“O bom uso da voz, o acolhimento a partir da escuta e a abertura para o outro”

Em 2 de dezembro, o colega jornalista Lauro Jardim, um dos colunistas mais importantes do País, publicou em seu blog informação inédita sobre nosso livro que será lançado em 2023. Reproduzo nota aqui para você:

Em tempos de intolerância, o remédio para superar desavenças pode estar em uma comunicação eficaz. É sobre isso que se debruça o livro “Escute, expresse e fale! – Domine a comunicação e seja um líder poderoso”, que será lançado em janeiro pela editora Rocco.

A obra foi escrita por quatro autores apaixonados pela arte da conversa: Milton Jung, âncora da CBN; a fonoaudióloga e comunicadora Leny Kyrillos; o professor António Sacavém, que ensina inteligência não-verbal e emocional a líderes empresariais e governamentais; e Thomas Brieu, pesquisador de escutatória e padrões de linguagem cooperativa.

Juntos, eles concluem: o bom uso da voz, o acolhimento a partir da escuta e a abertura para o outro são algumas das ferramentas disponíveis para melhorar relações interpessoais.

Expressividade: é preciso coerência entre a palavra, o corpo e a voz

 

Leia mais um trecho do capítulo “Santo de casa não faz milagre, mas tem expressão”, escrito para o livro “Expressividade — Da teoria à prática” (Revinter), organizado pela fonoaudióloga Leny Kyrillos, em 2005. É minha homenagem a fonoaudiologia e em referência ao Dia Mundial da Voz, comemorado em 16 de abril:

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Foto: Pixabay

 

SOBRANCELHA EDITORIAL

“É um absurdo aqueles estilosos âncoras sul-americanos que comentam a notícia e emitem opiniões. Isso não é jornalismo. Não se deve nunca fazer gestos dramáticos ao anunciar um fato. Os sentimento têm que ficar absolutamente de fora”

A crítica ao modelo de âncora que existe no telejornalismo brasileiro é de um dos mais carismáticos jornalistas da televisão americana, Bernard Shaw, que, por sinal, iniciou sua carreira em uma emissora de rádio, em Chicago. Durante 20 anos como profissional da CNN, Shaw participou das principais coberturas políticas nos Estados Unidos em reportagens, entrevistas e mediando debates eleitorais. Em 16 de janeiro de 1991, era um dos três repórteres da CNN que atraíra a audiência de mais de 1 bilhão de telespectadores com a cobertura da primeira noite do ataque das forças aliadas, na “Operação Tempestade no Deserto”, em Bagdá, no Iraque, Antes de se transformar em âncora da CNN, Shaw foi chefe do escritório da ABC News na América Latina e correspondente da CBS News.

 

O formato defendido por Bernard Shaw foi consagrado por Walter Cronkite, na década de 1960. O âncora era uma das personalidades mais respeitadas pela sociedade americana e fez da cobertura da Guerra do Vietnã um capitulo na história do telejornalismo internacional. Sua oposição explícita à guerra foi decisiva para o repúdio generalizado que se verificou nos anos 70. Uma das mais marcantes passagens da carreira de Cronkite foi em um dos raros momentos em que deixou de lado a postura de “âncora americano”, defendida por Shaw, ao declarar publicamente sua inconformidade com a presença dos Estados Unidos no Vietña, logo após voltar do campo de batalha, em 1969:

“… fica cada vez mais claro para mim que a única saída racional será negociar, não como vitorioso, mas como um povo honrado que jurou defender a democracia e fez o melhor possível”

O mais impressionante no poder de persuasão de Walter Cronkite não estava nas palavras, mas nos gestos. A expressão facial tinha significado. Expresava uma opinião, sim —- por mais que âncoras americanos defendam a tese de que não é este seu papel. Cronkite abusava do que Bernard Shaw definiu, em entrevista à jornalista Maria Cristina Poli, reproduzida pelo programa Vitrine, da TV Cultura, como “sobrancelha editorial”.

 

Bernard Shaw, que soube usar como poucos a tal sobrancelha, chamava atenção para um detalhe sobre os olhos capaz de revelar sentimentos. Mais do que isso, opinião. Levante as sobrancelhas logo após uma reportagem com um político negando qualquer envolvimento naquele famoso caso de corrupção, e o telespectador não terá dúvida: você coloca a palavra do político em dúvida. Guardadas as devidas proporções, a combinação da sobrancelha com os olhos no momento certo pode representar tanto quanto um editorial de um jornal impresso. Imagine unir a isto os movimentos do corpo e a palavra. É a expressividade que diante da câmera de vídeo ganha vida.

 

O psicólogo e professor americano Albert Mehrabian demonstra em pesquisa que 55% da transmissão da mensagem do orador para o receptor se dá através do corpo, gesto e expressão facial; 38% dependem da intensidade, tonalidade e outras características da voz; e apenas 7%, da palavra. Percentuais assim postos, leve em consideração o fato de que a maioria das entrevistas apresentadas nos telejornais, assim como as notícias lidas pelos apresentadores, é feita em plano fechado. E vamos compreender a responsabilidade que o rosto tem na comunicação. Nele se encontram informações e sentimento. De tristeza à alegria, de dor à satisfação, de ódio ao amor. Nesta composição, sobrancelhas e olhos se somam ao movimento da boca e dos lábios.

 

Os chineses desde muitos séculos avaliavam a personalidade dos indivíduos através da face. No mundo ocidental, o entendimento de que as relações interpessoais são mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que verbais, apesar de mais recente, já vem do início do século passado. No entanto, manter a harmonia entre o que se diz e o que se expressa é uma tarefa que exige apuro técnico. Você quer transmitir tranquilidade mas não pára de morder os lábios. Quer demonstrar concentração, mas os olhos estão distantes e voltados para cima. Pensa em agradar a amiga que lhe deu aquele vestido duas vezes maior do que seu número, e retribui com um sorriso sem graça.

 

Os textos do capítulo “Santo de casa não faz milagre, mas tem expressividade”, publicados até agora, você tem acesso clicando aqui

O ministro, o cartola e a incontinência verbal

 

Por Carlos Magno Gibrail

Nelson Jobim e Andrés Sanches, protagonistas recentes de frases, que têm feito a festa de adversários políticos e humoristas, demonstram entre outras coisas que a fala destemperada não tem nada a ver com a origem.

Jobim, advogado, mestre em Filosofia e Lógica Matemática, e professor adjunto de Direito Processual Civil da Universidade de Brasília. Foi deputado federal, presidente do STF Supremo Tribunal Federal, ministro da justiça de FHC, e ministro da defesa de Lula e Dilma.

Currículo e tanto para produzir opiniões não tão eloquentes:

“Os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos, hoje perderam a modéstia e é preciso tolerá-los” – Saudando FHC no dia de seu aniversário.

“É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem conhece Brasília” – Referindo-se às colegas de ministério.

“Votei em Serra em 2010” – Em entrevista recente.

Andrés Sanches, curso secundário na escola Nossa Senhora do Brasil em Limeira. Foi feirante, fundador da torcida organizada Pavilhão 9 do Corinthians, diretor de futebol do Corinthians nomeado por Kia Joorabchian representante da MSI do milionário russo Boris Abramovich Berezovsky . Após problemas com a parceria russa foi eleito presidente do Corinthians. Sucedeu Alberto Dualibi, afastado por acusações da Polícia Federal contra a MSI, acusada de lavagem de dinheiro. Conseguiu descartar o Morumbi como o estádio da Copa e planeja abrir o evento com uma obra de um bilhão sem que o Corinthians, seu proprietário, não desembolse tostão. Detonou o Clube dos 13. Tirou do São Paulo o primeiro lugar em arrecadação publicitária. Inimigo de Juvenal Juvêncio e amigo de Ricardo Teixeira, Ronaldo Fenômeno, Kia Joorabchian e Lula.

Um perfil contundente para frases também arrebatadoras:

“Kia, ganhamos, c_ _ _ _ _ _” – Ao telefone, na noite da vitória na eleição para presidente do Corinthians.

“O Corinthians vai ser condenado pela Lei Maria da Penha. Batemos nas meninas ontem” – Comentário feito após vitória sobre o São Paulo.

“Sou amigo do Ricardo Teixeira, sou amigo da Globo, apesar de ela ser gângster” – Na fase de bombardeio ao Clube dos 13.

Origens diferentes, motivações distintas, métodos pessoais peculiares, mas o gosto pelos holofotes e a busca insana e permanente pela espetacularização é fato convergente e latente.
Jobim disse que se retirou. Sanches anuncia que não se candidatará a mais nada. Quem acredita?

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung