A Parada da Longevidade, em SP, convida você a olhar às diversas velhices

Diego Felix Miguel

Foto de Rene Asmussen

Por que falar de longevidade?

A pergunta deveria ser ao contrário: O por quê de não falar?

Penso que envelhecimento e velhice não sejam temas tão encorajadores para serem falados e refletidos socialmente em nosso cotidiano, sendo associados à ausência de beleza, doença, incapacidade e improdutividade. Talvez, por isso, negligenciamos esse aspecto que nos é tão caro: afinal, viver mais anos e usufruir da velhice é uma grande conquista social, apesar de ainda enfrentarmos tantos desafios que podem interferir diretamente nessa fase da vida.

O envelhecimento está em nós desde o nascimento e desejo fortemente que possamos vivê-lo por muitas décadas. Afinal, só deixaremos de envelhecer quando não mais vivermos.

Infelizmente, vivenciar o envelhecimento por muitos anos não é algo que depende apenas de nós. Vivenciamos ao longo da vida várias oportunidades que podem ou não favorecer esse processo, assim como, situações que podem afetá-lo diretamente, como é o caso da pobreza, violência e iniquidade.

A desigualdade social é um dos aspectos que mais preocupam a Organização Pan-Americana de Saúde – a OPAS, que estabeleceu a “Década do Envelhecimento Saudável nas Américas: 2021-2030” como forma de concentrar esforços do Estado e da sociedade, a fim de garantir que as pessoas vulnerabilizadas também tenham seus direitos garantidos para vivenciar uma velhice ativa, digna e saudável.

De acordo com o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo, em 2023, o município de São Paulo apresentou dados alarmantes sobre a média da expectativa de vida em bairros que são relativamente próximos, como é o caso de Jardim Paulista e Itaim Bibi, que estima 82 anos em contraponto à Anhanguera, que chega a 59 anos de idade.

Diante desses dados associados às regiões onde a violência e a pobreza são também desproporcionais, me pergunto: a quem cabe o direito de viver mais?

Sabemos que viver mais não é um triunfo meramente biológico, é também psicossocial, em que todos nós, direta ou indiretamente, somos responsáveis por esse contexto, enquanto cidadãos e cidadãs que vivem em sociedade.

É justamente para esse ponto que a OPAS chama atenção: precisamos ressignificar como vemos a velhice, romper com mitos e estereótipos que reforçam o preconceito e a discriminação em detrimento a idade e demais aspectos que podem nos colocar em condições de vulnerabilidades ainda maior.

Como será a velhice do outro?

A velhice é transversal — ou como dizemos nas Ciências Sociais, intersseccional — aos demais aspectos que compõem nossa identidade e nos colocam em lugares sociais específicos, permeados por oportunidades ou iniquidades.

Como será a velhice de pessoas negras numa sociedade racista? Elas, ao longo da vida, possuem as mesmas condições de acessos à saúde, educação e trabalho que pessoas brancas? Costumamos escutar e acolher suas percepções e vivências sobre esse assunto?

Qual lugar ocupam as mulheres idosas na sociedade? Elas tendem a se cuidar mais ao longo da vida, mas sabemos que também chegam na velhice com maiores complicações de saúde, principalmente com agravos crônicos. A sobrecarga do trabalho e a cobrança social que sofrem são extremamente perversas.

E as pessoas idosas LGBTQIA+? Como chegam na velhice? Quem são as pessoas que envelhecem com elas? Os serviços (e as pessoas que atuam nele) acolhem, respeitam e valorizam a diversidade sexual e de gênero? Quais são suas necessidades sociais e de saúde?

Pessoas idosas que vivem com demências ou com limitações funcionais ou cognitivas possuem acesso ao cuidado adequado? Suas famílias conseguem oferecer o melhor para essas pessoas nesse contexto?

Participe da Parada da Longevidade

Considerando a diversidade de envelhecimento e velhices, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção São Paulo, alinhada às diretrizes da OPAS, organizou a Parada da Longevidade, que acontecerá na Avenida Paulista, no dia 24 de março às 09h, em frente da FIESP.

É um evento para todas as pessoas de diferentes realidades etárias e socioculturais.

O objetivo é justamente esse: dar visibilidade aos diferentes contextos do envelhecimento que vivemos e das velhices possíveis, assim como, fortalecermos vínculos em uma rede gerontológica composta por diferentes sociedades e conselhos profissionais, serviços sem fins lucrativos voltados às pessoas idosas, gestores de políticas públicas voltadas ao envelhecimento e serviços especializados em atendimento à pessoa idosa.

A programação foi organizada a partir das palavras de ordem  do Relatório Mundial sobre o Idadismo: como pensar, sentir e agir a favor do envelhecimento ativo e saudável.

Informações e inscrições gratuitas aqui

Diego Felix Miguel, doutorando em Saúde Pública pela USP, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção São Paulo e Gerente do Convita – serviço de referência para atendimento de pessoas idosas imigrantes e descendentes de italianos. Escreve a convite do Blog do Mílton Jung.

Quem acolhe as pessoas idosas que vivem com HIV?

Por Diego Felix Miguel

Foto de Anna Shvets

O Dia Internacional de Luta contra a AIDS, celebrado em 1º de dezembro e instituído em 1988 pela Organização das Nações Unidas, visa aumentar a visibilidade das demandas de pessoas que vivem com HIV, contribuir para a desmistificação e promover uma compreensão mais aprofundada da infecção na sociedade, tratando-a como uma questão de saúde pública.

A intersecção do idadismo, que é o preconceito e discriminação pela idade, com a sorofobia, que é a aversão contra pessoas vivendo com HIV, representa um dos grandes desafios enfrentados por profissionais que atuam com idosos e se empenham em reforçar as boas práticas em Geriatria e Gerontologia.

Quando levamos em conta aspectos diversos que formam nossa identidade, como gênero, raça, cor, orientação sexual e etnia, torna-se evidente a iniquidade no acesso a informações e orientações eficazes sobre prevenção e tratamento digno disponíveis para todos.

A desigualdade social agrava a vulnerabilidade e expõe as pessoas idosas a várias formas de violência. Entre elas, destaca-se a solidão e a falta de uma rede de apoio que permita compartilhar, com confidencialidade, desejos e práticas sexuais sem o medo de julgamento ou de exposição vexatória em redes sociais, o que perpetua a ideia ultrapassada de uma velhice assexuada, heteronormativa e conservadora.

Por isso, esclareço o título deste artigo: “Quem acolhe as pessoas idosas que vivem com HIV?”.

A palavra “acolher” aqui não deve ser entendida como um reforço do estereótipo de que pessoas com HIV sejam dependentes e necessitem de ajuda, mas sim que a ciência mostra diariamente o quanto é possível gerir a doença e manter uma vida saudável e ativa com o tratamento adequado.

Acolhimento, neste contexto, significa o quanto estamos dispostos a eliminar preconceitos. Sabemos que qualquer pessoa sexualmente ativa pode estar sujeita a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e isso não está associado à promiscuidade, mas à necessidade de repensar os ‘juízos de valores’ baseados em visões conservadoras.

No que diz respeito a autocuidado e prevenção, o importante não é o número de parceiros(as) sexuais, mas sim como cada um cuida de si, os métodos de prevenção escolhidos e, fundamentalmente, um processo de autoconhecimento.

Devemos também atualizar nossa abordagem. O preservativo é apenas uma das várias opções de prevenção disponíveis.

Refletir sobre o impacto traumático de imagens de pessoas com infecções avançadas é crucial; abordagens que geram medo apenas reforçam estigmas e culpabilizam, perpetuando preconceitos e discriminações enraizados em nossa percepção do que é aceitável na intimidade e prazer entre pessoas.

A sorofobia cria uma desigualdade de poder ao ignorarmos a confidencialidade e ao nos fecharmos para novas realidades e práticas sexuais. Enxergar as ISTs de maneira estigmatizante apenas fortalece a noção de culpa em indivíduos que são, na realidade, vítimas de um sistema injusto.

É essencial estarmos abertos para entender a sexualidade em toda a sua complexidade, incluindo estratégias de prevenção atualizadas como a Profilaxia Pré-exposição (PrEP), Profilaxia Pós-exposição (PEP) e a Prevenção Combinada, que engloba a redução de riscos, todas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, é importante ressaltar que pessoas que vivem com HIV têm acesso a tratamentos eficazes que garantem sua qualidade de vida e, quando estão com carga viral indetectável, não transmitem o vírus através de práticas sexuais.

O debate sobre o HIV não deve ser limitado aos profissionais de saúde ou gestores de políticas públicas; é um tema pertinente a todos nós, cidadãos que formamos a sociedade, e devemos participar ativamente dessa luta, unindo-nos contra a sorofobia.

