Por Abigail Costa
Tirei um tempinho nesses dias para uma função diferente: pesquisadora. Nada de laboratório e ampolas. Que pena!
Diante dos meus amigos, da manicure, na fila do caixa do supermercado. Só faltou a prancheta.
“Você está se sentido cansado? Desanimado? Tem que levantar e o corpo pede mais cama?”
Quando a resposta era positiva, isso aconteceu na maioria das vezes, me sentia um pouco mais animada. Era como se eu não estivesse sozinha no mundo do não-quero-fazer-nada.
Ouvi justificativas para o caso.
“Em certos períodos isso é normal mesmo … às vezes a gente precisa de um tempo”.
Mas o que me fez pensar no que estava me incomodando veio da minha querida Maria Lúcia:
“Muitas pessoas estão focadas para um lado ruim que acaba contaminando todo o resto”.
Isso mesmo.
Pregamos o melhor e fazemos diferente.
Quer um exemplo?
Você está se sentindo de bem com a vida? Ligue a televisão no noticiário. Pronto, o terapeuta ganhará mais um paciente.
Jesus! Que coisa mais perversa! É tanto tiro que uma das balas teima em furar a tela da minha 40 polegadas!
Aí o engravatado roubou. O outro mesmo comprovado o crime não foi punido e voltou pra casa. E o sujeito está largado na maca do hospital enquanto a vinheta das eleições já começa a rolar no espaço reservado para a propaganda de margarina.
Falando em margarina. Nem gosto tanto do produto só que ADORO quando aqueles segundos vão ao ar! Adoro ver a família na mesa, aquele sol da manhã entrando pela janela, o pão quentinho saindo fumaça …
De volta as tragédia rotineiras. Outra descoberta da minha pesquisa.
Todos se queixam das notícias sangrentas. Querem a boa notícia. Mas se “eles” exibem, diariamente, o que a gente está careca de ver é porque tem mercado pra isso. Caso contrário, o Ibope registraria queda na audiência.
Entre não querer ver e assistir tem uma longa distância.
Então, mesmo que você se proponha a só prestigiar o “comercial de margarina”, tem sempre um mensageiro do apocalipse:
“Você viu? Que coisa, não, estamos perdidos”.
Pra terminar minha “terapia em conjunto”, o caos é quando o marido chega pra você todo carinhoso e diz:
“Amor, temos que economizar”.
Pronto! Aí me mundo caiu de vez! Pior que desta vez, ele tem razão.
Abigail Costa é jornalista e escreve às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung