Perigo na direção: TJ-RS deixa Lei Seca mais frouxa

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Fazia já um bom tempo em que não me valia deste espaço para abordar as mazelas do trânsito,especialmente aquelas que ocorrem e enlutam famílias do meu estado: o Rio Grande do Sul. Retorno ao assunto, nesta quinta-feira, porque há questões correlatas ligadas ao tema e que me chamaram a atenção. O jornal Zero Hora,na edição dessa segunda-feira, estampa duas manchetes que,talvez,tenham ligação.

 

Esta é a mais chocante: “Colisões Fatais”. Abaixo se lê:”Final de semana tem 12 mortes no trânsito”. Em seguida:”Acidentes graves ocorreram em várias regiões e motivaram protestos”. A notícia acentua que,em pelo menos dois acidentes,mais de uma pessoa morreu na mesma colisão.O Vectra, dirigido por uma das vítimas, colidiu com dois caminhões. Esse se registrou em Veranópolis,na Serra do Rio Grande do Sul. Outro,também na Serra – a colisão de um carro contra uma caminhonete – matou uma mulher de 55 anos e uma criança,de apenas 5. Em Santo Antônio da Patrulha,o motorista perde o controle de um caminhão carregado de cevada e o condutor do veículo morreu. Além dos desastres citados,houve mais 6, com vítimas fatais,em várias regiões.

 

O mesmo jornal,também na edição de 15 de julho,mancheteia com tipos enormes, “Nova brecha na Lei Seca”. Em matéria assinada por Humberto Trezzi,toma-se conhecimento de que desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deram nova interpretação à Lei Seca,a tornando mais liberal. Agora,além do bafômetro,a decisão do TJ-RS exige mais provas para condenar motorista que ingerir álcool além do limite,isto é,de 0,34 miligramas em diante. Antes dos rigores da Lei Seca,o condutor saía em paz se tivesse tomado uma taça de vinho e alguns copos de cerveja. Os desembargadores do Tribunal de Justiça Criminal gaúcho,entretanto,absolveu um motoclista,flagrado em 2011 em uma batida,por não ter ficado comprovado que estivessem sem condições psicomotoras para pilotar o seu veículo.

 

O problema é que a decisão dos desembargadores pode abrir perigoso precedente, uma vez que se trata de um afrouxamento das rígidas normas que estavam em vigor.O motociclista,convém lembrar, havia sido condenado por ultrapassar os limites da Lei Seca e outros,penalizados como esse,talvez se aproveitem da brecha aberta pelo TJ-RS.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Que façanhas !

 

Por Milton ferretti Jung

 

Pobre do Rio Grande do Sul. Se um estado pudesse ser bento,o meu teria de se candidatar. Somente neste ano vem desmentindo o texto do seu hino,especialmente no trecho em que,desde pequenos cantamos este refrão:”De modelo a toda a terra,sirvam nossas façanhas”. No momento,nossas façanhas não possuem nada de positivo,bem pelo contrário.

 

Cito-as mais ou menos pela ordem.

 

José Alberto Reus Fortunati,prefeito de Porto Alegre,concedia uma entrevista para o Mílton,durante o Jornal da CBN,quando precisou a interromper por um caso de força maior. Soube-se depois que a Polícia Federal realizava mandados de prisão em Porto Alegre,detendo homens públicos,inclusive um secretário e empresários,por suposta fraude ao meio-ambiente. Foi um deus nos acuda,como não poderia deixar de ser,já que a Concutare,nome da Operação da PF,atingiu gente importante.

 

Estourou, mais recentemente, a “Fraude do Leite”,denunciada pelo Ministério Público Estadual. Nessa, transportadores entregavam o produto com água,ureia e formol.Que nojo! O promotor Mauro Rochembach,responsável pela Operação Leite Compen$ado,lembra que os safados se comunicavam entre si de forma engenhosa em locais onde celulares ficavam sem sinal:solicitavam músicas a rádios interioranas e usavam-nas como código para suas falcatruas. O esquema foi investigado durante dois meses. Para o MP,as indústrias,embora se digam vítimas da patifaria,foram negligentes por não se preocupar com a qualidade dos transportadores.

 

O Rio Grande do Sul,antes de se jactar, no seu hino,deve também,afora punir rigorosamente os culpados pelas duas fraudes que citei, tratar de garantir a segurança dos moradores de cidades de pequeno e médio portes do seu interior. Setenta municípios no RS têm menos de cinco policiais. O Tenente-Coronel Leonel Bueno,comandante do CRPO Serra,disse à Zero Hora do último domingo: Se nós nos colocarmos no lugar do policial,eu acho que uma situação dessas é altamente constrangedora,para não dizer humilhante”.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Sem cerimônia, "tchu, tcha" embala funeral

 

Cena assistida por conterrâneos durante funeral do ex-governador do Rio Grande do Sul Amaral de Souza, há duas semanas. No momento em que o caixão com o corpo chegava ao salão principal, o sucesso musical “Eu quero tchu eu quero tcha” começou a tocar e ecoou pelas escadrias do Palácio Piratini. Era o ringtone do celular que estava no bolso da calça de um dos funcionários da funerária. Antes que ele conseguisse soltar o caixão e desligar o telefone, em meio a risos e constragimentos, foi possível ver alguns presentes batendo o pezinho no ritmo da música de João Lucas e Marcelo.

15 quilômetros na contramão e sem fiscalização

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Levar-me de volta a um assunto sobre o qual já escrevi várias vezes neste blog – trânsito – só mesmo um fato inusitado e, ainda por cima, ocorrido em rodovias que passam pelo Rio Grande do Sul,de onde, se é que algum leitor ainda não saiba, envio os meus mal digitados textos para o Mílton. Rendeu manchete nos jornais de Porto Alegre e nos demais veículos de comunicação daqui a façanha do motorista de um automóvel Pálio que trafegou 15 quilômetros na contramão. Olhem que não cometeu a estrepolia dirigindo em estradinhas vicinais. Não, ele começou seu tresloucado passeio (ou coisa que o valha) dirigindo na BR-116, no trecho entre Porto Alegre e São Leopoldo, depois de ingressar na rodovia em Esteio, e conduziu o seu carro até as proximidades do aeroporto Salgado Filho. Por muita sorte, o único acidente cometido por Leo Deimling, 55 anos, aconteceu em Canoas. Uma motorista, que vinha para Porto Alegre, dirigindo em sentido correto, foi ofuscada pelas luzes do Pálio e, para fugir de uma batida frontal, jogou o seu carro contra uma mureta. Ela e seus caroneiros sofreram ferimentos leves. Daimling fez um retorno na altura do aeroporto e entrou na freeway na mão certa,mas deu meia volta e retornou a dirigir na contramão. Para não cansar a beleza dos meus raros leitores, como costuma acentuar o Mílton, acrescento que a saga perigosa vivida pelo contraventor ocorreu em hora de pouco movimento, seja na BR-116, seja na freeway, onde teve a sua trajetória bloqueada, finalmente, por uma viatura policial. Ao tentar desviar dessa, chocou o seu Corsa no guard-rail. Foi encontrada, no automóvel de Leo Deimling, uma lata de cerveja. O bafômetro acusou consumo de bebida alcoólica nove vezes acima do tolerado. Leo foi preso em flagrante por tentativa de homicídio doloso. Disse ter bebido uma cerveja e não queria acreditar que andara 15 quilômetros na contramão.

 

As câmeras, que controlam o trânsito, detectaram parte do temerário trajeto do protagonista dessa história real. Não seria o policiamento, tão bom e muito presente nos feriados prolongados,insuficiente nos dias úteis? Ou, quem sabe, no período em que o motorista faltoso andou na contramão – 1h45min às 2h – o efetivo policial não precisa estar mais presente? Perguntar, não ofende.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)