O que o sono faz pelo seu bem-estar

Entre todos os pilares do bem-estar, o sono é o que mais me inquieta. Minha rotina começa às 4h15 da manhã, e não há despertador que convença o corpo de que acordar tão cedo é algo natural. Talvez por isso eu esteja sempre à procura de novas explicações que me ajudem a entender como lidar melhor com esse descanso tão necessário, e tão desafiador, para quem vive entre programas de rádio, entrevistas, leituras e outras tarefas essenciais (?) como assistir ao meu time de futebol jogar até tarde da noite..

O que a ciência revela apenas reforça essa inquietação. Não se trata apenas de dormir um certo número de horas; trata-se da qualidade do percurso que o cérebro faz durante a noite. Estudos mostram que noites interrompidas, sejam por insônia, apneia ou despertares frequentes, aumentam o risco de demência e comprometem funções como memória, atenção e velocidade de raciocínio anos mais tarde.

Duas fases, em particular, cumprem um papel decisivo nessa história: o sono profundo e o sono REM. No primeiro, o cérebro regula hormônios, organiza o metabolismo e ativa seu sistema de “lavagem interna”, removendo resíduos como as proteínas associadas ao Alzheimer. No segundo, processa emoções, consolida lembranças e ajusta os circuitos que usamos para aprender e tomar decisões.

Quando essas etapas falham, o desgaste aparece. Pesquisas de longo prazo mostram que a falta crônica dessas fases acelera a atrofia de áreas ligadas à memória — um declínio semelhante ao observado nos estágios iniciais do Alzheimer. Não se sabe ao certo se a privação de sono causa a demência ou se as duas condições se alimentam mutuamente. O que os cientistas afirmam, com segurança, é que o sono ruim cobra um preço.

O desafio, para quem acorda antes do sol, é encontrar algum equilíbrio. Sete horas por noite é a recomendação mais clara, porque permite ao cérebro completar ciclos suficientes para se recuperar. Exercícios físicos, aprender algo novo e manter horários consistentes também ajudam a aprofundar o descanso. No fim das contas, o melhor termômetro é simples: como me sinto ao despertar? E quanto tempo demoro para adormecer de novo quando a noite é interrompida?

Continuo ajustando essa equação, ciente de que dormir bem não é luxo — é manutenção preventiva. Quando o cérebro consegue apagar a luz, reorganizar a casa e limpar o que não serve, a vida clareia. Mesmo para quem madruga.

Na Semana do Sono, um convite para repensar a forma como dormimos, inspirado em Cristiano Ronaldo

Photo by Miriam Alonso on Pexels.com

Acordar às 4h15 da manhã para trabalhar faz parte da minha rotina. Nada a reclamar! Considero-me um privilegiado. Levanto-me ainda na madrugada, de bem com a vida, para fazer o melhor que poderia desejar no trabalho que escolhi. Ao longo da carreira profissional, enfrentei horários ainda mais estranhos. Quando cheguei em São Paulo, em 1991, meu expediente começava à meia-noite. Mesmo que isso tenha acarretado alguns desgastes físicos e emocionais – e até um acidente de carro -, sobrevivi.

Apesar do horário em que acordo, vou para a cama mais tarde do que o recomendável, causando preocupação na família e espanto nos amigos. À medida que os anos passam – e já se foram 60 – presto cada vez mais atenção à necessidade de melhorar a qualidade do meu sono, um dos pilares de uma vida saudável, ao lado da alimentação, da atividade física e da saúde mental.

Minha curiosidade se intensificou ao saber que Cristiano Ronaldo, figura que dispensa apresentações, adota uma estratégia de sono que inclui dormir cinco vezes ao dia, por uma hora e meia — ao menos é o que li na manchete de um site. A imprecisão das notícias a respeito dos méritos do futebolista português sugeriu que, além das oito horas de sono noturno – consideradas ideais pela maioria dos especialistas – ele também fazia estas sestas durante o dia. Essa informação pareceu desencontrada, a conta não fechava, especialmente ao considerar os compromissos profissionais do craque.

