Conte Sua História de SP: Santa Lourdes!

Maria de Lourdes Cocozza

Ouvinte da CBN

Estamos em 1980.


Sou uma universitária que faço a graduação na Unicamp. Vou de manhã de carona para Campinas com amigos que fazem pesquisa — eles têm até carro! — e retorno de ônibus até a rodoviária de São Paulo. De lá, pego um ônibus para o apartamento onde moro.

Estamos em abril. 

Cheguei na Rodoviária e como sempre, sinto-me meio perdida pois a capital é nova para mim. Sou do interior. Ao pegar a carteira para tirar o dinheiro da passagem, não a encontro. Minha bolsa está rasgada e a carteira sumiu. Me desespero e uma pessoa generosa me dá o dinheiro da passagem e me orienta a procurar nos achados e perdidos, meus documentos. 

Acho estranho e a pessoa fala: “sabe garota, muitas vezes o ladrão pega apenas o dinheiro e joga o resto fora”. Fui para casa e no dia seguinte, no mesmo horário, retornando de Campinas, vou até o balcão. 

Várias caixas com embrulhos feito carinhosamente, com elástico de “dinheiro” embalam pertences. As caixas são organizadas pelo alfabeto e há muitas Marias. Eu, uma delas.

Estava lá! O meu nome estava em um embrulho. Entre curiosa e esperançosa, o abri.

O que encontrei? 

Minha carteira de Identidade. Duas imagens de Santo Antônio, o santo de devoção da minha família,  há gerações. E uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes que ganhei em 1975, de minha Madrinha de Crisma, a Dona Chica, pois ela achou interessante o fato de eu ter sido batizada Maria de Lourdes e ter nascido em 1958, ano de comemoração do centenário da Santa. Desde então, essa imagem eu guardo com meus documentos.

Fico muito feliz, saio radiante sabendo que meus Santos me protegeram.

Você deve estar pensando: o que tem de especial esta história de São Paulo? Isso acontece com milhares de pessoas, todos os dias. Sim! Acontece mesmo. Aconteceu comigo, de novo, e de novo, e de novo. Quatro vezes em três anos. E em todas as vezes lá estavam a carteira de identidade, Santo Antônio e Nossa Senhora de Lourdes.

Hoje, estou com 63 anos, já tenho carro, e o Conte Sua História de São Paulo me desafia a abrir a carteira e revelar as memórias agencias que acalantam a alma.  Com imensa gratidão a vocês da CBN e enorme respeito a São Paulo e a alguns patrícios habilidosos que socializaram meus recursos, mas respeitaram a minha fé, me despeço!

Maria de Lourdes Patrocínio da Silva Cocozza Simoni, Lou Cocozza, é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva o seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. para conhecer outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

A polêmica da Santa Cracolândia

 

Por Devanir Amâncio
ONG Educa SP

Santa Cracolândia

Usuários de crack reagiram com indignação ao serem informados sobre o apoio do cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, à obra ” Nossa Senhora do Crack”, do fotógrafo Zarella Neto. A imagem foi erguida na sexta-feira, 22/7, na parede de uma casa abandonada na rua Apa, Santa Cecília, e destruída no sábado de manhã por uma legião de viciados.

A intenção do artista era chamar atenção das autoridades para o ‘campo de concentração da Cracolândia’.

Germano Gerson,de 38 anos, o “Brasília”, viciado em crack há cinco anos, enquanto mostrava os cacos do que sobrou da imagem de gesso da Virgem Maria, acusou os envolvidos no caso da santa de zombar de Deus e da miséria humana. “Sou uma alma penada, como esta ao meu lado – enrolada num cobertor.”

A usuária Tati, 25, uma das mais exaltadas, pretende denunciar dom Odilo ao Vaticano por incentivo à profanação: “Ah, o bispo apoia .. vou na Lan House durante a semana… faço uma carta e envio por email ao Papa-, pode pegar a cópia do documento comigo… Se ele consagrou a ‘santa do crack’, ele (dom Odilo) deve ser enquadrado … Aqui não tem nenhum bobo, tem muita gente de cultura, que quer sair dessa. O pessoal está precisando é de clínica de tratamento e não de santa, e no mais, aqui tem seguidores de todas as religiões, tem até ateu… Respeito é bom! Eles esquecem que na Cracolândia vem professor, advogado, enfermeiro, jogador de futebol… em busca de crack. Eu não vendo, sou vítima, consumidora… como muita gente importante é. Fala pro bispo que a palavra… o apoio dele chegou tarde de mais, o diabo tomou conta de tudo… e o crack chega de bandeja.”