Mais informações no site da Unaids

Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e membro da Diretoria da SBGG-SP, gerente do Convita – Patronato Assistencial Imigrantes Italianos, mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve a convite do blog

Conte Sua História de São Paulo: minha imagem na janela do metrô

Por Marcelo Vieira Pinto

Ouvinte da CBN

Foto de Pixabay

Essa história deve ser contada na primeira pessoa, não por prioridade, mas para expressar fielmente a realidade do sentimento. A generosa frieza da humanidade. Acordei lépido, depois de um sono, por minha consideração, longo, de cinco horas ininterruptas e o complemento posterior de mais três.

Um belo desjejum à base de frutas, sanduíche e o querido e esperado café, acompanhado de uma disposição incomum para a prática esportiva. O sentimento era de um senhor vigoroso, equilibrado e me lembro bem da atenção em manter o foco na minha pessoa.

Sai à rua em direção ao metrô Brooklin para cumprir um compromisso. O caminho se apresentava com uma energia colorida pelo sol forte, que esquentava o ambiente, mas o bem-estar interior se sobrepunha a qualquer pensamento negativo.

Entrei no espaço, comprei meu bilhete e caminhei em direção à plataforma. Sentia-me o melhor cidadão paulistano, admirando a simples educação popular nas escadas rolantes e o inesperado respeito ao entrar no vagão. Ambiente com lotação completa, o calor das pessoas era inevitável sentir, embora o ar-condicionado estivesse em perfeito funcionamento.

Subitamente, uma jovem se levanta me oferecendo seu assento. Sua expressão era de uma pessoa caridosa. Sinceramente, meu sentimento foi em direção oposta ao que eu sentia segundos atrás. Inesperadamente, tive a percepção de que transparecia a imagem de um frágil senhor, um idoso que carecia de um assento.

Agradeci, recusei e automaticamente olhei minha figura, que refletia na janela do veículo, e o esforço para encontrar aquele senhor vigoroso foi de certo modo desgastante. Passados alguns minutos, me desloquei para o centro do vagão, quando, acreditem, um senhor obeso, juro, bem obeso, se levanta para me ceder seu lugar.

Desculpem-me, mas é difícil demais andar em equilíbrio. Acho que vou comprar uma bengala para minha cabeça.

Ouça aqui o Conte Sua História de São Paulo

Marcelo Vieira Pinto é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também personagem da nossa cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Ouça outros capítulos da nossa cidade no podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Dez Por Cento Mais: os velhos também fazem sexo!

Ilustração da capa do livro “Sexualidade na velhice”

Muitos de nós pensamos no futuro, seja no âmbito profissional seja no pessoal. Mas quantos de nós paramos para refletir sobre como será nossa vida sexual na maturidade? A verdade é que a maioria teme esse tema, visto que vivemos em uma sociedade que hipersexualiza a juventude e frequentemente marginaliza os desejos e necessidades dos mais velhos. A jornalista e escritora Tania Celidonio, por meio de suas pesquisas, derruba tabus e revela uma perspectiva surpreendente e inspiradora sobre a sexualidade na terceira idade. Ela foi entrevistada pelo programa Dez Por Cento Mais, no YouTube.

Tania tem uma longa trajetória no jornalismo, mas foi ao explorar as complexidades da sexualidade na terceira idade que encontrou novas paixões e desafios. Em uma pesquisa ampla, que começou com seu círculo pessoal e se expandiu através das redes sociais, ela coletou cerca de 250 depoimentos sobre o tema. Os relatos, ricos e diversos, revelam uma amplitude de sentimentos, desejos, dúvidas e certezas que muitos preferem esconder por trás de pseudônimos. A pesquisa deu origem ao livro  “Mistérios e aflições da sexualidade na velhice” (Terra Redonda).

O sexo além do desejo físico

Para começar, é preciso entender que a sexualidade não se limita ao desejo físico e ao ato em si. Conforme destacado pela psicóloga Simone Domingues, uma das apresentadoras do programa, a sexualidade envolve intimidade, parceria, entrega e afeto. Essa dimensão profunda e abrangente da sexualidade se torna ainda mais evidente com o passar dos anos, quando a conexão emocional pode se sobrepor ao desejo físico.

Além disso, a pesquisa de Tania revela que muitos idosos sentem alívio ao não ter mais a “obrigação” de desejar constantemente, e conseguem abraçar a intimidade sem o foco exclusivo no ato sexual. Esta é uma revelação esclarecedora para os mais jovens, mostrando que a sexualidade se transforma, mas não desaparece.

