais e diferenciado. Não existe limitação de estação, saber e/ou especialidades.

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Pensamentos não são fatos, são hipóteses

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Foto de Download a pic Donate a buck! ^ no Pexels

Os filmes policiais geram grande suspense e são capazes de prender o espectador até o fim da trama. Em geral, o clima de mistério esconde nuances e detalhes que só permitem que o criminoso ou o desfecho da investigação sejam revelados nas últimas cenas. Normalmente, os finais são surpreendentes e nos fazem perceber que deixamos escapar alguns detalhes – propositadamente favorecidos pelo diretor – que impossibilitaram desvendar a situação ao longo do filme.

 O que esses filmes têm em comum com a nossa vida?

Diante de situações que nos geram emoções intensas, como tristeza, raiva ou vergonha, em geral temos uma tendência a confiar excessivamente nos nossos pensamentos e desconsiderar diversos aspectos que poderiam nos permitir uma compreensão diferente ou alternativa.

Imagine a situação de uma pessoa que, no dia do seu aniversário, percebe que as pessoas que lhe são importantes não telefonam e não enviam mensagens. Essa pessoa até tenta ligar para um de seus amigos, mas a chamada cai na caixa postal. Inicialmente, o primeiro pensamento pode ser de que essas pessoas não se importam com ela. Possivelmente, diante disso, se sentiria triste ou decepcionada.

Ocorre que essa pessoa é presenteada com uma festa surpresa por esses mesmos amigos, motivo pelo qual não haviam falado com ela anteriormente. Nesse momento, provavelmente, essa pessoa teria uma mudança de perspectiva, uma mudança na forma de interpretar os fatos, experimentando, como consequência, uma mudança nas suas emoções.

Em geral, os pensamentos rápidos e precipitados acompanham as emoções, numa linha de raciocínio capaz de explicar o que se vive e o que se sente, deixando-se de levar em conta possibilidades alternativas que poderiam mudar a interpretação original.

Isso não significa que todos os nossos pensamentos sejam incoerentes ou infundados. Muitas vezes, os pensamentos negativos são compatíveis com situações difíceis que enfrentamos.

Buscar evidências ou informações adicionais que nos permitam criar raciocínios diferentes para o mesmo evento é chamado na psicologia de pensamentos alternativos ou compensatórios, o que não significa adotar pensamentos positivos: são coisas distintas.

Pensar de maneira alternativa é propor questionamentos aos próprios pensamentos. É adotar um pouco de ceticismo com o que passa pela nossa cabeça e analisar aspectos importantes que podem estar sendo ignorados.

Algumas perguntas podem nos auxiliar nesse processo:

  • o que estou deixando de considerar?
  • existe outra explicação para isso que está acontecendo?
  • se estivesse acontecendo com outra pessoa, o que eu pensaria sobre isso?

Nessa reflexão, muitas vezes descobrimos que nossos pensamentos são coerentes, racionais e que não estão sendo guiados pela emoção. Diante disso, precisaremos adotar algumas estratégias para resolver problemas reais, aceitar algumas condições ou mesmo avaliar o significado que atribuímos às situações.

No entanto, quando buscamos pensamentos alternativos para situações que são desagradáveis, podemos descobrir o quanto nossos pensamentos podem estar enviesados, distorcidos, restringindo nossas percepções e amplificando nossas emoções.

 Nossos pensamentos são livres. Podemos pensar absolutamente tudo, mas pensamentos não são fatos. São apenas ideias, hipóteses.

Então, antes de dar muito crédito e agir de acordo com o que passou rapidamente pela sua cabeça, vale a pena se lembrar de que muitas vezes a vida também imita a arte e, assim como num filme, devemos assumir o papel de um bom detetive, desses que exploram detalhes e possibilidades. Não se trata de aniquilar as emoções, mas adquirir enfrentamentos mais saudáveis que mudem o roteiro e produzam desfechos surpreendentes.

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

A esperança de seguir em frente

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem de @jplenio no Instagram por Pixabay

 

Confesso que nunca fui de superstições na virada do ano. Essa coisa de comer lentilhas, guardar sementes de romã ou pular as ondas como forma de atrair a fortuna ou a sorte não me empolgavam. Não que eu não precisasse disso para o ano que viria, mas preferia comer as lentilhas porque eram saborosas e estar na praia porque era revigorante. Agora, se tem algo que sempre me comoveu na passagem do ano é a sensação de ciclo encerrado e de renovação.

Pertinho da meia-noite, quando todos estão ali reunidos, aguardando para iniciar a contagem regressiva, um filme passa pela minha cabeça, uma espécie de retrospectiva de tudo o que eu vivi ao longo do ano. Ensaio aqui, enquanto escrevo este último artigo do ano, a sensação de fechar os olhos e percorrer o que me marcou: conquistas, decepções, superações, fracassos… E inevitavelmente vem a pergunta instigadora: onde e como estarei daqui a um ano?

A contagem regressiva e em seguida os fogos que clareiam o céu são para mim o marco simbólico de que a partir daquele momento algo novo me espera. Situações que eu nem sei quais serão, mas que eu já desejo experimentar, com uma esperança enorme de que o futuro, mesmo incerto, já está chegando e poderá ser desfrutado, trazer coisas novas, coisas boas.

Em 31 de dezembro de 2019 senti da mesma maneira mas nem a mais remota previsão apontava para o que viveríamos em 2020. Um ano difícil! Com certeza! De oportunidades para poucos e de perdas para muitos.

Existem anos que ficam marcados por grandes eventos. Em 1969, o homem chegou à Lua. O Brasil foi Tetracampeão no futebol, em 1994. O atentado às Torres Gêmeas de 2001. Esse ano de 2020, infelizmente, será o ano da pandemia.

Prefiro manter as minhas tradições de réveillon. Fecho os olhos e penso em tudo que vivemos. Apesar de a pandemia, consigo me recordar de muitas coisas boas. Agradeço pela vida, pelos projetos realizados, pelos familiares e amigos. E quase com a contagem regressiva “pipocando” na cabeça – acho que prefiro contar rápido para ver se 2020 já fica lá no passado – respiro fundo e projeto uma esperança enorme para 2021. 

Longe da lista de metas, tenho um desejo: “que tudo se realize no ano que vai nascer”. Para mim, para você. E se tudo não for possível, que não nos falte a esperança para seguirmos em frente e alcançarmos aquilo que faça sentido para cada um. Por uma vida melhor. Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo! 

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Qual é o seu luxo?

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

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Natal e Réveillon. Esse período de fim de ano deixa as pessoas numa correria maluca. Seja para quem tem viagem planejada ou para anfitriões de ceias de Natal e  grandes festas de Ano Novo. Muitos aproveitam o momento e fazem promessas  e  planos para o novo ano. Os que se permitem preferem a auto-reflexão – e eu, particularmente, estou entre estes  porque acredito que o autoconhecimento é capaz de nos fazer evoluir de forma incrível.

 

Durante o ano, falamos bastante de diversos segmentos do mercado do luxo ao redor do mundo. Produtos, serviços, experiências, conquistas e frustrações…e na minha reflexão fui levado a pensar no significado do luxo para mim,  independentemente dos conceitos com os quais trabalhamos quando falamos de negócios e comportamento.

 

Pra mim, cada vez tem mais valor o tempo. Ou melhor, ter tempo para estar com as pessoas que gosto, amo e admiro. Tempo para viajar, descansar ou, simplesmente, refletir como faço agora! Conhecer novos destinos, mas também aproveitar o tempo para redescobrir, sob novos olhares, aqueles que já tvisitei. Tempo para dedicar ao meu bem estar.

 

Gostaria de aproveitar e convidar você, leitor do Blog do Mílton Jung, para compartilhar conosco o que é luxo para você! Uma viagem? Um bem material? Uma sensação?

 

Qual é o seu luxo?

 

Enquanto você pensar sobre isto, desejo a todos um 2015 maravilhoso e repleto de conhecimento, sabedoria, paz, amor e sucesso!

 

Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung

De reflexão

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

Todos passamos por refinamento voluntário e involuntário, continuamente. Enfrentamos oportunidades para dar uma polida aqui, uma lixadinha ali, para queimar isto, esfriar aquilo, e vamos nos transformando e transformando tudo, todos e cada um, em volta ou não. Efeito inevitável.

 

Tendo em mente que refinamento não depende de grife, do número de milhas viajadas nem do valor do extrato bancário, refinamento é evolução, e evolução não existe sem movimento, que é alicerce na evolução física, emocional, mental e espiritual. Quanto mais harmônica e abrangente a evolução dos nossos corpos, maior o refinamento.

 

ser
nascer
estar
aceitar
agir
evoluir

 

Bem-estar é termômetro. Se tem dor, mudança de posição pode não ser a solução, mas é bom começo.

 

bem-estar
não é
fazer bonito
bem-estar
é
sentir bonito

 

no barco em que estamos tem quem quer pular fora
depois de ter esperado na fila
pela
oportunidade da vida

 

tem quem entrou mais uma vez na fila
torcendo para ser chamado de volta
a ela
e tem quem não tem a mínima ideia do que está fazendo aqui
na vida

 

Incoerência humana.

 

A Regência da vida nos orquestra movimentos e enredos da Música. Vivace, cantabile, animato (com alma), dolce. Como as ondas do mar.

 

O caminho nunca é só bom ou só ruim. Vamos de um movimento a outro um punhado de vezes durante um único dia, por vezes numa fração de segundo. Bom/ruim é um binômio complementar peralta, que adora gangorra. Por isso, nossa vida não é um projeto; é a realização de um projeto por dia, a cada passo, a cada batida do coração.

 

Isso é evolução, que na voz de Mario Quintana fica mais bonito:

 

‘Só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem além de cinco minutos.’

 

Penso que evoluir para refinar é deixar que a vida flua, e fluir com ela num carrossel de emoções. É aceitar a realidade como pano de fundo do espetáculo infinito do viver.

 

Evoluir é movimentar-se em muitas direções buscando a construção do círculo refinado perfeito, mas evoluir é verbo intransitivo. A gente simplesmente evolui. Sem objeto direto nem indireto.

 


Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung