Apesar dos pesares, Felipão e o Grêmio se preparam para iniciar mais uma Avalanche Tricolor

 

Cruzeiro 1 x 0 Grêmio
Brasileiro – Mineirão (MG)

 

1_bastidores21.11 009_l

 

Os comentaristas de resultado já estão com sua língua afiada para criticar Luis Felipe Scolari e o Grêmio que sofreram mais uma derrota, neste Campeonato Brasileiro. Brincadeiras e ironias vão se misturar na boca de torcedores adversários, pois estes têm pouco compromisso com a realidade. Nós, porém, não podemos nos abalar com o que aconteceu na noite desta quinta-feira, em Belo Horizonte. Temos de entender que o time está sendo reconstruído. É apenas a terceira rodada em que Felipão comanda a equipe. Alguém vai lembrar que sua campanha é fraca até o momento: duas derrotas e uma só vitória e contra equipe sem tradição. Não podemos cair nessa armadilha e atrapalhar o trabalho que, nitidamente, vai dar resultado em breve.

 

Diante do único adversário realmente forte nesta competição, e na casa dele, o Grêmio demonstrou futebol mais bem estruturado e lógico do que apresentava até aqui. Com jogadores bem posicionados e um conceito de jogo inteligente, criou mais oportunidades de gols no primeiro tempo. E quando digo oportunidades de gols, não são aqueles chutes fortuitos que os estatísticos registram como válidos. Refiro-me a ataques bem construídos como a primeira jogada de Dudu que infernizou a defesa cruzeirense e só foi parado pelo goleiro. Ou aos dribles de Luan que ludibriava o marcador com suas passadas lentas e olhar insosso.

 

Não lamento o gol que levamos, mesmo porque é difícil conter um ataque tão intenso por tanto tempo. Lamento, sim, não termos marcado quando tivemos chances. Infelizmente, mais uma vez faltou-nos o matador, aquele que decide a partida nos raros instantes em que as oportunidades surgem. Essa sim é uma carência na equipe de Luis Felipe Scolari que foi obrigado a escolher a terceira opção depois de ver dois de seus atacantes principais machucados, em duas partidas seguidas. Assim como foi levado a mudar a equipe no intervalo devido a lesão de um de seus mais consistentes volantes. Gols desperdiçados abalam a confiança e fortalecem o adversário.

 

Independentemente do que disserem, Luis Felipe Scolari e o Grêmio têm de seguir apostando nesta equipe – talvez com mudanças pontuais – e se conscientizar que apesar da diferença de pontos para o líder, não podemos desistir da busca pelo título. Há ainda mais do que um turno pela frente para a nossa recuperação. Ponto a ponto, vitória a vitória, sofrimento atrás de sofrimento. Assim nós conseguiremos asfaltar a caminhada ao topo da tabela. Felipão já mostrou que tem condições de comandar mais uma Avalanche Tricolor.

 

A foto deste post é do site Gremio.Net

Avalanche Tricolor: a volta de um Imortal

 

16747450

 

Luis Felipe Scolari estava feliz. O presidente Fábio Koff, também. Sentimento que foi compartilhado com os cerca de 10 mil torcedores que estiveram na Arena Grêmio para recepcionar o novo velho treinador. Há milhões de gremistas que, como eu, comemoraram do seu jeito a volta de Felipão 18 anos depois de ter nos oferecido algumas das maiores alegrias que o futebol poderia nos dar: ser campeão. E foi este o grito que surgiu das arquibancadas assim que ele apareceu no gramado, nesta tarde de quarta-feira, para abafar as vozes que teimavam – e tinham seus motivos, é lógico – em lembrar as derrotas recentes pela seleção brasileira. Dentre esses últimos havia muitos gremistas, sem dúvida, reticentes com a contratação, descrentes na recuperação do técnico ou temendo assistir ao ocaso do ídolo.

 

Logo que soube do convite feito a Felipão lembrei-me de uma camisa antiga que tinha do Grêmio, surrada pelo tempo, com o tricolor desbotado pelas inúmeras vezes que passou na máquina de lavar. Salvei-a duas ou três vezes do saco de roupas velhas que seriam dispensadas pela minha mulher até que foi definitivamente levada embora por ladrões que entraram na minha casa. De todas as camisas, medalhas e outros quetais do Grêmio roubados, há dois anos, é dela que mais senti falta. Seu valor não estava na qualidade do tecido, no quanto estava preservada ou não, mas nas lembranças impregnadas em sua malha. Nos momentos de alegria e sofrimento que havíamos passado juntos. Felipão é um pouco aquele camisa, desgastado pela vida, marcado pelas críticas, com brilho precisando de um lustre, mas sempre capaz de reavivar nossa memória pelas graças alcançadas.

 

O desempenho do time e os resultados em campo precisarão aparecer logo para que a confiança contamine o estádio por completo, e Felipão sabe disso mais do que ninguém. A estreia dele será no Gre-Nal, na casa do adversário, e temos consciência que com menos de dez dias de comando é impossível ter o time planejado dentro de seus conceitos. Mas uma vitória nessas circunstâncias, seria o sinal que está faltando para os incrédulos perceberem que a mística dele é tão maior e mais importante do que seu trabalho. É crendo nesta mística construída a partir de trabalho muito duro que estou apostando no sucesso do Grêmio e de Felipão (o que talvez não signifique muito, pois eu sempre aposto no Grêmio). Chego a ter alucinações de que o destino começa a escrever mais uma incrível história no futebol, oferecendo a oportunidade para que o técnico que já venceu quase tudo em sua carreira, mas foi duramente golpeado em sua reputação pela performance da seleção na Copa 2014, renasça levando o Grêmio à Libertadores – quem sabe até pela conquista da Copa do Brasil -, ao título sul-americano e ao Mundial Interclubes. Em meu sonho, sem nenhuma lógica, Scolari comandaria o Grêmio em uma final contra o alemão Bayern de Munique e, nos penaltis, após disputado empate em 0 a 0, ratificaria ao Mundo sua capacidade e força. Felipão se transformaria em lenda.

 

Os que desde o anúncio da contratação do técnico me criticam pela satisfação com que o recebo têm minha compreensão. É difícil mesmo de explicar esta sensação que nos move, esta confiança quase sem sentido que nos faz acreditar na força de uma história, em resultados considerados impossíveis e vitórias inimagináveis. Apenas lamento que não sejam capazes de saborearem o prazer de serem um Imortal.

Fora de Área: problema resolvido, já encontramos o culpado

 

2402139_big-lnd

 

No meio das lágrimas e vergonha dos jogadores brasileiros, ainda dentro de campo, Luis Felipe Scolari bateu no peito e assumiu a responsabilidade pela goleada. O gesto foi reproduzido em palavras na entrevista coletiva logo após a partida e não esperava outra atitude do técnico que fez história no futebol brasileiro e não merecia levar para o currículo a tragédia que assistimos na semifinal da Copa do Mundo. Independentemente do comportamento dele, a Alemanha ainda não havia completado o estrago no currículo da nossa seleção e boa parte dos dedos já apontava para o técnico como o culpado pela perda da vaga à final diante de uma placar catastrófico. A despeito de termos alguns jogadores afastados do grupo depois do Mundial, pelo visto a responsabilidade vai recair sobre as costas largas de Felipão. Como é praxe no Brasil, tanto quanto estamos sempre em busca de heróis que salvem a pátria de todos os seus males, também somos prósperos em encontrarmos um Cristo para pagar nossos pecados. Felipão foi o condenado agora, assim como Barbosa, em 50, Ronaldo, em 98, e Dunga, em 2010, apenas para lembrar alguns desses nomes. Com isso nos livramos da necessidade de analisar mais profundamente nossas incompetências e, principalmente, de encarar mudanças estruturais que exigem coragem e troca de poder. Esse, para mim, é o ponto crucial no esporte brasileiro: encontrar pessoas com capacidade de reorganizar o desenvolvimento de talentos, investir em administrações profissionais e adaptar nossa formação tática às estratégias mais modernas.

 

Felipão pagou por não ser Felipão, treinador que nunca se incomodou com a crítica, entendia o tamanho de seu time, posicionava-o dentro dos limites de cada um de seus jogadores e sabia que à vitória se chega por caminhos muitas vezes tortuosos. Apostou na formação tática que vinha jogando até aquele momento, apenas substituindo nomes por suspensão ou lesão para enfrentar a Alemanha, quando poderia investir na presença de mais volantes e voltar a ouvir que é um retranqueiro e traía a forma de se jogar no Brasil, mas, talvez, sair com uma derrota menos escandalosa. Sim, porque o risco de uma vitória nossa frente ao poder alemão e as limitações brasileiras era pequeno apesar de possível, afinal sabemos que o futebol é das poucas modalidades em que forças diferentes podem se enfrentar e o mais fraco sair vitorioso. É baseado nessa verdade, por sinal, que sempre mantenho minha crença na conquista mesmo sabendo das dificuldades que vínhamos enfrentando. Sou um torcedor contumaz do meu time, da nossa seleção e de algumas personagens que aprendi admirar: Felipão é uma delas. Mais do que ser goleado na semifinal da forma como fomos, lamento por Luis Felipe Scolari ter sido escalado na função de culpado de todos nossos males. Seja porque é injusto com seu histórico e méritos seja porque servirá para mais uma vez não aprendermos com nossos erros e aproveitarmos essa derrota para fazermos as mudanças necessárias.

 

Fato consumado, e a espera de um milagre que nos faça sair com um mínimo de honra neste Mundial, vencendo a Holanda no sábado, em Brasília, fico com a impressão de que o Brasil é um país fadado a perder suas Copas em casa. Parece ser o preço que pagamos ao destino por sermos o maior campeão de todas as copas. E isto ninguém vai tirar da nossa história.

Fora da Área: Felipão joga com as palavras para motivar o Brasil

 

 

A coisa está do jeito que o diabo gosta. Sob pressão, necessitando do resultado a qualquer custo e sem espaço para favoritismo, Luis Felipe Scolari sabe como poucos motivar sua equipe, unir o grupo e tirar 110% de cada um de seus jogadores. Foi Renê Simões, que já treinou algumas equipes no Brasil e a seleção feminina, quem me chamou atenção, em entrevista ao Jornal da CBN: Felipão sabe bem atuar neste cenário. E nós que já torcemos pelos times treinados por ele sabemos mais ainda. Por tudo isso, arrisco dizer que o empate contra o México, semana passada, talvez tenha sido o ponto de partida para o Hexa, que muitos começaram a duvidar após as duas apresentações claudicantes do Brasil, pelo grupo A e, especialmente, pelos primeiros resultados de seleções como Alemanha, França e Holanda. O resultado colocou as coisas nos seus devidos lugares. Desde o título na Copa das Confederações havia um otimismo exagerado em torno da nossa seleção que vale muito mais pelo seu conjunto do que pela excelência individual, exceção a Neymar, único com capacidade de colocar a bola embaixo do braço (ou do pé) e desequilibrar sozinho a partida. O Brasil chegou com uma mão na taça, acreditavam muitos. Um tremendo risco de sairmos com as mãos vazias.

 

Desde o empate, Scolari tem comprado briga nas entrevistas coletivas. Criticou, em tom de ironia, logo após o jogo, de que estava proibido marcar pênalti a favor do Brasil. Nesse domingo, na última fala aos jornalistas antes de a partida decisiva com Camarões, Felipão disse que o técnico Louis van Gall é burro ou mal-intencionado. Foi seu contra-ataque após ouvir o holandês reclamar que o Brasil poderá escolher o adversário na próxima fase pois jogará depois de Holanda e Chile, que decidem primeiro e segundo lugares no grupo B, da Copa. Disse, repetiu e completou: “bem que o Rivaldo havia avisado”. Ou seja, não disse mas deu a entender: o mal de van Gall não é a inteligência, é o caráter. Além de conhecer muito de futebol, Scolari sabe que as palavras, em público e em grupo, são importantes. Podem influenciar o juiz, o adversário e a torcida. Principalmente, podem motivar os jogadores. Ronaldo, o Fenômeno, confidenciou a amigos que nenhum técnico em sua carreira fazia preleção de tanta qualidade e motivação quanto Scolari. Depois de ouvi-lo no vestiário, disse o atacante, os jogadores sobem para o gramado dispostos a matar ou morrer.

 

Nesta segunda-feira, Luis Felipe Scolari, além de repassar a estratégia tática e o posicionamento em campo, usará todos os artifícios para mobilizar novamente seus jogadores na busca pela classificação. Falará das críticas que o time tem recebido, da desconfiança que começa a gerar, da provocação dos adversários, de que todos querem tirar o Brasil da Copa e tudo mais que ele encontrar como motivo para mexer com os brios de nossos atletas. Vai escalar a mesma equipe que começou a Copa, informam os repórteres que acompanharam o último treino. Sua intenção é clara: sinalizar o quanto confia em cada um deles. Aposta que com confiança os volantes terão melhor desempenho, os alas chegarão mais na linha de fundo, o meio de campo articulará a bola com mais qualidade e nossos atacantes, especialmente Fred, deixarão sua marca. Com confiança e futebol, duas coisas que Felipão entende muito.