Avalanche Tricolor: vamos ao que importa

Ypiranga 0x1 Grêmio
Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim/RS

Monsalve comemora o gol da vitória. Foto: LucasUebel/GremioFBPA

Com um time modificado e injustiçado, o Grêmio encerrou a fase de classificação do Campeonato Gaúcho com vitória e garantiu a terceira melhor campanha da competição. A maioria dos titulares ficou em Porto Alegre, enquanto o técnico Gustavo Quinteros já planejava a estreia na Copa do Brasil e, principalmente, ajustava a equipe para o restante da temporada. Os reservas que estiveram em Erechim precisaram superar, além da falta natural de entrosamento, um erro crasso da arbitragem – cometido em conluio com o VAR – que resultou na injusta expulsão de João Lucas ainda no primeiro tempo.

Apesar dos erros e tropeços no gramado ruim do Colosso da Lagoa, o time fazia um primeiro tempo de pressão, desarmes precisos e ataques constantes. Mesmo com um jogador a menos, desde os 25 minutos do primeiro tempo, surpreendeu o adversário ao manter a marcação firme e aproveitar melhor os contra-ataques. A maturidade da defesa, mesmo composta por jovens jogadores, foi uma das boas surpresas da noite. O volante Camilo chamou atenção pelo equilíbrio entre marcação forte e presença ofensiva.

O destaque – e sem nenhuma surpresa – foi Monsalve. Responsável por distribuir o jogo, ele protagonizou o belo e único gol da partida. Recebeu a bola de Aravena em um contra-ataque e, quando a jogada parecia perdida, driblou os marcadores e o goleiro antes de finalizar para as redes.

A vitória não alterou o caminho do Grêmio na fase de mata-mata. O time terá de decidir a vaga na final fora de casa, contra o Juventude, e só poderá conquistar o octacampeonato na Arena se o Caxias avançar na outra chave. Confesso que essa questão pouco me interessa.

O que realmente importa é que o Grêmio chega à fase decisiva mais estruturado e reforçado do que no início do ano. As contratações feitas na reta final da janela de transferências são um alento para o torcedor. Especialmente os reforços para a zaga e a lateral-esquerda trazem a esperança de que o problema defensivo, tão evidente nas últimas duas temporadas, enfim será resolvido. Do meio para frente, o time também se fortalece, com volantes de marcação e atacantes velozes.

A diretoria atendeu aos pedidos de Quinteros, que terá pouco tempo para entrosar a equipe com os novos jogadores, mas, ao menos, enfrentará os jogos decisivos com mais opções no elenco. A expectativa pelo octacampeonato está mais bem alicerçada e deixa de ser apenas um sonho de verão. E que verão é esse que o Rio Grande do Sul enfrenta, caros – e cada vez mais raros – leitores desta Avalanche?

Avalanche Tricolor: o que ganhamos nesta Quarta-feira de Cinzas?

Ypiranga 0x0 Grêmio

Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim/RS

Gustavo Nunes em foto de Guilherme Testa/GREMIO FBPA

Quero ganhar sempre! Na vida e no futebol. Quero ganhar até no toss — como chamávamos antigamente o sorteio que acontece antes de a partida se iniciar para escolher “bola” ou “campo”. Jogar com o que houver de melhor disponível, portanto, será sempre minha opção. O fato, porém, é que minha única responsabilidade em relação ao clube pelo qual torço é de torcer, torcer e torcer. E torcer para ganhar! 

Quem precisa administrar o clube, gerenciar o elenco, planejar a temporada e selecionar prioridades não pode pensar como um torcedor. Sua responsabilidade é muito maior. Extrapola o resultado de uma partida de futebol. Tem de pensar a longo prazo. Fazer escolhas e identificar prioridades. 

Diante disso, não condeno a decisão do Grêmio e seus gestores para a partida da noite desta quarta-feira, em Erechim, cidade que fica há cerca de 370 quilômetros de Porto Alegre. De ônibus, uma viagem com mais de cinco horas de duração. Um desgaste físico que não condiz com a prioridade do resultado na oitava rodada do Campeonato Gaúcho. 

Considerando o que nos interessa em 2024 e o próprio regulamento da competição que disputamos, que classifica os oito primeiros colocados de 12 participantes à fase seguinte, manter o time principal retomando o fôlego e treinando por mais tempo, em Porto Alegre, faz todo o sentido. 

Ao torcedor que quer ver seus principais jogadores em campo e vencer sempre e a todo custo, resta ter paciência. Esperar os momentos decisivos para cobrar desempenho mais apurado, esforço redobrado e resultados condizentes com a história do clube. 

Foi, assim, com complacência que assisti à disputa desta Quarta-feira de Cinzas, no Colosso da Lagoa. E, apesar de mais um empate, que nos mantém na segunda colocação do campeonato e invictos a sete jogos, saí da partida com a expectativa de que a “maquininha” de fabricar ponteiros esquerdos segue ativa pelos lados de Humaitá. Depois de Pedro Rocha, Everton, Pepê e Ferreirinha, fomos apresentados a Gustavo Nunes. 

O atacante tem apenas 18 anos, nasceu no litoral paulista, e chegou no clube em 2021. Foi destaque no ano seguinte na campanha de finalista do Grêmio no Campeonato Brasileiro Sub-17. Em 2023, conquistou o Campeonato Gaúcho Sub-20. Fez sucesso na Copa São Paulo de futebol júnior, em 2024, com três gols e duas assistências em seis partidas disputadas. 

No jogo passado, partiu dos pés dele a assistência para o gol de empate do Grêmio. Hoje, só deu Gustavo Nunes: encarou a marcação forte, demonstrou habilidade no trato da bola e se impôs aos adversários com velocidade. Mais não fez porque estava cercado de colegas que estão aquém do seu futebol, sem contar a nítida falta de entrosamento.

Saímos de Erechim com apenas um ponto a mais na tabela de classificação, e a esperança de que ganhamos mais um atacante. E eu quero ganhar sempre! 

Avalanche Tricolor: Adriel “Lara” é Gigante!

Grêmio 2 (5)x(4) 1 Ypiranga

Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Adriel defendeu dois pênaltis. Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Há exatos cinco anos, assistimos a uma das mais incríveis e decisivas defesas protagonizadas por um goleiro. Foi em Guayaquil, contra o Barcelona equatoriano, em uma semifinal de Libertadores da América. Não fosse a intervenção antológica de Marcelo Grohe teríamos colocado em risco a classificação. Estava dois a zero para nós quando o goleiro — que se sagraria campeão da Libertadores naquele 2017 — impediu, aos três minutos do segundo tempo, o gol de Ariel que traria o adversário para o jogo novamente.

Por coincidências do calendário, neste 25 de março, coube a um outro goleiro gremista ser protagonista da partida que nos manteve na disputa do hexacampeonato gaúcho. Adriel, com apenas 22 anos e do alto de seu 1,95 metro, fez um jogo seguro, a despeito do adversário ter exigido pouco dele. Sempre que precisou, porém, estava na posição correta e ainda ajudou o time a chegar mais rapidamente ao ataque com reposições preciosas. No gol que sofreu no início do segundo tempo, Adriel foi vítima de uma bola que maliciosamente desviou na coxa de um dos zagueiros gremistas. Tinha pouco a fazer naquela circunstância, além de lamentar a falta de sorte. 

O Grêmio encontrou forças para virar a partida impondo-se com qualidade e força frente a um adversário que já demonstrava desgaste na marcação e dificuldade para manter a bola em seu domínio. O gol de empate veio dos pés de Bitello que lançou a bola para dentro da área e encontrou Thaciano. Nosso polivalente jogador já atuo na lateral direita e na ponta direita. Saiu como titular na tarde deste sábado ocupando a posição de volante. E no segundo tempo foi colocado a jogar mais à frente. E foi lá na frente que de cabeça recebeu o lançamento e concluiu de cabeça, devolvendo ao torcedor a esperança da classificação à final (por favor, não deixem Thaciano ir embora).

O gol da virada veio depois de uma série de tentativas frustradas. E ninguém mais frustrado do que Luís Suárez que na partida anterior desperdiçou um pênalti e não conseguiu concluir a gol as várias oportunidades criadas nesse sábado. Coube a Bruno Alves, que havia falhado no gol adversário, completar de cabeça às redes e levar a decisão para os pênaltis.

Foi, então, que Adriel se impôs. Imenso embaixo das traves amedrontou o primeiro marcador e o induziu ao erro — a cobrança foi parar no pé do poste esquerdo do nosso goleiro. Tentou desestabilizar os demais batedores, mas teve dificuldade de encontrar o canto certo da cobrança. Nas duas vezes em que acertou o lado em que a bola vinha, não permitiu que ela alcançasse as redes. 

Adriel foi imenso embaixo dos paus e sua habilidade garantiu a presença na sexta final consecutiva do Campeonato Gaúcho. Confesso, estava com saudades de goleiros pegadores de pênaltis — tais como Marcelo Grohe que segue fazendo das suas no futebol saudita. Não que essa seja obrigação deles. Antes das cobranças decisivas é necessário que demonstrem segurança nos 90 minutos de partida. Nosso goleiro que até pouco tempo sequer completava o banco de reservas e, recentemente, assumiu a posição de titular, tem oferecido ao torcedor a devida tranquilidade. Sai bem do gol, está bem posicionado, sabe jogar com os pés e distribui a bola com tranquilidade Porém, a diferença entre os goleiros e os grandes goleiros se expressa nos momentos mais decisivos. Adriel foi apresentado pela primeira vez a um desses momentos desde que assumiu a posição no time principal. E dele saiu como herói da classificação. 

Esse baiano, nascido em Ilhéus, que começou jogando no Sparta do Tocantins — clube que por coincidência tem as cores azul, preto e branco — e surgiu na base gremista deve saber —- como todos nós torcedores sabemos — que somos o único time do mundo que tem o nome de um goleiro no hino: Eurico Lara.

Um time que faz homenagem a um goleiro no seu hino precisa ter um grande goleiro no seu time. Adriel “Lara” é Gigante!

Avalanche Tricolor: e por falar em saudade!

Ypiranga 1×2 Grêmio

Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim RS 

Homenagem a Lucas Leiva na camisa do Grêmio Foto LucasUebel/GrêmioFBPA

Saudade é sentimento complexo e contraditório, pois pode ser ao mesmo tempo doloroso e reconfortante, triste e bonito, nostálgico e esperançoso. Sente-se por algo ou alguém que está ausente, distante ou que não pode ser alcançado novamente. Lembro dela tomando meu coração nos primeiros meses de vida em São Paulo quando, em 1991, deixei para trás família, amigos e Porto Alegre. Havia semanas mais difíceis do que outras, especialmente quando a messe era pesada por aqui. Era como se a insegurança se torna-se solo fértil para a nostalgia, quase um desejo de voltar ao passado. Superei e hoje já moro há mais tempo em terras paulistanas do que morei na minha cidade natal.

O Grêmio é das coisas que trouxe comigo no coração — e isso qualquer um dos raros e caros leitores desta Avalanche sabem. Dele não tenho saudades porque está onipresente na minha vida. Não há um cenário que eu ocupe em que o tricolor gaúcho não seja citado. É minha referência. E neste domingo não havia outro programa a fazer a não ser sentar-me diante da televisão e assistir ao jogo disputado em Erechim, pela semifinal do Campeonato Gaúcho.

Entramos em campo com uma sequência rara de partidas invictas que começou ainda no fim do ano passado. Vinte jogos sem nenhuma derrota só havia acontecido uma vez nessas duas décadas do século 21. Portanto, a confiança tomava conta dos gremistas, mesmo tendo de enfrentar o adversário em sua casa e pisando em um gramado de baixa qualidade. A jogada que culminou no gol de Luis Suárez foi belíssima pelo talento demonstrado na troca de passes e no chute certeiro de nosso atacante. Era o prêmio para o time que até então tinha a supremacia técnica e tática na partida. E desenhava uma trajetória tranquila para mais uma final de campeonato.

Infelizmente, porém, o Grêmio não soube expressar essa superioridade em gols. Perdeu pênalti e perdeu oportunidades claras, no primeiro tempo. Para depois perder o ímpeto, perder a organização, perder na marcação, perder no tempo de bola, perder qualidade e se perder no jogo. Para quem estava tão bem acostumado com vitórias, haveria outras perdas a lamentar: jogadores lesionados e o capitão Kannemann expulso — sem contar aqueles que servirão suas seleções enquanto estivermos decidindo a vaga à final, no próximo fim de semana. Em especial no segundo tempo, o Grêmio fez uma apresentação que lembrou os times de 2021 e 2022. E desses times não tenho nenhuma saudade.

Em tempo: em uma tarde em que tudo deu errado, não quero esquecer de registrar a bela homenagem que o time fez a Lucas Leiva que anunciou a aposentadoria do futebol devido a um problema no coração, nesta semana. Todos os jogadores entraram em campo com o nome do nosso meio campo nas costas. E Suàrez ainda escreveu na camiseta que vestia embaixo da principal: “Lucas, o nosso coração está contigo, estamos juntos”. Lucas Leiva, este sim, deixará saudade!

Avalanche Tricolor: ainda bem que tinha o Coldplay na preliminar

Ypiranga 0x0 Grêmio

Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim, RS

Foto:  Liamara Polli/GREMIO FBPA

Aqui perto de casa, onde moro desde 1993, começará daqui a pouco mais uma das seis apresentações que a banda britânica de rock Coldplay programou para São Paulo. A turma comandada pelo vocalista e pianista Chris Martin, depois do espetáculo que fez no Rock In Rio 2022, volta ao Brasil para repetir a fórmula que a transformou em um fenômeno de público por onde passa. Acabaram-se os ingressos para os shows no estádio do Morumbi assim como para Curitiba e Rio, onde encerrará a turnê brasileira. Um sucesso!

Após ter sido conquistado pelo desempenho de Chris no palco e pela performance digital que a produção preparou para “Music of the Spheres” — nome que marca o giro que a banda está dando no mundo —, assisti à apresentação que fizeram no Chile, em vídeo disponível no YouTube, na tarde deste sábado, à espera da partida do Grêmio, pelo Campeonato Gaúcho.

Os caras são incríveis — os do Coldplay, é claro! Ao lado de Chris, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion criam uma conexão com o público absurda. Exploram as possibilidades que a tecnologia oferece para engajar o público, tornando-o parte do espetáculo. Dá gosto de assisti-los. E eu já estou arrependido de não ter feito o mínimo de esforço para comprar ingresso para um dia que seja das apresentações aqui na cidade. Vou ter de me contentar com o”Ooh, ooh, ooh, ooh” de Viva La Vida ecoando na janela de casa.

Sem o prazer que o Coldplay poderia me proporcionar, restou-me assistir ao Grêmio, neste sábado. Fomos com o time reserva para uma partida que nada mais valia para a competição, a não ser manter a invencibilidade no campeonato, o que, convenhamos, só valerá mesmo se conquistarmos o título. Campeão invicto é título que soa bem. 

O futebol jogado foi a altura da importância da partida – se é que você me entende. Pouco acima apenas da qualidade do gramado do Colosso da Lagoa, o terceiro maior estádio do Rio Grande do Sul, construído sob o patrocínio do ditador gaúcho Emílio Garrastazu Médici e inaugurado em 1970. 

De tão maltratada, a bola negou-se a estufar a rede e serviu apenas para destacar as qualidades do goleiro gremista Brenno que perdeu, recentemente, a posição de titular para Andrey. Por curioso que pareça, Breno — com um ene só — era o nome do goleiro do Grêmio que enfrentou e foi derrotado pelo Santos de Pelé, no festival de abertura do estádio.

Outro nome que chamou atenção em meio a mediocridade da partida foi Zinho, um guri da base que entrou no segundo tempo para jogar pelo lado esquerdo. Foi atrevido, arriscou dribles, enfrentou os marcadores e foi autor do único, isso mesmo que você leu, o único chute no gol do adversário.

Nem dá para dizer que  o time frustrou as expectativas a medida que estas estavam ausentes diante da proposta gremista de apenas cumprir a tabela, já que a classificação em primeiro lugar havia sido garantida há algumas rodadas. Porém, é preciso que os “donos”do futebol pensem um pouco mais sobre o que têm a oferecer para o seu cliente, os torcedores. Quem foi ao Colosso neste sábado deve ter voltado para a casa com a certeza de que perdeu dinheiro. Pagou por um espetáculo que não foi entregue.

O futebol brasileiro ainda tem muito a aprender com os espetáculos que se realizam pelo mundo,  seja nas atividades esportivas seja nas musicais. Precisa entregar ao torcedor um mínimo de qualidade nem que seja do palco em que o espetáculo vai ser apresentado. Manter um estádio para mais de 20 mil pessoas e com um gramado em péssimo estado é um desperdício e um desrespeito ao torcedor e aos profissionais que se apresentarão. 

Avalanche Tricolor: redivivo e pentacampeão!

Grêmio 2×1 Ypiranga

Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Festa gremista em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Puxei a cadeira azul claro, de ferro, relíquia original do saudoso Olímpico, pra frente da TV, pouco antes de a decisão dessa tarde de sábado se iniciar. Foi a maneira que encontrei de reviver as finais que me levavam ao estádio da Azenha, geralmente ao lado do pai. Hoje, substituo aquela companhia incrível com quem confidenciava minhas preocupações e ansiedades com a performance de nosso time pela dos filhos, especialmente a do mais velho, o Gregório. E talvez pela presença deles — e dele —, tenho, também, muito mais pudor em revelar meu sentimento e entusiasmo, por juvenil que costumam parecer.

Não foram apenas o estádio e o meu decoro que mudaram. Naqueles tempos de Olímpico, às decisões eram reservadas o domingo, dia santo, sagrado e de festa para algumas culturas e religiões. Dia de futebol para todos os brasileiros — hoje não mais. As finais eram um privilégio dos dois grandes de Porto Alegre, com as exceções de praxe. Atualmente, os times do interior se mostram presentes e tem beliscado a taça com muito mais frequência. Haja vista que os cinco títulos seguidos conquistados pelo Grêmio foram disputados contra quatro times diferentes.

Tudo é muito diferente se comparar com o que vivenciei no passado, quando levantar o troféu de campeão Gaúcho era a maior das vitórias almejadas. Desde lá, sonhamos mais alto, ganhamos o Brasil, estendemos nossas fronteiras ao continente e alcançamos o topo do Mundo.

Nessas reviravoltas da vida da bola, cá estávamos nós, mais um vez, depositando todas nossas fichas nessa competição — e assistir à decisão sentado em um cadeira do Olímpico, mesmo que em frente a televisão, fez do sábado um “domingo de final”.

Redivivos no gramado estavam Everaldo, Babá, Alcindo e Joãozinho. Havia Anchieta, Tarcísio, Iura e Loivo. Não faltaram Bonamigo, Cristovão, Cuca e Valdo. Nem Danrlei, Adilson, Paulo Nunes e Jardel. Todos craques que de alguma maneira ficaram na minha memória. E na história do Grêmio.

Redivivo na cadeira do Olímpico estava eu, o guri que forjou sua personalidade nas dependências do velho estádio, apreciando o sabor de uma conquista estadual.

Redivivo, na Arena, neste sábado, estava Roger que entrou para o seleto grupo de gremistas que conquistaram o título gaúcho como jogador e técnico, completando um ciclo que havia sido interrompido em 2016 quando desperdiçou o direito de ser campeão no comando do time com uma derrota na semifinal.

Redivivo estava o Grêmio, de Geromel, que, após o revés de 2021 e os tropeços no início de 2022, volta a ser campeão. Penta Campeão!

Avalanche Tricolor: marca alto, marca forte e marca gol!

Ypiranga 0x1 Grêmio

Gaúcho — Colosso da Lagoa, Erechim/RS

Lucas Silva comemora o gol, em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

Parafraseando locutores de futebol de televisão que descrevem o momento em que a torcida está mais empolgada com um “canta alto e canta forte” —- acho que o autor do jargão é o Luiz Carlos Júnior, da SporTV —. o time do Grêmio, montado por Roger, “marca forte e marca alto”. É isso que faz toda a diferença no sistema defensivo, e jamais retranqueiro, que o treinador conseguiu montar em pouco mais de um mês de trabalho.

O adversário ter mais de 60% de bola em todo o jogo, significa muito pouco para Roger. Ele sabe que sua equipe está posicionada para dar o bote lá na frente, e com poucos toques e velocidade chegar com perigo, como aconteceu em todo o primeiro tempo da partida de sábado à tarde, pela semifinal do Gaúcho.

Caso a bola não seja roubada ainda antes de passar o meio de campo, o time recua fechando os espaços de tal maneira que ao adversário cabe a troca de passes entre os seus defensores na esperança de que aparecerá alguém livre na intermediária para dar sequência à jogada. Mesmo quando esse movimento tem sucesso, ainda será necessário superar a última linha da nossa defesa que se antecipa bem, dobra marcação e, em último caso, ainda tem Geromel para resolver. 

O lance que culminou no malabarismo estético em cima de Diogo Barbosa, ainda no primeiro tempo, ilustra bem o que digo —- por mais lindo que tenha sido, assim que o drible se completou já havia Villasanti na cobertura para impedir a sequência e o perigo ao nosso gol.

É isso que surpreende os analistas de futebol e os críticos (não os da crônica esportiva, mas esses que tem prazer em falar mal do próprio time em rede social). É difícil de entender como a equipe tem tão pouco a bola nos pés e chuta tanto a gol, como no primeiro tempo, em que por duas vezes o poste ou o travessão foram seu destino.

Quando o esquema parecia perder força —  e estava —-, Roger fez mudanças que deixaram a turma eriçada e cheia de argumentos para provar o acerto das críticas que fazem ao time, ao técnico, a diretoria, a Arena e ao raio que os parta. Tirou Campaz e Elias, dois dos melhores em campo, para colocar Janderson e Gabriel Silva. “Que absurdo!”.

Roger estava apenas recompondo seu esquema, porque os dois por melhores que tenham sido, tiveram desgaste físico acima do normal que os impedia de fechar os espaço quando necessário — espaço que se traduzia em ameaça ao nosso gol. Mais adiante, ainda entraram Churín e Vini Paulista em lugar de Diego Souza e Bitello — outro gigante no meio de campo.  “Tá louco!”.

Por curioso e não por coincidência, assim que fez a primeira mudança, o Grêmio voltou à partida, roubou a bola, saiu no contra-ataque com Janderson pela direita, que cruzou em direção ao gol para a chegada de Gabriel Silva, que por pouco não abriu o placar. Da mesma forma, diminuiu o risco lá atrás, onde ao adversário cabia apenas arriscar de fora da área.

O gol aos 43 minutos, começa com Janderson na intermediária, que abre para Lucas Silva, que se desloca por trás dos marcadores para receber na ponta direita. De primeira e para o centro da área, nosso volante —- escolhido o Homem do Jogo — cruza. Vini Paulista deixa a bola passar e Churín é derrubado quando tentava concluir a gol. Gabriel Silva também já fechava em direção ao gol. 

Lucas Silva cobrou muito bem. O Grêmio manteve 100% de aproveitamento em cobranças de pênalti —- o que é um fato a ser comemorado, especialmente depois daquela sequência de desperdícios no fim do ano passado. E leva uma vantagem importante para a final na Arena, sábado que vem, especialmente porque está diante de um adversário que precisa ser respeitado. 

Roger sabe o que faz. Sabe com quem pode contar. E quando pode contar com cada um deles. Em pouco tempo, fez-se entender pelo elenco —- como o próprio Lucas Silva disse ao fim da partida  —, montou um time que “marca alto e marca forte” e está prestes a levar o Grêmio ao pentacampeonato, o que, certamente, fará a torcida, cantar alto e cantar forte — menos aqueles que preferem desperdiçar suas energias falando mal do time pelo qual deveriam estar torcendo. Que se danem!

Avalanche Tricolor: Limonada vive!

Grêmio 2×0 Ypiranga

Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

Campaz comemora gol olímpico. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Sou do tempo do Banha, massagista que fez história no Grêmio. Resolveu a situação de muito jogador com a musculatura desajustada. O fisico avantajado e a gordura que lhe renderam o apelido eram superados por uma habilidade e velocidade impressionante sempre que era chamado a intervir no gramado. Naquela época, massagista fazia parte da estratégia de jogo: conforme o placar e os interesses do técnico e do time, entrava com maior ou menor rapidez no gramado, assim como estendia ou buscava um atalho no tratamento de emergência,. Na foto clássica do título mundial, de 1983, lá estava perfilado, ao lado do time, o saudoso Banha.

Outros nomes entraram para a história do clube, sem que necessariamente tivessem tido a oportunidade de vestir a camisa do time. De presidentes inesquecíveis, como Hélio Dourado, a treinadores geniais, como Oswaldo Rolla, o Foguinho. Dos massagistas, além do Banha, a quem conheci pessoalmente, e fui cliente, havia o Limonada, que cheguei a usar os serviços quando ele estava iniciando carreira e eu era um eterno lesionado nas quadras de basquete.

Neste fim de semana, Limonada teve seu nome lembrado na Arena do Grêmio. Nome e sobrenome: Darli João da Silva. Foi após a assessoria de imprensa do clube anunciar que seria realizado um minuto de silêncio em homenagem ao funcionário tão querido que teria nos deixado, aos 83 anos. Nas emissoras de rádio, colegas jornalistas reproduziram a informação em tom de lamento; tristeza que durou pouco — ainda bem.

O Grêmio até já havia aberto o placar, com um gol olímpico de Campaz, e o intervalo não havia chegado quando o telefone tocou em um das redações de rádio do Rio Grande do Sul: “Limonada está vivo!”, teria dito o interlocutor que denunciou a “barrigada” gremista. Alertado por uma sobrinha, Dona Liberaci da Silva disse que “o Limão está vivinho aqui em casa. Ele está vivo e bem. Limpa a casa, faz de tudo”. 

Consta que o futebol do Grêmio, também. Graças a Deus!

Avalanche Tricolor: estranha vitória para chegar a um resultado costumeiro

Ypiranga 2×3 Grêmio

Gaúcho – Colosso da Lagoa, Erechim RS

Tiago Nunes em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Tudo muito estranho para mim, confesso. Até no uniforme. A camisa é a recém-lançada, que deveríamos ter usado pela primeira vez naquela competição que você-sabe-qual. Pelo que percebo, a atual é baseada em um modelo dos anos 20 —- a retrô está no memorial aqui de casa, ao lado da camisa autografada por Danrlei e Geromel. A combinação com o calção branco ficou estranha. Sem marca. Sem alma. O que não tem a menor importância, eu sei. Uniforme não ganha jogo. Nem perde.

Senti estranheza, também, na figura ao lado do campo. Vou precisar me acostumar. Foram quatro anos e meio acompanhando Renato, suas caras e roupas. Tiago Nunes tem outro estilo — até no jeito de se vestir. Ainda é estrangeiro no ambiente tricolor, mesmo que tenha se esforçado para revelar intimidade nas primeiras palavras como técnico do Grêmio. Nada que o tempo e os resultados não superem.

O que mais me preocupou foi a estranha marcação dentro da área a cada cobrança de escanteio. Todo mundo parecia deslocado, sem saber qual função exercer, enquanto os adversários desperdiçavam gols atrás de gols.

Ouvi os entendidos na televisão dizerem que Renato gostava da marcação individual e Tiago quer marcar por zona. Que zona foi aquilo?!?

Ver a estatística no intervalo da partida e descobrir que o adversário teve 60% de posse de bola também foi esquisito —- especialmente porque nos últimos anos assistimos ao Grêmio jogar com a bola de pé em pé, às vezes além do necessário. Espero que tenha sido apenas circunstância do momento e quando o time entender o que o técnico quer, volte a dominar o campo de jogo. Ou será que eu também vou ter de me acostumar com isso?

Nada mais estranho, porém, do que a partida em si, na qual fizemos um jogo mediano e conquistamos a vitória em cinco minutos, após um pênalti bem cobrado (mesmo que mal assinalado), uma patacoada do goleiro adversário (e a gente não tem nada a ver com isso) e um belo chute de Vanderson que colocou o Grêmio com uma ótima vantagem no primeiro tempo: 3 a 0. Tão boa vantagem que mesmo a sequência de erros no segundo tempo não nos tirou a liderança do Campeonato Gaúcho ao fim de mais uma etapa classificatória.

Aliás, se tem coisas que não me causaram estranheza na noite deste sábado, foi ver o Grêmio, tricampeão, chegar como líder ao mata-mata do Campeonato Gaúcho, e saber que, ao fim de 66 partidas disputadas, os finalistas da competição são as duplas Gre-Nal e Ca-Ju. Estranho é saber que insistimos nessas fórmulas desgastantes para alcançarmos praticamente os mesmos resultados.

Avalanche Tricolor: simplesmente sofisticado

 

Ypiranga 1×2 Grêmio
Gaúcho – Estádio Colosso da Lagoa/Erechim

 

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Lincoln comemora golaço, em foto de Diogo Zanaga/Gremio.net

 

O gol de Lincoln foi belíssimo. Há muito não se assistia a algo semelhante. O guri atrevido descobriu-se dentro da área, não bastasse todo o talento que tem demonstrado quando fora dela domina a bola, levanta a cabeça e coloca seus companheiros em condições de gol ou apavora seus marcadores com dribles rápidos e precisos.

 

A mando de Roger, Lincoln tem jogado mais próximo do gol e gols tem feito, como o que nos manteve na disputa da Libertadores no meio da semana, no minuto final da partida, e esse que nos ofereceu a liderança do Campeonato Gaúcho, ainda no primeiro tempo.

 

Dessa vez, o guri caprichou. Pelo alto, girando e de calcanhar colocou a bola longe do alcance do goleiro. Primeiro disseram que era de letra, depois chamaram o lance de chaleira, quiseram até compará-lo a Ibrahimovic, enquanto todos nós comemorávamos como sendo genial.

 

Foi preciso, porém, o guri deixar o gramado no intervalo de jogo para entendermos bem o que significava aquele gol para ele: uma ordem cumprida; função exercida a pedido do “professor”; aproveitar alguma bola que sobre por ali; nada de mais, até porque, disse com a mesma simplicidade com que dribla seus adversários, já marcou outros de calcanhar.

 

Visto o lance a partir da descrição de seu protagonista, confesso, tudo pareceu mesmo muito simples, sem ostentação, nada de excepcional, apenas o recurso que a jogada exigia pela maneira como a bola chegou nele e pela forma como ele chegou na bola.

 

Se com os pés, Lincoln fez os narradores lembrarem-se de craques do futebol, suas palavras me remeteram a um gênio da humanidade. Leonardo da Vinci já ensinou que “a simplicidade é o último grau da sofisticação”.

 

Lincoln foi simplesmente sofisticado.