Por Carlos Magno Gibrail

Brasil 3D – radicaliza na questão do trabalho do menor de idade, contemporiza na destruição da floresta amazônica e fecha os olhos para o crescente descontrole do dinheiro público.
Nesta fotografia ética, destacamos a exploração do menor, controlada pela justiça do trabalho. Suas baterias estão dirigidas às quadras de tênis.
A partir de 2005 a legislação regulamentou a atividade do menor com 14 a 16 anos dentro do projeto Aprendiz.
Os Clubes bem estabelecidos em boa parte aderiram, outros eliminaram a função do pegador de bola e os demais estão sendo avisados que serão punidos.
O tênis até então incluía o pegador de bola, o rebatedor-assistente do professor, e o professor. Todos invariável- mente vinham das camadas menos favorecidas e imediatamente iniciavam um processo de inclusão social, a partir de 7 anos em diante.
Foi assim que surgiu uma série de tenistas profissionais como Givaldo Barboza 32º ATP, Júlio Goes 68º ATP, João Soares 72º ATP. João ainda treinou Flávio Saretta 62º ATP e Ricardo Mello 50º ATP. Isto para não citar McEnroe, de pegador de bola a 1º ATP e ícone do tênis mundial.
A nova regulamentação originou séries e sérias iniciativas de inclusão. Entretanto, ao mesmo tempo impediu a manutenção do modelo anterior, menos burocratizado e mais natural. Além de proibir o acesso antes dos 14 anos, o que faz muita diferença.
Independentemente da existência de infindáveis propostas para evitar o “gap” entre 7 e 14 anos, como a do ex pegador Clovis Silva com Kirmayr, precisamos de uma regra especifica para o tênis, antes que o drama atual se intensifique.
Temos que evitar episódios como o do Secretário Municipal do Trabalho de SP, Prof. Marcos Cintra:
“VIVI RECENTEMENTE uma triste e pungente experiência. Observando as fotos das arruaças ocorridas em Paraisópolis, quando jovens moradores daquela favela depredavam propriedades e agrediam inocentes transeuntes em combate campal com a Polícia Militar paulista, identifiquei alguns jovens que eu havia conhecido algum tempo antes em circunstâncias totalmente diversas.
Lembrei-me deles sem as feições embrutecidas que exibiam durante as arruaças, mas como saudáveis meninos pegadores de bola em uma academia de tênis. Eram jovens com idade aproximada entre nove e 12 anos que, após o período escolar matutino, ganhavam alguns trocados participando como auxiliares de partidas de tênis.
Nos períodos de ociosidade das quadras alugadas, brincavam alegremente entre eles, praticando o esporte e tomando gosto pela prática salutar da cultura física.
Não ganhavam salário, não tinham horário fixo nem obrigações a serem observadas. Apenas passavam seu tempo pegando bola e ganhando em troca alguns reais para suas pequenas despesas.
No passado, esse costume induziu vários desses jovens pegadores de bola a se tornarem profissionais em suas respectivas modalidades esportivas. Outros acabaram cursando faculdades de educação física. Outros ainda se profissionalizaram como treinadores. E tudo como resultado dessa convivência lúdica com o esporte e com o aprendizado de uma técnica ou de uma profissão.
Chamava-me a atenção que o dono da academia exigia desses meninos que mostrassem seus boletins escolares e dava-lhes uma dura, chegando até mesmo a impedir que frequentassem a academia enquanto não demonstrassem que suas notas eram adequadas.
Um dia, as autoridades baixaram no recinto e proibiram, sob alegação de trabalho infantil, que esses jovens continuassem naquelas condições”.
Tudo indica que a sorte da criançada do Brasil ,que vive nos arredores das quadras de tênis deverá mudar.
Ontem, 11 dias após este artigo na Folha, indaguei ao Secretário se já tinha feito algo a respeito.
Imediatamente relatou que além de reunir vários segmentos e grupos organizados pertinentes ao tema, está trabalhando em 3 alternativas: PEC, TAC e Aprendiz. Ou seja, emenda da constituição, termo de ajuste de conduta e adaptação ao projeto Aprendiz são ações efetivas e já compromissadas pelo Prof. Cintra.
Que solicita apoio nosso, ao que prontamente atendemos. Convidamos a todos, que façam o mesmo em nome dos futuros tenistas, professores e empresários do tênis, vindos desta maravilhosa trilha da ascensão social.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda, escreve às quartas no Blog do Milton Jung e, dizem, é mestre com a raquete de tênis em punho.
Veja mais fotos de autoria de Daniel Lobos no Álbum do Flickr