Porto Alegre entregue à violência me faz lembrar Chicago

 

Por Milton Ferretti Jung

 

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Porto Alegre já foi uma cidade relativamente tranquila. Não creio que tenha exagerado quando, num despretensioso texto para minha página no Facebook,a comparei com a velha Chicago que,se não me engano,era uma espécie de sede da máfia dos Estados Unidos e não somente nos filmes que nos acostumamos a ver essa famosa cidade. Ela não era fictícia,mas bem verdadeira. Já a cidade na qual moramos,especialmente nos últimos dias,sofreu uma transformação. Os bandidos locais estão ficando cada vez mais agressivos. A briga pelos pontos de venda do produto em que mergulharam com a cara e a coragem – os tóxicos de todos os tipos – torna-se muito mais violenta a cada dia que passa. O pior é que este recrudescimento não fica apenas nas vilas. Surge em um momento desastroso para a população: os funcionários públicos do governo gaúcho estão em greve. Encontram-se entre eles os que são responsáveis pela proteção do povo: os da Brigada Militar e Polícia Civil. A paralisação é mais do que justa. Os descontos nos salários,porém,não são. Mesmo os professores que não comparecem às escolas em que trabalham é pernicioso, com certeza,tanto para alunos e seus pais,mas não diz respeito à segurança,quem é que não sabe.

 

Quem acompanha a cobertura da mídia não desconhece o resultado trágico,inclusive,da perseguição empreendida pela Brigada Militar, na sexta-feira, que se estendeu por várias ruas e,uma bala perdida – quase sempre existe uma – atingiu um padeiro da Avenida Getúlio Vargas, no bairro Menino Deus, onde, aliás, vivi por muitos anos e meus filhos cresceram, sendo que um deles, o Christian, ainda mora lá. O padeiro, que morreu nesta terça-feira, levava para passear a cachorra da casa,antes que a sua família ocupasse os carros que os levaria ao litoral para aproveitar o feriado.

 

Com a manchete “Crimes e boatos elevam a sensação de insegurança ”a notícia da Zero Hora estampa a fotografia que acompanha o texto. Nessa,mostra o resultado da bomba explodida em Canoas,aliado a falsos alertas espalhados pelo WhatsApp. Até isso serve como uma espécie de arma para espalhar o terror por Porto Alegre e cidades vizinhas. “Assaltos ousados,arrastões,perseguições e arrombamentos,em apenas um dia em cinco agências bancárias pioraram ainda mais a sensação de insegurança como reflexo da paralisação da polícia no Estado.Essa parte do texto pertence ao atilado repórter policial Humberto Trezzi.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Rezemos, é o que resta

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Não há mais muitas coisas nem loisas neste mundo que me espantam. Só o que está acontecendo no Brasil já seria suficiente para me deixar em estado de alerta quando eu era mais novo.Pensei que tivesse lido tudo o que a mídia faz questão de divulgar,seja algo positivo ou negativo. E olhem bem tudo o que a TV, os jornais, as rádios e as redes sociais se desdobram para nos contar e, mesmo assim,há episódios que me enraivecem,me alegram,me entristecem ou me deixam indiferente.

 

Vou fazer uma confissão: um senhor idoso,do alto de seus 93 anos,surpreendeu-me. Seu nome é Hélio Bicudo. Duvido muito que os adultos se lembrem dele,embora o sobrenome chame a atenção por ser um tanto estranho.Tinha esquecido dele. Foi presidente do PT quando esse partido era muitíssimo mais sério do que hoje em dia.O Partido dos Trabalhadores representava um classe social respeitável,bem diferente dos que estão sendo presos pela operação Lava-Jato por força de suas falcatruas. O que fez esse cavalheiro,repito, de 93 anos,idade que não influiu no seu intelecto? Pode ter sido espantoso,mas Hélio Bicudo pretende que a Presidente Dilma seja destituída do seu cargo. Razões não lhe faltam. Basta ler a Zero Hora dessa terça-feira:

“Orçamento da União tem rombo de 30,5 bilhões e inclui aumentos de aliquotas sobre eletrônicos e bebidas para elevar receita. Salário mínimo previsto é de R$865,50.”

