Avalanche Tricolor: do inferno astral ao céu tricolor

Grêmio 3×1 Vitória
Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre RS

André comemora o primeiro gol Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

De repente, o que parecia um destino cruel começou a se desenhar em cores mais vivas. Sorte? Astros? Ou apenas futebol jogado com alma? O caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche deve se lembrar que, às vésperas do aniversário gremista, eu falava de um tal “inferno astral”. Era tanto tropeço, tanta desclassificação e tanto perrengue que nem a astrologia parecia capaz de explicar.

Pois não é que, depois da festa, vencemos um Gre-Nal nas circunstâncias que vencemos, arrancamos um ponto improvável contra o atual campeão brasileiro e agora somamos mais três, dando um salto na tabela? Obra dos céus ou da bola?

Sem nunca esquecer que somos “imortais tricolores”, prefiro deixar de lado as explicações celestes. As razões estão aqui mesmo, no gramado. Uma delas atende pelo nome de Arthur, o filho pródigo. Ao voltar para casa, trouxe talento, cadência e ordem ao nosso meio-campo. Seja recuado, ajudando a defesa, seja avançado, ditando passes no ataque, ele nos lembra que quando há qualidade, a bola sempre encontra o melhor caminho.

Outro nome que se impõe é Marcos Rocha. Líder, dono de bom passe e especialista em transformar um arremesso lateral em estratégia de ataque. Foi assim que nasceu o primeiro gol, concluído pelo jovem André Henrique.

Também pesa a experiência de Mano Menezes. Mesmo sob críticas constantes, ele observa o cotidiano dos treinos e arrisca soluções que nem sempre agradam ao torcedor. Depois do empate sofrido, foram justamente suas mudanças que nos levaram à vitória. Trouxe de volta Cristaldo e Amuzu, nomes em quem poucos ainda acreditavam. E os dois corresponderam: Cristaldo com visão de jogo, Amuzu com drible e coragem. O belga fez o segundo gol e ainda serviu Aravena para o terceiro – atacante chileno que escolhido por Mano ao perceber que André Henrique não tinha mais fôlego para permanecer em campo. 

Seja pela lógica da bola ou pela magia dos céus, o torcedor voltou a sorrir. E se a tabela começa a nos mostrar caminhos para a Libertadores, que assim seja: sonhar é, afinal, parte da alma tricolor.

Avalanche Tricolor: uma vitória a Fernandão

Atlético MG 1×3 Grêmio
Brasileiro – Arena MRV, Belo Horizonte MG

Balbuena comemora o gol da virada. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

17 de agosto de 2025. Guarde essa data, torcedor gremista! Tende a ser definitiva nos destinos do Grêmio, nesta titubeante temporada que estamos encarando. Para o calendário futebolístico, é o início da metade final do Campeonato Brasileiro. Um momento crucial para as pretensões de qualquer clube, em especial daqueles que, como nós, estão na parte de baixo da tabela. Se há um momento de reação, a hora é agora. E o Grêmio reagiu!

Lá em Minas, em momento de extrema tensão e pressão, superou-se e venceu de virada o adversário que contava com o apoio maciço de sua torcida. O Grêmio foi a campo depois de ter sido alvo de injustificáveis agressões por parte de um grupo violento de pessoas que se identifica como gremista. Esses trogloditas, que têm de ser expulsos da Arena e do clube, se sócios forem, invadiram a área reservada à delegação no aeroporto Salgado Filho, antes do embarque para Belo Horizonte. Atacaram o ônibus, ameaçaram agredir os jogadores e feriram Luis Fernando Cardoso, conhecido como Fernandão, segurança do Grêmio e da seleção brasileira.

Fernandão é uma dessas personagens que surgem no futebol e ganham destaque sem precisar entrar em campo ou jogar bola. Seu caráter e a excelência do seu trabalho se expressaram ao longo do tempo. Está onde o Grêmio estiver — menos neste fim de semana, quando precisou ficar em Porto Alegre, afastado pela violência da qual foi vítima. Seguidamente é visto na beira do gramado na saída dos jogadores; sempre que aparece alguma treta no caminho para os vestiários, lá está ele para proteger a todos. Ao contrário do que possa estar no imaginário de qualquer um de nós, é o tipo de segurança que está lá para cuidar das pessoas, não para agredir.

Lembro do carinho com que Fernandão tratou meu pai quando fomos à Arena do Grêmio comemorar seus 80 anos de vida. No fim da partida, estávamos a caminho do vestiário, onde o pai receberia de presente uma camiseta do tricolor, das mãos da diretoria e da comissão técnica. Fomos parados em uma das barreiras necessárias para controlar a movimentação de pessoas. E, sem que precisássemos dizer uma só palavra, assim que ele percebeu a presença do pai fez questão de se dirigir até nós e pedir licença a todos para que dessem passagem ao que ele tratou como uma lenda do jornalismo esportivo: “este é o grande Milton Ferretti Jung”. Um ato singelo que ficou no coração de todos nós.

Fernandão já deverá estar de volta à ativa para receber a delegação que chegará em Porto Alegre com uma rara vitória fora de casa na bagagem. Rara e muito importante, especialmente pela maneira como foi construída. Havia uma aparente consistência defensiva quando tomamos o primeiro gol — e como temos levado golaços nestes últimos tempos.

Parecia que estávamos prestes a assistir a mais uma derrota. Porém, sem desistir, conseguimos o empate ainda no primeiro tempo, com Edenilson cabeceando para as redes depois de uma cobrança de escanteio. No segundo tempo, mais uma vez, de uma bola que veio do escanteio, Balbuena aproveitou a sobra e virou o placar a nosso favor. Receosos — gato escaldado tem medo de água fria — só acreditamos que a vitória seria nossa após Aravena completar nas redes uma assistência de André Henrique, a partir de jogada iniciada por Riquelme no meio de campo.

Essa vitória — e por isso convido você, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, a registrar a data de hoje — pode ser o ponto de inflexão que o Grêmio precisava para se recuperar de uma temporada ruim. Que seja também uma vitória dedicada ao Fernandão, símbolo de proteção, caráter e resistência gremista.

Avalanche Tricolor: a rotina dos empates

Vitória 1×1 Grêmio
Brasileiro – Barradão, Salvador BA

Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Empate no Gre-Nal, empate na Sul-Americana e mais um empate no Brasileiro. Desde a goleada sofrida no interior de São Paulo, há pouco mais de dez dias — que sacudiu as estruturas do clube e provocou mudanças no comando técnico —, tem sido essa a rotina do torcedor gremista: degustar empates e entender o sabor de cada um deles. Falamos disso na última edição desta Avalanche.

A curiosidade de todos esses empates é que o Grêmio saiu na frente nas três partidas, gerando a ilusão de que seríamos capazes de uma vitória, mesmo contra adversários difíceis e em partidas fora de casa. Mas os três pontos não vieram, e as falhas defensivas voltaram a ocorrer — e seguirão frustrando nossas expectativas se insistirmos na ideia de apenas nos defendermos.

Na partida deste início de noite de domingo, respiramos um pouco mais aliviados apenas depois de sofrermos o empate — o que pode parecer contraditório. Foi quando se decidiu que era preciso ficar com a bola no pé, trocar passes curtos, movimentar-se e arriscar no ataque. Tivemos mais oportunidades de gol na parte final do jogo do que no restante da partida.

Mesmo que tenhamos feito o gol ainda no primeiro tempo, isso foi resultado de uma rara jogada ofensiva que provocou o escanteio. No restante do tempo, apenas nos defendemos — e o ditado, velho e surrado, já nos ensinou: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

A boa e necessária intenção de reforçar a defesa, aproximando os jogadores e diminuindo os espaços do adversário, não pode servir de desculpa para abdicarmos do ataque. Entendo que era preciso estancar a sangria defensiva, mas não estamos sendo competentes o suficiente para deixar de sofrer gols — e, ao mesmo tempo, temos limitado (ou quase anulado) nossa criatividade na frente.

É preciso encontrar rapidamente um ponto de equilíbrio antes que a presença naquela “zona-que-você-sabe-qual-é” deixe de ser transitória e volte a nos assombrar como um velho pesadelo.

Avalanche Tricolor: sem ilusões

Vitória 1×1 Grêmio
Campeonato Brasileiro – Barradão, Salvador-BA

Gremio x Vitoria
Foto: Lucas Uebel/GremioFBPA

A escapada pela direita, com o passe de calcanhar de Pavón e a chegada rápida seguida pela conclusão certeira de João Pedro, foi o único momento de brilho da equipe do Grêmio nesta noite em Salvador. Em um jogo que serviu apenas para cumprir tabela, o lance trouxe uma breve faísca de criatividade em uma temporada marcada por dificuldades.

