Foto-ouvinte: a cara de São Paulo aos 459 anos

Vista desde a Vila Mariana

 

A partir desta semana, teremos aqui no Blog uma seção especial do Foto-Ouvinte com a “Cara de São Paulo aos 459 anos”. Cenas da cidades, ângulos desconhecidos, momentos do seu cotidiano registrados em fotos podem ser enviados para milton@cbn.com.br. Para começar publico foto feita pelo nosso colega de bancada, Thiago Barbosa, desde o apartamento dele no alto da Vila Mariana e com olhar voltado para a zona leste. É uma vista privilegiada, sem dúvida, que revela a dimensão de São Paulo e o horizonte tomado de prédios.

Conte Sua História: Dona Maria do Carmo, uma mulher de verdade

 

No Conte Sua História de São Paulo você acompanha o texto da ouvinte-internauta Meg Guida, no qual fala da Dona Maria do Carmo, a mãe dela que tinha uma enorme capacidade de começar de novo:

 


Ouça este texto que foi ao ar, sonorizado pelo Cláudio Antonio

 

No bairro da Vila Romana, nos idos de 1970, muitas famílias ainda incorporavam expressões em italiano em frases do dia-a-dia. Eu me lembro que minha avó fumava sem culpa porque, na lavoura, quando emigrou da Sicília para cá, pitava para espantar os mosquitos.” Va via”, repetia a minha mãe quando eu ia roubar a massa do crostole estendido sobre a mesa, me repelindo da cozinha, imitando o que a nonna fazia com os mosquitos. Trabalhar pesado era tão natural quanto acordar todas as manhãs, comer e dormir. “Al lavoro”, como palavra de ordem, sempre foi um mantra para mim. E minha mãe, Maria do Carmo, a Carminha, como ninguém fez valer a prática da lida com suor e recompensa. O nosso verbo era começar.

 

Embora o dicionário descreva como a mesma coisa, recomeçar é diferente de começar de novo. Recomeçar, na minha conta, significa iniciar de onde você parou. E de onde você parou pode ser uma parada nada bacana. Você pode ter parado na mesmice, no ostracismo, na concordata e na falência de si mesmo, de suas ideias e perspectivas. No começar de novo, estão atitude e ação. Você sai do estado de paradeira. Olha o cenário da quilometragem que percorreu e se guia por esse espelho retrovisor para acelerar e chegar inteiro, cuidando para não fazer bobagens no meio do caminho. Quem apenas recomeça, sem entender porque parou ou foi parado, corre o risco de repetir o padrão do erro, inconscientemente. Aliás o prefixo “re” sugere mesmo algo a ser reparado, consertado, remendado para fazer o papel de que voltará a ser e ter o efeito de inteiro. Já viu se algum artista que se relança? Uma empresa que se relança? É a mesma coisa que falar do último lançamento de um cantor. Quer dizer que depois desse, não haverá outro?

 

Bem, mas voltemos ao começar de novo. Minha mãe, Maria do Carmo, a Maria, a Carminha batizada assim pelos amigos nos últimos 30 anos, comemorou os seus 80 no dia 25 deste mês, março. E viveu a vida começando de novo, usando um vigor que eu sei lá de onde ela tirava para cada fase, para cada projeto. Minha mãe olhava pelo retrovisor do passado apenas para estar segura de andar para a frente sem bater em ninguém nas ultrapassagens, nas curvas. E ela chegava com sucesso ao destino, sempre. Lembro que na minha infância eu convivia com muita gente em casa, mais de 15 pessoas no usual. E família de verdade éramos eu, minhas duas irmãs e meus pais. Vocês podem acreditar que ao se casar, minha mãe herdou a sogra viúva doente, velhinha, com mais seis pessoas, marido e filhos de uma cunhada recém-adquirida e falecida? E ainda acham que a Amélia era mulher de verdade….Durante anos eu vi minha mãe na ativa, mirando adiante e para o alto. Fazia tudo em casa, sem empregada, cozinhava para um batalhão e sem sal para a minha avó, cuidava de todas nós, acompanhava o dever de casa e ainda por cima costurava como ninguém. Tirava os modelos das revistas e nos vestia como princesas, sem repetir na criação. Até para os nossos cabelos ela inventava moda, colocando cerveja para fixar os cachos, os rabos de cavalo e coques no alto da cabeça. Não tinha tempo ruim pra dona Maria do Carmo. Desemprego do meu pai? Falta de grana? Com essa agenda absurda, ela ainda costurava para a vizinhança para sustentar a casa e os nossos sonhos. Começou de novo quando saímos do ninho, quando voltamos. Quando passamos apertos de alma e de bolso. Quando o marido pensou ir para o andar de cima, mas os amigos do além e o pai de todos o mandaram de volta. Hoje, aos 80 anos e alguma coisa, minha mãe começa de novo todo dia. Nasce nas manhãs irradiando alegria, louca para testar o prato novo que aprendeu na televisão, a roupa que customizou, contar do bazar que participará, da criança que vai vestir. Ela só esquece de começar de verdade – e aí, recomeça sempre- a briga com a balança. Mas é tão linda a figura que minha mãe mostra ao mundo, esculpida com os excessos que a sua culinária impecável insistiu em destacar!

Foto-ouvinte: Do começo ao fim de expediente, o céu em São Paulo

 

O vermelho dominou o céu de São Paulo no amanhecer desta terça-feira e quando seguia para o metrô Barra Funda, na zona oeste, Massao Uehara se encantou com esta imagem.

 

Começa o dia em São Paulo

 

No fim do expediente, após forte chuva na capital, nosso colega de estúdio Thiago Barbosa encontrou o céu amarelo no horizonte, nesta foto tirada do alto da Vila Mariana, zona sul da capital.

 

Fim do expediente

Conte Sua História de SP: As casimiras do meu pai

 

Omar NaufalNo Conte Sua História de São Paulo, Omar Naufal, nascido em Presidente Prudente há 78 anos, descendente de libaneses que chegaram ao Brasil no fim do século 19. A família dele veio para a capital paulista nos anos 1940. O pai virou comerciante de tecidos e tapetes, ofício que ensinou ao garoto Omar. Anos depois, o jovem virou vendedor de casimiras no centro da cidade. Andando na rua São Bento, o rapaz despertou o interesse de produtores da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Depois da quase aventura no cinema, Omar se formou em odontologia e montou um consultório perto de casa, na Vila Mariana. Porém, mesmo com a nova profissão, sempre ajudou o pai no comércio de tapetes orientais no bairro.

A história de seu Omar Neufal, sonorizada pelo Cláudio Antonio, você ouve aqui.

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, 10 e meia da manhã, no CBN SP. Você também pode participar contando mais um capítulo da nossa cidade. Agende uma entrevista em áudio e vídeo no site do Museu da Pessoa ou mande seu texto para milton@cbn.com.br.

Conte Sua História de SP: E aí, Negão !

 

No Conte Sua História de São Paulo, o texto do ouvinte-internauta Gabriel Fernandes fala de uma cena inesquecível para ele e os meninos que brincavam na Vila Mariana:

Ouça o texto de Gabriel Fernandes sonorizado por Cláudio Antonio

Anos 1960. A molecada andava barbada pelas ruas, cabelos compridos, calças Lee, camisas Volta ao Mundo e O Capital de Marx ¬– do qual nunca foram muito além das primeiras páginas – debaixo do braço.

Eu morava na Vila Mariana, ainda garoto, jogava bola, naquele dia, como fazia quase todas as tardes. Tênis Rainha, sem camisa, calção de brim – ainda não se dizia shorts – e uma Bola Pelé furada.

A algumas casas da minha, ergueram um prédio comercial, havia pouco tempo, que passara a ser a sede da Colorado RQ, uma fábrica de televisores existente na época.

O sossego diminuiu bastante e o movimento na rua aumentou muito: carros, caminhões, operários e, com certa frequência, mulheres jovens que transformavam em passarela as calçadas ásperas da rua em que eu morava. Eram garotas-propaganda desfilando sua beleza para o deleite de nossos olhos infanto-juvenis.

Muitas vezes víamos parar uma Mercedes-Benz, dourada, novinha, brilhante, à porta da fábrica. Dela descia um crioulo jovem, forte, posudo, que vinha sempre aboletado no banco traseiro. O motorista era um português, branquelo, falador, canastrão, que costumava tomar umas canjebrinas no boteco em frente de casa. Contava causos, contava grandeza, contava mentiras. Gesticulava muito, engambelava a molecada com sua conversa fiada, mas, no fundo, parecia ser um boa-praça.

Às vezes o negão, terno branco ou de cores fortes, corte impecável, gravatas coloridas, sapatos de verniz ou cromo alemão, andava pelas calçadas exibindo uma linda moça em cada braço e mais duas ou três fazendo graça para ele.

A rua parava, o tempo congelava, até o vento parecia parar de soprar. As mães, as tias e as avós saíam à janela. Prendiam a respiração à espera de algum desfecho inesperado. Mas só a rotina parecia prevalecer.

O português tomava o último gole, dizia um rápido até-logo, abria a porta da Mercedes para o dândi entrar. Beijinhos daqui, beijinhos dali, as moças se despediam, o crioulo entrava no carro, o portuga assumia o volante e deslizavam suave e silenciosamente pelo asfalto até desaparecerem na primeira esquina.

Uma tarde o português interrompeu nossa pelada ao se aproximar com sua máquina dourada. A molecada abriu passagem preventivamente para que o dândi passasse com sua carruagem. Todos voltaram para a calçada. Eu me contentei em ficar no meio-fio. O carro vinha lentamente, o negão no banco traseiro como de hábito, o vidro aberto pela metade.

Inexplicavelmente, enchi o peito e gritei em direção ao carro:

– E aí, negão!

A uma ordem do passageiro, o português parou o carro. Meu coração quase parou de susto. Apertei a Bola Pelé furada nas mãos como se fossem os braços de minha mãe.

– Venha cá, garoto! – chamou o crioulo.

E eu congelado, pregado no chão, a bola ainda mais murcha nas mãos, incapaz de me mover.

– Venha cá, cara! – insistiu o negão.

E eu fui. Pé ante pé, trêmulo, respiração entrecortada, a bola amarrotada nas mãos suadas.

O crioulo colocou o braço para fora da janela. Ofereceu sua mão para um cumprimento. Titubeei, mas, ainda trêmulo, acabei segurando a mão negra e forte.

– Tudo bem garoto? – ele me perguntou – Batendo uma bolinha?

Eu estava era batendo o queixo.

Quando a molecada viu que eu havia sobrevivido, aproximou-se rapidamente do carro. Todos queriam pegar na mão do negão que, pacientemente, a todos cumprimentou e dirigiu algumas palavras.

O carro se foi, o crioulo acenando simpaticamente, aquela cena sendo gravada em nossas lembranças para sempre.

Eu já tinha aprendido a admirar aquele cara havia muito tempo, pelo que dele ouvia falar, lia ou assistia na televisão. Depois daquela tarde, passei também a admirá-lo pela simplicidade e grandeza de espírito.

Segunda década do século XXI. A molecada já não anda barbada pelas ruas, cabelos compridos são raros, as marcas de calças jeans são incontáveis, as camisas Volta ao Mundo há muito desapareceram, assim como O Capital de Marx ¬– do qual a maioria dos jovens nunca ouviu falar.

Mas alguém atravessou praticamente incólume todas essas décadas.
E aí, negão? Essa frase sempre volta à minha cabeça quando revejo na televisão ou nos jornais aquele crioulo, há décadas mundialmente conhecido. Tive o privilégio de assistir ao fenômeno da transformação de um homem em mito: Pelé.

Conte mais um capítulo da nossa cidade, envie um texto ou agende entrevista no Museu da Pessoa. O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar, sábados, logo após às 10 e meia da manhã, no CBN SP.

Conte Sua História de SP: ‘Perigos’ da cidade

 

Mario Messaggi Junior nasceu no Rio de Janeiro em 1962, mas passou a infância em São Paulo. Na cidade, ele precisava ficar distante dos grandes perigos da cidade: um carro que poderia aparecer e os ventanistas. Ele falou sobre todos esses perigos ao Conte Sua História de São Paulo em texto enviado pela internet ao Museu da Pessoa. em janeiro de 2010:
 

Ouça a história de Mário Messaggi Júnior sonorizada por Cláudio Antonio

Nasci no Rio de Janeiro e vim para São Paulo com quatro anos de idade, em 1966. Guardo flashes da viagem de trem do Rio a São Paulo. Chegamos à noite, chovia, o tamanho do trem me impressionou.

Fomos morar no bairro de Vila Mariana, numa casa térrea bem mal cuidada pelos antigos inquilinos, na Rua Sabóia de Medeiros. Depois da escola, o almoço, a lição de casa e a ordem de minha mãe: “Vá brincar lá fora, nada de ficar grudado na TV”. Imagino que as mães dos outros meninos diziam o mesmo, porque a rua se transformava num enorme parque de diversões, com carrinhos de rolemã descendo a Joaquim Libânio, bicicletas de todas as cores, velotróis fazendo ratatá, guerra de mamona e futebol na ladeira. O gol era demarcado por camisetas, pedras ou latas.

Os pais achavam perigoso brincar com carrinhos de rolemã, porque sempre podia aparecer um carro. Isso mesmo, podia: as ruas em volta de minha casa eram movimentadas, mas mesmo assim os carros ainda não as dominavam, dava tempo de avisar os amigos. “Olha lá um carro!”

O fluxo era de um carro a cada meia hora. As histórias de crianças que entravam por debaixo de caminhões com seus rolemãs eram contadas sempre pelos pais, com uma entonação dramática, como um aviso sinistro. Nem eu e nem meus amigos presenciamos algo assim.

As oficinas mecânicas estavam acostumadas com moleques que iam pedir rolemãs velhos para montar seus carrinhos, que ganhavam pedaços de pneu como freio, ripa de madeira pregada atrás do assento, fazendo o encosto, e pinturas coloridas das mais variadas. Muitos moleques queriam ser chofer de caminhão quando crescessem, talvez por essa razão os rolemãs tivessem frases escritas com tinta a óleo.

Outra preocupação dos pais eram os “ventanistas”, ladrões que entravam nas casas e roubavam roupas do varal. As pessoas achavam o cúmulo alguém roubar roupas no varal, era um absurdo, um escândalo. Para evitar os ventanistas, bastava fechar a porta, nem era preciso trancar. Eles não ousavam abrir. Bons ladrões!

Cinco e meia, seis da tarde, a criançada voltava para casa em bando, para tomar banho, jantar, assistir uma hora de TV e ir para a cama.

Você também pode participar do Conte Sua História de São Paulo, enviando seu texto ou gravando seu depoimento no Museu da Pessoa. Agende uma entrevista pelo telefone 2144-7150.

Canto da Cátia: Mandou limpar

 

Cidade Limpa desrespeitada na Vila Mariana

Atirou no pato, acertou no gato. Foi o que aconteceu com a repórter Cátia Toffoletto que ao reportar aos ouvintes-internautas a confusa mudança no trânsito da Vila Mariana registrou desrespeito a lei Cidade Limpa. Na foto que fez para mostrar o congestionamento no local (esta de cima) chamou atenção a quantidade de anúncios do comércio na avenida Professor Noé de Azevedo.

Fotografado pela Cátia, registrado no CBN SP e imagem divulgada pelo Twitter, o caso levou a subprefeitura a fazer uma vistoria no local. Resultado:

“O proprietário do posto de combustível foi notificado e deverá apresentar, num prazo de 5 dias, o CADAN dos dois totens instalados no estabelecimento. A falta de apresentação do documento no prazo estipulado resultará em multa de R$ 10 mil  para cada totem. Já a casa de sucos, localizada ao lado do posto, recebeu auto de intimação pela falta de licença de funcionamento, sendo autuada em  R$ 107,88. Para o local foi iniciada ação fiscal. O proprietário retirou o cavalete e, enquanto a ação fiscal era desenvolvida, retirou parte do anúncio, conforme pode-se observar nas fotografias anexadas. Por estar chumbado no chão, o poste será retirado amanhã” – diz nota enviada pela Subprefeitura de Vila Mariana.

Foto-ouvinte: Preservando o verde

Árvore na rua

Uma árvore plantada ? Ampliação da área verde ? Claro que não. O arbusto foi colocado no local por moradores da Vila Mariana para impedir acidentes graves no buraco nas esquinas da Alceu Wamosi e Nicolau Sousa Queirós. Preocupado com o perigo aos motoristas e pedestres, o ouvinte-internauta Eudorides Pacheco Júnior divulga a foto acima para sensibilizar as autoridades públicas. Ele não tem nada contra o verde, mas não é este o local apropriado para “plantar” árvores na cidade.