Enquanto isso,a maioria dos Estados está com sérios problemas,haja vista o que ocorre com o Rio Grande do Sul. Ivo Sartori viaja para Brasília a fim de tentar o desbloqueio das contas do Estado. Ao mesmo tempo,o Rio Grande talvez tenha de enfrentar greve até sexta-feira. Como escrevo na terça-feira visando a entregar o meu texto até quinta-feira,algumas coisas podem se alterar,tanto para melhor quanto para pior.A Brigada Militar e a Polícia Civil são categorias cuja greve,por óbvio, são as que mais preocupam a população. E não é somente o povo que se preocupa com os brigadianos em greve. Essa chegou também ao comandante-geral da Polícia Militar e a maior prova disso é o fato de o comandante ter resolvido dormir no quartel. O coronel Alfeu Freitas,às 6 da manhã,já estava reunido com os seus comandados. Na noite de terça-feira, Freitas, atendendo pedido do Secretário de Segurança, Wantuir Jacini esteve no QG a fim de saber a situação do policiamento e reconheceu que os atendimentos estavam reduzidos. Rezemos para que não ocorram desmandos na cidade para que a BB não seja chamada a intervir.

O tráfico de drogas e a morte de crianças

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Minhas colunas que,explico,tratavam quase sempre de histórias do meu passado,tanto as da época da adolescência,da juventude,dos casos e peripécias que vivi ou me contaram sobre colegas,essas muita vezes acerca de episódios cômicos,inclusive os com a minha participação,terão um assunto capaz de deixar-me não só preocupado como profundamente entristecido. Refiro-me às mortes de crianças de idades diversas,vitimadas por traficante. Esses bandidos mais do que nunca passaram a se digladiar e cometem todo o tipo de estrepolias:disputam pontos de tráfico de drogas,fazem-se de amigos em um dia e,em outro,dependendo das circunstâncias, transformam-se em inimigos figadais. A partir daí,num ápice,deixam de ser amigos e promovem,como aconteceu na época de veraneio em Tramandaí,um ataque com toda espécie de armas visando a mostrar ao ex-companheiro quem detém o comando da tráfico na região. Nesse episódio,os que enfrentaram aqueles que estavam em uma residência praiana,tinham até um guarda-costas, que era policial e preposto de um Secretário Estadual,cujo nome prefiro não revelar.  

 

De lá para cá tivemos um aumento da violência. A batalha entre as facções criminosas só fizeram aumentar. Há dois bandos disputando os pontos de tráfico. Aqueles que chegaram“ser amigos”depois do ataque à casa de Tramandaí,piorou consideravelmente após o assassinato de Crisitiano Souza da Fonseca,o Teréu. Esse foi morto por asfixia em um dos refeitórios da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (me engana que eu gosto). A cerimônia fúnebre ficou parecendo o enterro,para não exagerar,de um governador ou outra autoridade pública,jamais a de um traficante dos piores que atuavam em Porto Alegre.Foi necessária a presença da Brigada Militar,que monitorou a movimentação dos “enlutados” companheiros de Teréu. Após o assassinato desse, é dw se perguntar como se vingarão os seus ex-sócios (…)

 

A polícia – desculpem o lugar comum – terá de fazer das tripas coração se quiser enfrentar em condições mais próximas das do inimigo que cada vez mais aumenta o seu arsenal mortífero.Não basta somente evitar conflitos de gangues de traficantes,mas superar os malditos em armamentos. Seria ainda mais lamentável se esta disputa por pontos de tráfico matasse crianças com balas perdidas,dentro ou fora de suas casas,como vem acontecendo ultimamente. O Governo do Estado que trate de municiar quem precisa defender o seu bom nome.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Avalanche Tricolor: a maldição dos goleadores

 

 

Avenida 1 x 3 Grêmio
Campeonato Gaúcho – Santa Cruz do Sul

 

 

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Foi-se o tempo em que partidas pelo interior do Rio Grande do Sul me provocavam grandes emoções. Já falei aqui que o acanhamento dos estádios e a precariedade da infraestrutura oferecida para se jogar bola são desanimadores. O dos Eucaliptos, em Santa Cruz, não é muito diferente do que estamos acostumados a ver por aí no Campeonato Gaúcho. Nada, porém, que me tire o desejo de assistir ao Grêmio em campo e, claro, vencendo. Por isso, não faltaria ao compromisso desse fim de tarde de domingo. Com os minutos contados no relógio, interrompi o trabalho que tem tomado todo meu tempo neste começo de ano, sobre o qual já conversamos na Avalanche que marcou o início da temporada 2015, para me postar, animadamente, diante da televisão.

