Por Maria Lucia Solla
que joão permita
e perdoe a ousadia
de falar de morte e vida
do prosaico dia a dia
de quem nem é severina
mas simplesmente maria
vida e morte
nada a ver com sorte
morte e vida
a ver
com chegada e partida
apenas duas pontas
de linha
sem começo
de caminho
sem fim
apenas bons motivos
para falar de você
e de mim
de encontro
e desencontro
vida é ausência de morte
sendo morte a cada dia
início da carne
da alma o transporte
e serve de pano pra manga
da vã e nem tão vã filosofia
vida é quadro mutante
de olhares arfares
chegares partires
sonhos
e reveses medonhos
morte ganha sempre
mas
finda com a vida um caso
vence numa jogada
de carta marcada
e
determina da vida o ocaso
morte do corpo vida da alma
diz quem diz conhecer
da morte a morada
mas que não venha depressa
seja ela o que for
que chegue com muita calma
dançando
rodopiando
sapateando
pra que eu tenha tempo de arrematar da vida
todos os fios
até então tecidos
outros tecer
e resgatar os esquecidos
porque só a vida
vai chegando de mansinho
e a morte chega assim
de supetão
quando se sente que a vida
ainda nem começou
se ela se anunciasse
se viesse sibilando
em vez de chegar chispando
e desse tempo para que o olhar
mergulhasse e visse mais fundo na alma
a morte entrega de si uma amostra
na sonolência da tarde fria
na chegada da noite
na partida do dia
dá uma provinha
do que seja
quando a vida
de cansada arqueja
morte
na incerteza da vida
é na vida
a única
Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung