“Seguradoras estão mal informadas”, diz gerente do Rodoanel

 

A polêmica sobre o roubo de cargas no trecho sul do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, levou a Dersa atacar as operadoras de seguro que se negam a permitir que caminhões de carga utilizem o acesso para o litoral paulista. O gerente de operações Paschoal Vargas Sobrinho disse que as seguradoras estão mal informadas, e não entende a restrição imposta, pois não teria havido nenhum roubo desde o início das operações, em 1º de abril.

Apesar de confirmar a existência de pontos em que não há sinal de telefonia celular, o que dificulta o monitoramento dos caminhões de carga, Paschoal Sobrinho diz que o trecho sul do Rodoanel é bastante seguro em função das característica da rodovia. “Não existem rotas de fuga”, explicou o gerente.

Quando a crítica de que os caminhões estariam preferindo seguir por dentro de São Paulo em lugar de usar o trecho sul do Rodoanel, Paschoal Sobrinho disse que também não se confirma. Atualmente, 70 mil veículos passariam por dia pela rodovia, aumento de 5% em relação há três meses.

Seguros ‘proíbem’ caminhões de andar no Rodoanel Sul

Para saber o que dizem as operadoras de seguro e os transportadores de carga, acesse os links a seguir:

Sem números, seguradoras insistem em restrição ao Rodoanel

Sem número, seguros insistem em restrição ao Rodoanel

 

Mesmo sem números que comprovem a informação, as seguradoras insistem na restrição ao transporte de cargas no trecho sul do Rodoanel, em São Paulo. De acordo com o presidente da Comissão de Transporte da Federação Nacional das Seguradoras Jair Carvalheira as faltas de sinal de telefonia celular, policiamento e iluminação no local aumentam o risco de roubos. A recomendação é que as transportadoras que usarem a rodovia estejam com escolta particular, caso contrário a seguradora não pagará indenização pelo desaparecimento da carga.

Ouça entrevista com Jair Carvalheira da Fenaseg

Conforme informado no Blog, sexta-feira (15.07), o Governo de São Paulo diz que não há nenhum registro de roubo de carga no trecho sul do Rodoanel desde a abertura ao tráfego, em 1º de abril. O CBN São Paulo conversará sobre o assunto, amanhã, com representante da Secretaria Estadual de Transportes.

A violência diminui na África, só até o fim da Copa

Direto da Cidade do Cabo

Jornal da Cidade do Cabo

Duas moças apareceram mortas dentro de uma casa em Parrow, região bem distante dos olhos dos turistas que estão na Cidade do Cabo. Talvez do alto da Table Montain, visitada aos milhares todos os meses, um observador mais atento, de costas para o mar, conseguisse enxergar no horizonte resquícios deste distrito que está no subúrbio e assistiu ao seu empobrecimento, desde o Apartheid. Uma com 20 e a outra com 19, eram amigas de escola e a suspeita é que foram assassinadas por um rapaz que as conhecia. A mais velha das duas vinha se recuperando do vício das drogas, mas parece ter perdido a luta. A polícia promete investigar os motivos do crime e imagina apresentar o matador em breve.

O duplo assassinato vai parar na primeira página dos jornais locais muito mais pela relação que havia entre as duas estudantes e o provável assassino, pois sem o olhar jornalístico da busca do sensacional, o caso seria apenas mais um a fazer parte da crônica de violência contada todos os dias nas cidades da África do Sul, que dominam a parte mais baixa das listas internacionais de pesquisas sobre qualidade de vida.

Por contraditório que pareça, o Cabo que surge no topo destas classificações (é a quarta colocada entre cidades do Oriente Médio e África, segundo pesquisa mundial da Mercer que presta serviço na área de consultoria) não consegue esconder a chaga provocada pela brutalidade. Está aqui a mais alta taxa de homicídio do país com 62 assassinatos por 100 mil habitantes, surpreendente para quem anda nas ruas bem policiadas, neste período de Copa.

Policia na Cidade do Cabo

Para o Mundial, o governo africano incrementou em 44 mil o número de policiais para tentar controlar a violência. Hoje, são 190 mil de acordo com dados oficiais. E especialistas em segurança veem com otimismo o resultado alcançado até aqui, apesar das constantes notícias de turistas, jogadores e jornalistas assaltados, principalmente em cidades como Johannesburgo e Durban. Ontem mesmo, colegas nossos tiveram o cofre de seus quartos arrombado e todo o dinheiro levado embora. As estáticas mostram que o roubo é o “esporte preferido” dos bandidos sul-africanos.

Instituições que estudam questões relacionadas a segurança pública afirmam que os cerca de R 1,2 bilhão investidos no setor para a Copa do Mundo – isto representa algo em torno de U$ 173 milhões – tem reduzido os índices de violência. Gareth Newham, do Instituto para Estudos da Segurança, comparou as taxas de crimes com a Copa do Mundo de Críquete (esporte levado a sério por aqui), em 2003, e calcula que houve, com a de futebol, uma redução de até 24%, segundo informa o jornal sul-africano The Times. Andre Snyman da organização Eblockwatch lembrou que, historicamente, nos meses de maio e junho as taxas são menores se comparadas com setembro, outubro, novembro e dezembro, porém é evidente que a forte presença do policiamento tem inibido os bandidos – por incrível que possa parecer àqueles que nestes sete dias de Copa já foram vítimas de alguns deles.

Long Street na Cidade do Cabo

Ao passear pela mais antiga rua da Cidade do Cabo, Long Street, onde bares com arquitetura vitoriana destacada pela presença de balcões sobre a calçada recebem turistas e moradores locais, chama atenção uma outra característica nas fachadas. O comércio mantém portas de grade na maioria das vezes fechadas nem sempre, porém, altas o suficiente para impedir a invasão de algum assaltante que queira se aventurar na área.

Os portões de ferro se devem a dois fatores, e o primeiro é psicológico, dizem alguns por aqui: há uma paranoia que toma conta das pessoas que vivem em uma cidade na qual se tem notícia a toda hora de algum crime. Pergunto-me se aí onde você vive também não ocorre o mesmo. O segundo motivo é histórico: foi a forma dos brancos se protegerem de invasões que imaginavam seriam cometidas pelos negros ao fim do Apartheid.

O regime que separou as pessoas por cor, raça e horror ainda se reflete na sociedade sul-africana de maneira contundente. Os avanços que a luta de Nelson Mandela implementou são evidentes, mas a cicatriz aparece na pele, na arquitetura e na vida dos negros.

Distrito 6 na cidade do Cabo

Hoje mesmo, estive no Distrito 6 de onde cerca de 60 mil pessoas foram arrancadas de suas casas, a partir de 1966. Além de um museu que lembra aquela barbaridade, quarteirões vazios tomados pela grama e erva daninha foram mantidos para chamar atenção do crime cometido com este povo. Uma injustiça que começou a ser desfeita apenas em 1994.

Atente-se para as datas. O Brasil conquistava o Tetra nos Estados Unidos, quando o regime de segregação estava vindo abaixo. A história é muito recente e ainda viva na África do Sul. Por isso, criticar o país e seu povo pela violência e pobreza que ainda imperam é injusto se não levar em consideração a deterioração sofrida pela sociedade sul-africana.

Injusto, também, é esta gente continuar sendo vítima de uma elite política que ascendeu ao poder na carona de Nelson Mandela e tem esquecido parte de seus ideais. Motivo de seu descontentamento com os organizadores da Copa do Mundo 2010, pois o líder eterno deste país esperava que os jogos trouxessem não apenas visibilidade, mas benefícios concretos para os cidadãos. A ele não bastava um sistema de segurança que se desfizesse assim que a Fifa e sua famiglia fossem embora daqui – o que vai ocorrer no dia 11 de julho. Era preciso uma ação capaz de tirar o país do topo da classificação dos mais violentos do mundo, que transformasse a sociedade sul-africana mais segura não para mim, que voltareiao Brasil em algumas semanas, mas para seu próprio povo.

Morador de rua na Cidade do Cabo

A riqueza apareceu nesta Copa para quem a comanda, para os patrocinadores e seus patrocinados. Alguns segmentos faturaram mais, sem dúvida. Porém, muito do que poderia ficar por aqui foi parar nas mãos de gente lá fora e a renda não foi distribuída como Mandela sonhou.

Por isso, penso naquele senhor maltrapilho, com cheiro de cachaça, sentado na calçada assistindo ao passeio dos turistas em uma rua no centro da Cidade do Cabo. Ele estava sentado, sujo, desconsolado e triste. E, certamente, não se deve ao mal futebol jogado pela seleção da África do Sul.

Pauta #cbnsp: “Derrubar minhocão é factóide”

 

High Line conquistou nova-iorquinos desde a inauguração em junho

High Line conquistou nova-iorquinos desde a inauguração em junho

O anúncio do prefeito Gilberto Kassab (DEM) de que pretende derrubar o Minhocão, em São Paulo, é um factóide, disse o arquiteto Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. Concorda com ele, o engenheiro urbano Luiz Célio Botura que chamou a medida de “publicidade política”. O próprio prefeito ao ser entrevistado na rádio CBN sobre o tema disse que “não há projeto”.
Para entender melhor a intenção da prefeitura de São Paulo,
acompanhe as reportagens e entrevistas que estão na página da CBN SP

Enquanto o projeto não vem, deixo a sugestão que encontrei em Nova Iorque, onde a linha de trem abandonada na região de Chelsea se transformou em um parque suspenso (foto acima e post aqui)

Leia e ouça outros destaques na pauta #cbnsp:

Violência na agência – Um aposentado com marcapasso foi impedido de entrar em agência do Banco Bradesco, discutiu com o segurança e foi baleado na cabeça. Outro cliente foi ferido, também. A pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP Viviane Cubasdisse que o comportamento é resultado da falta de qualificação desses profissionais que atuam na segurança privada, fator que também atinge policias.

O cliente baleado está internado em estado grave,
segundo reportagem da CBN

Noite Paulistana – Saiba quais os destaques da música, do cinema e do teatro neste fim de semana em São Paulo, nas sugestões de Janaína Barros

Atenção senhores moradores, voo chegando

 

Prédio na cabeceira de Congonhas

Esta é a imagem que o piloto tem ao se aproximar para o pouso na cabeceira 35 do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, pelos lados do bairro do Jabaquara. O ouvinte-internauta Armando Italo, nosso colaborador, chama atenção para o prédio que aparece no meio do caminho. Lembrou-se do fato ao ouvir entrevista com o comandante Carlos Camacho, diretor de Segurança de Voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, ao Jornal da CBN, na qual falou sobre os riscos nas operações em Congonhas. Disse, por exemplo, que é perigoso descer no aeroporto da capital, principalmente com chuva e à noite, pois não há área de escape suficiente.

Armando gostaria de saber quem permitiu a construção do prédio neste local.

A entrevista do comandante Carlos Camacho você acompanha aqui.

Trinta anos para não serem esquecidos – parte II

 

Os anos de 1950 a 1980 foram marcantes para a indústria de ônibus no Brasil. Na segunda parte desta história, as mudanças que trouxeram mais conforto e segurança para os passageiros

Primeiro Modelo articulado produzido em série

Por Adamo Bazani

Foi a partir dos anos 1970 que a relação entre empresas de ônibus, montadoras e fabricantes se tornou mais estreita. As empresas traziam os problemas e ajudavam nas soluções ativamente.  Muitas delas começaram a fabricar os próprios ônibus ou componentes. A Scania, nos chassis B 110 e BR 115, lançou a suspensão a ar, uma exigência de operadores que transportavam em regiões de difícil acesso e asfaltamento quase inexistente. A empresa Itapemirim faz um dos primeiro protótipos de ônibus trucado, tribus, ou de três eixos, sobre um monobloco Mercedes Benz.

A preocupação dos órgãos reguladores em relação ao conforto dos passageiros, por pressão de usuários e diante de muitos acidentes e problemas de saúde provocados na operação dos ônibus, era mais presente nos anos de 1970. A Resolução 448, de 1971, que determinou índices máximos permitidos para a emissão de ruídos, foi um marco importantíssimo. A buzina do ônibus só poderia emitir até 104 decibéis, o barulho do motor de até 185 cavalos estava limitado a 80 db e os modelos superiores a 185 cavalos, a 92 db.

Assim como Itapemirim e Mercedes, com o Tribus, em 1972, mais uma mostra de que a década seria a da parceria. No mesmo ano foi lançado no Salão do Automóvel o modelo Dinossauro, em duralumínio, parceria entre a Viação Cometa, Ciferal e Scania. O ônibus seguia o padrão dos GM americanos, e trazia itens inéditos para o conforto de passageiros e motoristas, como melhores visibilidade e posicionamento dos bancos, duralumínio na lataria e motor mais potente.

Em relação a legislação, 1973 foi um ano que trouxe uma das regras mais importantes em benefício aos passageiros: o seguro obrigatório para usuários dos transportes em caso de acidentes. Além disso, tornou-se obrigatório o tacógrafo: um aparelho com discos que registra os dados da viagem, como velocidade, horário e forma de o motorista dirigir.

Seria inocência dizer que essas resoluções partiram apenas da boa vontade dos governantes. Surgiram, sim, depois de muitas pessoas terem perdido a vida e prejudicado a saúde em acidentes, que poderiam ser evitados.

Em 1974, para acompanhar o sistema nacional de transportes por passageiros e garantir o cumprimento de todas as regras, o Departamento Nacional de Estadas de Rodagem – DNER criou a Diretoria do Transporte Rodoviário, intensificando a fiscaliação das viagens de ônibus nas estradas.

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Vaidoso sim, vaidade não

 

Por Abigail Costa

Vaidade. Os sintomas são falta de humildade, ignorância, prepotência e outros males.

Essa é uma doença grave que atinge homens e mulheres. Em comum um cargo, uma cadeira, uma mesa e pelo menos um subordinado. Às vezes, nem isso é necessário para a manifestação da doença.

Os mais sensatos já administram a vaidade como uma epidemia.

A medicação ainda que oferecida de graça e em largo estoque geralmente não é bem aceita.

Não falo da vaidade em ter o melhor carro, em querer a roupa da moda, em desejar uma jóia no aniversário de casamento. Falo da vaidade de uma estima exagerada de si mesmo. Uma afirmação esnobe da própria identidade.

Aliado a um mísero cargo, é de chorar … de raiva.

Estava eu outro dia, começo de noite, com uma entrevista agendada. É claro, quase mais ninguém no prédio. Cheguei, indentifiquei-me, o segurança não sabia quem era e muito menos onde estava o sujeito que eu procurava. Saquei o celular da bolsa e liguei direto para o promotor.

“Minha sala é a número tal, rua F”.

Calcule: Rua dentro de um prédio. Agora, pense de como uma portaria é longe da outra. O segurança balançou a cabeça negativamente:

– “Não, ninguém poderá acompanhar a senhora sem antes falar com o assessor de imprensa”.

– “Mas o promotor disse que nós podemos ir direto!

– “Na sala dele manda ele. Aqui, mando eu”.

Na casa dos outros até estando certa, se abaixa a cabeça. Lá vamos nós, câmera, tripé, equipamento de luz, sacolas com bateria e meu sapato salto 15. Ou seria 22 ? Subimos rampas e mais rampas em busca do cara para autorizar nossa passagem. Quando encontrei, segurei a língua.

– “Não precisava vir aqui, por que vocês não foram direto?”

Descemos rampas e mais rampas, passei de novo em frente ao segurança. Ele sentiu que eu estava para estourar:

– “Só estou cumprindo a minha função”.

– “Meu senhor, isso eu entendo. Agora, a opção em me fazer de idiota é sua”.

Pra mim a vaidade não é um dos sete pecados capitais. Ela é o pecado. Fere o outro, maltrata a alma.

O pior é que o dono da vaidade sente-se orgulhoso. Quem é maltrado sente mais do que humilhação. Essa doença é tão perigosa que desencadeia na vítima uma série de sentimentos ‘não-santos’.

No mínimo, você imagina:

“Tudo bem, quando morrer esse sujeito também vai pro buraco”.

Isso se alguém empurrar.

Abigail Costa é jornalista, escreve às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung e ai de quem decide pisar nos calos dela.

O alarme do Banco do Brasil

 

Aumente o volume do seu computador e clique no vídeo à disposição neste post para ter ideia do que os vizinhos da agência do Banco do Brasil, na Teodoro Sampaio, bairro de Pinheiros, em São Paulo, enfrentaram de domingo para segunda, durante 19 horas seguidas. De acordo com descrição da ouvinte-internauta Eliana Gryn, o alarme de segurança da instituição bancária soou a primeira vez às duas da tarde de domingo. E assim permaneceu durante a noite, a madrugada e a manhã dessa segunda-feira sem que ninguém tomasse providência. Além de considerar um desrespeito aos moradores da região, Eliana põe em dúvida o sistema de segurança do banco.

São Paulo pratica pena de morte ilegal

 

Título acima e reportagem abaixo, escritos por Renata Camargo, do Congresso em Foco, alertam para a violência policial no Estado de São Paulo. Para quem acredita que apenas a violência é capaz de impedir mais violência, uma boa leitura. Para todos os demais – entre os quais me incluo -, motivos a se preocupar:

“Dossiê elaborado por diversas entidades ligadas ao combate à violência no país revela que a polícia do estado de São Paulo pratica a pena de morte, ainda que esse tipo de condenação seja ilegal no Brasil. Embora o estudo tenha se concentrado na análise do comportamento da polícia paulista, os organizadores do dossiê alertam que as conclusões da pesquisa não representam uma realidade apenas de São Paulo. Como explica a historiadora Angela Mendes de Almeida, do Observatório das Violências Policiais de São Paulo, boa parte das constatações apresentadas no mapa de extermínio de São Paulo pode ser estendida para outros estados brasileiros.

O estudo, denominado Mapas do Extermínio: execuções extrajudiciais e mortes pela omissão do estado de São Paulo, revela que a polícia paulista tem usado a força letal de forma arbitrária e que o grau de extermínio de civis no estado é superior aos níveis mundiais aceitáveis.

As organizações trazem dados oficiais e extra-oficiais sobre o extermínio de civis feito por policiais em chacinas, em execuções sumárias aplicadas por agentes em serviço e fora de serviço e em mortes misteriosas de pessoas que se encontram sob custódia do Estado. As vítimas dessa “pena de morte extrajudicial” são, em sua maioria, jovens entre 15 a 24 anos de idade, moradores das periferias de grandes cidades, afrodescendentes e pobres.”


Leia a reportagem completa no Congresso em Foco

De impunidade

 

Por Maria Lucia Solla

Ouça o texto “De impunidade” na voz da autora

fotodelibertinusnoflickr

Meu filho acaba de ser assaltado, sob mira de armas e ameaça de lhe tirarem, num piscar de olhos, a vida.

Teu filho, nossos filhos foram ou serão assaltados mais de uma vez, com certeza, se tiverem a graça de saírem da experiência com vida.

Não sou pacifista nem belicosa, mas quero justiça e punição exemplar para começarmos a sanar a doença virulenta que corrói esta sociedade desgovernada. Não é hora para gentileza e rapapés. O basta à loucura, e à violência desenfreada, precisa ser abrupto para que se possa mudar a direção.

Meu filho trabalha; sempre trabalhou, e muito. É capaz, é bom filho, bom amigo, excelente profissional, e tem uma garra que vi em poucos, nesta vida minha. Não basta. Nada basta!

Dirigentes, legisladores e pastores dos rebanhos desta republiqueta de bananas, de dólares nas cuecas e em Bíblias ditas sagradas, largaram a direção do barco, há muito tempo, e se sentaram à beira do caminho, sob a sombra das poucas árvores que escaparam de sua ganância desmedida, e estão contando notas e moedas de toda espécie e de toda proveniência, exatamente como os marginais que estão agora contando o dinheiro que meu filho transportava e que seria destinado à folha de pagamento de seres humanos que, como meu filho, trabalham pelo dinheiro que deveriam receber hoje.

Não sei, e nem ele ainda sabe o que vai fazer a seguir. Daqui do assento 10 C do avião da Gol, com destino a Brasília, seguro as lágrimas e tento domar meu coração, que dá pinotes circenses dentro do meu peito, que suporta a duras penas, e aliviado por profundos suspiros, a avalanche de emoções que toma conta de mim.

Faço uma prece, pensando um trilhão de coisas ao mesmo tempo. Entro em curto-circuito. Seguro meu queixo para não bater os dentes e chamar atenção.

Insisto dizendo que a ação para estancar a hemorragia de nossa sociedade precisa ser drástica e imediata. Intervenção de vida ou morte.

É preciso extirpar o tecido doente, antes que o corpo inteiro sucumba. Não adianta mais verborragiar na mesa do bar para se deliciar com o som magnífico da própria voz.

É preciso devolver a vida aos nossos filhos.
É preciso devolver-lhes a esperança e a alegria de viver.
É preciso agir; por você, por mim, pelos teus filhos e pelos meus.

Jogar na jaula de leões famintos e dar de comer às ariranhas, o criminoso reincidente.

Cansei. Incendiei. Ensandeci!

Alguém me ajuda, por favor! Perdi o sorriso, e a leveza bailarina que trazia comigo transformou-se num monstro pesado e horrendo.

Os dedos de uma de minhas mãos já não bastam para contar as vezes em que eu e meus filhos fomos atacados por seres humanos; nossos semelhantes. Perdi a conta de quantas vezes nos roubaram, desrespeitaram; riram de nós.

Chega!

Acredito que somos a face material de Deus, mas é preciso que nos unamos para que ele se manifeste; para que se faça, definitivamente a Luz. Agora, como é possível gerar Luz se nos acostumamos à treva, ao medo, ao desrespeito, à traição. À mentira desavergonhada.

Há tempo demais remamos, desesperados, pela Vida, num barco furado que faz água sem parar.

Chego à Brasília e ouço de minha amiga Cláudia que sua casa fora assaltada, que amarraram seu marido, filho e jardineiro. Machucaram seu filho e lhes roubaram computadores, instrumentos de trabalho, e tudo o que puderam carregar; numa dança regida por ameaças às suas vidas.

Acordo na manhã seguinte e, ainda à mesa do café da manhã, Cláudia, a nora da minha Cláudia desce as escadas, assustada. Desta vez era ela quem trazia o coração aos pinotes. Recebera um telefonema de seu pai que tivera a fazenda invadida por bandidos. Ele, diabético e hipertenso, foi machucado no corpo, na alma e na dignidade, que acabou em frangalhos. Fizeram-lhe cortes na cabeça, a coronhadas, e roubaram e carregaram o que puderam. Pensam vocês que os ataques foram feitos em nome da fome? Não, foi em nome da ganância e do desrespeito que campeiam livres e soltos por todos os cantos deste país, e que viraram moda, seguindo o exemplo de regentes de nossas orquestras sociais.

O primeiro violino rouba, mata, corrompe e desrespeita, e os outros seguem-lhe os acordes.

Depois de tudo isso, nosso pequeno grupo de bons amigos conseguiu manter cabeças erguidas e aproveitar a companhia uns dos outros; mas seguramente jamais seremos os mesmos. Não saímos dessas experiências, piores, mas nossas consciências esbofeteadas, abriram ainda mais seus olhos. Queremos justiça e educação. Não estamos interessados no desenvolvimento desenfreado que disputa classificação com países distantes. Queremos nosso próprio modelo. Queremos crianças que saibam que galinhas e ovos não nascem em bandejinhas de isopor, embalados em plástico. Queremos proteger o solo onde pisamos. Queremos menos prédios e menos carros, menos coisas compradas e mais amizades e amores conquistados.

Só humanos tem direito a humanidade. Só quem respeita os direitos do próximo tem direito a ter os seus, respeitados.

O que é que você acha de tudo isso?
Chega, ou ainda tem fôlego para mais?
Chega, ou ainda há tempo e espaço, neste curto espaço de tempo que é a vida?

Você ainda tem paciência para prefeito levando propina na cara dura, e para político comprando voto com o teu dinheiro e com o meu?

Você ainda suporta político sem vergonha na cara, reinaugurando obra com a cara suja de lama da campanha política prematura, para manter a boca na botija?

Não ficou, ainda, claro que tudo isso é feito à custa de sangue e lágrima dos teus filhos e dos meus?

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.


Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e ministra curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung.


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