Cidade limpa: campanha para acabar com saco plástico

 

Em duas semanas, a cidade de São Paulo começará mobilização para acabar com um costume bastante antigo e prejudicial ao meio ambiente: o uso de sacolas plásticas, estas que costumam decorar os aterros sanitários, córregos e rios e levam até 100 anos para se decompor. A Associação Paulista dos Supermercados – APAS iniciou conversa com o prefeito Gilberto Kassab DEM para que seja lançada campanha semelhante a realizada na cidade de Jundiai, interior paulista, onde, em um ano, se conseguiu reduzir em até 95% a distribuição dessas sacolinhas, mesmo sem haver uma lei proibindo o comércio de usá-las.

Na capital, a lei que obriga a extinção da sacola plástica no mercado deveria entrar em vigor em 1º de janeiro, mas foi suspensa em caráter liminar a pedido do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo. Como até agora a prefeitura, que teria este direito, não recorreu da decisão da Justiça, não parece interessada em levá-la à frente. Em contrapartida, aceitou a proposta dos supermercadistas de convidar o consumidor a colaborar com o meio ambiente dando preferência às sacolas retornáveis. Parece acreditar mais na conscientização do que na proibição pura e simples que atrapalharia alguns setores do comércio. Sem contar que é dos supermercados que saem em torno de 90% das sacolas.

O dia marcado para as sacolinhas desaparecerem dos cerca de 1.200 supermercados paulistanos é bastante significativo, 25 de janeiro, aniversário da cidade. A campanha “Vamos tirar o Planeta do sufoco” da prefeitura e da APAS tem um mês e meio para convencer o paulistano a abandonar prática comum, ainda hoje, quando cada morador, em média, usa 67 sacolas descartáveis por mês nas compras. Sabe o que isso significa: 664 milhões de sacolas por mês ou oito bilhões de sacolas por ano – algo como 30 mil toneladas de plástico.

Leia a reportagem completa no Blog Adote SP, na revista Época SP

São Paulo tira saco plástico e segue tendência mundial

 

Lixo no Jardim Independência

Texto publicado, originalmente, no site Adote São Paulo, da revista Época São Paulo

Faz algum tempo as sacolas plásticas praticamente sumiram da parte de baixo da pia da minha cozinha. Era lá que as mantinha depois de trazer as compras do supermercado. Serviam para cobrir as lixeiras menores nos banheiros e no escritório e depois eram descartadas dentro de outro saco maior que seria depositado na calçada a espera da coleta.

Meu hábito começou a mudar há cerca de oito anos. Deixei de usá-las no mercado, onde antes de fazer a escolha do que vou comprar busco as caixas de papelão que costumam estar depositadas em algum canto qualquer. Quando não as encontro, peço a algum funcionário.

No carro, tem sempre uma ou duas sacolas retornáveis, pelas quais devo ter pago cerca de R$ 3,00 cada uma. Costumam ser suficientes para as passagens rápidas na padaria e armazéns (ainda existe armazém, em São Paulo ?).

Mesmo com todos estes cuidados, às vezes sou surpreendido saindo de uma das lojas com sacolas de plástico nas mãos. É quase impossível ficar livre delas, assim como da enorme quantidade de embalagens que nos é entregue quando compramos uma roupa, um eletrodoméstico, um objeto por menor que seja. Sempre tem um papel a ser retirado, um plástico cobrindo e placas de isopor protegendo, dependendo do produto.

O que vai para dentro da minha casa, sai em menos de uma semana para contêineres de reciclagem no pátio de um supermercado próximo. Mantenho duas latas de lixo grandes, uma para o material reciclável e a outra para o lixo comum. A primeira sempre enche bem antes do que a segunda.

Passei a cuidar melhor desta questão por vergonha. Meu irmão mais novo, o Christian, havia chegado de Porto Alegre, e me perguntou em tom de puxão de orelha: “Você não tem um lugar para o lixo seco?” – tema comum para quem vivia na capital gaúcha. Sem dar o braço a torcer, puxei a primeira caixa que vi e disse que ele podia jogar tudo ali dentro. Anos depois, com a taxa do lixo pesando no bolso, este processo apenas se acelerou.

A cidade de São Paulo agora tem uma lei que proíbe a venda e distribuição de sacos plásticos no comércio. Foi sancionada e publicada, nesta quinta-feira, pelo prefeito Gilberto Kassab, após discussão e briga na Câmara Municipal. Briga mesmo, pois vereadores se agrediram verbalmente e não fosse o “deixa disso” teriam partido para o tapa, no plenário.

A retirada das sacolas plásticas dos supermercados e comércio começa em 1º de janeiro de 2012. A adaptação com incentivo para o consumidor mudar esta prática se inicia agora. Mesmo assim, ainda tenho dúvidas se a lei vai vigorar por muito tempo, pois a indústria do plástico questionará a constitucionalidade da regra, assim como faz em Belo Horizonte.

Tem muito paulistano que também questiona o efeito da lei. Reclama que esta foi criada apenas para beneficiar os supermercados transferindo o custo das sacolas para o consumidor. Entende que será obrigado a usar os saquinhos pois não haveria onde acondicionar o lixo. E que terá dificuldade para levar as compras, principalmente quando não estiver de carro.

Mudar comportamento é mesmo complicado. Bateu-se pé quando a cidade impôs o rodízio de carros e, atualmente, ninguém tem dúvida que sem ele a cidade estaria inviabilizada. Houve protestos quando fomos obrigados a usar cinto de segurança no automóvel e sabemos que a medida impediu a morte de milhares de pessoas. Não seria diferente na questão das sacolas plásticas.

Os fabricantes muito bem organizados e tendo como principal porta-voz a Plastivida – Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos alegam que não há alternativas consistentes para substituir as sacolas plásticas. O presidente da instituição Miguel Bahiense me disse, com base em estudo britânico sobre o impacto ambiental de diversos tipos de sacolas, que o plástico tem o melhor desempenho ambiental em oito das nove categorias avaliadas. Em entrevista comentou, ainda, que as sacolinhas plásticas têm a menor geração de CO2 em seu processo produtivo e consomem menor quantidade de matéria-prima diante das demais opções.

Gritam, porém, contra uma tendência mundial. A Itália já proibiu. Estados americanos aumentam o cerco. E a Comunidade Europeia lançou consulta pública para decidir o melhor caminho para reduzir o uso de sacolas plásticas. No Brasil, Rio e Belo Horizonte também criaram restrições, além de algumas cidades pelo interior.

Para Fábio Feldman, fundador da SOS Mata Atlântica, a decisão de São Paulo é emblemática e influenciará a forma de se produzir lixo nas cidades brasileiras. “Sinaliza a necessidade de gerar um conjunto de medidas e chama a responsabilidade do setor empresarial, o que levará fabricantes, importadores, comerciantes, além do próprio consumidor, a produzir menor lixo”.

Na conversa que tivemos, Feldman chamou atenção para o fato de que o plástico não é o único problema na questão ambiental. Tem toda razão. É preciso mudar o nosso comportamento em relação a produção de lixo – tema que tem se tornado uma constantes neste blog.

Ainda jogamos bituca de cigarro no chão, acumulamos entulho sobre a calçada, não nos dignamos a separar o material reciclável, sequer pensamos na forma com que consumimos, nem nas embalagens que usamos. Assim como a prefeitura – que adora criar uma lei para os outros – segue lenta na implantação da coleta seletiva.

Dúvidas e polêmicas à parte, comece agora a repensar seus hábitos, inclua na próxima compra algumas sacolas recicláveis, cobre do supermercado a disposição de caixas de papelão, peça para retirar as embalagens em excesso e não esqueça de enviar um e-mail para o prefeito, subprefeitos, secretários municipais e vereadores reclamando medidas mais práticas e urgentes para melhorar a gestão do lixo na cidade.

Melhor isso do que continuar passando vergonha quando receber visita em casa.

“Sacolas plásticas são uma praga urbana”, diz Greenpeace

 

As sacolas plásticas são importantes fontes de poluição e causam a morte de milhares de animais. A afirmação é do diretor de mobilização do Greenpeace, Sérgio Leitão, em resposta a entrevista concedida pelo Instituto Plastivida, ao CBN São Paulo, nessa semana (leia e ouça aqui).

O ambientalista defendeu o fim da distribuição gratuita das sacolas pelo comércio, conforme previsto em projeto de lei que está na Câmara de Vereadores. Leitão entende que esta é a maneira de conscientizar o cidadão da necessidade de se reduzir o consumo deste material.

O representante do Greenpeace explicou que o impacto ambiental das sacolas plásticas se inicia na sua confecção já que sua base é o petróleo, gerador de gases do efeito estufa. Além disso, como levam décadas para se decompor e são usados para ensacar o lixo, ao serem descartados em aterros sanitários impedem que o alimento, por exemplo, se degrade e seja absorvido pelo meio ambiente. Em lugar disso, este alimento apodrece e emite gás metano.

Sérgio Leitão disse que todo o dia são colocados no mercado cerca de 300 milhões de sacolas plásticas: “elas são uma praga urbana”.


Ouça a entrevista de Sérgio Leitão, ao CBN São Paulo

Câmara se omite e não vota uso de sacola plástica

 

Os vereadores decidiram adiar a votação do projeto de lei que restringe o uso de sacolas plásticas no comércio de São Paulo. A resistência da indústria do plástico e a falta de interesse de partidos de oposição em apoiar proposta que tem a autoria do vereador Carlos Alberto Bezerra Jr do PSDB eram as principais barreiras.

Do que se falava desde cedo nos gabinetes e celulares ao impasse no plenário, bastou iniciar a sessão na Câmara Municipal na tarde dessa quarta-feira. Bezerra, indignado, usou a expressão “inexplicável” para definir o que havia acontecido.

Mas tem muitas explicações.

No CBN São Paulo, na manhã dessa quarta, o presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastividas) Francisco de Assis Esmeraldo já havia deixado algumas no ar. A instituição representa os interesses da indústria do setor que fatura algo próximo de R$ 40 bilhões por ano, no Brasil. Defende a redução no consumo a partir do uso de sacolas mais resistentes, capazes de transportar até 6 quilos, e se nega a apoiar outras medidas que possam significar em perdas para o setor.

Na defesa do ponto de vista dos fabricantes, o executivo alegou, inclusive, que o plástico não causa prejuízos ao meio ambiente, contrariando todas as afirmações que já havia ouvido até hoje.

Ouça a entrevista de Francisco de Assis Esmeraldo, do Plastividas, ao CBN SP

Além da influência econômica, que costuma sensibilizar vereadores, houve fatores políticos que atrapalharam o andamento do projeto de lei. Alguns colegas de Bezerra dizem que teria faltado habilidade ao parlamentar tucano que assumiu a autoria de projeto de impacto quando deveria ter dividido a decisão com outros companheiros, a medida que a ideia há algum tempo circula na Câmara.

Ciúmes à parte (e isto move o homem, tenha certeza), o fato de o projeto estar nas mãos de um vereador do PSDB pesou na decisão do PT e Centrão – formado por alguns parlamentares do PR, DEM, PTB e PMDB – que têm andado de mãos dadas devido a eleição para a presidência da Câmara, que deve ocorrer em 15 de dezembro.

A oposição ao projeto teria sido comandada pelo vereador petista Francisco Chagas, ligado ao Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas, Farmacêuticas e Plásticas de São Paulo. A justificativa de que o projeto de lei precisará ser mais bem discutido na Câmara servirá para que a ideia já vigente em outras cidades brasileiras acabe esquecida mais uma vez.

Carlos Alberto Bezerra que se elegeu deputado estadual anunciou que vai apresentar o mesmo projeto na Assembleia Legislativa com alcance para todo o Estado de São Paulo.

Há três anos, lei aprovada pelos deputados estaduais que obrigava a troca dos sacos plásticos por material oxibiodegradáveis, de autoria de um deputado do PT, foi vetado pelo então governador José Serra, do PSDB.