 

 

Para minha surpresa e, imagino, para muitos dos torcedores gremistas, logo ficamos sabendo que Marcelo Moreno estaria no banco de reservas, preservado pelo fato de fazer parte de mais um negócio com a China, mesmo destino de Barcos, nosso goleador nas temporadas 2013 e 2014. A história parecia se repetir, pois quando o argentino entrou em campo em seu último jogo, os jornalistas diziam que seria seu último jogo, mas ninguém confirmava a informação oficialmente. Naquela oportunidade, estreia no Gaúcho, deixaram com que nos deliciássemos mais alguns minutos com o talento de Barcos e comemorássemos com ele os dois gols marcados para depois entregá-lo ao futebol chinês.

 

 

Desta vez, parece que Felipão resolveu pensar em testar soluções para os problemas que terá no resto da temporada do que apostar em mais um jogador que está de saída. Como vimos, teve de mudar de ideia, pois apesar de ver seu meio campo se movimentando bem, com dribles e trocas de passes mais precisos do que nos jogos iniciais, além de algumas enfiadas de bola dentro da área, pouco se produziu no ataque. Chutes a gol foram raros no primeiro tempo de partida, mesmo quando já tínhamos um jogador a mais em campo. No momento em que o juiz decidiu equilibrar as forças usando de forma indevida os cartões amarelo e vermelho a situação ficou ainda mais complicada.

 

 

O jeito foi chamar Moreno que entrou ao lado de Everton que, aliás, está merecendo um lugar entre os titulares. Assistimos à outra partida de futebol, com a bola chegando dentro da área e encontrando um atacante de ofício, daqueles que sentem o cheiro do gol. Moreno tentou uma, tentou duas, tentou três vezes até que na quarta o zagueiro adversário se assustou e fez contra. De tanto tentar conseguiu fazer o seu gol ao concluir de cabeça cruzamento dentro da área. Fez do jeito que se espera que os atacantes façam. Correu para a torcida, beijou o distintivo e agradeceu os gritos de “Fica!”. Ao fim do jogo disse que tudo vai depender da diretoria. Talvez me engane e tomara que realmente esteja enganado, mas creio que assistimos ao último jogo de Moreno com a camisa do Grêmio, também.

 

 

Entendo as dificuldades financeiras que nos levaram a desconstruir a equipe do ano passado e contratar jogadores modestos para as posições que necessitavam algum reforço. Entendo que se deva investir nos talentos que surgem nas categorias de base; e temos visto alguns jogadores ensaiando bons desempenhos como foi o caso de Lincoln na partida de hoje. Minha dúvida apenas é a quem vamos recorrer no próximo jogo para finalizar em gols as jogadas criadas no meio de campo? Talvez seja melhor mesmo que não apareça nenhum goleador típico. E nos contentemos com vitórias enxutas baseadas em gols aleatórios de um zagueiro, de um chute à distância do volante ou quem sabe das trapalhadas dos adversários. Pois corremos o sério risco de nos animarmos com um novo goleador um dia e nos despedirmos dele no outro.

 

A foto deste post é do álbum do Grêmio Oficial no Flickr
 

O importante em uma amizade é saber conservá-la

 

Dos amigos

 

Dos amigos que ficaram dos tempos do Rio Grande do Sul – e saiba que foram muitos tempos, pois troquei o estado natal por São Paulo apenas em 1991, por necessidades profissionais -, tem um que me acompanha desde lá, mesmo que nossos encontros e conversas sejam raros. Paulinho, que é como teimo em chamá-lo a despeito da idade e da responsabilidade que lhe permite estar há 21 anos em uma das maiores forjarias do Brasil, ficou em Porto Alegre, enquanto eu, de mala e sem cuia, me despachei para a capital paulista em história que você, caro e raro leitor deste blog, deve conhecer minimamente, pois já a relembrei várias vezes – se um dia você quiser, desconfio que não queira, dedico outro post para escrever sobre aquela decisão que foi definidora na minha vida. Desde que deixei o Sul, chegamos a passar anos nos falando por telefone e apenas no dia de nossos aniversários. O dele, curiosamente, é dos poucos que não preciso anotar na agenda para lembrar: dia 2 de janeiro – apesar de os amigos sempre terem desconfiado que ele nasceu um pouco antes,e o pai, já prevendo a carreira esportiva que o guri se dedicaria, o registrou dias depois, o que lhe renderia um ano de vantagem. Essa história, claro, sempre ficou no campo da especulação jocosa dos amigos mais próximos, mesmo porque Seu Valdemar, o pai do Paulinho, é homem de uma correção que pouco se vê por aí.

 

Mesmo que nossos contatos sejam esparsos, quase toda vez que Paulinho vem a São Paulo, por compromissos profissionais, tentamos um encontro. Nem sempre é possível devido as diferenças de agenda e esta necessidade que tenho de estar cedo na cama para madrugar no dia seguinte, na rádio. O bom das férias é que podemos esquecer o relógio e, mesmo que o avião atrase e o trânsito atrapalhe, se pode esperar os amigos até a hora em que ele chegar, como aconteceu ontem à noite, quando o recebi para jantar. Como sempre, excelente oportunidade para atualizar as notícias da vida e relembrar passagens vividas juntos, especialmente porque ele foi meu companheiro de basquete, de namoros, de viagem – a maioria das vezes para Pinhal, no litoral gaúcho, ou para Garopaba, no catarinense -, e de muitas outras coisas que costumamos fazer na adolescência e juventude. Paulinho era mais sério e metódico; eu, menos organizado, me adaptava mais aos hábitos dele; ambos casamos mais ou menos na mesma época e tivemos filhos com a mesma idade; ele se separou de uma amiga da adolescência, casou de novo e hoje tem mais uma menina. Eu estou com dois meninos. Ao contrário dos pais, os filhos pouco se conhecem.

 

Por estranho que possa parecer, especialmente àqueles que desconhecem a tolerância e para os que vivem de esteriótipos, ele é colorado e eu, você já sabe, sou gremista. Diferença clubística que mais nos aproximou do que dividiu, pois as conquistas de um e de outro serviam para nos divertir, um dia em favor de um, um dia em favor de outro. Bem verdade que houve momentos em que o melhor era aguardar alguns dias antes de conversar com o amigo, mas nada que tivesse nos separado em definitivo. Para atrapalhar ainda mais o julgamento dos descrentes, apesar dele ser torcedor do Inter, desses de comparecer na arquibancada ao lado da família, fomos colegas de basquete no Grêmio, onde joguei por 13 anos, e a preferência dele pelo co-irmão não o impedia de brigar em quadra pela vitória. Até há alguns anos, ele guardava no apartamento, em Porto Alegre, uma camisa de basquete tricolor que acabou me presenteando por entender que estaria mais bem venerada na minha casa em São Paulo. Mal imaginávamos que aquela troca de endereço seria fatal para o destino da camisa de manga de regatas com o símbolo do Grêmio no peito e o número 12 nas costas. Ao ter a casa invadida por bandidos, a camisa foi roubada (assim como todo o restante da coleção, a bandeira oficial e a medalha de campeão da Copa do Brasil; além de outros objetos como menor valor sentimental tais como computadores, televisão, roupas, etc).

 

É difícil entender o que faz duas pessoas se transformarem em amigos e, principalmente, o que as faz permanecer nesta amizade mesmo com suas diferenças e distâncias. Muitos em condições parecidas se foram sem deixar história ou saudade. Às vezes, as facilidades de acesso e busca no Facebook forjam reencontros que logo se revelam fugazes. Deve haver alguma explicação baseada na filosofia ou na psicologia, porém o mais importante em uma amizade não são os motivos que a justificam, mas a própria existência dela. Portanto, conserve-a.

 

A foto que ilustra este post é do álbum de Davi_Vazquez, no Flickr

Quem diria, os separatistas estavam por aqui

 

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É no mínimo curioso receber mensagens pedindo a separação de São Paulo do restante do País, especialmente do Nordeste, desde a divulgação dos números finais da eleição presidencial deste ano. A cisão unilateral está apoiada no que consideram ser um absurdo: ser comandado por uma presidente, no caso Dilma Roussef, que teve apenas 35,69% dos votos do eleitorado paulista – provavelmente nordestinos que vem se aproveitar das nossas riquezas, dizem alguns. Que voltem para seus estados de origem e se submetam às ordem superiores. E na República Independente de São Paulo ficaríamos apenas nós, os puros de alma, combatentes da corrupção, defensores dos bons costumes e bem informados. As manifestações de indignação e em defesa da divisão ganha caráter oficial quando assinada por gente de alto coturno com representatividade no Palácio Nove de Julho que, talvez, sonhe em transformá-lo em palco da resistência. Tudo bem que os arroubos políticos se resumiram às redes sociais, mas se ouvirem muitos aplausos temo que decidam subir à tribuna.

 

Têm todo meu respeito os que estão incomodados com a derrota na eleição, é um direito nos inconformarmos sempre que uma batalha é perdida, mas defender a separação do Estado de São Paulo em função de resultados obtidos nas urnas é não compreender a dinâmica da democracia, se não bastasse ser um absurdo. Como sei que São Paulo é muito maior do que estes que se descontrolam – e em alguns meses mesmo estes já estarão envolvidos em outras disputas – chego a me divertir, especialmente pela ironia do destino.

 

Desde que cheguei em São Paulo, em 1991, por mais de uma oportunidade fui acusado de ser separatista. Sim, você, caro e raro leitor deste blog, não tem ideia do que muitas vezes tenho de ler e ouvir. O ataque é baseado no fato único e exclusivo de ter nascido no Rio Grande do Sul, onde, no século 19, grupos se rebelaram contra o governo imperial do Brasil e declararam independência, fundando – sem sucesso, diga-se – a República Rio-Grandense. De vez em quando, surge uma ou outra voz por lá retomando o assunto e acreditando que o Rio Grande se bastaria, mas são gritos que não ecoam há muito tempo nos pampas.

 

Verdade, também, que os gaúchos tendem a exacerbar seu orgulho pelo estado em que vivem, conservam suas raízes, preservam o chimarrão e a bombacha, usam o sotaque sulista para reforçar sua identidade e não se envergonham de entoar o hino rio-grandense (registre-se, de letra e ritmo belíssimos). Orgulho, sim, mas sem deslumbramento nem desrespeito ao restante do Brasil. História e comportamento que talvez confundam pessoas desinformadas como essas que procuravam me atingir sempre que me ouviam criticando os problemas de São Paulo.

 

As agressões, geralmente por e-mail, eram mais frequentes na época em que apresentava o CBN São Paulo, a medida que as reportagens e entrevistas que realizava tinham o foco no estado e capital paulistas. Costumavam me mandar de volta para casa já que, segundo eles, eu estaria descontente com a vida que levava por aqui. Não eram capazes de entender que ao reclamar a falta de estrutura, desrespeito no atendimento ao cidadão, ambiente poluído, congestionamentos intermináveis, entre outros problemas comuns do nosso cotidiano, o fazia por força da profissão e por gostar muito de São Paulo.

 

Talvez o que mais me incomodava (e me incomoda, nos raros momentos em que ainda sou chamado de separatista) é o fato dessa gente não entender o quanto gosto de São Paulo. Trabalhar aqui foi escolha minha, por admirar a força desta região. Construí minha carreira, minha casa e minha família; meus filhos são paulistanos, assim como minha mulher (isto ao menos me valeria um passaporte brasileiro, em caso de secessão, não?). Nestes 23 anos desenvolvi projetos em favor da cidade que me orgulham muito como o programa Conte Sua História de São Paulo, que está no ar desde 2006 e se transformou em livro, no qual moradores e pessoas que tiveram alguma experiência na capital paulista registram sua memória. Tem ainda o Adote um Vereador – apesar de que este, para esta turma, é uma forma que encontrei de reclamar da política na cidade. Hilário.

 

Quem diria, depois de tantos anos ouvindo que sou um separatista, hoje me deparo com pessoas defendendo que São Paulo dê seu grito de independência, se liberte do restante do Brasil. Descubro que apenas usavam sua própria régua moral para me julgar. Vamos combinar o seguinte: somos todos brasileiros, independentemente de onde tenhamos nascido, onde vivemos e como votamos. E como brasileiros, o que temos é o que as urnas nos ofereceram. Saibamos então aceitar as diferenças, reduzir as desavenças e trabalhar para que cada vez mais nossos destinos sejam traçados por nós mesmos, sem depender deste ou daquele governo. Valorizemos as características de cada um dos 26 estados e do Distrito Federal, mas convencidos de que fazemos parte de um só país.

Trazer polícia do interior para a capital, é despir um santo para cobrir outro

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Perdoem-me,mas sou obrigado a tratar,novamente,de um assunto que já foi por mim abordado durante a Copa do Mundo,época que por diversas razões ainda não caiu no esquecimento da maioria. Era de se imaginar que não fosse um período lembrado efemeramente pelos brasileiros. Da Seleção Brasileira,então,seria melhor que não fosse lembrada,pelo menos,nos próximos quatro anos. Isso,porém,desta vez,é impossível:teremos de disputar a fase Eliminatória. Antes de seguir com o texto desta quinta-feira,esclareço por que,na primeira linha do parágrafo inicial,anunciei que vou tratar de uma questão que interessa apenas aos gaúchos,tanto os de Porto Alegre quanto os do Interior.

 

Ocorre que estão voltando a falar ou,mais do que isso,a agir,visando a transferir Policiais Militares do interior para Porto Alegre,a exemplo do que fizeram no período do Mundial. Lembro que,quando surgiu a ideia,passou pela minha cabeça um velho ditado:vão despir um santo para vestir outro. Agora,entretanto,já existe decisão judicial que proíbe o remanejo de soldados de Pelotas para reforçar o policiamento na Capital gaúcha. O Interior começa a reagir. Isso é ótimo. E,por favor,sou porto-alegrense honorário,título que me foi conferido pelos vereadores de Porto Alegre. Moro aqui desde que completei,em Caxias do Sul,uma semana de vida. Logo,alguém poderia pensar que estou tratando de uma questão com parti pris. Estou convicto de que os que moram nos municípios interioranos têm direito de contar com um contingente de brigadianos que,no mínimo,não os deixe nas mãos de bandidos,principalmente,os assaltantes de bancos,episódios com um sem número de episódios relatados e,pior,vividos por gente do Interior.

 

Se alguém duvida,que tome nota destes números assustadores:homicídios cresceram 76%;roubos de residência aumentaram 14%;roubo de veículos subiram 22% e roubos de todas as espécies chegaram a 19%. Isso depois que despiram o santo interiorano para vestir o porto-alegrense. Em reunião realizada no último dia 12,a Diretoria da Federação das Associações do Rio Grande do Sul ficou decidido que a FAMURS os prefeitos devem procurar a promotoria de suas cidadese acionar o Ministério Público para assegurar a presença normal de PMs em seus municípios. Aliás,dado colhidos na época da Copa do Mundo,quando foram remanejados para Porto Alegre deixaram claro o aumento da violência no Interior. Está na hora de se pensar e,mais do que isso,por em prática,o aumento do contingente de brigadianos,especialmente oferecendo aos interessados em vestir a farda da nossa Polícia Militar salários que combinem melhor com os perigos enfrentados por esses soldados. Que isso não fique apenas nos projetos,mas que esses sejam postos em prática por quem for eleito Governador do Rio Grande do Sul e por seus acólitos..

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Palavras no rádio e na TV que não consigo digerir

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Olho para trás e me dou conta de que passei a maior parte da minha vida trabalhando como radialista. Exerci várias funções,pasmem,atuando em apenas duas emissoras:a Rádio Canoas (que mudou de nome e virou Rádio Clube Metrópole ao receber concessão para funcionar em FM) e na Rádio Guaíba. Essa,inaugurada em 1957. Era um sonho dos locutores,na época,ser contratado pela rádio que se firmou no ano seguinte,1958,por ter transmitido a Copa do Mundo da Suécia com equipe própria:Mendes Ribeiro,Flávio Álcaraz Gomes e Francisco Antônio Caldas. De lá para cá,a Guaíba só não se fez presente na deste ano que os brasileiros preferem não lembrar por motivos para lá de óbvios. Além de locutor comercial,comecei a narrar futebol e,em 1964,passei a apresentar o Correspondente Renner que,modéstia à parte, foi durante muitos anos a principal síntese informativa da Guaíba.

 

O leitor – se é que tenho algum,especialmente fora do Rio Grande do Sul – não pode imaginar o que o Correspondente Renner representou,em uma época que o radiozinho de pilha era companheiro sempre presente dos agricultores. Até hoje,encontro quem diga que os pais de família não permitiam que os filhos falassem enquanto o Correspondente Renner estivesse no ar. Fiz esse intróito para dar ao leitor – insisto,se existir algum – uma ideia sobre este que lhes escreve e que vai,daqui para a frente,digitar algumas coisinha que,tanto no rádio quanto na TV atuais,não consegue digerir.

 

A grande maioria,sempre que se refere ao juiz de uma partida,diz que a arbitragem acertou ou errou. Ocorre que não é arbitragem que faz isso ou aquilo.O jogo é arbitrado só pelo juiz. Os seus auxiliares,por mais importantes que sejam,a rigor,não passam disso. O árbitro – e repito – apenas ele, é o indivíduo responsável, por fazer cumpriras regras,o regulamento e o espírito do jogo. A arbitragem é,digamos assim,o conjunto da obra. Quem manda,porém,insisto,é o que chamam,quando não fazem direito o seu trabalho,de “sopradores de apito”. Creio que os chefes desses moços que não sabem a diferença entre árbitro e arbitragem bem que poderiam ser alertados pelos seus superiores.

 

Outro erro, que já estou cansado de ouvir, é informar que “o estádio está completamente lotado”. Trata-se de um pleonasmo,isto é,repetição,na mesma frase,das mesmas ideias por meio de palavras. Narradores,comentaristas,repórteres e assemelhados,cometem os tipos de erros que citei. O pior é quando vejo que a mídia brasileirsa,com raríssims exceções,até agora não se decidiu entre chamar a maravilhosa Nova Iorque de Nova York. Que se use o nome em completamente em inglês ou todinho aportuguesado. Não pode,na minha modesta opinião,grafar o nome de maneira híbrida:Nova York.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

A revolução nas estradas começa na escola

 


Por Milton Ferretti Jung

 

Em Porto Alegre, de onde escrevo esta coluna, ano após ano, de maneira indefectível, no dia 20 de setembro, a Guerra dos Farrapos ou, se preferirem, a Revolução Farroupilha, é lembrada pelos rio-grandenses. Uso a palavra lembrada porque não entendo que revoluções ou guerras mereçam ser comemoradas. A Farroupilha estendeu-se de 20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845. Gaúchos de todo o estado reúnem-se durante o mês de setembro inteirinho no Parque da Harmonia. Desta vez, os que vieram acampar na capital, encontraram um parque com vias asfaltadas e livres, portanto, do barral que tinham de enfrentar, eis que sempre chove muito por aqui nesta época do ano.

 

No dia 20, o desfile dos piquetes na Avenida Edvaldo Pereira Paiva é o ponto alto do tradicional evento. Trata-se de um feriado estadual. Feriados desse e de outros tipos – nacionais, estaduais ou municipais – especialmente se caem em quintas ou sextas-feiras, são mais propícios à ocorrência de acidentes, eis que, ao contrário dos fins de semana normais, aumentam consideravelmente o fluxo de veículos nas rodovias. Às vésperas desses dias, a mídia costuma divulgar recomendações aos motoristas, visando a que não corram, tomem cuidado com as ultrapassagens e não consumam bebidas alcoólicas antes de dirigir, além de outros tipos de cuidados.
Como sempre,porém,nem todos dão a devida atenção aos avisos. Aqui no Rio Grande do Sul, o feriadão do dia 20, deixou saldo de 20 mortos nas estradas gaúchas. Em 2012, 18 perderam a vida nessa data. Não bastassem os acidentes fatais, o número de embriagados ao volante também é assustador: 115 foram flagrados, no Viagem Segura, dirigindo sob efeito de álcool. Desses, 67 foram conduzidos a delegacias porque se negaram a se submeter ao bafômetro.

 

Sempre que escrevo sobre o assunto, lembro que tem de ser obrigatória matéria versando acerca desse tema, já no curso primário, de maneira que as próprias crianças adquiram condições de influenciar os seus pais a respeitarem as leis do trânsito.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)