Mundo Corporativo: a jornada de resiliência e autodescoberta de Leonardo Simão

Nos bastidores do Mundo Corporativo em foto de Priscila Gubiotti

“A gente não precisa controlar nada externo, basta a gente controlar a nossa reação” 

Leonardo Simão, empreendedor

No universo do empreendedorismo, a jornada de Leonardo Simão se destaca s pelo seu sucesso como empreendedor em série, mentor, investidor e autor, e também pela sua profunda compreensão da importância da resiliência mental e do autoconhecimento. Em entrevista ao programa Mundo Corporativo, Simão compartilha ideias valiosas sobre os desafios e estratégias para prosperar em um cenário de negócios altamente competitivo.

O autor do livro “Do zero ao Exit, um manual completo do mundo da criação e captação de recursos para startups” argumenta que o cerne do sucesso empresarial não reside na ideia ou na execução, mas na capacidade do empreendedor de lidar com adversidades.

“O maior fator do sucesso de qualquer empreendedor, de qualquer empresário, não está na execução apenas, não está na ideia, não está no negócio, está na sua resiliência mental, está na sua saúde mental para lidar com todos os desafios”.

A filosofia do estoicismo, que Simão adotou após um período de intensa reflexão e busca pessoal, tornou-se uma pedra angular em sua vida e negócios. Ao abraçar conceitos como a dicotomia do controle e a importância do julgamento individual na percepção de eventos, Simão encontrou um equilíbrio que lhe permitiu enfrentar as incertezas do mundo dos negócios com uma mente mais tranquila e focada.

“Quando a gente entende o mindset positivo, a gente vê que não tem nada bom nem ruim na nossa vida. As coisas simplesmente são. E o que torna elas boas ou ruins é o nosso julgamento. Então, a partir do momento que você começa a controlar o seu julgamento, controlar a forma como você, age, como você reage, tudo muda”.

Simão compartilha sua trajetória de altos e baixos, desde o apogeu com a Bebê Store, uma líder em e-commerce, até momentos de introspecção profunda que o levaram a questionar o verdadeiro significado da felicidade e do sucesso. Esta jornada o inspirou a desenvolver o método “Calma da Mente”, visando ajudar outros empreendedores a encontrar paz e clareza em meio às pressões do ambiente de negócios.

Ao discutir a aplicação prática da filosofia estoica no empreendedorismo, Simão destaca a importância de focar no que se pode controlar e adotar uma mentalidade positiva. Ele enfatiza que, ao mudar nossa reação às circunstâncias, podemos transformar desafios em oportunidades de crescimento e aprendizado.

“Foque sempre em você, nunca foque no que está tá fora de você”.

Além disso, Simão toca em um tema de crescente relevância: o impacto da saúde mental no desempenho e sustentabilidade dos negócios. Ele argumenta que a produtividade e o bem-estar da equipe estão intrinsecamente ligados à saúde mental dos líderes e colaboradores, fazendo um apelo por uma maior atenção a este aspecto essencial do ambiente de trabalho.

Assista à entrevista com Leonardo Simão

A entrevista com Leonardo Simão serve como um lembrete oportuno da complexidade do empreendedorismo e da importância de cultivar uma mente saudável e resiliente. Suas experiências e ideias oferecem valiosas lições para empreendedores que buscam não apenas o sucesso nos negócios, mas também uma vida mais equilibrada e significativa.

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas, pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN; aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo; e está disponível no podcast do Mundo Corporativo. Colaboram com o programa Carlos Grecco, Letícia Valente, Débora Gonçalves, Priscila Gubiotti e Rafael Furugen.

 Dez Por Cento Mais: mulheres desafiando montanhas e reinventando destinos 

Imagem de divulgação

No coração das montanhas, mulheres encontram não apenas trilhas íngremes e paisagens deslumbrantes, mas também uma jornada de autodescoberta e transformação. No Dez Por Cento Mais, Kellyns Cristina, Anna Gonçalves e Amanda Alvernaz revelam como o montanhismo vai além de uma atividade física, tornando-se um poderoso caminho para o empoderamento feminino e o crescimento pessoal Na entrevista a Abigail Costa e Simone Domingues, essas aventureiras compartilham suas experiências inspiradoras, demonstrando como a escalada de montanhas pode ser metafórica e literalmente uma subida rumo a novos horizontes de vida. Suas histórias são um testemunho de coragem, resiliência e da inquebrantável força do espírito humano.