Os narradores bem que tentaram instigar o torcedor com a remota possibilidade de conquistar uma vaga na pré-Libertadores. Uma improvável combinação de duas vitórias nas rodadas finais e tropeços dos adversários poderia abrir essa janela. Mas, para quem passou boa parte do campeonato lutando contra o rebaixamento, seria otimismo demais acreditar em tal cenário.

Não assisti ao jogo com essa ilusão, assim como não me iludi com o gol assinalado no primeiro tempo. A campanha no campeonato, marcada por atuações inconsistentes e falhas defensivas recorrentes, deixou claro que somos incapazes de sustentar uma vitória com segurança. Quando o gol de empate veio no segundo tempo, em uma cabeçada certeira do adversário, apenas confirmou o que já era esperado.

Agora, o Grêmio retorna a Porto Alegre para encerrar a temporada diante de um adversário em excelente fase, com disposição ofensiva que promete grandes desafios. Dada a fragilidade que temos demonstrado ao longo do campeonato, vou para essa partida final sem nutrir ilusões de garantir sequer a vaga na Copa Sul-Americana do próximo ano.

Resta torcer para que, ao menos, tenhamos aprendido algo com tantas dificuldades enfrentadas. Mas, confesso, nem mesmo essa esperança me parece plausível.

Avalanche Tricolor: de volta!

Grêmio 2×0 Vitória

Brasileiro – Centenário, Caxias do Sul/RS

Matías Arezo está chegando e fez diferença. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estava de malas prontas e nos preparativos para o retorno ao Brasil quando o Grêmio entrara em campo para uma partida fundamental diante das suas pretensões de deixar aquela zona-que-você-sabe-qual-é, e voltar a disputar de verdade o Campeonato Brasileiro. 

Precisei contar com conexões nem sempre seguras de internet e sinais de vídeo claudicantes no meu caminho até o aeroporto de Curaçao de onde partiria para o Panamá, para acompanhar em “tempo real” o nosso desempenho. A demora na atualização das informações e das imagens colaboraram bastante com a ansiedade de quem estava a espera de um resultado positivo, assim como eu e toda a torcida gremista.

O Centenário lotado sinalizava que os torcedores haviam aceitado o desafio feito pelo time, especialmente após a entrevista coletiva da sexta-feira que colocou os dois maiores ídolos da atualidade, Geromel e Kannemann, ao lado de Renato, que é o maior deles, goste-se ou não de sua forma de falar, treinar e escalar a equipe. A impressão que fiquei, desde que a bola começou a rolar, é que a entrega dos jogadores também estava sintonizada com o apoio das arquibancadas. Digo impressão porque seria injusta uma análise mais aprofundada com base no que lia nos sites que atualizam as informações do jogo e os rompantes de imagens que recebia no meu celular.

(em tempo: avise às marcas que patrocinam as transmissões que é irritante ter de esperá-las se apresentar até podermos pular o anúncio toda vez que precisamos reconectar)

Dava para perceber o esforço em fazer a bola chegar ao ataque e de reduzir ao máximo os riscos impostos pelo adversário com uma marcação forte. A falta de precisão nos chutes, porém, impedia que o domínio em campo se traduzisse em gols – este maldito gol que teima em não sair na quantidade necessária para nos dar um respiro no campeonato.

As estatísticas eram gritantes: dez chutes a gol contra apenas dois do adversário, muito mais escanteios, passes trocados e posse de bola a nosso favor. Mesmo assim terminamos o primeiro tempo no zero a zero e levamos para o vestiário o temor de que o roteiro das últimas partidas se repetiria.

Eu já despachara as malas, quando o segundo tempo havia se iniciado e o que mais buscávamos nessa partida começava a se construir. A visão de jogo de Edenílson deu início a jogada que terminaria nos pés de Soteldo, que driblou duas vezes seus marcadores para chutar de dentro da área. Pouco me importou o sinal da internet deixar a imagem travada ainda antes do chute do venezuelano. Ver o 1 a 0 no placar do APP de esportes era o suficiente aquela altura.

Enquanto apresentava o passaporte no setor de  imigração e submetia as malas ao escaner da fiscalização, minha única preocupação era que o Grêmio, lá em Caxias, não deixasse nenhuma bola passar pela nossa defesa. Pelo que ouvi dos críticos, Rodrigo Ely e Geromel — que entrou ainda no início da partida devido a lesão de Kannemann — deram conta do recado.

