Avalanche Tricolor: o uso do cachimbo entorta a boca

São Luiz 2×0 Grêmio

Recopa Gaúcha – Estádio 19 de Outubro, Ijuí/RS

Foto de Richard Ducker/GrêmioFBPA

Existe um velho ditado popular que diz que “o uso do cachimbo entorta a boca”. Ouvia meu pai repeti-lo com frequência lá nas bandas da Saldanha Marinho. O dito serve como um lembrete da importância de observar e refletir sobre nossas ações cotidianas e os hábitos que cultivamos. Sugere que devemos estar atentos às consequências de nossas práticas habituais pois, com o tempo, podem se tornar tão enraizadas a ponto de moldar quem somos, muitas vezes de maneiras que não percebemos ou que podem não ser benéficas.

A boca torta oriunda do hábito de fumar cachimbo encerra uma lição sobre a natureza humana e a formação do caráter, enfatizando a necessidade de conscientização e escolha deliberada sobre nossas ações e comportamentos, para que possamos direcionar nossas vidas de maneira mais saudável e alinhada com nossos valores e objetivos. 

A passividade com que o Grêmio — desde sua diretoria ao jogador de menor expressão do grupo, todos eles com a cumplicidade do seu técnico — aceitou a ideia de ser apenas coadjuvante na decisão de um título regional, lembrou-me da fala do pai que estaria decepcionado diante do que assistimos na noite desta quarta-feira. Assim como estou.

É curiosa esta postura, porque em passado recente ouvíamos o discurso de que o Grêmio estava se acostumando a vencer, ideia que surgia com a Copa do Brasil, em 2016, seguida por uma sequência de conquistas significativas, como a Libertadores de 2017. 

Sob o mesmo comando técnico, hoje, admitimos a ideia de desdenhar da Recopa Gaúcha, desperdiçando a oportunidade de dar ao torcedor uma alegria, por mínima que fosse, após a derrota no clássico Gre-Nal — um resultado, que se diga, foi péssimo e para o qual elegemos o árbitro como bode expiatório para não assumir a fragilidade técnica da equipe. 

Aceitamos a derrota no clássico porque ainda é o primeiro turno do campeonato. Consideramos normal passar à próxima etapa na segunda colocação porque tem tempo para se recuperar. E vamos ao interior disputar um troféu poupando nossos principais jogadores e permitindo que o treinador aproveite seu dia de folga, porque, afinal, vencer mais uma Recopa Gaúcha não vai mudar o rumo da nossa história.

Cuidado, Grêmio, depois que a boca entorta é mais difícil abandonar o cachimbo.

Avalanche Tricolor: Suárez é Imortal!

Grêmio 4×1 São Luís 

Recopa Gaúcha — Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Suárez comemora um dos três gols marcados, em foto de LUCAS UEBEL/GRÊMIOFBPA

Um toque por cobertura, um tapa pelo lado e uma chapada com força para a bola estufar a rede. Em três lances, três gols! Em 37 minutos, Luis Suárez já havia feito sua melhor estreia da longa carreira dedicada ao futebol e havia entregado tudo o que o torcedor gremista poderia esperar para começar esta nova etapa em sua jornada esportiva. 

A ansiedade pela estreia da maior contratação já feita pelo Grêmio em sua história estava por todo o canto, das esquinas de Porto Alegre às entranhas das redes sociais. As arquibancadas pulsavam desde cedo, antes mesmo de os portões da Arena se abrirem. Havia uma inquietude! Um desejo de definitivamente virar a página desconfortável dos dois últimos anos. Não esquecer essa página, porque é preciso lembrar-se da dura lição sofrida para que os erros não se repitam, mas olhar para a frente, se dar o direito à alegria.

Suárez personifica esse novo momento. Por isso, a comoção provocada pelo anúncio das negociações com o craque uruguaio. Por isso aquela multidão no aeroporto a espera do quinto maior goleador do mundo, na apresentação na Arena e nesta noite de estreia, quando mais de 49 mil torcedores foram assistir à final da Recopa Gaúcha. 

A camisa 9 com o nome de Suárez às costas representa muito mais do que se possa imaginar. Sim, o nome do Grêmio ganha destaque no exterior, aumenta o número de sócios e crescem as vendas de material esportivo. Sim, os adversário têm a quem temer sempre que alçarmos a bola em direção ao ataque e nós temos a certeza de que haverá alguém lá na frente com categoria suficiente para concluir às redes.

Suárez no Grêmio é mais do que marketing ou, até mesmo, mais do que futebol. Neste momento, é a retomada do prazer que sentimos diante de uma paixão. É a esperança rediviva. É o renascimento da nossa crença. E, em particular, é a minha oportunidade de recuperar a ilusão e alegria daquele menino que aprendeu a gostar do Grêmio quando sequer nossa imortalidade havia sido testada.

Suárez agora também é Imortal!

Avalanche Tricolor: a bola tem de parar

 

Grêmio 3×2 São Luiz
Gaúcho —- Arena Grêmio

 

 

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Jogadores usam máscara em protesto, na foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

 

A máscara no rosto dos jogadores gremistas e o cumprimento protocolar com os cotovelos, logo após o hino, foram imagens fortes de uma partida de futebol que não deveria ter ocorrido. As arquibancadas vazias —- cena que havia se repetido em outros jogos do fim-de-semana —- reforçavam a falta de noção das autoridades que fecharam os portões para não abrirem mão do espetáculo.

 

Do jogo jogado, foram atípicos o gol marcado pelo adversário aos 28 segundos de partida e a vantagem ampliada aos 18 minutos iniciais —- especialmente se compararmos a performance das duas equipes até aqui na competição. O Grêmio jogava em casa e  fora de sintonia —- quase como se não quisesse estar participando daquele momento. Aliás,  não estava mesmo pelo que se via no protesto da entrada de campo e pelas palavras de Renato antes de a bola rolar.

 

A mudança feita pelo técnico aos 20 minutos do primeiro tempo, com a entrada de Jean Pyerre, em lugar do lateral Orejuela, mostrou que o problema não era apenas de falta de foco, era também de falta de qualidade no toque de bola. O time passou a comandar a partida, apesar de não conseguir fazer os gols que o levariam à virada.

 

Após desperdiçar uma, duas, três, várias chances de gol, fez o primeiro ao fim do primeiro tempo, e voltou para o segundo disposto a colocar as coisas no lugar. Thiago Neves empatou ao marcar pela primeira vez com a camisa gremista e Diego Souza, que o substituiu na sequência, fez o da vitória após cobrança de falta —- na qual chutou primeiro com o pé direito e acertou em cheio o rebote da barreira com o pé esquerdo.

 

O placar estava definido, os três pontos garantidos e a liderança da chave, no Campeonato Gaúcho, mantida. Nada disso foi suficiente para superar a insatisfação de quem se viu obrigado a entrar em campo porque o show não podia parar.

 

Para ter ideia, apenas de jornalistas e radialistas inscritos para cobrir a partida havia mais de 110 profissionais. A eles se somam comissões técnicas, árbitros e funcionários, que precisam trabalhar para dar suporte ao jogo. Uma legião de cerca de 350 pessoas que foram à Arena, neste domingo.

 

Espera-se que não seja preciso levar em frente a ameaça feita por Renato, em nome dos jogadores, de convocar uma greve caso os dirigentes não anunciem até amanhã a paralisação de todas as competições, no Brasil.

Avalanche Tricolor: o Grêmio jogou como se prepara um chimarrão

 

São Luiz 0x0 Grêmio
Gaúcho — 19 de Outubro, Ijuí/RS

 

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Pepê vai ao ataque em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Chimarrão é bebida típica do Sul. Bebida para ser apreciada na calma que a alma pede. Do preparo ao sorver, sem pressa nem pressão. Apenas saboreando o curtir da cuia e o pó da erva-mate escorrendo até preencher dois terços do espaço interno, enquanto a água começa a esquentar no fogão.

 

Curva-se a cuia para dar movimento a erva e desenhá-la conforme manda o figurino. É preciso apuro no preparo da água, pois tem de chegar morna para não queimar o mate e não amargar o chimarrão. Com a erva banhada na água morna, todo cuidado é preciso ao posicionar a bomba que deve ter sua boca fechada com o dedo polegar enquanto afunda na erva — tô pra ti dizer que coisa ruim é chimarrão entupido.

 

Se o serviço for bem feito, basta esperar a chaleira chiar. É o sinal de que a água já bate na casa dos 64º Celsius e está no ponto para ser servida — não pode ferver porque queima a erva e tudo que se fez até aqui se desperdiça.

 

Hoje cedo, após a missa dominical, rezada pelo padre José Bortolini, meu conterrâneo e gremista, de quem já tratei nesta Avalanche, cheguei em casa e aproveitei o sol da manhã, em São Paulo, para preparar meu chimarrão.

 

Cevar o mate logo cedo foi tranquilizador em um dia no qual assisti a alguns amigos e conhecidos se digladiando nas redes sociais, como se a história da humanidade se resolvesse nesse espaço. Ou a história do Brasil ali pudesse ser reescrita.

 

Sozinho, já que a turma aqui de casa nunca se acostumou com este hábito próprio do Rio Grande do Sul, saboreei a erva-mate até a cuia roncar. Uma, duas, três, quantas vezes a garrafa térmica cheia de água permitiu.

 

O tempo passou fácil, o pensamento foi longe e o coração bateu mais leve — sequer parecia que ao fim do dia estaria diante da televisão para torcer pelo Grêmio em mais uma partida decisiva, dessas muitas que fazem parte do nosso concorrido calendário.

 

Por falar em Grêmio. Tive a impressão de que o time de Renato entrou em campo hoje à noite com a mesma disposição de quem prepara um chimarrão.

 

Não que tenha estado abaixo do ritmo que a disputa por uma vaga na final exige —- especialmente estando no campo de um adversário motivado com o feito que pode ser histórico. Longe disso.

 

Via-se que nossos jogadores se esforçaram para encontrar espaço para entrar na área ou quem sabe chutar de fora. Forçou por um lado. Forçou pelo outro. Forçou pelo meio. Arriscou-se em alguns momentos mas sempre transmitindo a sensação de que estava tudo sob controle.

 

Quando digo que o Grêmio parecia preparar o chimarrão é porque dava sinais de que sabia que o caminho à final dependeria do resultado das duas partidas, e a segunda e decisiva seria mesmo diante de sua torcida, na Arena.

 

Precisava ter calma, retomar a bola do adversário, mantê-la sobre seu domínio e esperar o momento certo para atacar. Talvez tenha apenas faltado um pouco mais de atenção com a temperatura do jogo —- sabe aquilo que falei da água do chimarrão? Tava morno de mais. Talvez tivesse de deixar esquentar, sem ferver. Como se faz no bom chimarrão.

 

O importante é que o empate nesta primeira partida da semifinal em nada vai tirar o sabor do que realmente nos interessa: a Libertadores, que volta na próxima quinta-feira com o desafio de vencermos fora de casa, no Chile. E lá, pelo que sei, servem chimarrão frio — que coisa mais sem graça, não!?

Avalanche Tricolor: começou o Campeonato Gaúcho

 

São Luiz 1 x 1 Grêmio
Gaúcho – Estádio 19 de Outubro/Ijuí RS

 

 

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Lance do primeiro gol no Gaúcho de 2018 (reprodução Premier)

 

Tinha campo encharcado, charanga na arquibancada e alambrado ao lado da linha lateral. Teve gente metendo a mão no peito e gritando com o adversário. Juiz atrapalhado e pressão por todos os lados.

 

Tinha até um Anchieta em campo pra gente rememorar os grandes momentos de 1977 quando nosso capitão levantou a taça daquele histórico campeonato, no saudoso estádio Olímpico. Soube que é neto do nosso capitão.

 

Tinha a cara do Campeonato Gaúcho. Pena ser uma quarta-feira à noite. Sou do tempo em que o Estadual era inaugurado com pompa e circunstância. E domingo à tarde, dia nobre do futebol.

 

Hoje, joga-se o Gaúcho na hora e data em que der. É preciso encaixar o campeonato nos dia vagos do concorrido calendário do futebol brasileiro e estrangeiro. É que, ao contrário de outros por aí, além do estadual, brasileiro e Copa do Brasil temos nossos compromissos fora do Brasil. E tem, também, Copa do Mundo a interromper nossa caminhada aos títulos desejados.

 

Independentemente do espaço e da importância da competição no calendário gremista, assim como você, caro e raro leitor (gremista) deste blog, eu quero vencer. Quero comemorar títulos. Fazer festa na Goethe (mesmo que metafórica já que moro distante de Porto Alegre). Dar volta olímpica. Levantar taça. Ver meu time brilhando, sempre. E, convenhamos, começar a temporada com um troféu do Gaúcho no armário  sempre dá ânimo diferente.

 

Do time que entrou em campo, conhecia poucos. Parte por minha distância do dia a dia do clube; parte porque a gurizada é nova, mesmo para quem está atualizado com o cotidiano do clube. Mas gostei do atrevimento deles. Apesar do gramado com acúmulo da água, tocaram bola, ensaiaram trocas de passes, se entusiasmaram com os dribles, deram uma caneta aqui, se desvencilharam da marcação ali. Jogaram sério na defesa e evitaram riscos.

 

Especialmente, tiveram a oportunidade de, em campo, realizarem um sonho, como disse ao fim do primeiro tempo Matheus Henrique. No caso dele, o sonho de marcar um gol. Nosso primeiro gol no Campeonato Gaúcho de 2018: “tenho noção do tamanho da camisa do Grêmio!”. Sem dúvida, Matheus, uma camisa com a qual muitos sonham. Mas poucos, como você, têm o privilégio de vestir!

Avalanche Tricolor: se é pra sofrer, que se vença

 

Grêmio 0 (5) x (4) 0 São Luiz
Gaúcho – Arena

 

 

Se pode complicar por que simplificar? Se pode sofrer por que não levar a decisão para os pênaltis? Tem sido assim e, mesmo quando teríamos condições de fazermos diferente, tendemos a manter a escrita. Ganhamos no limite. Ou empatamos se for preciso. E assim foi nessa noite de segunda-feira quando decidimos a vaga às semi-finais da Taça Farroupilha na cobrança de pênaltis. A boa notícia é que parece termos aprendido a batê-los, pois pela segunda vez, em três meses, superamos nossos adversários convertendo todas. E com categoria como fez o jovem Biteco, a quem foi reservado o prazer de acabar com o nosso sofrer.