Cada uma com sua trajetória única, Kellyns, Anna e Amanda encontraram nas montanhas um refúgio para superar desafios e reconstruir suas vidas. O montanhismo emergiu como um elo comum em suas histórias, onde o medo e a insegurança foram substituídos por força, confiança e uma nova perspectiva de vida. Entusiasmadas com os resultados que conquistaram, decidiram criar uma empresa, a Mulheres e Montanhas, que promovem encontros e viagens para a prática do montanhismo.

As montanhas se revelaram um espaço sagrado de transformação. Nas altitudes desafiadoras, entre trilhas e picos, estas mulheres aprenderam lições de resiliência, determinação e coragem. O montanhismo tornou-se uma metáfora para suas jornadas pessoais, refletindo a capacidade de enfrentar e superar obstáculos internos e externos.

Essa experiência também fortaleceu a união entre elas. e com outras mulheres que aceitaram o desafio. A sororidade encontrada nas escaladas demonstrou a importância do apoio mútuo. Juntas, elas enfrentaram medos, compartilharam alegrias e conquistaram cume após cume, provando que a união e a força feminina são imparáveis.

Cada expedição trouxe desafios únicos, mas também oportunidades para crescimento e autoconhecimento. As entrevistadas compartilharam momentos de vulnerabilidade, superação e a profunda satisfação de alcançar objetivos que, um dia, pareciam impossíveis.

As histórias de Kellyns, Anna e Amanda são uma fonte de inspiração. Elas mostram que, independentemente do contexto ou dificuldade, é possível encontrar forças para mudar e crescer. O montanhismo, nestes relatos, emerge como um poderoso catalisador para a mudança e um exemplo vibrante da capacidade humana de se reinventar.

As montanhas, para estas aventureiras, são mais do que apenas cenários naturais; são espaços onde se forjam caráter e resiliência. Através de suas experiências, elas nos mostram que cada passo, cada escalada, é um passo para descobrir e afirmar a própria identidade, força e capacidade de transformação.

Kellyns, Anna e Amanda continuam suas jornadas nas montanhas, incentivando outras mulheres a se juntarem a elas neste caminho de aventura e autodescoberta. Suas histórias são um convite para olhar além dos picos e ver as infinitas possibilidades que aguardam quando se ousa dar o primeiro passo. Comece 2024 com uma jornada transformadora nos Andes. 

A próxima viagem será nos Andes, em Mendoza, Argentina, entre os dias seis e 13 de janeiro. As mulheres interessadas em participar podem pesquisar no site mulheresemontanhas.com..br ou acessando este link.

Assista ao Dez Por Cento Mais

O Dez Por Cento Mais leva ao ar, todas as quartas-feiras, uma entrevista inédita, a partir das oito da noite, no You Tube. A apresentação e produção é de Abigail Costa e Simone Domingues. Assista à entrevista completa com Kellyns Cristina, Anna Gonçalves e Amanda Alvernaz:

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Dez Por Cento Mais: Diego Cordeiro e a arte de cultivar relações humanas e bem-estar

Foto de Andrea Piacquadio

No panorama atual, onde a tecnologia acelera o ritmo da vida, um aspecto essencial para a felicidade e o bem-estar social vem sendo sublinhado: a importância das relações humanas. Diego Cordeiro, preparador físico e empreendedor, abordou este tema em sua participação no programa Dez Por Cento Mais.

Cordeiro começou sua jornada como estagiário na Bodytech em 2005, alimentado por um sonho intrínseco à educação física e ao desejo de atender pessoas. Ao longo de quase duas décadas, ele testemunhou e contribuiu para a evolução da empresa, que cresceu de cinco para cem academias. Sua trajetória é um testemunho da importância de perseguir sonhos e aproveitar oportunidades.

A Importância da Saúde Física e Mental

Na entrevista com Abigail Costa e Simone Domingues, Cordeiro abordou a importância da saúde física e mental, ressaltando o papel vital da atividade física no bem-estar geral. Ele enfatiza que cuidar do corpo é tão crucial quanto cuidar da mente, uma filosofia que ele pratica e encoraja nos espaços que gerencia, destacando que na Bodytech o foco vai além do exercício físico.

O sucesso da Bodytech, segundo Cordeiro, deve-se a uma estratégia centrada no cliente, que oferece instalações de alta qualidade e experiências personalizadas. Esta abordagem transformou a Bodytech em uma das principais redes de academias do país, com atendimento diferenciado e foco no cliente.

Impacto Além da Carreira Profissional

Cordeiro se destaca não apenas por sua carreira na Bodytech, mas também pelo seu papel ativo em iniciativas sociais e na promoção do bem-estar físico e mental. Sua trajetória, marcada pela determinação e inovação, revela ideias valiosas sobre crescimento profissional e impacto social.

Ele falou sobre a construção de chalés na Bahia, um projeto pessoal que surgiu da paixão compartilhada com sua esposa pela região. Este empreendimento representa a realização de um sonho e ilustra a importância do equilíbrio entre trabalho e lazer.

Fora do âmbito profissional, Cordeiro lidera o “Projeto Remar São Paulo”, uma iniciativa social que fornece alimentos e necessidades básicas aos desabrigados, refletindo sua crença na responsabilidade social e na importância de contribuir para a comunidade.

Dica Dez Por Cento Mais: Paciência e Cuidado nas Relações

Cordeiro reforçou a necessidade de paciência e cuidado nas interações humanas, essenciais para construir relações saudáveis e felizes. Ele encoraja as pessoas a dedicarem tempo e energia nas relações humanas, considerando isso essencial para a resiliência e o bem-estar em tempos de mudança:

“Preste atenção nas pessoas. Invista seu tempo observando o comportamento das pessoas. Sem julgamento. Em um mundo cada vez mais tecnológico, eu venho percebendo que as pessoas estão mais impacientes, estão cada vez mais intolerantes. Tenha paciência. Tenha cuidado porque a gente precisa dessas relações. Gaste energia nessas relações porque são elas que vão te ajudar a superar os momentos de altos e baixos”.

Assista ao programa Dez Por Cento Mais

O Dez Por Cento Mais tem uma entrevista inédita toda quarta-feira, às oito da noite, ao vivo. Você pode participar com perguntas em tempo real e tirar suas dúvidas com os nossos entrevistados. O programa também pode ser ouvido em podcast, no Spotify. Assine (de graça) o Dez Por Cento Mais, no YouTube e no Spotify e nos ajude a levar mais à frente o conhecimento e as inspirações apresentadas por nossos convidados.

“Não sou velha, sou usada” 

Por Diego Felix Miguel

Foto de Mihuel/Pexels

Confesso que a frase que dá título a esse texto me abalou bastante e, agora, ao escrever essas linhas tento elaborar qual profundidade esse desconforto alcança relacionando-a a um contexto muito específico. 

Ela foi proferida por uma mulher transgênera de 70 e poucos anos que mora no extremo leste da cidade de São Paulo enquanto contava que para chegar no auditório onde estávamos, às nove horas da manhã, teve de acordar de madrugada e enfrentar um transporte público pouco confortável, como esperado (e naturalizado) para quem vive por aqui. Sabemos que essa é uma realidade para milhares de pessoas, principalmente aquelas que trabalham diariamente para conseguir sustentar a si e sua família; mas, naquele contexto específico, a presença dessa nobre senhora era voluntária, movida por uma força de vontade que muito me inspirou quando a conheci naquele dia.

O evento onde nos conhecemos foi organizado pela Prefeitura de São Paulo em virtude do dia 28 de junho – data que celebramos mundialmente o Dia do Orgulho LGBTQIA+  e reuniu profissionais, especialistas, líderes de movimentos sociais e autoridades, para conversar sobre questões relacionadas ao acesso de pessoas idosas LGBTQIA+ a serviços de cuidados de longa duração como Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) — pejorativamente conhecidas por “asilos –, Centros-dia — um centro com foco no cuidado de pessoas idosas que precisam de auxílio para executar suas atividades de autocuidado durante o dia — e Centros de Acolhida Especiais para Idosos — um serviço voltado às pessoas idosas que demandam de um acolhimento temporário por estarem em situação de alta vulnerabilidade social.

Sem dúvida, a organização desse seminário foi louvável, haja vista as demandas complexas que envolvem essa realidade, infelizmente quase imperceptível para a maioria das pessoas. O lugar que ocupei no evento foi o de palestrante, considerando a minha trajetória de estudo, vivência e pesquisa nessa área.

A senhora em questão, que foi a grande inspiradora dessas linhas que escrevo, estava ali ocupando um espaço seu, por direito, e que muito além que qualquer estudo ou pesquisa, pode falar com grande propriedade sobre “o que é ser uma mulher idosa transgênera que mora no extremo leste do município de São Paulo” e, em algum momento da sua vida, pode ter necessidade de acessar algum desses serviços — logo, essa foi a oportunidade de expressar seus receios e percepções sobre o atendimento. 

Pouco antes do início das atividades, ela estava sentada na primeira fila, próximo a mim, e percebi que comentava com as pessoas da organização do evento sobre tudo que enfrentou naquela manhã para chegar até ali.  De forma sabiamente majestosa, posicionou-se dizendo algo relacionado à importância da sua presença naquele lugar sem mesmo ter sido nomeadamente convidada e, diga-se de passagem, que era um espaço majoritariamente ocupado por pessoas brancas, heterossexuais, cisgêneras – em conformidade com o gênero que foi atribuído ao nascimento –, e com menos idade que ela.

Trocamos um olhar de acolhimento que me fez lembrar o real sentido de estarmos aliados, provocando inquietações para que as políticas públicas e serviços possam, de fato, ter como base a equidade, considerando as diferenças que compõem a nossa identidade e que nos condicionam a ocupar um lugar social bem específico. 

Logo nesse contato inicial, fui provocado a pensar: como tornar acessível as políticas e serviços, se não com a representatividade em suas diferentes realidades e contextos? “Nada para nós, sem nós”, um slogan conhecido na luta pela inclusão do movimento anticapacitista, contra o preconceito e discriminação de pessoas com deficiência.

Do mesmo modo, não há como falar de acesso de pessoas idosas LGBTQIA+ sem a presença delas e com a organicidade de suas falas construídas a partir de suas experiências. Não há como desconsiderar a interseccionalidade que envolve a construção identitária, a partir de ideários machistas, racistas, xenofóbicos entre tantos outros estereótipos, preconceitos e discriminações que se relacionam gerando um contexto ainda mais complexo e desafiador.  

Movido nessas reflexões, apresentei minha palestra e se formou uma mesa com os demais colegas para conversarmos sobre os aspectos que estávamos trabalhando no evento. 

A senhora foi convidada a estar com a gente no palco e, logo nos primeiros minutos de sua retórica, com uma voz embargada, num misto de emoção e empoderamento, fala repetidas vezes, com uma pausa dramática, essencial para dar ênfase à complexidade em questão: “Não sou velha, sou usada”.

À primeira vista associei essa frase a uma negação da velhice e a resistência que ainda temos em nos colocarmos na condição de velha ou velho, por conta dos mitos e estereótipos relacionados à incapacidade, improdutividade e apequenamento da pessoa idosa, fatos hoje referenciados e associados à forma de preconceito conhecida como Idadismo. 

Mesmo a comunidade LGBTQIA+ está distante da pauta do envelhecimento e velhice e, infelizmente, muitas pessoas idosas que em tempos remotos lutaram para que usufruíssemos de nossos direitos hoje, estão submetidas ao esquecimento e ao abandono, muitas dessas ainda sofrendo um apagamento de suas histórias por desconstruírem sua identidade, tentando manter minimamente sua segurança num ambiente hostil junto daqueles que não têm a menor compreensão sobre as questões relacionadas a gênero e sexualidade, principalmente as que divergem do padrão socialmente estabelecido.

Confesso que perdido em minhas ideias me senti um tanto quanto envergonhado. A questão ali não era exatamente sobre idadismo, apesar de dialogar com ele. 

Fui buscar no “google” interpretações sobre “o que é usado” e uma delas me chamou a atenção: adaptado ou condicionado (a algo); habituado, acostumado.

A partir dessa leitura, consegui identificar a profundidade do meu estranhamento com a frase: Nós, pessoas LGBTQIA+ estamos condicionados a ocupar um lugar social imposto/permitido socialmente? Ou podemos ocupar os lugares que realmente queremos?

Partindo de um lugar que experiencio, de conforto e certo privilégio, ainda, sim, sei que não é fácil transgredir um sistema que formam corpos e identidades socioculturais por um olhar heterocisnormativo – uma perspectiva que padroniza pessoas a partir de um modelo centrado na heterossexualidade e cisgeneridade.

Consigo lembrar de vários momentos que não me senti seguro com minha orientação sexual e tentei forjar uma condição que não era exatamente a minha, anulando parte da minha identidade, mesmo que de forma temporária, em troca de uma aceitação, apoio ou uma falsa sensação de segurança. Em vários momentos fui usado por essa ideia centrada numa normalidade.

Penso então que para uma mulher transgênera de uma geração bem anterior a minha, a vida não tenha sido nada fácil. Para resistir e poder seguir viva e existindo socialmente, foi usada por esse sistema, subordinada a ocupar espaços sociais que ampliaram sua vulnerabilidade e exposição à violência. Ainda assim, como num processo de resiliência e resistência absurda, com uma força muito maior do que possamos imaginar, buscou estratégias para transformar essa realidade superando uma expectativa de vida que lhe é atribuída – que não sabemos ao certo se é de 35 anos de idade, mas temos certeza que é muito menor que os 72 anos atribuídos a pessoas cisgêneras – caminhando entre as fissuras de sistemas conservadores, perversos e violentos. Marcou sua presença e deu a visibilidade necessária para sua existência e demandas. 

Estar naquele momento, ocupando um espaço de visibilidade enquanto uma mulher transgênera idosa a torna uma grande mestra, permitindo-se mais uma vez ser usada socialmente para ilustrar uma realidade que muitas pessoas ainda insistem em invisibilizar, silenciar ou relativizar. Essa senhora promoveu a geratividade, “passando o bastão” de seu legado para todos nós que estávamos ali, cúmplices de seu apelo.  

Será que nessa atenção e toda energia investida ao longo de uma vida, para ser usada e ao mesmo tempo ressignificada socialmente, ainda resta tempo para se atentar a um corpo envelhecido, uma rede de suporte social diminuída e uma invisibilidade acentuada por ser uma pessoa LGBTQIA+ e idosa? 

Para mim e para várias pessoas que ali estavam essa senhora foi a grande protagonista desse encontro, perpetuando essa inquietude de uma frase tão simples, mas ao tempo densa. E no meu caso, posso dizer sem sombras de dúvida que fui afetado, transformado por suas palavras, e que estas se tornarão eternas em minha trajetória.

Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e membro da Diretoria da SBGG-SP, mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve este artigo a convite do Blog do Mílton Jung.

Tolere o risco da queda

Por Simone Domingues 

@simonedominguespsicologa

Photo by Afta Putta Gunawan on Pexels.com

“Quanto mais alto o voo, maior a queda”, diz o ditado.

Diante de experiências de vida que parecem desafiadoras, muitas vezes, relutamos em assumir riscos, desejamos garantias e, em geral, evitamos as situações por medo dos desfechos ou resultados.

Medo de quê?

Medo da perda.

Medo da perda de tempo, de pessoas, do tempo perdido com as pessoas.

Medo do arrependimento.

Desejamos certezas porque acreditamos que se o resultado não for como o esperado, que se algo der errado, nossa infelicidade será tão intensa que não seremos capazes de suportar.

Tememos os julgamentos e críticas, alheios e de nós mesmos.

Não raro, criamos em nossas mentes previsões catastróficas, exageramos na intensidade e duração de um resultado, sem antes mesmo considerar as diversas possibilidades que se abrem diante de nós, quando nos permitimos conhecer novos horizontes. 

Evitamos agir e assumir riscos, como se isso fosse escudo para um sofrimento futuro, ignorando que viver uma vida aprisionados pelo medo, coloca bolas de chumbo em nossos pés, nos aprisiona.

E isso também não seria uma forma de sofrimento?

Tememos as quedas por desconsiderar que nos possibilitarão experiências, conhecimentos sobre nós mesmos que poderão nos orientar para o futuro.

Por que conseguimos tirar as rodinhas de apoio da nossa bicicleta?

Porque assumimos tolerar o risco da queda, descobrir como a gente poderia se equilibrar e, desde então, ter confiança em nossa ação.

Talvez a gente precise testar as nossas previsões, reduzir a necessidade de certeza e aumentar a confiança na nossa habilidade de enfrentamento.

E se ainda assim a gente continuar com medo, então sugiro que possamos nos inspirar nas palavras de Martin Luther King: 

“Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”.

Você está pronto para decolar?

Simone Domingues é psicóloga especialista em neuropsicologia, tem pós-doutorado em neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais, no YouTube. Escreveu este artigo a convite, no Blog do Mílton Jung. 

Mundo Corporativo:  Natália Pirro, da API, diz como lições do surfe ajudaram a enfrentar a crise

@girlssurfingexperience

“Mar calmo, não faz um bom surfista. Eu acredito que pra vida, se você entender isso, você pode levar para tudo. Não desistir. Nunca! Nunca desistir! É entender que você  tem de continuar, tem de batalhar, estar aberta às críticas” 

Natália Pirro, API

Com dois anos de empresa e 29 de vida, Natália Pirro foi apresentada a um desafio assustador, especialmente se considerarmos o momento econômico e social que o Brasil enfrentava, em 2015: assumir o posto mais importante do grupo, no país, e provar que o negócio era viável em um prazo de apenas seis meses. Sim, a empresa lá fora não acreditava muito que a coisa pudesse vingar por aqui. Natália provou o contrário. Seis anos depois, ela comanda as operações da empresa americana API na América Latina, responsável por todos os negócios da companhia na região, cerca de R$ 35 milhões, como contou em entrevista do Mundo Corporativo, da CBN.

“Eu não me sentia preparada 100%. Ainda bem. Porque eu não teria chegado onde cheguei. Tive de aprender, conversar e escutar para chegar onde cheguei. Eu não estava preparada, mas tinha muita vontade de fazer …”

A coragem para enfrentar as dificuldades, Natália encontrou na educação e no esporte. Desde a adolescência, pratica surfe; quando morou nos Estados Unidos, esquiou; e, sempre disposta a ir além, também fez triatlo. Hoje, faz parte de um grupo de 15 mulheres, muitas executivas, que viaja pelo mundo em busca de boas ondas: o Girls Surfing Experience, coordenado por Suelen Naraísa, bicampeão brasileira.

“Todo o esporte desenvolve você como pessoa. O que faz um cicilista acordar às cinco da manhã para pedalar no frio: é o propósito. É entender que aquilo vai lhe trazer algo bom”.

Formada em administração e finanças e especializada na área de controladoria, Natália teve de buscar novos conhecimentos para administrar a empresa formada basicamente por engenheiros. Hoje, tem cinco pós-graduação e parar de estudar não está nos seus planos. Desenvolver-se nas mais diversas áreas faz parte das metas que a empresa negocia com ela, um hábito que levou aos funcionários da API na América Latina:

“Em janeiro de todo ano, sento com meu RH, com cada time, com cada gestor e para cada um colocamos algo a desenvolver. No ano passado, os nossos engenheiros, acostumados com máquinas e cálculos, tiveram de realizar cursos especializados em experiência do consumidor”.

A API é uma das principais empresas de medição e calibração de equipamentos do mundo, com atuação nos diversos setores da indústria: aeroespacial, automotivo, de defesa, energia e manufatura, por exemplo.  Áreas em que homens sempre predominaram, o que se transformou em outro desafio, especialmente por Natália ser tão jovem:

“É um meio masculino, mais sênior e de pessoas que não são muito abertas. E eu tive de ter muita certeza de onde eu queria chegar. Entender que a aquela crítica que recebia não era 100%. Tive de saber absorver da melhor maneira possível. Os questionamento foram visto como incentivo”.

Não apenas soube se impor diante desse cenário como ajudou a mudá-lo. Hoje, a equipe comandada por Natália tem 35 pessoas e muitas são mulheres, o que, segundo ela, é uma das marcas que diferencia a API quando participa de eventos do setor. Por isso, não teve dúvida em responder a pergunta feita por uma das ouvintes do Mundo Corporativo que queria entender sobre as oportunidades na área de medição e calibração de equipamentos. Para Natália, as mulheres podem investir na carreira de engenharia e pensar no setor:

“As empresas cada vez mais precisam evitar erros e acidentes de trabalho. Esse é um mercado imensurável … Antigamente, todas as empresas e industrias esperavam ter o problema para corrigir. Entendeu-se que isso era muito caro. A manutenção preventiva evita esse gasto. Esse vai ser o futuro.”

O ano de 2020 foi difícil em diversos sentidos. Com a economia em baixa e a necessidade de adaptação às restrições sanitárias, exercitar a resiliência, foi essencial para chegar às melhorias registradas no primeiro trimestre deste ano: a empresa vendeu, na região, 49% do realizado em todo o ano passado. E mais uma vez, as viagens que havia realizado com as colegas do surfe, que foram canceladas por motivos óbvios, foram úteis:

“A pandemia está bem difícil. Então a resiliência e a adaptação, que eu aprendi no surfe, para enfrentar todas as condições, estão acontecendo todos os dias. Eu trabalho em uma empresa americana e o dólar cai 30 centavos em um dia. Como você explica para as pessoas? Como manter a segurança dos funcionários? Faço reuniões semanais. Tento manter um contato mais próximo para oferecer alguma segurança, para termos um resultado melhor. Se eles não estão trabalhando bem, a empresa não vai ter resultado”. 

Assim como acontece na busca pelas melhores ondas, Natália ensina que nem sempre no mundo do trabalho se terá as melhores condições ou o profissional vai acordar bem para trabalhar ou todos os stakholder estarão pensando da mesma maneira. O importante é ter consciência do resultado que você pretende alcançar. Para os jovens e profissionais que estão iniciando carreira, Natália recomenda:

“Nunca desista porque alguém falou algo para você. Nunca desista porque talvez não seja o mercado apropriado. Não! Se você tem um sonho e você quer algo lá na frente. Tenha certeza disso e não desista”

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às 11 horas, no canal do Youtube, no Facebook e no site da CBN. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN, e aos domingos, às 10 da noite. Está disponível também em podcast. Colaboraram com o Mundo Corporativo: Izabela Ares, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Rafael Furugen.

De sofrimento ao perdão, da falta de controle à resiliência: filmes, livros e histórias de um fim de semana

Reprodução do documentário Unrest

Acachapado no sofá, com o corpo imóvel diante da TV e a mente impressionada, passei pouco mais de uma hora e meia desse domingo assistindo ao americano Unrest, no Netflix. É um documentário dirigido, roteirizado e elencado por Jennifer Brea, estudante de doutorado em Harvard, que aos 28 anos, após uma febre, iniciou uma jornada incrível para descobrir que sofria da Síndrome da Fadiga Crônica.

É uma doença neurológica, segundo a Organização Mundial de Saúde, que pode se desenvolver após infecções virais —- aliás, por isso mesmo, voltou ao noticiário com a pandemia da Covid-19. Das pessoas afetadas, 75% ficam incapazes de trabalhar e 25% ficam presas à cama. Calcula-se que de 15 a 30 milhões de pessoas sofram deste mal, no mundo. As causas ainda são incertas, e o desconhecimento se expressa em crueldade e preconceitos de familiares, comunidades e médicos, como fica escancarado em Unrest. . 

Jennifer realiza quase todo o documentário de sua cama de onde mal consegue levantar, e quando o faz é por períodos curtos. Entrevista médicos, conversa com outros pacientes, mobiliza pessoas, chora, sofre e nos faz sofrer com ela e com as histórias que são contadas. 

Uma das mais chocantes é a da jovem dinamarquesa que é retirada da casa dos pais pela polícia para receber tratamento em uma clínica comandada por um médico que acredita que a doença é psicológica e a pessoa precisa ser afastada de seu habitat natural e das pessoas que supostamente realimentaram o mal que mantém o paciente doente. Sim, isso acontece na Dinamarca.

Sabe-se pelo documentário do triste fim de algumas pessoas que não suportaram a si mesmo e por não se compreenderem nem serem compreendidas desistiram de viver. 

De outro lado, vê-se a ação dedicada e generosa de pais, irmãos, amigos, médicos e maridos. Um deles é o de Jennifer que está boa parte das vezes ao lado dela nas filmagens e aceitou expor suas fragilidades, dúvidas e dramas, nos permitindo vivenciar a intimidade deles através da câmera que os acompanha —- um dos efeitos é nos deixar prostrados enquanto a história se desenvolve, como se tivéssemos sido acometidos pela fadiga (que fique claro, é apenas uma sensação que tive, porque nada, nada se compara ao que essas pessoas sofrem no cotidiano).

No coquetel de emoções  gerados por Unrest, chorei ao ouvir o marido de uma das pacientes acometidas pela síndrome revelar seu arrependimento por ter deixado a esposa na cama e as duas filhas sozinhas em casa. Abandonou a família e diz que o fez por acreditar que ele seria o motivo daquela reação da mulher. Não entendia o sofrimento dela. E sequer entendeu seu papel na relação. A dúvida que expôs, de volta ao lado da cama da esposa, era se conseguiria se redimir do tempo em que ficou afastado. Queria perdão! A medida que a luz do conhecimento se fez, os dois recasaram.

Arrependimento e perdão. Temas que também me acompanharam no fim de semana por outros caminhos. 

José Carlos De Lucca,  juiz de direito, escritor e espírita, entrevistado no canal Dez Por Cento Mais, no Youtube — que revi no sábado —- ensinou que não existe nenhum processo de desenvolvimento espiritual que não seja feito em função do amor. Ao próximo, claro, mas começando com você mesmo. E sem a pretensão de idealização. De Lucca lembra que travamos uma briga constante com o perfeccionismo:

“Querem ser um Jesus Cristo, uma Irmã Dulce, uma Madre Tereza de Calcutá, embora todos esses, à exceção de Cristo, tenham sido figuras humanas que tiveram suas rachaduras, mas que a despeito delas não se deixaram contaminar pela revolta, pelo desamor à vida” 

José Carlos De Lucca

Sugere que saibamos nos aceitar como somos, sejamos mais amigos de nós mesmos, mais pacientes. Sejamos melhores, mas não perfeitos. É na tensão que a perfeição exige de nós que se cancela o direito ao perdão. A si e aos outros. Motivo de doenças, como escreve o dr. Cláudio Domênico, no livro “Em suas mãos”, que tive oportunidade de ler também nessa folga de Corpus Christi. 

Domênico é profeta da medicina da qualidade de vida —- aquela que trata pessoas de forma preventiva, e não apenas a doença.  Há um instante em que o doutor e escritor se pergunta: “como ajudar nossos pacientes a lidar com emoções negativas, como a culpa, o arrependimento, a angústia, o medo, o egoísmo, a mágoa?”.