Na realidade, Cristiano Ronaldo segue a “dieta do sono” de Nick Littlehales, um ex-jogador de golfe britânico que dedicou seus estudos a entender como podemos dormir com mais qualidade. Como principal “treinador do sono” de figuras notáveis do esporte, desde o ciclismo até o futebol, da NBA à NFL, Littlehales aplicou seus estudos em equipes como Manchester e Liverpool, bem como no British Cycling e no Team Sky. Ele é enfático ao desmentir o mito de que “dormir oito horas por noite” é essencial, uma ideia que tem tirado o sono de muitas pessoas, inclusive eu.

Interessante notar que o treinador não nega a necessidade de descansarmos cerca de um terço do dia. Contudo, está ciente de que manter um sono contínuo de oito horas é praticamente impossível. Obrigado, Nick!

Nesta semana, concluí a leitura de “Sono, mude seu modo de dormir em 90 minutos”, de Nick Littlehales, lançado no Brasil pela editora Rocco. O livro se mostrou providencial, não só pela minha crescente preocupação com o tema, mas também por coincidir com a Semana do Sono, que se celebra até o dia 17 de março, domingo. A obra esclareceu as notícias desencontradas sobre o hábito de sono de Cristiano Ronaldo e me fez repensar minha própria rotina de descanso.

Alerto, no entanto, que antes de você se arriscar por qualquer fórmula que possa lhe fazer dormir melhor, é fundamental que procure um médico de confiança e especialista no assunto e discuta a melhor estratégia, considerando sua rotina e necessidades.

Littlehales enfatiza a importância de respeitarmos o ciclo natural de 90 minutos do sono, crucial para não interrompermos as distintas fases pelas quais passamos enquanto dormimos. Ele sugere que, em 24 horas, devemos completar de quatro a cinco desses ciclos, sejam eles contínuos ou fragmentados, tal como Cristiano Ronaldo aparentemente pratica.

Contrariando a opinião da maioria dos especialistas, Littlehales vê a possibilidade de recuperarmos o sono perdido. Ele propõe que, se não conseguirmos completar os cinco ciclos de sono em um dia, tentemos alcançar 35 ciclos em uma semana. Porém, destaca: se dormimos mal durante a semana, não basta simplesmente prolongar o sono nos fins de semana.

O autor aconselha que definamos um horário para acordar e o sigamos religiosamente. Com base nisso, calculamos o total de sono necessário. Se planejamos acordar às 6h30, o momento de dormir deve ser escolhido para não interromper um ciclo de sono de 90 minutos, podendo ser às 21h30, 23h, 0h30, 2h, 3h30 ou 5h.

Na visão do ‘coach do sono’, descansar vai além de dormir. Integrar períodos de recuperação controlada (CRP), que durem 30 minutos, pode ser extremamente benéfico. Práticas como meditação, relaxamento e música são algumas das formas de CRP sugeridas por Littlehales.

A posição ao dormir também é crucial. Preferencialmente, devemos dormir de lado, com o braço predominante para baixo e os joelhos levemente dobrados, numa posição que remeta à fetal. Isso porque o cérebro se sente mais protegido e propenso ao relaxamento.

Antes de ir para a cama, é importante ‘descarregar’ o dia e se desconectar do celular, evitando distrações que possam impedir o sono. Dormir em um ambiente totalmente escuro, sem as luzes stand-by de eletrônicos, e manter o quarto em uma temperatura mais baixa do que o resto da casa são práticas recomendadas. Trocar as roupas de cama com frequência e considerar dormir sozinho para evitar perturbações mútuas também fazem parte das sugestões de Littlehales.

Refletindo sobre as orientações de Littlehales e aplicando-as à minha experiência, percebo que buscar um sono de qualidade transcende o âmbito pessoal, tocando numa necessidade coletiva. Nosso mundo valoriza a ocupação constante, muitas vezes em detrimento do descanso necessário. Porém, ao adotarmos uma abordagem mais consciente e adaptada ao sono, não beneficiamos apenas a nós mesmos, mas também fomentamos uma mudança cultural que reconhece e valoriza o descanso como um pilar fundamental para uma vida saudável e produtiva. Ao compartilhar nossas descobertas e práticas, podemos inspirar outros a repensar suas rotinas de sono, contribuindo para uma sociedade mais descansada, saudável e eficiente. Pensamento que se conecta com o tema central da Semana do Sono, promovida pela Sociedade Brasileira do Sono e entidades parceiras: “oportunidade de sono a todos para saúde global”.

Sua Marca Vai Ser um Sucesso: a Influência das marcas no nosso sono e tranquilidade

“Fuja das marcas que dão insônia”

Jaime Troiano

Em um mundo onde as marcas estão onipresentes em nossas vidas, já parou para pensar como algumas delas transcendem o simples ato de comprar e se entrelaçam com nossas emoções mais profundas? No ‘Sua Marca Vai Ser Um Sucesso’, Jaime Troiano e Cecília Russo revelam um aspecto surpreendentemente íntimo das marcas: sua capacidade de nos transmitir tranquilidade e até influenciar nossa qualidade de sono.

Jaime Troiano compartilhou uma experiência pessoal que ilustra esse fenômeno. Enquanto se preparava para uma ressonância magnética, ele se viu confrontado com o barulho e a ansiedade do procedimento. No entanto, ao notar a marca GE no equipamento, ele foi imediatamente tomado por uma sensação de tranquilidade e conforto. Este momento despertou memórias afetivas associadas à marca, como o secador de cabelo usado por sua irmã ou a geladeira GE da família, levando-o a adormecer quase instantaneamente.

“Aquelas duas letrinhas, GE, parece que levantaram o alçapão da minha memória”.

Jaime Troiano

A erótica do sono

Cecília Russo, com sua expertise em psicologia, explicou que esse tipo de reação está profundamente enraizado em nossas memórias e experiências emocionais. Marcas que estiveram presentes em momentos de conforto e segurança em nossas vidas podem evocar sentimentos de calma e proteção, facilitando o sono e o relaxamento.  

Uma das referências para refletir sobre o tema, usadas pela Cecília Russo, foi o livro “A Erótica do Sono: ensaios psicanalíticos sobre a Insônia e o gozo de dormir” (ALLER), de Mario Eduardo Costa Pereira. Ela destacou uma passagem importante: 

“Ao dormir  deve ser possível colocar em suspensão às preocupações relativas
à vida cotidiana, à gestão da dimensão mundana do existir e permitir-se simplesmente…entregar-se aos braços de Morfeu. Sim, dormir – algo que se dá sob o inquietante silêncio das estrelas – pressupõe a capacidade de entrega e de confiança.”

Este trecho enfatiza a importância do sono para o equilíbrio emocional e como as marcas podem influenciar positivamente esse processo. 

“Acho que nem o Jaime nem eu tínhamos feito esse paralelo tão claro entre essas coisas que nos embalam. nos protegem, nos fazem dormir, e as marcas que zelam por esses momentos e projetos de felicidade”.

Cecília Russo

A marca do Sua Marca

Da conversa concluiu-se que nem todas as marcas conseguem estabelecer esse tipo de conexão emocional profunda com os consumidores. No entanto, aquelas que o fazem, se tornam parte integrante de nossas vidas, não apenas influenciando nossas decisões de compra, mas também afetando nosso bem-estar emocional e físico. 

“Ha marcas que nos incomodam, nos perturbam, nos traem, nos deixam acordado e aquelas que nos fazem dormir em paz”

Jaime Troiano

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O comentário Sua Marca Vai Ser Um Sucesso pode ser ouvido todos os sábados, no Jornal da CBN, a partir das 7h50 da manhã. A sonorização deste episódio do Sua Marca é do Paschoal Júnior:

Terapia de férias!

O sol amanhece no mar. Foto de Mílton Jung (sim, eu mesmo fiz pra relaxar)

Estou de férias. Sim, sou um privilegiado neste país em que é enorme a quantidade de pessoas que antes de pensar no direito às férias batalham pelo direito ao trabalho. Não, não sou um ‘folgado’ como querem fazer acreditar alguns amigos de redação – em especial aqueles três que batem papo comigo no ‘Hora de Expediente’. 

Deixo claro que ao escrever que estou de férias já na primeira frase desse texto, não tenho a intenção de atacar a imagem e reputação de ninguém. Nem dos que saem de férias nem dos que trabalham. Menos ainda daqueles que consideram uma acusação maldosa dizer que a pessoa está de férias, só porque ficou alguns dias afastado do trabalho, dançando funk na lancha, fazendo peripécias em jet ski, cavalo de pau em carro esportivo, engolindo camarão e passeando em meio ao aglomerado na praia. Nós sabemos o trabalho que isso dá!

Dito isso, volto ao tema que me propus escrever, na expectatica de não ser alvo de ataques dos caros e cada vez mais raros leitores deste blog.

Por mais que a ideia das férias seja descansar, desligar, desconectar e mais uma série de outros verbos iniciados pelo prefixo que significa tanto negação quanto reversão, tem hábitos que somos incapazes de abandonar. 

((Somos é muita gente, diria minha mãe. Que, aliás, tinha um conceito bem interessante para férias: qualquer coisa que não me faça trabalhar mais fora do que quando estou em casa)).

Pra colocar a frase na devida proporção: tem hábitos que EU não sou capaz de abandonar, mesmo nas férias. Se você também for assim, conta para mim, vista a camisa e entre no meu time. Levantar cedo da cama é um desses hábitos. Costumo acordar pouco depois das quatro da manhã para trabalhar. Nas férias, o relógio que move minha mente, mesmo que atrase um pouco mais, desperta por volta das cinco.  Nem sempre saio da cama neste horário. Insisto. Estico. Viro de um lado. Vou para o outro. Desisto. 

A partir das cinco, a mente começa a trabalhar independentemente do meu desejo. É como se eu não tivesse controle sobre ela. Me ajuda, Simone! 

Nos últimos dias, mesmo que aparentemente esteja dormindo, a mente teima em resolver problemas que não existem: o Juca vai entrar na hora certa? Qual o assunto do Cortella? E se não fechar a conexão com a GloboNews? É como se todas aquelas questões que se justificam no cotidiano da redação continuassem a perturbar quando eu deveria estar relaxado. Socorro, dr. Alexandre!

Leio especialistas que garantem que os efeitos das férias são evidentes do ponto de vista biológico. Dizem que, além do equilíbrio da mente (?), encontra-se o ponto ideal para os níveis de cortisol, hormônio que ajuda a controlar o estresse; reduz-se inflamações; e se melhora o sistema imunitário. Estou precisando mesmo, diante da quantidade de vírus e irresponsáveis que nos cercam.

Como ainda não falei com a minha amiga e colega de blog, a psicóloga Simone Domingues, nem escrevi para o Dr Alexandre de Azevedo, especialista em sono, que conheci em programa com Márcio Atalla e assisti no canal Dez Por Cento Mais, não tenho respostas baseadas na ciência para essa encrenca que me meti. 

Minha solução caseira tem sido bem simples: a mente começou a trabalhar, levanto da cama, a hora que for, e inicio um processo de descompressão. Observo o horizonte – um tanto privilegiado diante do local que escolhi para passar minha férias -, presto atenção no barulho do mar, na passarinhada que faz a festa no meu entorno, no sol que começa a ofuscar os olhos e, principalmente, me aprofundo no silêncio que só a natureza se atreve a quebrar.

Essa tentativa de alcançar o bem-estar mental às vezes é ameaçada pelo desejo de escrever (este texto, por exemplo), de saber o que está acontecendo no mundo ou de planejar a imprevisibilidade do ano. Em lugar da busca de uma ocupação, insisto na preocupação. É uma batalha diária. Leio que 70% das pessoas precisam de uma semana para vencê-la. Devo fazer parte da legião dos 30% que estendem a luta para duas semanas ou mais. Bem mais no meu caso. E ainda reclamam que tiro muitas férias. Minha mente precisa, gente!

Nesse embate diário, você já deve ter percebido que hoje fui derrotado. O texto que você lê é a prova do crime. Deveria estar com o pé na areia, deixando o vento e o mormaço tomarem meu corpo, mas estou aqui diante do computador, assuntando com você. Assim que der o ponto final — e ele estará logo a seguir —  espero ter descomprimido a mente, dando espaço para o prazer e o bem-estar. Se for esse o resultado, obrigado por você estar aqui comigo. Nossa conversa, se não foi rica em informação e bela em palavreado, que ao menos tenha sido terapêutica!

Caia nos braços de Morpheu: seu cérebro agradece!

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem: Pixabay

 

O sono e os sonhos despertam fascínio na arte, literatura e filosofia, adquirindo conotações inclusive místicas para algumas pessoas ou culturas, como entre os gregos antigos, para quem os sonhos eram considerados como mensagens divinas. Embora ainda não haja consenso entre os pesquisadores sobre a função exata do sono, os estudos apontam que a privação de sono tem efeitos imediatos na cognição, como prejuízos na tomada de decisão, planejamento, atenção, memória, criatividade e alterações de humor.

Em 1963, Randy Gardner, um estudante com 17 anos de idade, ficou 11 dias sem dormir para concluir um projeto para a Feira de Ciências de San Diego, sob os olhares de pesquisadores do sono, sem fazer uso de drogas ou cafeína. Após 2 dias sem dormir, apresentou irritação, náuseas e problemas de memória. No quarto dia, teve delírios e fadiga intensa. No sétimo dia teve tremores e dificuldades na articulação da fala, com episódios de paranoia e alucinações. Quando finalmente dormiu, o seu sono durou quase 15 horas e ao acordar, quase todos os sintomas já haviam desaparecido, com remissão completa após uma semana.

Randy não teve efeitos prejudiciais duradouros, mas o mesmo não ocorre com alguns animais que são privados do sono. Pesquisas feitas com ratos que são mantidos acordados por longos períodos mostram que eles perdem peso apesar de comer mais, tornam-se fracos, apresentam úlceras e hemorragias internas, chegando à morte. 

O sono reduzido em qualidade e quantidade também pode produzir alterações metabólicas, como aumento do nível de cortisol – hormônio do estresse – elevar a pressão arterial e os níveis de glicose, favorecendo algumas doenças, como diabetes e obesidade.

Em setembro deste ano, um estudo publicado por pesquisadores chineses mostrou a associação entre a duração do sono e a função cognitiva. O estudo envolveu mais de 20 mil participantes e os resultados mostraram que a duração do sono insuficiente (até 4 horas por noite) ou excessiva (acima de 10 horas por noite) está associada a um declínio cognitivo, sendo a memória o principal domínio cognitivo alterado.

O declínio cognitivo é detectado objetivamente através de testes neuropsicológicos que avaliam as diversas esferas cognitivas, como atenção, memória e funções executivas, com resultados abaixo do esperado para idade e/ou escolaridade, porém, sem comprometimento na realização das atividades de vida diária, como cozinhar, trabalhar ou cuidar das finanças. No declínio cognitivo, quando há prejuízo da memória, este pode ser considerado o fator de risco para o desenvolvimento da Doença de Alzheimer.

Esses dados indicam a importância de se monitorar a função cognitiva em idosos que apresentam duração de sono insuficiente ou excessiva, bem como promover hábitos de higiene do sono, como medida de prevenção ou adiamento dos impactos cognitivos, especialmente tendo em vista o aumento da proporção de idosos nas últimas décadas e as projeções de aumento futuro.

Por outro lado, os cuidados com o sono não devem ser limitados aos adultos de meia-idade ou idosos. Numa sociedade caracterizada pela competitividade, somos estimulados a produzir cada vez mais, seja no trabalho, nos estudos, nos cursos extras, nas longas jornadas que privam o descanso até mesmo nos finais de semana, dormindo-se cada vez menos. Além disso, o uso excessivo de eletrônicos e o tempo gasto em redes sociais também prejudicam o sono.

Como medidas que podem contribuir para o sono adequado, os especialistas sugerem que se deve reduzir as atividades, diminuir a iluminação (incluindo as telas) e o barulho, e evitar o consumo de bebidas à base de cafeína e do álcool, próximo ao horário de dormir. A respiração mais profunda e a criação de imagens mentais agradáveis também promovem um relaxamento mais efetivo e, portanto, maior facilidade para adormecer.

A importância de uma boa noite de sono é reconhecida desde tempos remotos. Para os gregos, uma boa noite de sono era resultado da ação de Morpheu, deus do sonho e Hypnos, deus do sono. Hoje, sabemos que a melhor estratégia para uma boa noite de sono são ajustes no nosso estilo de vida e uma boa higiene do sono. Esses hábitos saudáveis, muito mais do que remédios, ainda são o melhor caminho para os “braços de Morpheu”. 

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Avalanche Tricolor: é de perder o sono

 

Direto de Abu Dhabi

 

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O gol de Everton em foto Getty Images/Fifa.com

 

Acostumar-se com a diferença de horário entre Brasil e Emirados Árabes é mais difícil que passar pela defesa do Al Jazira. Nessa quarta-feira, o descontrole foi total com a madrugada estendida após o jogo do Grêmio. Troquei a noite pelo dia e paguei caro. A quinta-feira está para amanhecer por aqui enquanto no Brasil muita gente ainda assiste ao jogo do Flamengo pela Sul-americana e eu já estou que não consigo mais ficar na cama.

 

Na cama, sem sono, comecei a pensar no que vi em campo até agora e no que pretendo ver sábado na decisão do Mundial, no estádio de Abu Dhabi. Lembrei da pergunta de Zé Elias, um dos participantes do programa Bom Dia Bate Bola, da ESPN, do qual fui convidado a participar para falar da experiência de assistir ao Grêmio, na primeira partida em Al Ain. Queria saber se eu já havia imaginado como seria o gol do título, se havia criado minha própria fantasia antes de a bola começar a efetivamente rolar.

 

Ainda tenho muito viva a imagem do gol de Everton que nos levou à final. Isso já é suficientemente forte para ocupar minha mente. Mas confesso que fiquei, sim, imaginando como seria ser campeão mundial, que momento sublime poderíamos viver em família, aqui nos Emirados. E sem nenhuma pretensão de adivinho, pensei o quanto mitológico seria ganharmos com um gol de Geromel, provavelmente resultado de uma cobrança de escanteio. A bola vindo pelo alto e um leve toque de cabeça desviando-a para o fundo das redes. É de arrepiar, mesmo que tudo ainda seja fruto da imaginação.

 

Sabemos da dimensão do adversário da final. Da qualidade técnica dos jogadores que formam o milionário time espanhol. Dos predicados daquele que é considerado o melhor do mundo na atualidade e da constelação que o acompanha. Dinheiro, muito dinheiro, estrutura e experiência são diferenciais que pesam quando saímos do campo dos sonhos para jogar bola no campo da realidade.

 

Renato e seus comandados também reconhecem essas diferenças e isso não nos diminui. Ao contrário, nos fortalece. Pois respeitar a força contrária é o primeiro passo para se estabelecer a melhor estratégia para enfrentá-lo. Entender seus movimentos e a potência de suas armas, permite uma articulação mais precisa, cirúrgica.O futebol não perdoa prepotência nem tem espaço para deslumbramentos. Exige cabeça no lugar, pé no chão, bola rolando na grama, marcação séria e jogo responsável. É lá dentro das quatro linhas que o jogo se resolve.

 

Nada disso nos impede de sonhar. E imagino que muitos dos nossos jogadores, que espero estejam dormindo no horário em que escrevo esse texto, têm sonhado no título desde que se capacitaram à final. Já demonstraram competência para realizá-lo. O que o Real revelou contra o Al Jazira é que a vitória sobre o espanhóis é possível. E nós já conquistamos muitas coisas impossíveis.

 

De minha parte – e já falei para você, caro e raro leitor desta Avalanche – o meu sonho já está sendo realizado. Vivenciar o Grêmio em um Mundial tem sido incrível. Sentir-se em casa dividido a arquibancada com milhares de gremistas em estádio tão distante da nossa terra foi emocionante. Ouvir os jornalistas estrangeiros fazendo referências ao meu time tem significado muito especial, motivo de muito orgulho. E no sábado, Senhor Amado, não quero nem imaginar o êxtase ao ver nossa camisa tricolor entrando no gramado do Zayed Sports City Stadium. Não quero imaginar, mas já posso sentir, a ponto de ter mais uma vez perdido o sono.

 

E isso, tenha certeza, não é culpa do fuso horário.