Por Simone Domingues

Confesso que nunca fui de superstições na virada do ano. Essa coisa de comer lentilhas, guardar sementes de romã ou pular as ondas como forma de atrair a fortuna ou a sorte não me empolgavam. Não que eu não precisasse disso para o ano que viria, mas preferia comer as lentilhas porque eram saborosas e estar na praia porque era revigorante. Agora, se tem algo que sempre me comoveu na passagem do ano é a sensação de ciclo encerrado e de renovação.
Pertinho da meia-noite, quando todos estão ali reunidos, aguardando para iniciar a contagem regressiva, um filme passa pela minha cabeça, uma espécie de retrospectiva de tudo o que eu vivi ao longo do ano. Ensaio aqui, enquanto escrevo este último artigo do ano, a sensação de fechar os olhos e percorrer o que me marcou: conquistas, decepções, superações, fracassos… E inevitavelmente vem a pergunta instigadora: onde e como estarei daqui a um ano?
A contagem regressiva e em seguida os fogos que clareiam o céu são para mim o marco simbólico de que a partir daquele momento algo novo me espera. Situações que eu nem sei quais serão, mas que eu já desejo experimentar, com uma esperança enorme de que o futuro, mesmo incerto, já está chegando e poderá ser desfrutado, trazer coisas novas, coisas boas.
Em 31 de dezembro de 2019 senti da mesma maneira mas nem a mais remota previsão apontava para o que viveríamos em 2020. Um ano difícil! Com certeza! De oportunidades para poucos e de perdas para muitos.
Existem anos que ficam marcados por grandes eventos. Em 1969, o homem chegou à Lua. O Brasil foi Tetracampeão no futebol, em 1994. O atentado às Torres Gêmeas de 2001. Esse ano de 2020, infelizmente, será o ano da pandemia.
Prefiro manter as minhas tradições de réveillon. Fecho os olhos e penso em tudo que vivemos. Apesar de a pandemia, consigo me recordar de muitas coisas boas. Agradeço pela vida, pelos projetos realizados, pelos familiares e amigos. E quase com a contagem regressiva “pipocando” na cabeça – acho que prefiro contar rápido para ver se 2020 já fica lá no passado – respiro fundo e projeto uma esperança enorme para 2021.
Longe da lista de metas, tenho um desejo: “que tudo se realize no ano que vai nascer”. Para mim, para você. E se tudo não for possível, que não nos falte a esperança para seguirmos em frente e alcançarmos aquilo que faça sentido para cada um. Por uma vida melhor. Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo!
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Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung