Humanidade e medicina: uma jornada literária em ‘Homem Médico’ de Fernando Nobre

A literatura e a medicina sempre renderam excelentes leituras. Desde Machado de Assis, em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “O Alienista”, até Joaquim Manuel de Macedo, médico não-praticante que escreveu “A Moreninha”, onde um dos protagonistas é estudante de medicina e a personagem principal sofre de uma doença rara.

A relação entre esses dois temas vai muito além. Em tempos mais modernos, fui marcado pela escrita de Drauzio Varella em “Estação Carandiru”. A história não-ficcional é intensa e a escrita é primordial. Um texto enxuto e rico, que sempre considerei jornalismo literário, mesmo com a medicina sendo a especialidade do autor.

Há alguns anos, aproveitei as férias para ler “Quando Nietzsche Chorou”, de Irvin D. Yalom, autor de “Mentiras no Divã”. Yalom, psiquiatra, esteve comigo nesta viagem, também, mas nas mãos da minha mulher. Foi ela  que já havia me apresentado “O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu”, do neurologista e químico Oliver Sacks.

Essas leituras sempre me intrigaram pela qualidade dos textos e pela impressionante pesquisa dos autores, especialmente aqueles que se aventuraram pelo romance. Costurar vivências com histórias ficcionais e elaborar um enredo onde sintomas, diagnósticos, doenças e curas surgem em meio à construção de personagens exige um talento extraordinário.

Diante disso, coragem foi a primeira virtude que vi no trabalho do Dr. Fernando Nobre, que lançou recentemente “Homem Médico” (Editora Novo Século). O livro não é autobiográfico, mas certamente encontraremos passagens inspiradas em suas experiências. Só ele pode revelar o que viveu, soube ou criou no cotidiano de Reinaldo, o protagonista, um médico dedicado à profissão desde a juventude, que enfrenta situações de poder e privilégio capazes de influenciar as atitudes humanas. Reinaldo encara dilemas, mesmo com sentimentos puros como o amor, lembrando-se sempre da lição da aula inaugural da medicina:

— “Não poderão orientar os bons hábitos sem que os tenham. Dizerem sobre os males dos vícios se os praticarem. Serem indulgentes se não o forem. Pregarem a resiliência se não forem tolerantes e aceitarem os males que a vida lhe imporá”, disse o orador.

Quem conhece Dr. Fernando sabe de suas reflexões sobre a medicina e seus profissionais; já ouviram dele a necessidade de ver o paciente além do diagnóstico; e compartilham sua crítica àqueles que não enxergam a pessoa além da doença. Seus pacientes também sabem disso, na prática. Ainda assim não temos indícios suficientes que revelem onde está o Fernando, o criador, na figura de Reinaldo, a criatura.

Além de coragem, o romance de Fernando Nobre revela outras virtudes como prudência, ao refletir sobre as decisões éticas e morais dos médicos; justiça, ao promover a ideia de uma medicina igualitária e inclusiva; e empatia, ao humanizar a prática médica e incentivar uma conexão genuína com os pacientes. 

A relação de Fernando Nobre com os livros rendeu-lhe o Prêmio Jabuti, na categoria Ciências de Saúde, em 2006, com “Tratado de Cardiologia”, em que o conhecimento técnico da profissão era o foco. Já “Homem Médico” é mais um exemplo de como a interseção entre literatura e medicina pode render um livro de qualidade e virtudes.

Avalanche Tricolor: nossas virtudes!

Sport 0x0 Grêmio

Brasileiro B – Arena de Pernambuco, Recife/PE

Rodrigues na disputa da bola, em foto de Lucas Uebel

Paciência! Muita paciência! Parece ser a virtude necessária ao fim de mais uma rodada à beira do G4. Estamos a um ponto do grupo que se candidata à ascensão, mas ainda não estamos lá. Não precisa ser agora, porque ainda nos falta bem mais de meio campeonato pela frente, e de nada adianta estar lá para ceder a posição depois. Difícil, porém, é exercitar a paciência em momentos como esse. A ansiedade que nos toma e o desejo de nos livrarmos da maldição da B o mais breve possível, transtornam o torcedor, incomodam os jogadores e pressionam o clube.

Temos de ter tanto paciência quanto força e coragem —- outras das virtudes necessárias para nos elevarmos à Série A. Estas, ao menos, não nos têm faltado. Haja vista a forma como o time se apresentou nas últimas rodadas. Há clara entrega de cada jogador na disputa pela bola, a despeito das limitações técnicas que impedem um passe mais preciso,  um chute certeiro ou a conclusão no gol (que são as virtudes mundanas que o futebol cobra). Nossa defesa é exemplar nesse cenário. Em 12 jogos, tomou apenas quatro gols. Nos últimos cinco, nenhum. Geromel é o ícone deste trabalho; Kannemann, o guerreiro; e Rodrigues, um batalhador. 

O resultado que levamos para Porto Alegre, na noite desta segunda-feira, alcançado com força e coragem, está no limite da paciência exigida. A derrota seria imprudente. Fossem os três pontos, o G4 estaria conquistado Com o ponto ganho na casa do adversário, perseveramos. Seguimos na disputa. E temos a chance de descontarmos a diferença na próxima rodada quando estaremos de volta à Arena.

Como o assunto desta Avalanche são as virtudes. tenhamos fé esperança! 

O que é realmente importante para mim?

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Foto de David Bartus no Pexels

“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente,

o que fazemos para mudar o que somos”

Eduardo Galeano

O que você acha que seria a chave de mudança para você ter uma vida feliz?

Dinheiro? Carros? Reconhecimento? Filhos?

Para os gregos antigos, a sensação de felicidade e realização com a vida seria alcançada ao se viver de acordo com valores, também chamados de virtudes por Aristóteles. Esses valores seriam qualidades de caráter, tais como paciência, coragem, autenticidade, que não seriam naturais ou inatas – sobre as quais não se teria nenhuma interferência. Derivariam da prática, de ações propriamente ditas, tornando-se um hábito.

Desse modo, Aristóteles conceitualiza a virtude como algo que deva ser treinado, através de ações deliberadas, de atitudes que possam nos transformar na pessoa que desejamos ser.

A excelência nesse processo consiste em buscar um equilíbrio apropriado de cada qualidade, através da razão, numa escolha de ações e emoções que conduzam a um meio-termo, para nós e para os outros, evitando faltas e excessos. Por exemplo, a falta de coragem pode ser compreendida como covardia, enquanto seu excesso, pode significar destemor ou audácia.

Por vezes, temos uma tendência a agir pelos extremos, tornando esse caminho do meio-termo a ser percorrido um trajeto difícil.

Somos seres acostumados aos hábitos. Nos sentimos seguros em situações mais familiares. Seguir por caminhos já conhecidos, manter comportamentos que estamos acostumados a ter, por vezes é mais confortável. Não à toa, chamam a isso de zona de conforto.

Desbravar um novo trajeto, traçar um objetivo de quem desejamos nos tornar, de quais qualidades queremos ter, pode ser muito desafiador.

Caminhos antigos são largos, o solo está mais batido. Trilhas pouco exploradas exigem um caminhar mais atento, são pouco sinalizadas, estreitas… causam medo.

Se queremos levar uma vida que vale a pena ser vivida, precisaremos de coragem para desbravar novos caminhos e percorrê-los. Mais do que isso. Precisaremos escolher as sementes que queremos plantar, cultivá-las dia a dia, para que possam florescer.

A propósito, “florescimento” era o termo escolhido pelos gregos para essa mudança, para se viver de acordo com os valores, alcançando a felicidade.

Viver uma vida satisfatória não pressupõe que todas as coisas serão boas ou que nossos sonhos se realizarão. Significa viver aquilo que realmente importa para nós.

Talvez a gente se preocupe em mudar para agradar aos outros, para viver como imaginamos o que os outros esperam de nós. Talvez a gente se preocupe em mudar para sermos mais parecidos com aquilo que vemos nas redes sociais, numa exposição fantasiosa de vida perfeita ou feliz – talvez isso explique mais sobre frustração do que felicidade.

A chave da mudança está dentro de nós. Pode ser mais paciência. Pode ser mais fé. Pode ser menos raiva. Mas somente promoveremos mudanças que nos trarão felicidade, quando perguntarmos para nós mesmos: o que realmente é importante para mim? O que eu desejo fazer para ter uma vida que vale a pena ser vivida?

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento assistindo ao canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais no Youtube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung