Da terceirização à profissionalização

 

Por Julio Tannus

 

Outro dia desses, em uma reunião de síndicos, uma síndica, sabedora de que fui engenheiro da Light, me diz: “minha conta de luz passou de repente a valores altíssimos. Entrei em contato com a Eletropaulo. Disseram-me que haviam feito um “gato” na minha instalação elétrica e que para solucionar o problema eu ficaria dois dias sem energia elétrica”. Recomendei a ela entrar em contato direto com a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica.

 

E aí eu reflito:

 

O advento da sociedade industrial trouxe consigo formas próprias de gerenciamento das atividades envolvidas nos processos de produção. O estudo dos tempos e movimentos é um exemplo típico de como se procurou adequar de forma eficiente processos de produção cada vez mais exigentes. Identicamente, a sociedade de serviços, constituída a partir da formação dos grandes centros urbanos, desenvolveu mecanismos para regulação e aprimoramento de sua eficiência. Ambas as atividades, de serviços e industrial, foram e são fortemente influenciadas pela resultante econômica de seu funcionamento.

 

No caso da indústria, aqui entendida como setor de produtos manufaturados da atividade econômica, o fenômeno da globalização dos mercados potencializou a competição entre produtos similares, provocando uma verdadeira corrida à busca de redução dos chamados custos de produção. Uma das formas encontradas para lidar com essa nova exigência é a conhecida Terceirização. Contrata-se de terceiros aquilo que era produzido internamente, mas que não é produto ou peça-chave da empresa. O relacionamento estabelecido nesse processo (de terceirização) é controlado pelo padrão de qualidade do produto terceirizado. Constitui-se assim, uma relação inequívoca e objetiva entre cliente-fornecedor, sob os auspícios da concretude de uma peça ou produto industrial.

 

Diversamente, no mercado de serviços, a ausência de algo tão concreto e objetivado como uma peça de um mecanismo remete a relação cliente-fornecedor a uma dimensão muito mais complexa de aferição e julgamento de sua eficiência. A Terceirização nessa área carece de parâmetros objetivos de avaliação para ser efetivada. A relação cliente-fornecedor passa a depender muito mais de aspectos subjetivos de avaliação. Confiança mútua e identidade de propósitos são alguns dos aspectos que determinam a qualidade dessa relação.

 

Assim, um dos caminhos possíveis de se trilhar para a efetivação de uma prestação de serviços competente é exatamente potencializar os aspectos subjetivos que definem a relação cliente-fornecedor. E também prover, do lado da empresa “terceirizada”, um caminho que propicie uma trajetória capaz de estimular a mão de obra envolvida, estimulando-a no seu desenvolvimento e engajando-a na busca constante da qualidade dos serviços prestados.

 

Em outras palavras, é preciso constituir “parcerias profissionais” que dêem conta desses aspectos. Passa-se então da “Terceirização” à “Profissionalização”. E, a nosso ver, a importância dessa passagem é vital, tanto para o que estamos denominando aqui de setor de serviços como para a indústria.

 

Senão vejamos: A NOHALL, fornecedora de terceirização nos oferece um depoimento: “Entre 1980 e 1990 iniciou-se a moderna terceirização na qual as grandes indústrias transferiram parcialmente parte de seu negócio para terceiros, com o objetivo de ganhar mais flexibilidade, velocidade de resposta e agilidade no atendimento… Além de obter: isenção total da tributação Federal, Estadual e Municipal; isenção de ônus trabalhista, férias indenizatórias, rescisões, afastamentos.”

 

Entretanto: Na década de 70, a titulo de exemplo, a Light Serviços de Eletricidade S.A. era a empresa responsável pelo abastecimento de energia elétrica na cidade de São Paulo. A Light, do ponto de vista técnico, era auto-suficiente. Herdeira da competência canadense, cujo proprietário era a empresa Brascan Limited, estava competentemente estruturada para dar conta de todas as atividades necessárias para suprir a cidade de São Paulo de energia elétrica: Planejamento, Projeto, Construção e Operação de Usinas, Linhas de Transmissão, Subestações e Distribuição. Até que o processo de terceirização começou a mudar o perfil da empresa e das responsabilidades do corpo técnico.

 

Hoje a Eletropaulo, herdeira da antiga Light Serviços de Eletricidade, praticamente terceiriza tudo aquilo que era de competência da antiga empresa. E as conseqüências negativas são inúmeras. A principal delas, a meu ver, é a falta de engajamento e de perspectiva profissional do corpo técnico envolvido com as várias atividades ligadas ao suprimento de energia elétrica, uma vez que boa parte é mão de obra de terceiros. E isso certamente tem afetado a qualidade dos serviços oferecidos, os quais, em se tratando de serviços públicos, em minha opinião, jamais deveriam ser terceirizados.

 

Essa armadilha algumas empresas privadas do varejo, por exemplo, não caíram. Os supermercados tendem a verticalização apresentando marcas próprias. Alguns terceirizaram produção e segurança, mas não abriram mão do atendimento final ao consumidor.

 

Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), engenheiro da Light & Power nos anos 60/70 e colabora com o Blog do Mílton Jung

Trabalho escravo na moda

 

Por Carlos Magno Gibrail

A produção de roupas na era moderna sempre se caracterizou por gradativamente se afastar dos países centrais para os periféricos. Na medida em que as nações se desenvolveram e ficaram prósperas, as confecções as deixaram e se dirigiram onde existiam pessoas dispostas a trabalhar por um prato de comida.

Até mesmo o trabalho domiciliar nos grandes centros urbanos em metrópoles cosmopolitas, propiciado a pessoas que cuidavam de parentes idosos ou doentes, foi se extinguindo. Não foi capaz de concorrer com os países asiáticos e afins.

A oferta de baixa qualidade, baixa remuneração e alta produção pelo enorme contingente humano disponível resultava num invejável preço competitivo à moda que se confeccionava.

Enquanto o gado começou a ser policiado e para ser vendido é preciso provar que sua origem não é de áreas desmatadas. Enquanto a madeira precisa de certificado de origem para ser comercializada nos grandes centros contemporâneos. Enquanto as roupas são ofertadas sem rastreamento, embora a etiqueta que as acompanha o permita e, às vezes, o baixo preço as denuncie nada de expressivo se fez.

E, é neste cenário que o recente caso dos guetos latinos em São Paulo possa trazer uma expressiva contribuição para corrigir esta distorção. Lição que precisa ser levada principalmente aos consumidores, pois é através da decisão de compra que se efetivará o real controle da cadeia produtiva. É preciso criar uma identificação que premie as marcas que estão respeitando o ser humano. É hora de vigiar e premiar. Para vigiar, até que se estabeleça um controle oficial, é atentar à origem, ao preço e ao tamanho das organizações.

Se no mais evoluído estado brasileiro há regime de escravidão, podemos imaginar nos confins da China ou da Índia. Se grandes corporações de varejo já quebraram enorme quantidade de micros e pequenas empresas fornecedoras utilizando seu absoluto poder econômico, cancelando encomendas exclusivas ou pressionando preços, imagina-se o que podem fazer com indefesos trabalhadores terceirizados ou quarteirizados. E, se o preço baixo é importante, melhor será aproveitar as liquidações das marcas fora do eixo potencial de risco.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung

Mundo Corporativo: O perfil ideal

 

“Gostar do que você faz” sempre me pareceu a forma mais simples de responder a um profissional qual a fórmula do sucesso. E foi assim que o consultor em gestão corportamental Edson Rodriguez começou a entrevista do Mundo Corporativo. Mas ele foi além e mostrou alguns caminhos interessantes para explicar qual o perfil mais procurado no mercado e como saber se você está preparado para atuar em uma empresa.

Na conversa que foi ao ar, nesse sábado, o presidente da Thomas Brasil e sócio do Your Life, Edson Rodriguez também falou do papel do líder no mercado de trabalho.

O Mundo Corporativo é apresentado, ao vivo, pela internet, quartas, às 11 horas, no site da CBN. E você pode fazer perguntas pelo Twitter @jornaldacbn e pelo e-mail mundocorporativo@cbn.com.br. A entrevista é reproduzida aos sábados, no Jornal da CBN.

Diminuir imposto para aumentar arrecadação


Por Carlos Magno Gibrail


Confira o resultado do Impostômetro em tempo real

A presidenta Dilma Rousseff, após surpreender alguns ao sinalizar a privatização de obras de ampliação em aeroportos, informa que está trabalhando em um projeto de diminuição da folha de pagamento das empresas.

É um fato e tanto. Medida para economista refinado e presidente “macho”, condição invejável para um governante.

Kennedy e Reagan ousaram nesta direção e se deram bem.

Kennedy reduziu a alíquota mais alta do IR de 90% para 70% e as receitas aumentaram de 94 para 153 bilhões de dólares, um acréscimo de 62% que descontada a inflação ficou em 33%.

Reagan, em janeiro de 1983, reduziu drasticamente os impostos e, em 1989, as receitas chegaram 54% a mais, ou 28% descontada a inflação.

Não sabemos se Dilma considerou as experiências americanas, mas, economista, certamente observou a curva de Laffer, que em Economia é uma representação teórica da relação entre o valor arrecadado com impostos e todas as possíveis razões da taxação. Aumentando as alíquotas além de certo ponto torna-se improdutivo o resultado, à medida que a receita também passa a diminuir.

Esta primeira e importante proposta pontual de reforma tributária do governo Dilma, a ser apresentada ao Congresso logo depois da abertura dos trabalhos legislativos, em fevereiro, visa beneficiar as empresas diretamente pela redução de custos, e também aos trabalhadores pelo esperado aumento da contratação com registro. Dos 52% de mercado formal estima-se chegar a 60% em um ano, com uma redução de aproximadamente 20% na tributação.

Como era esperado, já há ruído nas centrais sindicais e no sistema previdenciário.

Como não era esperado, há pouco ruído na mídia, que está dando mais espaço aos passaportes do que a redução de impostos.

Durma-se sem um barulho deste.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

Adrenalina é cartão de crédito na 5a. Avenida

 

Por Abigail Costa

Geralmente o tempo é muito curto. Com sorte pode chegar a quatro, cinco minutos, se o assunto for interessante. Caso contrário não se segura no ar. Como eles adoram falar: “Não paga o tempo gasto”.

O “menor” tempo não siginifica jogo rápido. A reportagem pode durar míseros 1 minuto e 30 segundos – dá um trabalho! O que faz muita gente pensar que esse “emprego” é dos bons: “Imagina a maioria trabalha pouco, aparece na TV e ganha bem”.

Foi isso que o Paulo, zelador do prédio, perguntou à minha mãe: “Como o serviço da sua filha é bom! É só um pouquinho”.

Nesse “pouquinho” você, literalmente, roda a cidade quando não sai dela.

100, 150 quilômetros na estrada. Até pegar a dita cuja, até conseguir se livrar do trânsito, lá se foram algumas horas.

Certo dia saímos do asfalto para encontrar o entrevistado. Ainda tinha pela frente uma outra estrada de terra vermelha. “A poeira você tira de letra. Fecha os vidros, liga o ar e relaxa”, dirão. Impossível !

Se é estrada de terra tem buraco, se tem buraco o pneu entra e sai, e você vai junto, vai pra esquerda, volta pra direita, feito aqueles bonecos de posto de gasolina. Só que o boneco é de plástico, não tem quadril, não tem nervo ciático.

Os humanos (eu) têm.

Vou me queixar com quem? Mas tenho que falar, isso dá uma aliviada.

Como é que tem gente que faz raly ? E as costas?, disse alto

Imagine pegar um fim de semana pra isso? Solavancos!

Ao lado, meu companheiro de “serviço” que também pulava revelou que esse era seu esporte preferido: “Adrenalina na veia!” – gritou entusiasmado.

Isso te faz sentir o sangue correr mais rápido? Pois eu prefiro um cartão de crédito.

Quinta Avenida, Manhatan, Loja Channel, bolsa 2.55. Pede para a vendedora. Sente o cheiro do couro. Passa os dedos sobre a corrente dourada gelada. Próximo passo: é MINHA!

Entrega o cartão pra moça…. Espera ela digitar o valor. Coloca os quatro números da senha.

Isso é adrenalina pura. Sem poeira, sem buraco, sem dor nas costas.

Ok, um peso maior na consciência. Mas passa, assim que a fatura é paga. Simples assim.

Abigail Costa é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung, adora esportes radicais

De burnout


Por Maria Lucia Solla

Você já ouviu falar da Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Trabalho?

É um coquetel de exaustão emocional, de desânimo, insatisfação, falta de perspectiva, fadiga, dor de cabeça, problemas gástricos e ineficiência. O profissional perde a motivação e a qualidade no desempenho da função e começa a faltar; isso quando não carrega o corpo, desprovido de alma. Funções orgânicas se desequilibram e doenças começam a brotar. Estresse e depressão já não podem ser camuflados atrás da montanha de pílulas coloridas, de formatos atraentes, e se mostram sem pudor. Complicações coronárias exibem as garras e o sistema circulatório congestiona.

Os afetados pelos sintomas da síndrome formam um corpo de trabalho, que dá trabalho, uma peça propulsora que retém a máquina. Perde o cidadão, perde a empresa, perde o sistema de saúde, perde a família, perdemos todos.

Então, a empresa é o bicho-papão? Não, assim como o pão não é, da dieta, o vilão. O vilão, em qualquer e toda situação na vida, é a falta de equilíbrio. É muito ao mar ou muito a terra.

Temos dados assustadores de aproximadamente 30% do corpo de trabalho da sociedade brasileira afetado pela síndrome. E o verbo receitado é humanizar. Humanizar o ambiente de trabalho e a comunicação dentro dele. A resposta é respeito, reconhecimento e arte. Falta criação, e não sou só eu, poeta de coração quem diz; há estudos, pesquisas e trabalhos científicos que comprovam que a arte-criação é intervenção eficaz no combate à síndrome. Dentro da empresa. As experiências e pesquisas que tenho feito são insignificantes diante de estudos internacionais, mas mostram resultados significativos.

Então, vai esperar que ela te pegue? Ajeite o paletó na cadeira, arregace as mangas da camisa, e brinque de massinha de modelar com seu filho. Desça do salto, sacuda os cabelos, desligue os celulares na bolsa, avance na caixa de lápis de cor da criançada e crie uma oficina de desenho, na mesa da cozinha, uma horinha por semana. Aproveite o ambiente e realizem juntos uma façanha culinária: pãezinhos de queijo congelados no forno elétrico. Ao final da folia artística outra gastronômica.

Livre-se dos remédios, pinte e borde, com a família e com os amigos, e verá que o sorriso brota fácil e os males se afastam. Passe um dia na praia sem bolsa de grife, deixe o celular em casa e faça castelos de areia. Sonhe muito, preocupe-se menos e realize mais. Aproxime-se da natureza, plante um pezinho de hortelã e tempere a salada com ele. Vibre, crie, cante, encante, se encante, surpreenda e se apaixone de novo e sempre.

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung

Desemprego ganha Nobel

 

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Por Carlos Magno Gibrail


À sabedoria da natureza, que demonstra em seus sistemas que a cura do mal pode ser feita pelo próprio mal, alia-se agora o Prêmio Nobel de Economia.

O Modelo DMP de Peter Diamond do MIT, de Dale Mortensen da Northwestern University e de Christopher Pissarides da London School of Economics, desenvolveu a teoria econômica que apontou a flexibilização do mercado de trabalho para estimular e melhorar a geração de empregos. Isto é, facilitar as demissões irá facilitar as admissões, principalmente se o desemprego não for estimulado com auxílios duradouros.

É um prato e tanto para ser saboreado por Dilma e Serra neste momento de obscurantismo em que o debate presidencial está se encaminhando.
Um pouco amargo talvez para o senador republicano Richard Shelby que impediu a nomeação de Peter Diamond para o FED Federal Reserve, feita por Obama.

O presidente americano certamente buscou Diamond para um dos sete postos do conselho de diretores do Fed e de seu Comitê Federal, que define as taxas básicas de juros, influenciando a atividade econômica e a inflação, porque já sabia o que o economista Paulo Krugman escreveu em sua coluna no The New York Times sobre o trabalho de Diamond: “Trabalho fundamental sobre todo o tema da relação entre o desemprego e a taxa de emprego”.

Uma das conclusões dos premiados do Nobel, é que o mercado de trabalho não funciona como o de produtos, pois oferta e procura não atuam como no caso clássico. Não se encontram na mesma velocidade e com os mesmos custos. Não se amolda também da mesma forma, pois os trabalhadores não estão dispostos a baixar salários na mesma medida que os produtos. Além disso, a mão de obra está sujeita a desmotivação e quando se reemprega pode não desempenhar o suficiente para preencher a necessidade da função.

Na Europa, John Van Reenen, chefe de Pissarides na London School, relata que “ele demonstrou que as regulações do mercado de trabalho, as barreiras ao ingresso no mercado de novas empresas de serviços, as políticas fiscais e previdenciárias afetam as disparidades do emprego em todo o mundo”.
Pissarides defendeu normas mais flexíveis a serem implantadas na Europa e ganhou. Mas não levou, pois segundo Van Reenen: “Essas normas se baseiam nos princípios econômicos corretos, mas que as maiores barreiras à sua implementação decorrem da ausência de vontade política”.

O jornalista econômico Philip Inman do The Guardian reproduzido no Estadão de ontem, discorda: “Esses princípios econômicos “corretos” foram abandonados porque afetam os eleitores comuns”.

A observação importante para os BRICS é que ficam mais fáceis mudanças em início de desenvolvimento do que com estruturas antigas estabelecidas. É uma área em que temos chance de ficar em melhor posição que Rússia, Índia e China. Ou vamos continuar discutindo crenças e normas religiosas?

Obs. A Dinamarca (veja artigo de 17/12/08) comprova a possibilidade da flexibilização.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung

Imagem de Timothy Vogel do álbum digigital no Flickr

De censo e bom-senso

 


Por Maria Lucia Solla

Ouça de Censo e bom-senso na voz e sonorizado pela autora

Toda vez que há boa vontade na jogada, o trabalho sai, e sai bem-feito. É batata!mesmo que o trabalho escape do âmbito da roça e da cozinha; mesmo que aconteça na rua, na chuva, na fazenda; ou numa casinha de sapé.

Quando a gente se une em volta de um propósito, mesmo que seja a gente com a gente mesmo, a gente com um amigo, com uma porção-de-outra-gente, ou com uma população inteira, a gente vai em frente, executa, realiza; e a coisa sai. A coisa vai.

Agora, quando não, quando não sai do blá blá blá costumeiro, morre no gogó.

Quando a gente mora na esquizofrenia e delira em vez de se engajar; quando a gente reverbera o nada, que é eco de coisa nenhuma, em vez de as mangas arregaçar; quando se põe apalermado em vez de dar conta do recado; não tem jeito, acaba todo mundo insatisfeito.

Como agora, durante o Censo 2010.

Sábado passado fui entrevistada pelo recenseador Claiton Costa Vieira. Fui avisada logo cedo de que ele ficaria à disposição dos moradores do prédio, até às três da tarde. Eu já conhecia seu rosto e sabia seu nome porque, num trabalho bem-feito pelo IBGE, um folheto tinha sido afixado no elevador, com larga antecedência, contendo informações detalhadas e claras.

Fotografei e publico o folheto, tendo o cuidado de esconder os números de telefone do recenseador, declaradamente, porque não confio mais no outro, como costumava confiar.

Tem por aí muito engraçadinho-de-plantão; muito bandidinho-de-meia-tigela, disfarçado de cidadão.

Este é o censo que espera mapear a população e suas reais necessidades, e este é o país em que vivemos, eu e você que vivemos nos queixando de tudo e de todos. Um país em que o recenseador precisa implorar para que as pessoas respondam simples perguntas. O rapaz chega cheio de respeito e de boa vontade por um bando de gente que quer viver na clandestinidade, quer levar vantagem em tudo e exige ser respeitado como cidadão de bem.

Até agora, hoje é quarta-feira, dia 22 de setembro, na segunda tentativa do jovem, apenas 11, dos 24 apartamentos deste condomínio, deram o ar da sua graça no salão de festas do edifício; e os moradores de dois apartamentos já se re-cu-sa-ram a responder.

Pois é, meu caro leitor, o recenseador não consegue realizar o trabalho a que se propõe porque o povo quer se esconder, e as respostas? se nega a responder.

Triste, muito triste!

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira, realiza curso de comunicação e expressão, escreve no Blog do Mílton Jung aos domingos e contou tudo isso para o Censo.

Conte Sua História de SP: Estrela que me guia

 

No Conte Sua História de São Paulo, Euro Ribeiro da Silva, natural de Igaraçu, Pernambuco, onde nasceu em 1945, de onde saiu 16 anos depois. Deixou os pais, seu Severino e dona Raimunda, e dez irmãos em busca de um objetivo: trabalhar na capital paulista.

No depoimento gravado pelo Museu da Pessoa, Euro Ribeiro conta que a expectativa da família dele se continuase vivendo na terra natal era ser policial militar, como o pai, ou político. Não queria nem acreditava neste destino. Através de cartas enviadas às tias, conseguiu uma casa para ser recebido na capital paulista, no início dos anos de 1960.

Pra viajar até São Paulo, contou com a ajuda de um amigo da família, policial que nas horas vagas fazia carreto em um caminhão. Foram seis dias de viagem até chegar na cidade e desembarcar diante das lojas Pirani, no centro. Foi a partir desta região que passou a desbravar a capital, onde contou com a ajuda de uma estrela guia.


Para conhecer melhor esta história, ouça o depoimento de Euro Ribeiro

Você também pode participar deste quadro no CBN São Paulo. Agende uma entrevista pelo telefone 2144-7150 ou no site do Museu da Pessoa e Conte Sua História de São Paulo.

De vida e trabalho

 


Por Maria Lucia solla

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Ouça “De trabalho e vida” na voz e sonorizado pela autora

Silvana pediu que eu falasse sobre trabalho na minha vida, para um trabalho dela na universidade.

Gostei e rapidamente me prontifiquei. Mais uma oportunidade pra eu pensar no que gosto.

É bom pensar no que se gosta. As vezes a gente se empolga e fica lá, viajando no pensamento e se deixando levar de bom-grado, por ele. Aquietando a mente do agora e despertando outra: atemporal, amoral, anônima. Livre!

mente é escrava de começos e meios
mas soberana de finais
e o quê na vida
se pode pedir mais

mas prometo me concentrar
preparar as rédeas
e a minha mente encilhar

Vem cá, mente minha, ô sua traquinas! façam um belo trabalho, você e o meu coração, e digam pra mim, de modo que eu possa colocar em palavras, o que é que eu penso, afinal, de vida e trabalho.

E assim, de bate-pronto, como plim-plim, o quadro é claro, e vejo na tela, nitidamente, o passar da minha vida:

trabalho e vida

pernas e braços
esquerda e direita
bem-me-quer malmequer
cabeça tronco e membros

como viver um sem a outra
só não vê quem não quer

trabalho é caminho
é Vida
que é não por acaso
também chamado de Lida

trabalho é levantar da cama cedo
pra treinar com o Val
é preparar o ano todo
fantasia pro Carnaval

trabalho é fazer café
pro grande amor
ou pro chefe doutor
sempre adoçado com mel
o escolhido
entre ele e o fel

é andar estudar amar

sim porque amar é trabalho também
ou você acha que é fácil
ter juntinho a você
alguém pra chamar de bem

Trabalho é forma de expressão; trabalho é o leão correr atrás do sustento da leoa e seu rebento.

E termino pedindo desculpa pela invasão do poema, mas acabo sem sentir culpa, pois não me afastei do tema.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua inglesa e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung