
Jamais deixarei de torcer pelo Grêmio. Jamais! Nada do que fizerem com meu time será suficientemente forte para desconstruir a paixão que forjei desde criança com o meu Imortal. Se tivessem essa capacidade seria a derrota final. A falência da esperança, contra a qual lutarei sempre. Uma luta que promoverei em todas as dimensões da minha vida, porque sou um apaixonado pelas coisas que me envolvem: família, mulher, filhos, amigos, colegas, trabalho, projetos e, sim, meu time de futebol.
Assisti ao Grêmio em seus piores momentos. aprendi a torcer por este time quando sequer o mais próximo dos títulos possíveis, o Gaúcho, era possível. Acreditei nele mesmo quando assisti do gramado aos torcedores explodindo foguetes contra os meus ídolos. Mantive-me fiel apesar das picuinhas que infernizavam o ambiente do clube e me eram contadas por pessoas que viviam intensamente aquele momento. Vi o Grêmio ser rebaixado três vezes e se reerguer. Vi o Grêmio sobreviver a Batalha dos Aflitos.
Crente nos seus méritos, leguei aos meus filhos o amor que o tricolor havia me proporcionado. Os fiz gremistas mesmo à distância. Os fiz acreditar que aquele era o caminho a ser percorrido. Que o meu sofrer e o meu prazer serviriam de inspiração para a caminhada que eles estavam iniciando nessa incrível jornada que o esporte é capaz de oferecer ao ser humano.
Lembro do dia que fiz os dois guris chorarem ao meu lado porque havíamos vencido a mais incrível das batalhas. E da noite em que os dois vestiram orgulhosos a camisa do Grêmio para entrar no estádio Hazza bin Zayed, em Al Ain, nos Emirados Árabes, e torcer pelo time que disputaria uma vaga à final do Mundial de Clubes, em 2017.
Esses momentos que tive o privilégio de vivenciar são muito maiores do que a mediocridade de dirigentes incapazes de enxergar a grandeza de uma história.
Por isso, hoje, primeiro de setembro de 2022, decreto que não deixarei de torcer pelo Grêmio mesmo diante da maior das injustiças que poderíamos cometer nesse instante de instabilidade: a demissão de Roger. Esse homem que foi vítima do racismo estrutural que impera no Brasil e sofre a intolerância dos incapazes de entender que no futebol podemos ter pessoas com inteligência e senso crítico, agora é demitido em um ato de covardia do seu presidente que, um dia antes, havia confirmado a manutenção dele diante do comando técnico da equipe.
Roger paga pelo que fala, pelo que pensa e pelo que conhece da vida. Paga por sua inteligência e sua consciência. Paga pela incompetência de quem fez o clube refém de pretensões políticas. As mesmas aspirações que tentaram apagar a história de Luis Felipe Scolari, que venceu sete títulos no clube, entre Libertadores, Copa do Brasil, Brasileiro, Recopa Sul-Americana e Campeonato Gaúcho; ou de Vagner Mancini, que conquistou Libertadores e Campeonato Gaúcho, como jogador.
Na primeira vez que Roger foi demitido como técnico, escrevi que “cheguei a imaginar que a política interna do clube seria insuficiente para influenciar o trabalho dele e conseguiríamos desenvolver um planejamento de longo prazo”. Hoje, vejo que sou um iludido, um desatinado diante das coisas podres do futebol, incapaz de ver que o desejo de poder e a vaidade se sobrepõem aos interesses do clube.
Roger mais uma vez é sacrificado. Sofre injustiça. Arca com a responsabilidade que não é dele. Merecia mais respeito do Grêmio e de seu torcedor. Mas, infelizmente, o futebol não é feito de justiça, assim como a vida. A me consolar, está a crença de que Roger saberá ser maior do que estes que o demitiram e o criticaram, porque tem caráter, tem personalidade forte e tem propósitos que estão acima do resultado dentro de campo e da política que corrói o ser.
A demissão dele e a contratação de Renato —- o mesmo que foi incapaz de manter a trilha vitoriosa e nos levou ao caminho da Segunda Divisão — são resultado de uma política covarde, sem personalidade nem índole, que contamina o ambiente do clube, impacta o empenho em campo e mancha nossa história. Um política que apenas visa o poder.
Roger — se é que você um dia lerá essa Avalanche — peço desculpas pelo que os atuais diregentes do Grêmio fazem mais uma vez com sua história. Perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem (e há algum tempo não sabem). E peço que você me entenda — e tenho certeza que entenderá por gremista que nunca deixará de ser: a despeito do que decidam e façam, jamais deixarei de torcer pelo Grêmio. Jamais!