Por outro lado, a sociedade ainda carrega muitos preconceitos. Tania citou Simone de Beauvoir, que em 1970 observou que se os idosos demonstrassem os mesmos desejos e sentimentos que os jovens, seriam vistos com desdém ou ridicularizados. Esta percepção parece ainda ressoar em muitas sociedades contemporâneas. No entanto, a questão é: por quê? Por que a sociedade tem padrões tão diferentes para homens e mulheres à medida que envelhecem? 

O preconceito é ainda maior com mulheres

Para as mulheres, o cenário é ainda mais complexo. A menopausa pode trazer consigo uma série de desafios, desde a diminuição do desejo até questões físicas, como ressecamento. Ao contrário dos homens, cujas soluções para disfunção erétil são amplamente discutidas e medicadas, as mulheres enfrentam uma lacuna no tratamento e compreensão de suas necessidades sexuais durante o envelhecimento. 

Talvez o ponto mais revelador de toda a discussão seja o padrão social imposto sobre os idosos, especialmente as mulheres. No universo dos relacionamentos, enquanto homens mais velhos com parceiras mais jovens são muitas vezes vistos como aceitáveis, mulheres mais velhas que expressam atração por homens mais jovens enfrentam julgamentos mais duros. 

O que fica claro na entrevista é que, assim como em qualquer fase da vida, a sexualidade na terceira idade é multifacetada. Não há uma única “maneira correta” de vivenciá-la. O que é essencial é o respeito, a comunicação e a abertura para entender e aceitar as mudanças que ocorrem ao longo do tempo. É preciso desmistificar e normalizar as conversas sobre sexualidade na velhice. Afinal, como bem destacou a jornalista Abigail Costa, “sexualidade é algo tão natural para o ser humano”, e não deveríamos ter vergonha ou medo de discutir, compreender e abraçar essa verdade em todas as fases da vida.

Dica Dez Por Cento Mais

Tania Celidônio, convidada por Abigail Costa e Simone Domingues, deixou sua Dica Dez Por Cento Mais: 

“Envelhecer é difícil. Não vai ser fácil para ninguém. Eu acho que se a gente encarar com bom humor, além do realismo que vem junto fica mais fácil. Porque não é fácil segurar essa onda. A minha dica seria essa. E também apostar na diversidade, porque isso que eu falei, o grande barato para mim foi perceber que a sexualidade tem uma diversidade incrível e a gente pode aproveitar mesmo depois de velho”.

Assista à entrevista no YouTube

Um novo episódio do Dez Por Cento Mais pode ser assistido ao vivo todas as quartas-feiras, às oito da noite (horário de Brasília), no YouTube. O programa também está disponível em podcast, no Spotify. A apresentação e produção é da jornalista Abigail Costa e da psicóloga Simone Domingues.

Bem feito para quem insiste com essa tal “terceira idade”

 

Por Milton Ferretti Jung

 

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“Não existe terceira idade. Idade é algo contínuo”.

 

Surgiu,finalmente,uma pessoa que foi capaz de proclamar, alto e bom som,que a mania que os mais jovens têm de considerar quem atinge determinada idade ter chegado à terceira de sua vida é um erro. A frase que reproduzi na abertura deste texto foi pronunciada por um médico cuja competência para falar – e tratar,como não? – de um assunto sobre o qual é um dos maiores,senão o maior dentre todos os especialistas no seu ramo – a geriatria – é incontestável.

 

Chamou-me a atenção a manchete de Zero Hora que encaminhou a entrevista de Luisa Martins com o Professor Yukio Moriguchi. É uma pena,mas este cidadão nascido no Japão faz 89 anos, vai se aposentar após formar centenas de médicos e revolucionar a especialidade que tornou o seu nome famoso no Brasil e no mundo.

 

O reitor da PUC,na qual o médico lecionou durante 45 anos e considerava a sua segunda casa, o irmão Joaquim Cortet, anuncia que Moriguchi receberá, durante o 16º Simpósio Internacional de Geriatria e Gerontologia, o título de Professor Emérito. Esta é a maior honraria acadêmica fornecida aos professores aposentados que atingiram alto grau de projeção em sua atividade.

 

“Se Deus me desse uma segunda chance de nascer, eu iria escolher ser professor de novo”. Doutor Moriguchi, autor também dessa frase, acorda às 4h30min para preparar aulas e revisar o conteúdo de suas palestras.Não esquece de sua mulher Lia,para a qual deixa sobre a mesa um copo de chá gelado. Ela,que acorda às 8h, quando o Professor já se encontra no seu consultório.

 

Aos seus pacientes, ele pergunta, antes de mais nada,”em que pode ajudar”. Eu lhe perguntaria,mesmo sem ter sido um de seus pacientes, por que motivo os mais jovens tacham os mais velhos de uma coisa que para Moriguchi não existe,isto é,a “terceira idade”.

 

Bem feito para quem teima em usar,como se fosse um elogio, esta maldita expressão!

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Elsa e Fred: para pensar sobre a única certeza da vida

 

 

Por Biba Mello

 

FILME DA SEMANA
“Elsa e Fred Um Amor de Paixão”
Um filme de Marcos Carnevale.
Gênero: Amor.
País:Espanha/Argentina

 

Dois senhores se apaixonam… Elsa é cheia de vida e Fred rabugento e melancólico. Fred é o novo vizinho de Elsa e ele acabou de perder a esposa. A urgência pela vida é grande. Os dois não terão um futuro juntos. Querem viver o momento; cada um a seu modo.

 

Por que ver:
É um daquele filmes que te leva a uma reflexão profunda sobre nossas vidas seja qual for o momento dela. Nos leva a pensar sobre a única certeza que insiste em estar presente a cada resfriado que pegamos… a morte. Será que estou inteira em minha vida, no meu trabalho, com meu marido e filho, amigos? Cada vez que assisto a este filme, me dá uma vontade louca de viver, um momento Carpe Diem total.

 

Existem duas versões do filme, uma mais atual, com um de meus atores favoritos na pele de Fred, Christopher Plummer, e, interpretando a Elsa, a Shirley Maclaine; e a versão argentina que foi a que eu vi. Portanto, estou falando da versão original, ok?
Nessa, a atuação do casal é tão soberba, precisa e tocante, que a cada olhar e a cada gesto nos faz estar na pele daquele personagem, expondo nossa própria história com uma crueza cortante. É aí que fica evidente o quanto este filme/roteiro foram construídos em cima do talento destes atores que são capazes de nos despirem com suas atuações.

 

Como ver:
Com alguém bom de papo. A conversa vai durar por horas.

 

Quando não ver:
Se você tiver menos de 10 anos(classificação do filme), no mais, vale tudo.

 


Biba Mello, diretora de cinema, blogger e apaixonada por assuntos femininos. Aqui no Blog do Mílton Jung, sempre disposta a oferecer uma boa sugestão para você

Estatuto do Idoso faz 10 anos precisando se renovar

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Ontem, o Estatuto do Idoso completou 10 anos. Um avanço, de lei e de execução, embora ainda falte muito para que tenhamos efetivamente um tratamento ideal aos idosos. Nem mesmo o principal protagonista, o deputado Paulo Paim (PT/RS), autor do projeto de lei que originou o Estatuto do Idoso, pelo que observamos através da mídia, deixa de identificar um longo caminho à plenitude do trato ideal aos idosos. Há acertos a fazer na lei, na operação e na cultura geral.

 

A lei precisa atualizar a matemática demográfica, pois 60 anos é prematuro para conceituar idoso no mundo de hoje. Talvez 70 anos seja a melhor definição genérica. Pois específica nem tanto, se olharmos alguns espécimes como a turma do Rock’n’Roll, de Paul McCartney e Mick Jagger, ou os compositores e cantores brasileiros Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto Carlos, todos na faixa dos 70.

 

Essa contextualização do Estatuto é fundamental para o equilíbrio do sistema. Tanto no aspecto de ressência quanto no atuarial, pois contribuiria para diminuir o déficit do sistema previdenciário. Ao mesmo tempo é preciso uma blindagem permanente à demagogia, tão comum em época de eleições. Agora mesmo está no Congresso um projeto para reduzir o período de aposentadoria de trabalhadores da construção civil, de frentistas, de garçons e de cozinheiros para 25 anos.

 

Ao mesmo tempo em que alguns itens do Estatuto são cumpridos, como nas áreas sociais, culturais e de medicação, ainda encontramos enormes necessidades não atendidas. Os planos de saúde não respeitam o Estatuto e aviltam os custos ao condicioná-los exclusivamente ao universo do idoso sem compensar com as demais faixas etárias. A burocracia estatal é gigantesca e alguns setores ainda não dão a prioridade necessária. Tributar a aposentadoria é algo inexplicável, bem como reduzir os reajustes da pensão, punindo severamente os longevos. Enquanto crescem as necessidades, decrescem as pensões. Nem mesmo a restituição do imposto de renda prioriza os idosos, embora a fala oficial a proclame.

 

O idoso não quer caridade, quer humanidade. Dando condições ativas poderá contribuir com a experiência que contará sempre positivamente.

 

Que tal começarmos pela mudança do símbolo? 60 anos com bengala?

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

 

A imagem acima faz parte de campanha “A Nova Cara da 3ª Idade” da agência Garage com apoio da ItsNOON, Catarse, Enox e Update or Die

O seguro morreu de velho

 

Por Milton Ferretti Jung

 

O meu pai, seu Aldo, como preferia ser chamado, comprou o seu primeiro carro em 1937. Como nasci em 1935, não posso dizer que lembro desse automóvel. Conheci-o em fotografias, lamentavemente desaparecidas na poeira do tempo. Tenho uma vaga ideia de que o carrinho, com os seus dois cilindros, recusou-se a subir uma lomba em uma estrada de terra. Faltou-lhe força. A Segunda Guerra estava por começar quando papai trocou o DKW por um Chevrolet 1939, zero quilômetro, importado, como todos os automóveis daquela época, dos Estados Unidos. Desse tenho, até hoje,boas lembranças fotográficas, guardadas com saudade. Em uma dela, apareço já grandinho, junto com minha irmã, sentada sobre o capô.

 

Não sei qual era a quilometragem do Chevrolet quando o meu pai decidiu o colocar na garagem da nossa casa, sobre quatro cavaletes. Houve que preferisse usar o que chamavam de gasogênio, uma traquitana danada que substitua a escassa gasolina. Já o motor do carro do meu pai era ligado seguidamente a fim de evitar que sofresse danos com a longa paralisação. O meu querido velho acreditava piamente que, ao final da guerra, o preço dos automóveis não fosse subir. Mas aumentou de maneira considerável. Não tenho a mínima ideia de quanto obteve com a venda precipitada do Chevrolet.

 

O Citroën, terceiro carro do meu pai, veio da França, de navio. Era para ser negro brilhante. Aliás, como os primeiros Ford, nunca se viu um Citroën que não fosse, originalmente, preto. O revendedor da marca, explicou que a mão definitiva de tinta seria dada tão pronto o produto desembarcasse em Porto Alegre. Isso acabou caindo no esquecimento. Fosse hoje em dia e, no mínimo, a revenda iria se incomodar com o PROCON. Pintura à parte, o Citroën foi o primeiro automóvel que dirigi. Papai o adquiriu quando eu estava internado no Colégio São Tiago, em Farroupilha, na Serra gaúcha. Fui surpreendido com a visita do meus pais que foram me apresentar o francesinho. Ele acabou sendo o meu primeiro carro, depois de passar vinte anos na casa paterna. O seu Aldo o vendeu para mim em um negócio de pai para filho, isto é, sem juros. Precisei reformá-lo de cima para baixo. Saiu caro.

 

Após o Citroën, o meu pai passou a trocar de carro com mais frequência. Teve uma coleção de Fucas. O último, um 1966, quem herdou foi o meu caçula, o Christian. Hoje,ele tem um Fusca apetrechadíssimo. Já eu, sempre que papai comprava um Fusca zero km, ficava com o usado. E era um excelente negócio. Todos tinham baixa quilometragem. Só não consigo recordar a partir de qual automóvel passei a fazer seguro. A propósito de seguro-auto, fiz todo o intróito que se viu acima (se é que alguém enfrentou tal sacrifício), vou relatar a surpresa que tive ao renovar, faz uma semana, o do meu Beetle.

 

Depois de saber qual o preço do seguro, o moço do BB, que me ligou para acertar a renovação, disse-me que eu teria direito, em saídas noturnas, se houvesse ingerido bebida alcoólica ou, simplesmente, não estivesse disposto a dirigir, bastava ligar para determinado número de telefone para pedir que um táxi me buscasse. Tratava-se de um serviço gratuito, uma cortesia inesperada. Aí, o moço do Banco do Brasil lembrou-se de perguntar o ano do meu nascimento. Disse-lhe que era 1935. O rapaz ficou sem jeito e titubeou ao tentar explicar que, lamentavelmente, a cortesia valia somente para quem tivesse até 70 anos. Minha primeira reação foi dar uma risada. Desliguei o telefone e cai em mim. Por que será que pessoas com mais de 70 anos são discriminadas pela seguradora? Creio que os mais idosos teriam, inclusive, mais direito de se valer da “cortesia”.