A caminho do embarque, minha torcida era só pelo apito final. O um a zero seria o suficiente nesta altura da viagem. Fosse meio a zero, comemoraria igual os necessários três pontos ganhos. Tudo que queria era a vitória de volta. O árbitro, então, resolveu esticar a partida por mais cinco minutos. E o sofrimento pelo tempo estendido foi compensado: o sinal de WI-FI de uma sala VIP me permitiu assistir à jogada que culminaria no pênalti.

Claro que a cobrança de Reinaldo, de pé esquerdo, forte e no alto, me fez vibrar. Mas o que mais me fez feliz no lance, foi ver a presença de Matías Arezo dentro da área. O jovem atacante, que chegou nestes dias e mal desfez as suas malas, recebeu a bola e girou com velocidade em direção ao gol, levando o zagueiro a derrubá-lo. 

Sem ilusões, quero crer que tenhamos encontrado um jogador que sabe o que significa ser um número 9. E o lance tenha sido a primeira escala de uma longa e ótima viagem do uruguaio com a camisa do Grêmio. 

Dito isso, deseje-me boa viagem, também, porque assim como a vitória, eu estou voltando!

Avalanche Tricolor: e a vida depois do túnel?

Grêmio 1 x 0 Vitória

Copa do Brasil —- Arena Grêmio, Porto Alegre

*este não é um texto sobre futebol

Jean Pyerre em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

A  bola mal havia começado a rolar na Arena, e eu ainda tinha compromissos profissionais a cumprir. Online como têm sido todos os que realizo desde o ano passado. Alinhei a tela de dois computadores e mantive um olho no futebol e o outro na mesa redonda. Aliás, uma mesa bem interessante de debate —- bem mais do que o jogo que estava sendo jogado.

Debate rico, pelo tema e pelos convidados. Na série “Paisagens na pandemia”, Jaime Troiano, colega do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, era o técnico, escalou o time e nos botou a jogar: a Cecília Russo, pelo lado da psicologia; o Emerson Bento, da educação; e o Fernando Jucá, das organizações. Fosse vôlei, eu era o levantador. Como a analogia é com o futebol, sem o talento de Jean Pyerre, mas suando a camisa muito mais do que ele, minha função era distribuir o jogo. Fazer perguntas. Provocar a discussão, no bom sentido.

O jogo que nós estávamos jogando tinha três tempos e nós entramos no terceiro. “Religião e o desamparo humano” pautou o  primeiro capítulo da série, “Casa e família: um reencontro”, o segundo; e a nós ou aos meus companheiros de mesa redonda, coube responder a seguinte pergunta:  “E a vida depois do túnel?”.

Muito mais pela experiência de cada um do que pelas assistências que fiz, Cecília, Emerson e Jucá bateram um bolão, jogaram com  as palavras, fizeram embaixadinhas com o conhecimento e deixaram, cada um do seu jeito, um golaço registrado no placar.

A preleção foi do Jaime que, em lugar de fazer essa pobre analogia com o futebol, nos proporcionou uma viagem ao litoral paulista, em caminho que fazia quando criança, no banco de trás do carro, e para passar o tempo contava quantos túneis havia na estrada. Nunca tinha certeza se haveria, na jornada,  um outro túnel —- alguns intermináveis para ansiedade infantil , como acontece com a gente diante desta pandemia. Lembremos que não é o primeiro túnel que enfrentamos, apesar de ser o mais longo de nossas vidas. Talvez não seja o último, e Jaime chamou atenção para isso e nos propôs pensarmos que lições aprendemos para usarmos assim que este acabar e, quem sabe, um próximo túnel se apresentar.

Cecília aproveitou-se do título de um dos seus livros, “Vida de equilibrista: dores e delícias das mães que trabalham”, para, em vez de dar uma resposta definitiva, apresentar outra pergunta provocativa: 

“Sairemos do túnel com uma prática mais equilibrada da divisão de papéis entre gêneros?”. 

A persistirem os sintomas, não. Mesmo que possamos encontrar casos simbólicos em que homens, tendo de trabalhar em casa, perceberam a necessidade de assumirem uma série de tarefas que antes eram realizadas apenas pela “mulher da casa”, pesquisa do Ibope realizada, neste ano, escancara a realidade doméstica. Ao perguntar para o casal quem organizava determinadas tarefas, o instituto identificou que, de 13 atividades descritas, em apenas duas os homens apareceram como os principais responsáveis: tirar o lixo (53%) e fazer o que precisa de manutenção na casa (69%). Cuidar dos filhos (88%), dos idosos (79%) e dos animais de estimação (59%), preparar a refeição (87%), limpar (87%) e lavar (77%), ficaram por conta das mulheres.

Emerson tem a vivência de mais de 20 anos como executivo de um dos mais tradicionais colégios de São Paulo, o Bandeirantes. Pegou o gancho da Cecília para lembrar que homens e mulheres, pais e mães, tiveram um choque de realidade ao serem obrigados a ficar em casa com seus filhos e acompanharem o ensino à distância. A começar pelo fato de que, na avaliação dele, muitos dos adultos usavam a escola como uma espécie de depósito de corpos, onde  deixavam os filhos armazenados em um período do dia para poderem fazer suas atividades. Houve casos em que tentou-se repetir essa estratégia, querendo que as crianças cumprissem seu horário de expediente diante do computador, com a escola reproduzindo a grade das aulas presenciais —- não deu certo, é claro. Professores e alunos foram muito mais flexíveis nas tomadas de decisões e conseguiram se adaptar bem melhor do que os pais àquela nova situação. Para Emerson, a experiência do ensino à distância e a expansão do uso da tecnologia serão suportes para o projeto pedagógico a ser realizado assim que sairmos do túnel. No entanto, ‘vai rodar’ quem não investir nas relações socioemocionais: 

“Quando sairmos do túnel, a tecnologia sustentará uma educação mais humana para os humanos”

Emerson

Pensava cá com meus botões analógicos, se seguirmos enxergando a escola como este ‘depósito de corpos’ e terceirizando a educação dos nossos filhos, que seres humanos estaremos preparando para o futuro —- que para alguns está logo ali, na saída do túnel? Nem bem tinha absorvido essa reflexão, o Jucá entrou na jogada. Pegou a bola, colocou embaixo do braço e pediu um tempo, esse produto raro no ambiente organizacional: 

“O ambiente corporativo hoje é uma máquina de fazer loucos ou um espaço fértil para nosso desenvolvimento pessoal?”

Fernando Jucá

A pergunta abriu caminho para ele contar histórias corporativas que ilustravam luz e sombra no mundo do trabalho. Dramas de pessoas que se perderam entre o “home” e o “office” quando os dois cenários se misturaram; de gente que sem ter o “olhar do dono” no cangote do escritório, tentou mostrar produtividade trabalhando muito além da conta; mas também de gestores que perceberam que as relações humanas deveriam prevalecer, a partir do desenvolvimento de uma prática até então pouco comum: a escuta ativa. Ouvir o que outro tem a dizer, auscultar sua alma e compartilhar os sentimentos — tudo aquilo que não aprendemos em anos de ensino superior, cursos de extensão, mestrados e doutorados. Boa lição desta tragédia que vivemos em sociedade.

Como era de se esperar, na conversa que durou hora e meia não se ofereceu uma resposta definitiva. Nem mesmo que tivessem acréscimos, prorrogação, cobrança de penaltis ou jogo de volta, esta reposta seria definitiva. Porque ela não existe. A começar pelo fato de que a pandemia mais do que transformar pessoas, expressou o que as pessoas têm, pensam e são, para o bem e para o mal. Ou seja, o túnel não tem uma só saída. Existem várias. Caberá a cada um de nós fazermos a escolha certa.

E aí, concluo eu, coisa que aliás não consegui fazer enquanto estava embevecido com a fala dos meus colegas: a nós cabe criarmos na família, na escola e no trabalho ambientes eticamente saudáveis porque assim, quando aqueles que estão ao nosso entorno tiverem de decidir qual caminho seguir no fim do túnel terão a oportunidade de fazerem escolhas mais qualificadas.

E quanto ao jogo? Bem, primeiro disse que esta coluna, apesar de vir sob o selo de Avalanche, não seria sobre futebol; segundo, que a vitória mirrada de um a zero contra um time que jogou metade do tempo com um a menos, não me estimulou a qualquer texto; terceiro, confesso, com cinco minutos de bola rolando no nosso debate até esqueci de olhar para a tela em que o Grêmio estava jogando. Lendo alguns comentários esportivos quero crer que ainda termos um longo túnel a percorrer.

Avalanche Tricolor: ‘obrigado, obrigado’ !

Vitória 0x3 Grêmio

Copa do Brasil – Barradão, Salvador/BA

Foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Era o ano de 1986, o Grêmio com um timaço em campo; e eu um neófito repórter de campo. Naquele tempo, repórter de rádio tinha o direito de ficar ao lado do gramado. E a Guaíba de Porto Alegre, não poupava equipe. Éramos quatro ou cinco para auxiliar o narrador da partida. Conforme a jogada se desenrolava, éramos chamados para destacar aquilo que “só você viu”. Além da alegria de fazer parte daquele elenco de jornalistas esportivo —- e estar assistindo ao meu Grêmio em posição privilegiada —-, ainda tive o prazer de participar da jornada que era comandada por meu pai, Milton Ferretti Jung.

O jogo também me proporcionou um causo para contar.O único gol da partida foi aos oito minutos do segundo tempo, marcado por Osvaldo, um meio de campo com corpo atarracado, boa habilidade nos pés e inteligente ao seu posicionar, que havia feito sucesso na Ponte Preta de São Paulo, e acabou sendo campeão do Mundo pelo Grêmio, em 1983. Assim que ele completou a jogada nas redes coloradas, correu para comemorar em direção às sociais do estádio Olímpico. Agradeceu aos céus e foi acompanhado pelos demais colegas de time. No meio do caminho, estavam eu e meu microfone aberto que captou os gritos pela graça alcançada. 

Coube a mim, descrever o gol e tomei a palavra de Osvaldo para celebrar o momento. Foi então que se criou o folclore de que o “obrigado” que se ouviu na transmissão jamais foi dito por Osvaldo, mas por mim, que, supostamente, comemorava com o time o gol que daria o bicampeonato estadual. Não foi verdade, como você, caro e cada vez mais raro leitor deste blog, pode conferir no vídeo que me foi enviado pelo Ricardo Wortman e está publicado no canal do Edu Cesar, no Youtube. Não que não estivesse comemorando. Estava. Apenas não fui eu quem agradeci a Deus, mesmo que tivesse vontade.

Esta história completou, agora, no dia 20 de julho, 35 anos, e faço este registro porque, na noite de terça-feira, ao assistir ao Grêmio nas oitavas de final da Copa do Brasil, confesso, tive vontade de repetir o mesmo grito e agradecer pela vitoria conquistada. Um 3 a 0 tão raro nestes tempos bicudos do futebol gremista quanto os leitores desta Avalanche. De um time em reconstrução, que tenta encontrar o lugar certo para cada um dos seus jogadores, um posicionamento mais adaptado aos nossos limites e de um técnico sempre capaz de tirar 100% do potencial de cada um de seus comandados. Só assim, foi possível, assistir ao terceiro e definitivo gol que resultou de jogada armada e escalada por Scolari, com a presença de Pinares, Luis Fernando e Diogo Barbosa, que completou para as redes de cabeça.

O resultado não nos dá nenhum título, como o da partida de 1986, mas, convenhamos, nos permite respirar um pouco diante dos inúmeros tropeços que acumulamos nos últimos meses. Mesmo assim, preferi guardar o grito de “obrigado” para outros momentos, até porque Deus tem coisa muito mais importante para fazer agora.

Avalanche Tricolor: a Primavera está chegando

 

Bahia 0x2 Grêmio

Brasileiro — Estádio de Pituaçu, Salvador/BA

 

Alisson comemora o primeiro gol em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Renato é gênio.

Alisson é craque.

Vanderlei, nunca reclamei.

Grêmio mostra a que veio no Campeonato. 

Exagerado?!? Não sou eu, não! 

Exagerados eram os corneteiros que insistiam em pregar a desgraça alheia diante de resultados pouco convincentes. O desempenho estava abaixo do esperado, sem dúvida. Jamais neguei. E se o caro e raro leitor deste blog duvida do que escrevo, basta ler a Avalanche “Que toquem as cornetas”, escrita duas rodadas atrás.

O que não aceitava — e sigo não aceitando — era o exagero da crítica que usava palavras como “fracasso”, “teimosia” e “preguiça” para descrever um time que conquistou o Campeonato Gaúcho, recentemente; mantém a longa invencibilidade contra seu principal rival; vendeu o seu maior craque —- aliás, considerado até então o maior em atuação nos campos brasileiros —-; está em reconstrução porque tem de recolocar peças em lugares de jogadores consagrados; e ainda espera a recuperação física de um grupo que sentiu muito a parada provocada pela pandemia.

A vitória contra o Bahia, fora de casa, talvez amenize o toque das cornetas, pois mesmo com todos os desfalques, mostrou que o DNA do time de Renato se mantém. Saber resistir a força do ataque do adversário, apesar de desfalques em boa parte do sistema defensivo, e aproveitar com precisão a única oportunidade real de gol até aquele momento, 25 minutos do primeiro tempo, deram tranquilidade para o Grêmio colocar a bola no chão, trocar passes e se movimentar com um pouco mais de velocidade.

O curioso é que o time que insistia em não cobrar escanteios com bola cruzada dentro da área, acabou marcando seu primeiro gol na cobrança de lateral a longa distância. Na combinação do arremesso feito por Cortez e o cabeceio de Diego Souza, Alisson foi premiado com um chute certeiro da entrada da área. Merecido gol para um cara que se sacrifica em campo para sustentar o esquema de jogo de Renato — e muitas vezes não é reconhecido por sua função.

Daí pra frente, o Grêmio esboçou o futebol que gostamos e que se seguir evoluindo vai calar de vez os corneteiros. A despeito de uma série de outras boas jogadas, o segundo gol bem ilustrou este momento que estamos reconstruindo: o passe de Everton, o recém-chegado, foi especial. Olha para um lado e dá um tapa para o outro, em velocidade e com precisão. Darlan, recém-alçado ao time titular, que havia participado do inicio do lance, deslocou-se no sentido contrário e se colocou livre para receber o presente do colega de ataque. Marcou seu primeiro gol no time principal — que seja o primeiro de muitos.

O Grêmio está distante de ser o time que Renato, seu grupo e os torcedores esperam. Muito mais longe estava, porém, da imagem construída por parte daqueles que o criticam —- e incluo aqui, especialmente, torcedores insatisfeitos com a própria vida, que descontam tudo naqueles que nos representam em campo. 

A retomada da vitória e a recuperação física e psicológica de alguns jogadores serão muito importantes para a sequência  do calendário, com o revezamento entre Brasileiro e Libertadores, neste mês de Setembro —- o que me faz lembrar que depois do Inverno vem a Primavera.

“É proibido calar” volta aos palcos em São Paulo e, em seguida, bota o pé na estrada

 

 

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A série de entrevistas com os candidatos à presidência, promovida pela CBN e pelo G1, está no ar desde a semana passada; e pela importância do momento tenho me dedicado à preparação das sabatinas. Nem por isso, deixei de lado os eventos relacionados ao lançamento de “É proibido calar! Precisamos falar de ética e cidadania com nossos filhos” (Best Seller).

 

 

Nessa terça-feira, dia 11 de setembro, fui privilegiado com o convite do consultor e palestrante César Souza que lançará o livro dele “Seja o líder que o momento exige”   (Best Business), em evento-show ao lado do mágico Clóvis Tavares.

 

 

Farei a abertura do encontro, no Maksoud Plaza, na qual falarei sobre comunicação, liderança, ética e cidadania. César e Clóvis são os responsáveis pelo show: eles falam sobre as turbulências e desafios da liderança usando a metáfora de um piloto de avião. Logo depois, receberei, ao lado do César, os leitores em sessão de autógrafos.  Para participar do evento basta fazer a inscrição, de graça, no site.

 

 

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No domingo, dia 16 de setembro, o palco ficará por minha conta e risco: a convite da BYU Managemente Society e a J. Reuben Clark Law Society vou conversar com o público sobre  “É proibido calar! Precisamos falar de ética e cidadania com nossos filhos”  O encontro será na se da Igreja de Jesus Cristo dos Santos Últimos Dias, na avenida Professor Francisco Morato, 2430, em São Paulo, às 19 horas, com entrada franca.

 

 

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As viagens para lançamento do livro serão retomadas no fim da próxima semana — assim que se encerrarem as entrevistas com os presidenciáveis. No dia 22 de setembro, estarei em Vitória ES, a convite da CBN Vitória e Rede Gazeta, quando participarei de talk show comandado pelos jornalistas Fernanda Queiroz e Fabio Botacin, às 10 da manhã, no Cinemark — Shopping Vitória.  Garanta já a sua presença fazendo a inscrição de graça através deste link. Já estão confirmados os lançamentos em Belo Horizonte, dia 25 de setembro, terça-feira, e Campinas, no dia 27 de setembro, quinta-feira.

Avalanche Tricolor: jovens, aprendizes da vida

 

Grêmio 3×5 Caxias
Gaúcho – Arena Grêmio

 

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Os guris da VivoKeyd em foto da Riot Games

 

Foi um sábado destinado aos mais jovens. Todos envolvidos em competições e com seus desafios próprios. Fui observador (e torcedor) em todos esses momentos, mesmo porque, por mais que creia na longevidade que me será oferecida, já passei dos tempos em que era um jovem competidor. Não me incomoda esse fato, posso lhe garantir, caro e raro leitor desta Avalanche. Pois vivi intensamente aquela fase, seja no futebol seja no basquete – neste por muito mais tempo. Em uma ou outra modalidade, dediquei-me a vestir a camisa do Grêmio, do colégio Rosário, no qual estudei boa parte da vida escolar, e do Rio Grande do Sul, nas poucas oportunidades para as quais fui convocado. Jogos e títulos perdi muito mais do que ganhei. Experiência e valores para a vida, ganhei muito mais do que desperdicei.

 

Logo no início da tarde de sábado, estive no estúdio em que foi disputada a partida de abertura do CBLol2018, competição nacional de League of Legend, a mais proeminente modalidade de e-Sports que temos notícia. Se duvida no que escrevo, arrisque assistir às transmissões ao vivo no canal SporTV, sábados à uma da tarde. Você vai se surpreender. É só deixar esse preconceito besta de lado. A cada ano que passa – e eu os acompanho ao menos há quatro – é melhor, maior e mais confortável a estrutura oferecida aos pro-players, que são os atletas que formam cada uma das oito organizações credenciadas a disputar o título nacional da “primeira divisão”.

 

Prometo que não me estenderei em explicações sobre o assunto, pois temo perder a atenção do leitor que caiu neste texto acreditando que falaríamos só de futebol. Mas devo dizer que minha presença na competição eletrônica justifica-se pelo envolvimento de meus dois filhos na atividade, um como jornalista e admirador e o outro como “head coach” (sim, eles costumam ser chamados assim em vez do nome em português para a função). Esse último é um dos comandantes do time favorito ao título de 2018 e estreou com uma “sonora vitória” – como descreveu o site do SporTV. Deixou-me feliz e me deixará mais anda se seguirem nesta toada, pois ainda lembro dele e seus comandados – muito já em outros times – tristes e com lágrimas nos olhos quando perderam a final do ano passado, no primeiro semestre.

 

É sempre melhor ver jovens sorrindo e satisfeito com suas conquistas. É revigorante. Pois sabemos que para conquistarem o direito ao sorriso, muitos passaram por dificuldades, às vezes tiveram de dar as costas à família que não entendia sua opção de jogar em lugar de se formar doutor, sofreram em treinamentos exaustivos para melhorar a técnica e o físico, se frustraram ao não serem chamados para compor o time principal, caíram em depressão com a crítica contundente ou choraram diante da derrota.

 

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Os guris do Grêmio em foto de Lucas Uebel/Grêmio Oficial

 

Na minha segunda etapa como observador (e torcedor), diante da televisão onde o Grêmio se apresentava com sua equipe de garotos, os sentimentos de alegria e tristeza se misturaram. Via-se o sorriso dos guris quando seguiam em direção ao ataque; quando conseguiam se livrar do adversário com a bola grudada no pé ou uma gingada de corpo; quando deixavam o companheiro mais bem colocado para o gol. O sorriso era gigantesco na comemoração do tento: e sorriram assim por três vezes, todas no primeiro tempo de partida.

 

No entanto, a alegria de jogar bola se desfez a medida que o adversário reagia, empatava, virava e ganhava a partida. Um dos nossos chorou antes de deixar o gramado. Saiu com a camisa escondendo o rosto. Outros devem ter acordado neste domingo sem ainda entender o que aconteceu? Talvez estejam com vergonha de sair de casa. De trocar mensagens com os amigos no WhatsApp. E temem pelo que ouvirão de seus superiores na volta aos treinos. Sem contar o que estão ouvindo nas redes sociais de gente incapaz de perceber que eles são apenas jovens diante de enormes desafios. Jovens em busca de afirmação, obrigados a tomar decisões, carregar nossas pretensões e amadurecer muito antes do que cada um de nós. Simplesmente, jovens. Que vão vencer, sorrir, perder, chorar. Vão viver!

 

O importante é que sejam capazes de aprender com cada um desses momentos. Se conseguirem, não perderam. Aprenderam. É o que desejo, tanto aos jovens que saíram vencedores, no Lol, quanto aos que sentiram o dissabor da derrota, no futebol.