Por Fernando Gallo
– Como anda o trânsito por aqui? Muito caótico? – perguntei ao motorista do táxi que me levava do aeroporto de Santiago para o albergue onde ficaria hospedado.
– Não. Pra te falar a verdade, o trânsito melhorou muito de uns dois anos para cá – devolveu ele.
A mente paulistana começa a trabalhar, buscar registros, fazer indagações. Não, eu não me lembrava de nenhum lugar no mundo onde o trânsito pudesse ter melhorado nos últimos dois anos. Talvez eu estivesse enganado.
– Como é? – indaguei, não porque não tivesse certeza de ter ouvido corretamente, mas porque ficara subitamente quase incrédulo.
– Pois é, melhorou muito de uns dois anos pra cá – confirmou.
E por quê?
A palavra-chave para entender o que aconteceu é Transantiago, o nome do projeto que tenta melhorar o transporte publico na capital chilena desde 10 de fevereiro de 2007.
De mirabolante a idéia nada tem, mas é uma verdadeira revolução se olharmos para a gestão do trânsito e do transporte público na América Latina, com as honrosas exceções de Curitiba e Bogotá, nas quais, aliás, o Transantiago se baseia.
O que se fez foi reorganizar o transporte público. Acabar com linhas distintas que faziam o mesmo trajeto, diminuir o número de ônibus que cruzavam longos trechos da cidade, aumentar o numero de linhas que correm percursos menores, integrar melhor os ônibus com o metrô, aumentar o numero de corredores exclusivos, implementar um bilhete magnético nos moldes do Bilhete Único paulistano. Tanto no caso do metrô quanto no dos ônibus, nos horários de pico há composições e carros que não param em todas as estações, o que dá celeridade ao processo. Ademais, outro objetivo do Transantiago é reduzir o número de ônibus em circulação na cidade de 7.000 para 4.600, de modo a diminuir a poluição do ar e a sonora.
Uma das diferenças – talvez a principal – entre a implementação em Santiago e em Curitiba e Bogotá consiste em que nestas duas ela foi feita em etapas, enquanto na primeira realizou-se de uma só vez.
Mas o resultado foi catastrófico. O sistema de cobrança eletrônica funcionava mal e havia poucos ônibus, o que provocou uma corrida ao metrô que, já operando no limite, saturou. A vida do usuário, claro, foi um suplício durante um par de meses.
Isso custou caro, muito caro, para a presidente Michelle Bachelet. Sim, porque os assuntos do município de Santiago, em última instância, são de responsabilidade do presidente, que é quem escolhe o intendente (o correspondente ao nosso prefeito). De fevereiro a março o apoio ao governo Bachelet caiu de 55% para 42%. (Choveram críticas também a Ricardo Lagos, presidente anterior, em cuja gestão o sistema foi desenhado). Até hoje os danos estão lá, e o custo político do início do Transantiago ainda é grande. É considerado por muitos o maior desastre do atual governo.
Do jeito que estava não podia ficar. Então deram jeito nas maquininhas, compraram ônibus novos – brasileiros – e arrumaram as barbeiragens que tinham feito. Alguns meses depois, boa parte dos problemas estava resolvida.
Para se ter uma idéia, exatamente um ano após o início do Transantiago, o jornal El Mercúrio, o principal diário chileno, publicou uma comparação entre o que acontecia um dia antes do sistema ser implantado e o que acontecia um ano depois. O tempo de espera por ônibus, que na média era de mais de 30 minutos, tinha caído para de 4 a 8. O número de pontos de ônibus subira de 3.100 para 8.200. O número de trens do metrô saltara de 666 para 751 (confesso que não sei se novas estações de metrô foram abertas, mas desconfio seriamente de que não). Um utilíssimo site (www.transantiagoinforma.cl) fornece ao usuário todas as informações de que ele necessita, como rotas (por menos tempo ou menos baldeações), paradas, horários, freqüência, etc.
Claro, nada é perfeito. Principalmente nos horários de pico o metrô ainda anda a full. Mas nada que assuste um bom paulistano.
E não é de surpreender que o trânsito esteja melhor. Com um sistema de transporte público de qualidade, muitas pessoas agora deixam o carro na garagem.
Ou seja: ao contrário do que se costuma propagandear por aí, o metrô é bom, mas não é a solução para todos os problemas do transporte público. Muita coisa pode ser feita apenas repensando-o, reorganizando-o, racionalizando-o. O caso de Santiago é muito emblemático. Convido os gestores do trânsito/transporte público do Brasil a darem um pulinho em Santiago para ver como funciona.
Fernando Gallo é jornalista da CBN e publicou este texto no Blog Miradouro
Milton, aproveitando o assunto sobre trânsito, se possível questione alguém da prefeitura sobre a conclusão da ciclovia da Radial leste. Existe um trecho entre as estações Vila Matilde e Penha que não foi terminado e aparentemente foi abandonado, pois não há nem sombra de funcionários por lá.
Absurdo uma obra ficar sem finalização faltando tão pouco. Será que vão aguardar pra inaugurar o restante nas próximas eleições??
Obrigado
saiu hoje no jornal Metro que São Paulo já possui uma frota de seis milhões e quinhentos mil veiculos.
Fora os lançamentos que são feitos diariamente
Ai pergunto as nossas autoridades.
Como solucionar o transito caótico em SP?
Transporte publico?
Parece que ainda está gatinhando.
Parabéns pelo tema e muito oportuno
Armando Italo
Além de tudo o que foi destacado pelo excelente texto do Fernando Gallo, é importante lembrar que muitos dos problemas que enfrentamos no trânsito são decorrentes, além da falta de projetos e de investimentos no setor, também em decorrência da falta de investimentos na educação do povo. Lá em Santiago, não vi ninguém buzinando histericamente, nenhum ato hostil, respeita-se a legislação de trânsito, e acreditem se quiser: respeita-se até faixa de pedestres. Segundo o guia que me atendeu inexistem radares (por sinal, segundo ele, foram todos vendidos ao Brasil), pois os recursos arrecadados estavam sendo desviados por políticos corruptos.
Opa Milton, como vai?
Li este seu post sobre transporte público e me lembrei na hora do ensaio que fiz na obra de expansão do metrô de SP.
Dá uma olhada nas fotos no http://www.tavinhocosta.com.br/blog/
abs!!
Ao Ricardo Silva, que perguntou em comentário acima sobre a ciclovia da Radial Leste, qeu não foi terminada. Questionando a prefeitura dois meses atrás, obtive a seguinte resposta:
“O trecho na Penha (cerca de 1,8 km), mais complexo e que demandou outra licitação, ficará pronto em agosto. Este é o prazo, contando que a licitação foi concluída em fevereiro, a empreiteira tem 30 dias para começar a obra e mais 6 meses para concluí-la.
O trecho entre Carrão e Tatuapé são apenas 300 m. A SIURB está a cargo da obra, que consiste em estreitar um pouco as faixas dos carros para alargar a ciclovia, que lá tem apenas 80cm entre a Radial e o muro do Metrô. Devemos começar em abril, com prazo de 30 dias de obras.”
transito, os jornalista quando fala de transito em sp , entra na coversa fiada da CET, pois se voce tem um congestionamento de dez Km, pode olhar que aquela via tem 4 pistas , por tanto sao 40 Km de congestionamento, ja ta na hora , ate para nao ficar repetitivo , vc poderiam dizer que ha falta de pista e nao a maluquice de dizer que tem excesso de veiculos, pois se todos pagam os impostos , onde vai tanta grana