De Santo Antonio

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

Olá,

 

Somos cercados por energias conflitantes, de todo tipo e matiz. Sempre estivemos, acredito, mas o número de humanos vem crescendo e, onde há aglomeração há confusão. A competitividade aumenta, a avidez galopa, o ódio partidário e preconceituoso arreganha os dentes, a solidariedade mingua, a honestidade se limita a termo no dicionário, e você pode aumentar a lista, se quiser, de tudo que está faltando e de tudo que está sobrando. Vai chegar a uma equação que aponta para o desequilíbrio. Esquecemos que somos um só corpo, separados ilusoriamente, e que tirando do outro, tiramos de nós, e vice-versa.

 

Por outro lado, acabamos de viver o dia de Santo Antonio, santo casamenteiro, santo do amor. E amor, sozinho, equilibra qualquer tipo de energia. Do amor brotam todas as benesses. Por isso, neste papo com você, em vez de enumerar erros do lado de fora e do lado de dentro, vou trazer de volta, em homenagem ao amor, meu primeiro poema publicado neste blog em dezoito de maio de 2008.

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

Reminiscências juninas de Paraty

 

Por Julio Tannus

 

Quando eu era criança morava na cidade de Paraty.

As festas juninas, Santo Antonio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho), eram bastante celebradas pelas crianças.

 

As músicas

SONHO DE PAPEL

 

O balão vai subindo, vem caindo a garoa.
O céu é tão lindo e a noite é tão boa.
São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração.
Sonho de papel a girar na escuridão
soltei em seu louvor no sonho multicor.
Oh! Meu São João.
Meu balão azul foi subindo devagar
O vento que soprou meu sonho carregou.
Nem vai mais voltar.

 

CAI, CAI, BALÃO

 

Cai, cai, balão.
Cai, cai, balão.
Aqui na minha mão.
Não vou lá, não vou lá, não vou lá.
T
Tenho medo de apanhar.

 

BALÃOZINHO

 

Venha cá, meu balãozinho.
Diga aonde você vai.
Vou subindo, vou pra longe, vou pra casa dos meus pais.
Ah, ah, ah, mas que bobagem.
Nunca vi balão ter pai.
Fique quieto neste canto, e daí você não sai.
Toda mata pega fogo.
Passarinhos vão morrer.
Se cair em nossas matas, o que pode acontecer.
Já estou arrependido.
Quanto mal faz um balão.
Ficarei bem quietinho, amarrado num cordão.

 

As comidas

E a minha saudade.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier)

Foto-ouvinte: Santo Antônio agradece

 

R. Santo Antonio

A bela foto do nosso colaborador Marcos Paulo Dias se não sensibilizou ao menos mobilizou a prefeitura de São Paulo que decidiu enviar uma equipe até a rua Santo Antônio, na Bela Vista, e fechar a cratera que ocupa o espaço dos carros e pedestres. A foto do conserto – enviada pela subprefeitura da Sé – não ficou tão bonita quanto a do buraco, mas aqui não era a estética que importava.

Foto-ouvinte: Arte no buraco

 

Buraco na Santo Antonio

Tem um buraco no caminho. Um buraco a atrapalhar pedestres e automóveis. Mas que diante da lente da câmera do colaborador do Blog do Mílton Jung Marcos Paulo Dias ganha cores diferentes. A bela imagem captada por ele na rua Santo Antonio, no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, não é suficiente para nos fazer esquecer a falta de cuidado com a cidade.

Conte Sua História de São Paulo: A lanterna

Por Antonio Quadrado

Ouça o texto “A lanterna” de Antonio Quadrado

Gira-fogo, gira-fogo… gira-mundo.

É junho, noite e frio!
Não fossem as lanternas, o duro breu da noite engoliria a todos.

Estamos chegando ao topo do morro, onde nos esperam; da arriscada aventura. Não foi fácil ao pequeno grupo cumprir a missão de afanar as batatas-doces, pinhões e, sobretudo, o quentão que as mães haviam preparado em fogueira montada na rua, frente as casas dos vizinhos – que sabiam se cotizar nos afazeres.

Não seria ali, sob os olhos dos adultos, que a turma iria passar o Santo Antônio; que abria o período das esperadas festas juninas.

Há pouco, de longe, já nos era possível avistar o giro das lanternas em nosso aguardo. Os rodopios circulares, verticais na lateral do corpo ou horizontais sobre as cabeças, só eram superados em destreza pelos movimentos em forma de oito-infinito, frontais ao corpo dos pequenos acrobatas.

O conjunto, dos sincronizados movimentos luz-calor, era de tal belezaque a visão turva, pós-quentão, certamente brotaria em lágrimas, mas que a fumaça das lanternas, faria desculpadas.

A sensação de liberdade que a companhia da turma,a distância dos adultos e a cobertura da noite propiciavam, precisava ser comemorada. Em nenhum outro período do ano seria possívelestar fora de casa depois da Ave-Maria. Não, ao menos, sem a surra de praxe.

Era junho, na periferia da provinciana e ingênua São Paulo, nos idos 60’s.Periferia, hoje quase centro, da principal megalópole do hemisfério sul.

Os garotos do pequeno grupo haviam cumprido a contento sua missão; por isso recebidos, quase como heróis.

As poucas canecas de alumínio, logo cheias do quentão pinga-gengibre-açucar,
eram repassadas entre todos, para dar à festa o clima que faltava.

Os cigarrinhos de machucho, cada um fazia o seu, mantidos acesos mais pelo fogo das lanternas do que pela destreza dos fumantes-recrutas.

Os pinhões eram facilmente divididos; não, as encarvoadas e escaldantes batatas-doces, que só as folhas dos jornais – dos balões-galinha – permitiam segurar para o corte das maiores, já que a grande quantidade de batatas surrupiadas, nunca era suficiente para atender toda a turma.

“Segura a lata, pô! Como cê qué que eu corte a abertura?”

A pedra martela a faca, há pouco subtraída aos olhos da mãe. A abertura de controle da ventilação vai sendo aberta na lata de óleo: uma lingüeta, furada do meio ao piso-dobradiça, na lateral mais larga da lata; de há muito guardada para a ocasião.

A parte superior, já tinha sido aberta. Por ela, e sobre as brasas emprestadas da fogueira, iriam sendo introduzidos os gravetos, sempre renovados, quando consumidos pelo calor do fogo,fonte da luz que permitia ao grupo se deslocar em segurança na noite em minguante.

Em seguida, com o auxílio do prego emprestado, seriam feitos os furos no topo superior das laterais mais estreitas da lata, por onde seria passado o arame de sustentação que permitiria, à mão, ficar longe do fogo e comandar as acrobacias pirotécnicas que, só funcionalmente, serviam para reavivar o fogo. De fato, a lúdica-estética era tudo o que contava.

Era essa imagem, da confecção da lanterna, que povoava a imaginação infantil, enquanto os olhos vislumbravam as, ainda visíveis, miríades de estrelas do céu paulistano daqueles, ainda-novos, tempos.

A imagem se completa: o efêmero vôo piro-fumegante do balão-galinha corta a cena. Uma folha de jornal, cujas pontas dobradas para baixo se juntam por delicada torção, é o que basta para que, ao ter as pontas incendiadas, leve ao céu preces e sonhos da molecada da Turma da Monteiros, da Vila Monumento.

Antonio Quadrado é ouvinte-internauta do CBN SP. Você pode participar do Conte Sua História de São Paulo enviando seu texto ou arquivo de áudio para contesuahistoria@cbn.com.br