Por Dora Estevam
A elegância não está apenas na roupa que veste ou nos gestos que marcam sua fala. Rosana Jatobá é refinada no conteúdo, também, que vai muito além daquele que a maior parte do Brasil ainda se lembra, e com saudade, quando apresentava a previsão do tempo no Jornal Nacional, na TV Globo, onde trabalhou por 12 anos. Dedica-se agora ao tema da sustentabilidade, sem dúvida resultado do mestrado em Gestão e Tecnologias Ambientais feito na USP, mas que também pode ser explicado pelo destino que o nome de família lhe proporcionou. Jatobá é a árvore que mais sequestra carbono do ar, espécie de faxineira do ar. E Rosana busca ajudar o planeta com o recurso que desenvolveu no jornalismo: a comunicação. Atualmente, apresenta o programa “Tempo Bom, Mundo Melhor” na Rádio Globo, está escrevendo as últimas páginas de um livro e se preparando para lançar o site “Universo Jatobá”. A unir todos os projetos, o desejo de viver em uma sociedade mais justa e sustentável, o que já revelava em crônicas escritas no Blog do Mílton Jung, em 2010 (leia os artigos aqui). E a certeza de que o exemplo começa em casa, como demonstra nesta entrevista que fiz com a ela:

Quais as ações de sustentabilidade que você pratica, atualmente?
– Coleta seletiva do lixo e destinação correta, levando os resíduos ao posto de coleta do Pão de Açucar; economia de água e de energia; aparelhos eletrônicos com selo de efeciência energética e desligados (fora da tomada) quando não utilizados; uso de bicicleta para pequenos percursos; uso de ecobags; horta doméstica e ioga.
Onde você busca inspiração para os seus projetos? Quais são as suas referências?
– Minha maior referência é a literatura. Procuro me inspirar em grandes escritores sobre o tema, como Tim Flannery, James Lovelock, Nicolas Stern, José Goldembreg, Washington Novaes, Leonardo Boff, Echart Tolle, etc… Gosto também de ressaltar atitudes sustentáveis de pessoas famosas, pois é um chamariz eficiente de convencimento. Os exemplos mais factuais eu pesquiso em sites como EcoD, Planeta Sustentável, Treehugger e os cadernos de Sustentabilidade do Valor Econômico e do Estadão. Fico de olho tambem em documentarios e podcasts.
O consumo, de maneira geral, é um vilão da economia de sustentabilidade?
– O consumo é benéfico. Traz conforto e é a mola propulsora da economia. O erro é o consumismo, a prática exagerada do consumo, que resulta em exploração demasiada dos recursos naturais e no descarte inadequado. Temos que migrar de uma sociedade descartável para uma sociedade de bens duráveis. E temos que aprender a nos contentar com uma vida mais frugal, ligada a natureza, a qualidade dos relacionamentos e a espiritualidade, evitando buscar recompensas psicológicas por meio do materialismo. A economia da consciência vai predominar neste século e as inovações da tecnologia vão nos permitir uso mais racional da energia e da matéria-prima.
Quais as maiores dúvidas das pessoas com relação as questões ambientais?
A duvida conceitual: o mito de que o planeta vai acabar em água ou em fogo! Mas a verdade é que a Terra, por mais explorada e aviltada, sobrevivera, como ocorreu em outras eras. O que temos que atentar é para a sobrevivência da espécie humana e de muitas outras que, como sabemos, estão interligadas neste equilibrio ambiental. A duvida prática: como posso ser sustentável sem abrir mão do conforto material?
Já podemos dizer que o Brasil tem um forte apego a sustentabilidade?
Podemos dizer que o Brasil tem uma forte vocação e um potencial magnífico para ser sustentável. Temos a matriz energética quase toda limpa, uma das maiores e mais ricas florestas do mundo em biodiversidade, água em abundância, embora com problemas de escassez e distribuição; e um povo que gosta de natureza e é receptivo às mudanças necessárias. Quando a educação for prioridade, daremos as ferramentas para nosso povo fazer as escolhas corretas e lutar por uma sociedade mais justa e ambientalmente correta.
Quem você gostaria de ver falando sobre este assunto com você?
A minha maior conquista profissional é poder dividir o palco com a nossa Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira em diversos eventos relacionados ao tema. Os últimos foram o lançamento da “Rede de mulheres líderes pela sustentabilidade” e a premiação do ” Champions of the Earth, da ONU”. Sou parceira do Ministério. Um dos projetos é engajar pessoas famosas como atores e jornalistas, a fim de formar opinião voltada para a preservação ambinetal e a responsabilidade social. Agora, se juntar o Brad Pitt, o Leonardo de Caprio e o Al Gore….não reclamo, não! rsrsrsrs
Como convencer o consumidor a ter percepção forte sobre o consumo alternativo?
Acho que dar bronca, censurando atitudes, não dá certo. Ao contrário. Você passa a ser encarado como ecochato. Tem que tentar engajar pela emoção, mostrando que o futuro dos nossos filhos está comprometido. E evitar um discurso catastrófico. Mostrar o lado bom de mudar.
Quando anda nas ruas da cidade o que mais chama sua atenção e você gostaria de mudar?
O que me comove e constrange é a desigualdade social, embora o Brasil seja, pela primeira vez na história, um país de classe média. Mas o fato é que há muita disparidade e uma sociedade desigual gera muitos conflitos. Como convencer um cidadão a fazer separar o lixo, se na porta dele passa o esgoto e a família não tem acesso à água potável?
Dora Estevam é jornalista e escreve sobre moda e estilo de vida, aos sábados, no Blog do Mílton Jung