Fatores psicológicos negativos, escreve, com base em estudos da Associação Americana de Cardiologia, podem estar relacionados a uma série de problemas de saúde. O pessimismo aumenta a mortalidade por doença coronária em duas vezes, enquanto a ansiedade faz crescer em até cinco vezes a chance de espasmo das artérias do coração.

De acordo com pesquisadores do Centro Internacional de Saúde e Sociedade, no Reino Unido, a principal diferença entre pessoas muito ou pouco estressadas não consiste em fatores genéticos ou psíquicos, mas na sensação do indivíduo se sentir dono do próprio destino. 

E como sofremos quando estamos diante de situações que não dependem de nós. Não estão sob nosso controle.

Vivo essa experiência diariamente. Porque são esses os desafios do ser humano na sociedade contemporânea. Deparamos com diversas situações —- de nossa responsabilidade ou não —- em que a solução independe de nós. Ao mesmo tempo, assumimos riscos e fazemos escolhas, muitas erradas, que nos tornam mais vulneráveis do que somos e o destino tão incerto quanto esse mundo pode ser.

Se não nos perdoamos pelo que fizemos, não podemos pedir que sejamos perdoados. Se não aceitamos quem somos, não é justo cobrar que sejamos aceitos. Exercitar a resiliência é talvez o que esteja em nossas mãos. E para isso, convido que você assista ao TED da Dra Lucy Hone, psicóloga, do Instituto do Bem-Estar e Resiliência da Nova Zelândia, que enumera três estratégias que podem nos ajudar nessa batalha da vida e pela vida:

  1. Entender que o sofrimento faz parte da vida humana
  2. Buscar o lado bom na situação adversa
  3. Compreender se a atitude que está tomando frente ao problema está ajudando ou piorando ainda mais a situação.

Que venha o próximo fim de semana!

Voo de fênix: estratégias resilientes

 

Por Simone Domingues
@simonedominguespsicologa

 

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Foto: Pixabay

 

Vários povos da antiguidade utilizavam os mitos para explicar diferentes questões da vida humana. Um desses mitos refere-se à fênix, um pássaro lendário que, após morrer, ressurge das próprias cinzas. Não bastasse o seu renascimento, a fênix ainda tem como característica uma força extraordinária, capaz de carregar cargas muito pesadas durante o voo.

 

Devido a esse caráter simbólico, envolvendo renascimento, superação e esperança no futuro, a fênix tem sido frequentemente associada à resiliência, termo usado em Psicologia para explicar a capacidade de enfrentar e superar situações desafiadoras ou dramáticas, mantendo-se física e psicologicamente saudável.

 

Se houve um momento em que buscávamos compreender os fatores que levavam ao adoecimento, hoje há um interesse crescente em compreender os mecanismos pelos quais uma pessoa mantém a saúde mental, apesar das adversidades. Vários fatores estão associados à capacidade de resiliência, como autoestima, autoconfiança, criatividade, relacionamentos com familiares e amigos, habilidades sociais e espiritualidade.

 

Diversos estudos têm sido conduzidos, com o rigor científico e metodológico, e apontam que o envolvimento espiritual – capacidade de ter um sentido para a vida, independentemente de estar ou não relacionado com religião – está associado ao bem estar psicológico, como satisfação com a vida, felicidade e afetos positivos (o que não significa que pessoas que não têm atividades espirituais não sejam resilientes).

A capacidade de enfrentar as dificuldades e superá-las não é uma característica que temos determinada em nós, mas um conjunto de estratégias que vamos treinando e desenvolvendo desde a infância. Envolve aceitação, altruísmo e autorrealização: aceitar o que não se pode mudar; fazer algo para ajudar outras pessoas; realizar coisas importantes para nós. Em geral, as pessoas lidam melhor com as dificuldades e têm mais esperança quando a vida tem um significado, um propósito.

 

Para os que acham que pode ser tarde demais acreditar na capacidade de superação ou ter projetos para o futuro, cito aqui um trecho da poetisa Cora Coralina, considerada uma das maiores expressões da poesia moderna, cujo primeiro livro foi publicado quando ela tinha 75 anos:

“Nasci em tempos rudes. Aceitei contradições, lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo. Aprendi a viver”.

A resiliência não diminui as durezas da vida, não extingue as dores, mas minimiza o sofrimento e nos permite seguir em frente, com esperança em dias melhores. Otimismo? Pode ser, mas prefiro chamar de coragem. Como no mito da fênix, ainda que a carga seja pesada, que o renascimento (ou a resiliência) nos encoraje e nos habilite a buscar voos mais altos.

 

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, e escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung